Eu sou o grande conta tempo.
Sou aquele que conta e desconta o tempo.
Sou aquele que me relaciono intimamente com o tempo,
Tempo que é meu amigo e meu cruel.
Sou admirado pelos olhos de várias épocas,
Trabalho incessantemente a favor do tempo.
Sou eu que proclamo o alvorecer,
Sou eu que aviso a chegada do entardecer,
Sou eu que dedico ao a noitecer.
Sou eu que moro aqui em cima,
Sou eu o grande centro das atenções,
Sou eu que dito a hora que se deve amar.
Sou eu que digo a hora de enforcar,
Sou eu que mostro quando festejar.
Sou eu que vejo as carruagens passar,
Sou eu que vejo o bêbado cambalear.
Sou eu que vejo o padeiro acordar,
Sou eu que sou olhado pelas damas ricas e virgens que insistem a me visar.
Sou eu que digo quando os sinos devem soar.
Sou eu que mostro a hora de negociar,
Sou eu que digo a hora de conspirar.
Sou eu que vejo a coroa expropriar,
Sou eu que marco os minutos e os segundos da exploração.
Eu daqui de cima vejo a todos e a tudo,
Controlo tudo e a todos.
Sinto daqui de cima, o cheirinho do chá da cinco.
Sou eu o grande alibi do tempo,
Sou eu o vizinho das enormes torres.
Sou eu que insisto perpetuamente a perpetuar culpa,
Sou eu que insisto em te fazer lembrar.
Sou eu que escuto os cavalos da coroa a trotar,
Sou eu o amigo do tempo.
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