Cunfesso tenho reservas
cum essa tar de ciganagi
vislumbraro tanta coisa
deisdi lá dotras parage
uma me disse uma veiz
cum a certeza de treiz
tua vida é uma miragi.
Ocê vai ficá tão rica
formosa, bela e bunita
que os homi hão de corrê
sem ocê nem fazê fita
tentano lhe arcançá
vejo aqui eis te abraçá
tu vai sê muito querida.
De fato me aconteceu
e nem memo demorô
fiquei deveno na praça
ai meu Deus nosso sinhô
era homi tudo dia
deisdi que amanhecia
que chega até mi isgotô.
Ah se eu pego a tar cigana
lhe fazia picadinho
pareço inté São José
que qué tudo ixpricadinho
nas pinitência que faço
ele bota os embaraço
se num faço direitinho.
Mai vortano à vaca fria
vou revê os meus conceito
módi que uma cigana
me pareceu fazê efeito
foi asturdia na praia
eu cheguei e tá que espaia
cascaio e era do perfeito.
Lá no colo da Ciducha
a minha amiga do peito
vi duas nota de deiz conto
e a cigana no palavrero
cuchicha daqui dali
logo memo eu percebi:
essa caiu no entrevero.
Num dava preu interví
mai fiquei de sobreaviso
se a cigana ixagerasse
eu fazia era o serviço
mai Ciduchinha contente
virava o zóio ali em frente
e o dindin já deu sumiço.
Mai vinte conto tamém
num há de lhe fazê farta
que eu que num sô cigana
memo amano dessa malta
lhe devo é é vinte e cinco
sem nem fazê o serviço
de virá o zóio da mana.
O pior de tudo isso
foi que loguinho depois
a cigana se virô
e disse agora é co nóis
ah mais eu virei onça
sô muié e é de responsa
num me venha cum mais mais.
E foi jogano a proposta
faço cá um bão disconto
mai gostei da sinhoria
em veiz dos tar vinte conto
me dá aí uma regalia
dois rear satisfaria
e o seu futuro eu lhi conto.
Por dois conto intão tá bão
mai nem um tustão a mai
que eu só luto co a vida
tudo dia aqui na praia
é uma cansera danada
que o suó dexa moiada
de tanto ri dessa raia.
E lá foi a tar cigana
chutano a bola na travi
ce ama um homi casado
num acertô mais foi é quasi
eu neguei foi de pé junto
ela fingiu de difunto
e disse mai num é gravi.
Esse homi já tá vino
vai lhe dá muita aligria
num é ninhum lorde ingreis
nem rei da patifaria
é navegadô dus bão
vai aportá no coração
no cais vai sê só fulia.
Eu num sabia se ria
se chorava ou se calava
era tanta abobrinha
que a cigana me falava
que por traiz da farofera
só memo uma jardinera
que o meu amô pricisava.
A certa artura do feito
ela oiô bem no meu zóio
disse agora é muito sério
chega desse palavrório
bota aqui pro teu divino
os deiz conto do saquinho
ou vai chorá no calvário.
Pensei foi cum muita carma
ah mais eu rodei à baiana
nesse angu do teu caroço
eu num sô quarqué fulana
num tenho medo de praga
de cigana e nem de padre
eu lhe dô é uma banana.
Garrei bem os meus deiz conto
que daqui ninguém me tira
unha cravada na carne
joguei até a muchila
e venha dona cigana
vamu vê quem é que ganha
desse saco eu sô farinha.
Ela mi oiô ispantada
disse, carma siá minina
num vô lhe robá os deiz conto
vô lhe dá a sementinha
que ela vai lhe trazê o homi
que a sodadi lhe consomi
a aligria é sua e minha.
Foi saino devagar
que me bateu compaxão
sigurano a sementinha
lhe ofertei mais dois quinhão
afinar se fô verdade
essa tar preciosidade
vai valê um dinherão.
Agora é que a nossa porca
torce o rabo pra valê
nem bem eu cheguei em casa
tinha mensagi pra lê
e era lá do tar de amô
do coração meu sinhô
durma cum baruio desse!
Mai a praga ela rogô
logo no dia seguinte
fui cum cumadi Ciducha
tomá lá uns birinaite
na hora de pagá a conta
que num era grande monta
mai o tar garção me disse:
Puxa aí na tua gibera
coisa que preste, que valha
que esse tar de credicard
tem é passagi de graça
empresta da tua amiga
te vira até nos trinta
ou vai memo é lavá prato.
Pur isso eu digo e repito
tenham lá muito cuidado
essa tar de ciganagi
num é mintira de fato
eis tem lá os seus mistério
seus profundo revertério
que dexa a gente de quatro.