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Contos-->Eu dancei em frente ao rei (ou Groupie por um dia) -- 09/12/2003 - 16:45 (Vanessa Zéfiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não dava pra se concentrar no sexo em si. 1) A música intermitente, cheia de suspiros ininteligíveis e gel no cabelo. 2) Aquele movimento exacerbado: a cintura e as pernas em conflito. 3) 120 quilos, dobras e palavras quentes ao ouvido. Foder não era, assim, uma atividade lúdica. Uma batalha, um desencontro de sabores e saliva em excesso: isso sim. O cabelo chicoteava, escapando do topete outrora perfeito. Algo de vaginal na textura cremosa dos cabelos dele me assustava. É que a mente vagava, perdida entre 1) uma carreira duradoura, velhinhas na primeira fila lambendo o suor de um lenço que cai e 2) cartas que retornam ao remetente, músicas marcadas pelo complexo de édipo – um arquetipo viadinho (opinião minha) – e aquele falso swing, simulando orgasmos e outras contrações menos perigosas. Eu tentava me concentrar: não é todo dia, pensei – e quis decorar os melhores momentos. Ele se contorcia, concentrado. O rosto disforme, os quilinhos a mais e o aparente cansaço contrastavam com sua voz de negro filho da puta. A boca, nervosa, saracoteava como em final de boxe. Seus olhos fechados. Os meus registrando os melhores momentos – os menos cômicos, algumas contrações na barriga e um prazerzinho que não se justifica. Nada demais. A pessoa sim. O momento, as luzes, a cortina de veludo e algumas outras atrações de apelo kistch revelavam o que eu tentava esconder: já não é mais. Nem o Rei, com sua voz aveludada, o fantasma de massa branca que arfava sobre mim, nem ele sabia exatamente quem era. Um vulto do que foi. Não me tratou como devia – queria levar uns tapas, porque, nos bons tempos, ele bem que tinha cara de quem batia em mulher. Mesmo assim, ele investia nas estocadas – sem ritmo, meu Deus, sem ritmo algum. Um mero simulacro do que aquela tipo esperto da sua juventude prometia. Eu não sentia nada. Constrangimento, talvez. Ele insistia – queria ser amado com ternura, coisa que meu desânimo, diante de tanto desperdício, nunca permitiria. Queria organizar meu pensamento, me colocar na situação definitivamente e por isso comecei as divisões: 1) Sou eu, estou aqui sendo fodida pelo Rei, 2) Ele não olha pra mim, parece realmente concentrado – grunhindo e arfando como um porco, 3) Tudo me distrai – até mesmo a lembrança de que um dia chorei ouvindo uma de suas músicas. E o suor. O mal cheiro, as axilas feito piscininha de plástico. Trate-me como uma idiota, eu lembrei. Foda é ter dó. Mesmo com o esforço, tenho. E pensar que um dia cogitei a ausência de líquidos e genitais na figura perfeita que ele fingia quando no palco. E pensar que sonhei com suas investidas contra minha bucetinha-priscilla-jovem-guarda. Eu me concentro no inevitável fim. Sei que ele se jogará para o lado – e talvez pergunte como estou, o que seria gentil – e volte pra suas serestas em Acapulco e a doce profissão de sodomisar criancinhas latinas. Seus sonhos de Rei, enfim. E eu não serei a mocinha no final, apesar de livre dos grilhões inconscientes que armei pra continuar aqui. Eu seguro sua cabeça e me lambuzo com gel barato. Ele não abre o olho, mesmo assim. Eu viro a cara penso na Fundação Pestalozi e em síndrome de down – nessa ordem. Daí, penso em uns conselhos amigos: 1) no rádio é melhor, 2) fotos ou aquelas pinturas de mal gosto que você encontra na Feira Hippie, 3) a sunga de salva-vidas do Seresteiro de Acapulco é foda – fiquem com a imagem, garotas. Mas seria muito titia: não tenho vocação para conselheira. Uhum, fode-me rápido – faço um trocadilho com o beijo, mesmo sabendo o quanto isso soaria idiota (mas faço pra mim e, na hora, quase sorri – se não me engano esbocei um sorriso, acho que sim). Enquanto ainda tenho algum sentimento por você. Nem que seja pena. É, não dava. Não me concentrando na foda, resolvi gemer. Foi quando eu ouvi no alto falante (ou na minha cabeça, não lembro): Elvis has left the building. Depois, ele virou de lado e, mal contei dez, dormiu. Provavelmente, sonhava seus sonhos de Rei: garotas, garotas e mais garotas.
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