Acabo de receber um divertido e-mail de um amigo. Diz ele que ficou surpreso ao ler o texto
Centro Adelmo - uma ONG, pois jamais imaginaria que eu tivesse sido um militante revolucionário.
Ri de suas conclusões bem-humoradas. Fiquei imaginando-me assaltando um banco ou praticando guerrilha no Araguaia. Confesso: seria um revolucionário romàntico.
Só podia ser gozação desse companheiro. Evidentemente que alguém nascido em 1960 não poderia ter sido um guerrilheiro, a menos que viesse a ser revolucionário com menos de 15 anos.
Entretanto, tive o privilégio de conviver com amigos que sentiram na pele as agruras de uma ditadura. Companheiros que sobreviveram e que souberam transmitir à s outras gerações suas experiências nada agradáveis. Companheiros que até hoje têm pesadelos que são resquícios do cárcere e dos horrores da tortura.
Quando Ernesto Geisel assumiu o governo, prometeu uma abertura lenta e gradual. Esse período foi muito rico em discussões, principalmente no meio universitário. Posteriormente, embora o "prendo e arrebento" do general, também foi um momento histórico, propenso ao debate, as discussões filosóficas e manifestações públicas de grande vulto. Rico e único nas passeatas pelo fim da censura.
Afinal o cara disse: "Hei de fazer desse país, uma democracia". Bueno! Mal ou bem, estamos numa democracia.
Naquela oportunidade, em santa Maria, surgiu o CEDESC, para debater o socialismo e a cultura. O movimento estudantil fervilhava. Havia a expectativa do retorno dos exilados políticos.
Todos queriam a volta do irmão do Henfil.
Havia um cidadão chamado Brizola que era temido, minha mãe, por ser uma pessoa simples, tinha medo só em pronunciar o nome. Na sua volta ao Brasil, por São Borja, o exército brasileiro ficou de prontidão. Imaginem, achavam que Brizola faria a revolução.
Havia no ABC paulista um movimento muito forte dos metalúrgicos e um sem número de intelectuais estavam formulando e voltando ao Brasil. Tínhamos muito que ler e sonhar. Enquanto isso, íamos preparando
"aquele feijão preto".
Eu fui revolucionário, mas daqueles que fazia a revolução nos bares. Era uma revolução mais fácil de se fazer. Como sempre, bebia-se muita cerveja e a guerrilha ficava adiada para após à s três horas da tarde do dia seguinte, assim tínhamos tempo de curar a borracheira e tomar um chimarrão. Mas as noitadas eram profícuas, discutíamos "10 dias que abalaram o mundo" de John Reed, "Como fizemos a revolução" de Leon Trotsky, "Como iludir o povo" de Lênin e tantos outros. Lógico, o Manifesto Comunista era pré-requisito.
E assim íamos cursando a faculdade, bebendo cerveja nos bares e fazendo a revolução. Usávamos uma boina preta, uma bolsa a tiracolo e uma jaqueta do NPOR.
Hoje, é chique ser ex-revolucionário. Entretanto, é menos chique ser ex-revolucionário e a favor da contribuição dos inativos. Mas aí é outra história.