Buenos Aires, 30/05/04 – 17:10h
Caminhar pelas calçadas deste lugar,
cobertas pelo castanho outonal,
saindo do nada para nenhum lugar
como quem nada tem a falar.
Há no ar ao redor uma sensação estranha
de não saber ao certo qual rua tomar.
Um sentimento desconhecido se entranha
na pele, no corpo e me faz parar.
As folhas mortas caem ao chão,
mas há no seu cair um tipo de vida, emoção...
Também caem folhas de outono sobre mim,
também elas desabam em meu coração.
Estranhamente vivas caem mortas lembranças
de coisas que não vivi, mas vivem, insistem,
como se tivessem sido muito mais do que esperanças.
No fim dos meus braços, mãos inertes persistem
à espera dos movimentos que não pude fazer,
esperando dar vida e matéria ao que deixei perecer.
Olhar adiante e continuar a ver a chuva outonal
das folhas caindo, uma após outra, é natural...
Vê-las ao chão, num colorido quase irreal
faz pensar quem sabe, que as folhas caídas na alma
possam dar-lhe também um colorido igual.
Esperar que parem de cair e sair desta paralisia,
voltar a ver as mãos, filhas de meus braços,
moverem-se na direção da alegria
e eles na direção de largos abraços,
deixar que as lembranças,
filhas de minhas esperanças,
possam ter permissão para existir,
que os sonhos que agora dormem dentro da alma,
ajudados pelas mãos, não mais inertes, possam sair
e passear em meio às folhas caídas em minha alma. |