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Cronicas-->De mãe para mãe -- 15/04/2003 - 01:24 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DE MÃE PARA MÃE

Luiza olhava angustiada a fria porta de vidro fosco que a isolava da sala onde seu filho, desidratado, era atendido. No silêncio total, no cheiro do éter, no andar rápido e calado das enfermeiras, ela aguardava com o coração descompassado. No olhar inquieto e atemorizado do marido, desempregado, ela se encontrava; nos seus olhos secos e febris, nas suas mãos crispadas, na abstração do ser, na exaltação da mente e, na incomensurável capacidade de pressupor o irremediável, ela se perdia...

Em busca de consolo, de desabafo, caminhou até o fim do corredor. onde preso à parede, estava o Cristo Crucificado, pejado de mágoas e de dor. Ficou nervosamente a contemplá-lo. Depois, deixando-se envolver por uma onda de rancor, disse-lhe em voz alta, desvairada:

- Não é com você que eu quero falar, é com sua mãe! Você carrega o seu Ideal! E ela? Ela o carregou no ventre, deu à luz entre animais, entre fezes de animais - ah! eu conheço as manjedouras ... Ela, mãe criança a embalar o seu Cristinho na manjedoura! Ela, a rezar e a implorar que você não crescesse, que ficasse sempre menino, ao seu lado, porque sabia qual seria o seu fim... Penou por antecipação. Cristo! Por antecipação! Trinta e três anos penando! Criando, mimando, amando, sabendo que entregaria um mártir às feras! Ela penou as suas penas, as suas perseguições, as suas chibatadas, as suas humilhações, viu-o ser erguido nesta cruz de sacrifícios! recebeu seu corpo ensanguentado e o lavou com suas lágrimas! e o embalou pela última vez, entre gemidos e palavras de amor... É com ela que eu quero falar, ouviu? Segue, segue este caminho grandioso traçado pelo seu Pai e me deixe com o consolo daquela que penou, como eu peno agora! - sacudindo a cabeça em sinal de protesto, continuou:

- Eu não gerei filho para a cruz, não! Eu gerei filho para vida, porque confiei na vida! Olha, olha só para mim - Luiza mostrou os seios murchos -. O que mais você quer que ele mame? Sangue? Então me ensina como... como?

Empolgada com as próprias palavras e sempre com os olhos alucinados, fixos no pobre Cristo Crucificado, Luiza caminhou até ao pé da cruz:

- Ah1 mil vezes mais crucificada que você foi ela, porque era pequena, humana, frágil e cheia de amor carnal, amor de gente como o meu, amor que defende os filhos, amor instinto, ouviu? entende? amor que fala alto, amor que se retorce no peito, amor que grita, que não se conforma, banhado por sangue vivo que corre nas veias, que empurra a gente pra frente, pra defender os filhos!

Os olhos de Luiza, submersos nas lágrimas e na dor, foram perdendo o furor. Agora havia neles mágoa e incompreensão:

- O seu amor, lá do alto, místico... eu ... eu não entendo... Olha, olha para mim agora! Vê como estou sofrendo! Vê?...

O corpo de Luiza foi escorregando, seus joelhos se dobraram e terminaram por encontrar o chão. Sua testa se apoiou na superfície lisa e fria dos azulejos e, enquanto seus punhos esmurravam a parede, convulsivamente, ela implorava:

- Vê?...Vê?...Vê?...

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