Há um momento na vida
em que se entra, inconsciente,
num processo de despedida.
Começa-se a se despedir de tudo
tão pronto quanto aconteçam.
É um despedir-se meio mudo,
emblemático e reflexivo,
que não fala mas diz tudo,
como a não querer nada,
além de dizer adeus
e ir seguindo a estrada.
Despede-se sem um aceno,
quem sabe apenas um olhar,
algo de triste pela saudade
que se sabe, vai chegar.
Assim, como chega a manhã
carregando no ventre
a saudade da madrugada
e, contraditória, a semente
da tarde ensolarada.
E a gente se despede,
meio sem se dar conta,
a gente des-pede a permanência,
por que já se sabe inútil
a tristeza, a coerência.
As coisas mudam e passam, eis tudo.
E a gente sabe que tem que se despedir
desta certeza também.
Há um momento na vida
em que a gente se despede
até e principalmente, da própria despedida.
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