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Poesias-->AVENIDA CORRIENTES -- 09/11/2004 - 14:53 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AVENIDA CORRIENTES



Antonio Miranda





Da janela do Hotel Las Naciones

vejo pátios abandonados, janelas tristes

um terreno baldio transformado em estacionamento

uns senhores de paletó e gravata caminhando

apressados.

Se eu busco, se eu vasculho o fundo da paisagem

o fundo da memória, perco-me entre transeuntes

e reencontro velhos amigos

e as imagens daqueles tempos de juventude.



Antes de dormir, ainda havia livrarias por visitar recomendações de leituras

um beijo de despedida, novo encontro marcado.



Havia as esculturas de Kosice

o Grupo Madi, o ateliê de Louis Seoane

as gravuras de Castagnino para o Martin Fierro

e eu lia, com avidez, o ciclópeo Bomarzo

de meu amigo Manuel Mujica-Láinez.



Conhecia as fachadas, as portas talhadas

os letreiros, as vitrines, e havia sempre por

descobrir!



II

Da janela do hotel vejo a passeata dos sem-teto

a passeata dos desempregados

a passeata dos aposentados

- uma em cada dia da semana

menos sábados e domingos

que são dias para a família

e para o tango. Para o amor

e para a fantasia.



No centro da Avenida

aquele obelisco onipresente , hierático

emblemático: pode ser uma espada

talvez uma vela, um falo

um ponto de exclamação

uma orientação vertical

ou mesmo horizontal.

Ou seria uma caneta

e com ela escrevo enquanto rememoro

aqueles passos errantes

aquelas alegrias compartilhadas

aquelas discussões políticas intermináveis

sobre a Utopia que acabou em repressão.

Mujica-Láinez depois exilou-se nas serras de

Córdoba

e Cecília Vaquero figura, ainda hoje,

na lista dos desaparecidos do regime militar.



Não havia ainda Hotel Las Naciones

havia um jovem poeta brasileiro

de casaco surrado e a alma transcendida

pelo sonho, andando pela Avenida.



(Buenos Aires, 2003)
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