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cronicas-->Tarde da noite -- 20/04/2003 - 19:52 (Luciano de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É tarde da noite. Na sala, apenas o som da televisão é ouvido. Um e outro separados por um espaço muito maior do que a pequena distància que separa as poltronas. O silêncio é grande. Maior do que deveria ser após tantos anos de convivência.
Talvez fosse por isso: tantos anos de convivência acabaram por esgotar qualquer assunto. Frivolidades e pequenas intervenções de um e outro rompem, por poucos segundos, o silêncio que reina naquela sala, tarde da noite.
O "olhar" já quase não existe. Se ocorre, é para, mutualmente, notarem-se os defeitos. Cada um, silenciosa e pensativamente em sua poltrona, se perguntavam o que havia dado errado. Em que ponto do caminho começaram a se afastar.
Dividiam o mesmo leito mas se perguntavam o que ambos tinham em comum. Parecia que mais nada havia. Já não trocavam segredos nem confissões; a cumplicidade tão necessária a uma vida a dois já não existia. Se olhavam e já não mais se reconheciam como aqueles jovens que numa manhã ensolarada de inverno, resolveram juntar suas vidas para o que parecia ser uma longa, porém feliz, caminhada. Já não se reconheciam. Tornaram-se estranhos um para o outro. Tinham agora, idéias, pensamentos e opiniões diferentes.
Deitado no sofá, interrompeu a leitura de seu livro para espiar com o canto do olho aquela mulher que se encontrava no outro lado da sala. Viu que ela olhava para a televisão. Apenas olhava. Seus olhos atravessavam a televisão e as paredes da casa. Estavam distantes, perdidos em pensamentos. Ele, ali parado, ficou imaginando o que se passava na mente dela.
Nós também queremos saber o que ela pensava. Rapidamente ela fez uma retrospectiva do que havia vivido desde aquela manhã de inverno até ali. O que ela teria feito de errado? Mas será que seria ela a única culpada? Não... ela não pode carregar a culpa sozinha. Tem que dividir a carga com mais alguém. É claro! A culpa também é dele.
Ela ficou ali parada, olhando para o nada. Seus olhos se perdiam no vazio.
Ela achava que não era pedir demais. Só queria ser feliz. Na verdade, ambos desejavam isso: ser feliz. Mas ambos tinham seu próprio conceito de felicidade.
Enquanto ele fazia de conta que estava concentrado na leitura de seu livro, percebeu que estava sendo observado. Mas continuou indiferente. Fez de conta que não era com ele.
Ela se lembrou das viagens que fizeram juntos e de quanto haviam se divertido. Ela se perguntava por que tudo havia acabado. Se recusava a aceitar.
De sua poltrona, ela o observa mergulhado na leitura. Eu te amo - disse ela para si mesma, como que numa tentativa de convencer-se a si própria do sentimento que é tão necessário para manter duas pessoas juntas. Precisava se convencer de que ainda o amava, de que esse sentimento era ainda tão ou mais forte do que quando suas vidas se juntaram.
Calada, ela se levanta e caminha em direção ao banheiro. Ele, ainda deitado no sofá, e agora um pouco mais concentrado na leitura, escuta o barulho da porta se fechando.
Ela se olha no espelho. Abre a torneira e, com a mão em concha, apara a água fria levando-a ao rosto. Espera que lavando o rosto - e o faz energicamente - dissipe aqueles pensamentos obscuros que lhe passam na mente. Suspira aliviada. De fato a água fria surtiu o efeito que esperava.
Ele escuta a porta se abrir. Sentiu a presença dela ao seu lado ao mesmo tempo que ouviu ela dizer - boa noite. Sem despregar os olhos do livro - cuja leitura nem era tão interessante - respondeu ao cumprimento. Tentando prolongar o insípido diálogo ela continua - você não vem dormir? - daqui ha pouco. Vou terminar este capítulo. Como que numa tentativa de manter a paz necessária ao convívio, ela se aproxima e carinhosamente lhe dá um beijo na testa.
Ela então se afasta deixando-o a sós com a sua leitura.
Tão pensativo quanto ela, também se perguntava o que havia feito de errado, e se a culpa era só sua ou também sua. Lembrou-se também dos anos felizes que passaram juntos e das viagens que haviam feito.
Com a contracapa do livro marca o ponto onde interrompeu a leitura. Levanta-se e coloca o livro sobre a estante. - Preciso de ar fresco! Abre a janela e sente o vento da noite que invade a sala. - Que céu estrelado. Amanhã será um belo dia de sol!.
Ficou ali por um instante, a contemplar as estrelas, sentindo o vento suave que soprava. Tentou não pensar em nada. Por um momento queria esquecer de tudo. Mas é impossível. Nossa cabeça parece um caldeirão a borbulhar no fogo, com tantos pensamentos a nos atormentar. Fechou a janela, apagou as luzes e foi para o quarto.
Vestiu sua roupa de dormir e deitou-se no seu lado da cama. Adormeceu esperando que o dia seguinte fosse melhor. Coincidentemente, o mesmo pensamento que ela tivera antes de cair no sono.
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