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Artigos-->Organizações, burocracia, alienação... -- 15/07/2002 - 21:14 (Dante Gatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Organizações, burocracia, alienação...



As empresas modernas estão indissoluvelmente ligadas à Revolução Industrial, cujas bases estão na acumulação primitiva de capital nos centros metropolitanos. Tal acumulação foi possível graças a uma série de fatores, entre os quais não se pode deixar de mencionar o comércio internacional desenvolvido pelas grandes companhias do período mercantilista.

Todavia, não são essas companhias as autênticas precursoras das empresas modernas, mas sim as pequenas oficinas organizadas e dirigidas pela classe dos capitalistas, então em ascensão.

A figura do capitalismo alterou profundamente a organização social do trabalho, que começou a passar por grandes transformações. Antes, porém, de analisar essas mudanças, devemos lembrar como essa organização se apresentava anteriormente.

A organização do trabalho nas corporações pré-capitalista também apresentava uma hierarquia. Isso não foi uma invenção dos capitalistas. Entretanto, essa hierarquia diferia muito da encontrada na empresa moderna.

Em primeiro lugar, a hierarquia corporativa tinha, tanto na base como no topo, um produtor. O mestre não dava apenas ordens ao seu aprendiz: eles trabalhavam juntos. Além disso, a hierarquia não era piramidal, como na empresa moderna, já que todo aprendiz poderia e aspirava a chagar à condição de mestre.

Existe um outro aspecto importante que diferencia a moderna empresa burocrática da corporação. Esse aspecto está na inexistência de um intermediário entre o produtor e o mercado. O produtor não vendia o seu trabalho, mas sim o seu produto e assim controlava tanto o produto quanto o processo de trabalho. Não havia, pois, a separação entre capital e trabalho característica do capitalismo.

Na realidade, o capitalismo – enquanto modo específico de produção – tem suas origens no sistema domiciliar, baseado na distribuição de matérias-primas a artesãos, dos quais era posteriormente comprado um produto final. E aí que começa a divisão do trabalho em parcelas. Essa divisão parcelar foi exaltada por alguns economistas clássicos, que lhe atribuíam grande superioridade tecnológica.

Os advogados da divisão do trabalho em parcelas minúsculas, e sem sentido, afirmavam que ela desenvolvia a perícia em cada operário tomado individualmente. Insistiam, ainda, em que ela poupava o tempo que o trabalhador gastava passando de uma operação a outra, o que seria ainda mais significativo com a invenção de máquinas que facilitariam e encurtariam a duração das várias operações.

Os verdadeiros motivos pelos quais a divisão parcelar do trabalho foi implantada foram, entretanto, outros. Na opinião de alguns estudiosos, o trabalho teria sido dividido ao máximo não por causa de uma superioridade técnica, mas porque assim se garantia ao capitalista um papel fundamental no processo de produção. Segundo essa linha de pensamento, era preciso alguém que coordenasse os trabalhos isolados dos produtores. Esse alguém era o capitalista, que dessa coordenação obtinha um produto mercantil, isto é, um produto que podia vender no mercado. Se os operários pudessem combinar as diversas tarefas que entram na fabricação do produto, teriam eles próprios percebidos que podiam receber o lucro da venda de grandes quantidades de produto no mercado. A especialização de tarefas, sistema pelo qual cada operário domina uma parte insignificante do processo de produção, permite que apenas o capitalista controle o produto final. Por esse expediente, o controle do produto passou do produtor ao capitalista, e o primeiro passou a vender sua força de trabalho ao segundo. No plano da produção, a máxima "dividir para reinar" deu aos capitalistas as condições de acumulação de capital.

No sistema domiciliar, entretanto, quando o operário podia desenvolver suas atividades em seu próprio lar, ele detinha algum controle sobre o processo e o ritmo de produção, além da possibilidade de desviar matéria prima. Os capitalistas perceberam logo a possibilidade de aumentar os seus ganhos através da substituição do sistema domiciliar pelo sistema fabril, isto é, pela reunião dos produtores em um mesmo estabelecimento. Portanto é com a fábrica que nasce a hierarquia burocrática capitalista. Ali, hierarquia e divisão parcelar do trabalho se conjugam como molas propulsoras de uma forma de produção e reprodução do capital.

Também se procura justificar a fábrica pela superioridade técnica. Argumentou-se que ela era necessária, já que as oficinas deveriam ser fixadas junto das fontes de energia. Mais uma vez, a fábrica parece ganhar um sentido diverso quando pensamos no interesse dos capitalistas. Esse sentido deve ser procurado na hierarquia rígida que se estabelece em seu interior. É evidente que a hierarquia esta voltada para o controle e a vigilância. Com ela o capitalista consegue impor disciplina e garantir submissão. Tal disciplina orienta-se para o aumento da produção e a diminuição de custos.

Resumindo, com o sistema domiciliar o capitalista garantiu o controle sobre o produto, com a fábrica consegue o controle sobre o processo de produção, através da vigilância e da disciplina obtidas pela hierarquia piramidal.

Vejam, é esta a razão de quadro atual, isto é, somos duplamente alienados: do processo e do produto. A alienação torna o trabalho sem sentido reduzindo a nossa relação com a empresa à mera barganha. A hierarquia burocrática da empresa capitalista tem ainda um aspecto essencial: a divisão entre os que planejam e os que executam, entre dirigentes e dirigidos. Existe, portanto, uma burocracia, isto é, um conjunto de funcionários voltado para o controle e a administração da empresa. Como os salários dos operários não estão relacionados com o valor que produzem, mas sim com a reprodução de sua subsistência, estão garantidas as condições para a reprodução do capital. Percebe-se, portanto, que a divisão parcelar do trabalho e a hierarquia na fábrica constituíram-se em fatores determinantes da estratégia capitalista, uma estratégia expansionista que reflete a racionalidade própria do capitalismo.

O homem organizacional (ou funcional) de que falávamos, sem dúvida, é produto deste processo: aquele que inculcou os valores das organizações burocráticas, ou seja, todos nós. Não é um tipo exclusivo da empresa da administração pública, do hospital, do sindicato, ou de qualquer grande organização presente na sociedade, mas é na empresa que ele aparece de forma mais clara. É evidente que a burocracia é um tipo de organização que limita extremamente os membros de uma empresa principalmente no que se refere a liberdade, a espontaneidade e a iniciativa. Qual seria, então, o caminho que nos resta dado o quadro que se apresenta? Quais os pontos que precisamos atacar no sentido de atender o clamor dos nosso tempo, de alta competitividade? Reduzindo a questão a um exemplo o que, essencialmente, nos separa do homem pré-capitalista, que, como vimos, possuía qualidades que a estratégia capitalista destruiu?

Aguardo uma resposta.



Dante Gatto

Professor da UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso)

gattod@terra.com.br

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