Apaixonadamente (*)
O tempo --esse inimigo de quem ama --,
Como se fosse um velho conselheiro,
Ordena-me, friamente, e tão ligeiro:
"Sai do caminho dessa bela dama."
Revolto-me. Por certo, ele me inflama.
E digo: se ela foi meu amor primeiro,
Há de ser, nesta vida, o derradeiro
Sonho por quem minha alma ardeu em chama.
Procuro entendimento do ditado
Grave e consagrador: "Ninguém governa
A ânsia e o coração apaixonado."
No meu peito, haverá uma caverna.
Mesmo que não esteja do meu lado.;
Pra mim, essa mulher será eterna.
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(*) Brasília, DF, 03/01/1967. |