ARTE BARROCA
Antonio Miranda
Anjos, arcanjos, querubins
sujeitos à devoção e aos cupins.
Transplantados, imitados
nos confins
do mundo civilizado.
Estatuária
de cópia e recriação
impositiva mas, ainda assim
construtiva – ou seria adaptativa -
das matérias-primas
nativas, estranhas.
Nas missões e reduções
indígenas, nas montanhas
das Minas, nas plantações
escravas, numa catequese
de branco exilado, sermões
e ascese, em procissões.
Nos pampas jesuíticos
e seu ideário ou utopia
numa autoria coletiva
e mesmo anônima
numa adaptação ou improviso
renovador pela mão
do artista de exceção,
mas também por desvio
e acomodação.
Pinturas veneradas, corroídas,
santos-de-pau-oco, utensílios
vestígios coloniais nas feições
derruídas de imagens esculpidas
no cedro e na pedra-sabão.
Um barroco expandido
às vezes tosco (numa produção
de amálgama e sujeição)
de rigidez que martiriza.
Arte como parte
da missão evangelizador
e exploradora de bens
e de almas subjugadas.
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