Faço versos pra viver
mas tem gente a pensar
que a intenção de fato
é um amor eu encontrar.
Não mereço tal castigo
Deus não faria comigo
o porque vou explicar.
Já pensaram no meu fado
se calhar de eu vir a ser
esposa de um soneto
com suas rimas a saber
metricamente dispostas
meio falhas, meio tortas
com fogo a arder sem ver?
Com mais sorte poderia
isso eu não posso negar
encontrar por um acaso
verso melhor pra rimar
quem sabe uma epopéia
dessas antigas e velhas
que ninguém aguenta mais.
Ah mas isso eu não faria
esses heróis não me encantam
se passaram pela guerra
os parafusos desandam
o que eu posso esperar
de versos sem verbo amar
só matam e causam pranto.
Se continuar tentando
encontrarei uma trova
mas que sina tão cruel
seria essa minha prova
quando mal começasse
que o motor esquentasse
vazia estaria a alcova.
Não é fácil a tarefa
como estão a perceber
se arriscasse num dueto
que triste havia de ser
esse amor de faz de conta
deixa a gente meio tonta
na hora do vamos ver.
Pense na poesia livre
vamos lá especular
versos imprevisíveis
sem saber quando acabar
em plena lua-de-mel
seria muito cruel
meu verso ter que parar.
Insaciável demais?
Não reparem se pareço
meus poemas foram curtos
vem daí esse meu apreço
pelas obras grandiosas
não em verso mas em prosa
que vá do fim pro começo.
Pensando um pouco mais
nesse meu triste labéu
receio ter encontrado
defesa desse meu réu
deixo aqui registrada
pra sair daqui casada
só se for com um cordel.
Vai cansar quem se atrever
a chegar até o seu fim
porém eu terei o tempo
que preciso para mim.
Vasculharei verso a verso
até chegar no reverso
enquanto estiver afim.
