De um encontro de águas nasceu este amar.
As águas do meu castanho seguiam,
ora calmas, ora turvas, sem mapas ou guias,
e invadiam teu mar.
Ora este oceano que te habita
silenciosamente espreitava-me, à distância,
ora, sem muita cerimônia e nenhuma fita
buscava nos meus a mesma ânsia
de encontrar também o mesmo carinho
que ia aos poucos, de mansinho,
brotando em meio às afinidades tamanhas
que já não cabiam mais na conta da amizade.
Seguiam nossas águas assim, misturadas,
silenciosamente derrubavam montanhas,
cortavam vales, abriam estradas,
desbravavam terras estranhas,
inundavam o deserto das almas cansadas.
De águas tão diferentes alimentou-se este amar.
Das águas salgadas brotadas ora da emoção,
ora de tristeza infinita, do não conhecer os rumos,
do não saber a estrada que levaria
onde desejava estar o coração.
Das águas adoçadas pelo carinho que pelos olhos vazava,
pelo entendimento que vem por si,
sem nenhuma fala,
pelo amor que se faz quando a voz cala
e pelos toques que vão fundo quando a pele mal resvala.
Por águas revoltas passou este amar:
tempestades intensas, maremotos, inundações
que deixaram rastros de desordem e destruição.
Tão fortes as nascentes destas águas,
que continuam a brotar sem pausa,
alimentando o curso do rio caudaloso,
sem precisar de razão ou causa,
para inundar o terreno ocioso
de amores que nos habitava.
Segue este amor feito de águas,
varrendo o caminho que cava,
à força da coragem de existir,
queimando o corpo feito brasa,
curando feito elixir.
Às tuas águas as minhas entrego,
somo ao teu mar o meu rio,
ora manso, feito de carinhos que rego
com as águas bravas do cio
da mulher que geraste, sem que soubesses,
ao inundar com teus mares as águas do meu rio.
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