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Infanto_Juvenil-->O MÁGICO DE OZ -- 21/03/2003 - 04:40 (Welington Almeida Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Livro: O Mágico de Oz – The Wonderful Wizard of Oz
Lyman Frank Baum
Texto em português de Welington Almeida Pinto, recontado da obra original de Lyman Frank
Baum.
Ilustrações originais de W.W.Denslow

Pela disponibilidade do livro no seu computador, que está integralmente publicado abaixo, Você vai pagar apenas os direitos autorais: R$ 2,00 (dois reais) - o preço de um maço de Marlboro. Mesmo assim, se achar que deve. Então, mande por carta em dinheiro, ticket refeição ou vale transporte, à nossa OFICINA DO LIVRO/SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA, rua Leopoldina, 836/303 – Cep 30330-230 - Belo Horizonte/MG, ou como preferir. Se pensa que nosso trabalho vale um pouco mais, a diferença Você quita com uma atitude de solidariedade à Campanha FOME ZERO: doe um quilo de alimento não perecível a uma instituição filantrópica mais próxima de sua casa.



* PAGAMENTO ESPONTÂNEO – prática usada na Europa há séculos, temos o exemplo do do escambo de jornal. Lá o jornaleiro deixa em vários pontos da cidade uma banqueta com os jornais do dia, ao lado, uma caixinha de madeira com moedas para troco. O consumidor interessado pega o jornal preferido e põe o valor correspondente na caixinha. Se tiver troco, ele mesmo faz a operação.

*** Nos momentos de tensão, alivie o stress mergulhando-se no Mundo da Filosofia, acesse o site: www.welingtonpinto.kit.net/frasescelebres



O MÁGICO DE OZ

O Espantalho morre de medo de fogo porque é de
palha,
O Homem de Lata não pode nem chorar que
enferruja,
O Leão – que covarde! – não ataca nem
coruja,
E o Mágico de Oz? Meu Deus, quanta
falha




No final do século XIX, escritores e produtores de livros infantis da Europa, lideram um movimento propondo histórias menos violentas e sanguinárias; defendiam que duendes, gênios e fadas já não despertavam tanto interesse nas crianças. Lyman Baum, escritor norte-americano, também pensava assim. Para ele, o conto de fadas moderno devia conservar apenas a novidade e o bom humor, descartando tristezas e pesadelos. Se as crianças precisavam de morais severas, que as aprendessem em casa ou na escola. Histórias eram para divertir.
Em maio de 1900, Lyman lança com sucesso sua obra-prima, O Maravilho Mágico de Oz, ricamente ilustrado por W.W. Denslow. Considerado o primeiro grande romance da literatura de fantasia norte-americana, vende mais de 100 mil exemplares em apenas dez meses.
O livro empolga crianças de todas as idades com as fabulosas aventuras de Dorothy, a menina do Kansas, levada por um ciclone para uma terra mágica, onde encontra personagens incríveis como o Espantalho, o Homem de Lata, o Leão Covarde e o Mágico de Oz.
O Maravilhoso Mágico de Oz foi lançado em 1900 com sucesso de vendas. Em 1902, Lyman produziu, em Chicago, um musical inspirado no livro. O êxito foi tanto que logo foi para a Broadway, o centro teatral de Nova Iorque. Em 1925 virou um filme mudo, hoje lembrado por ter Oliver Hardy, da dupla o Gordo e o Magro, como o Homem de Lata. Depois, em 1939, a Metro produziu o grande musical estrelado por Judy Garland. Foi o filme mais visto de todos os tempos no cinema e na televisão com mais de um bilhão de espectadores.
Existe mesmo uma força muito especial na obra de Lyman. Para sentir, vire a página e viaje com Dorothy e seus companheiros pela surpreendente estrada de pedras amarelas.

























"Depois de viver muito e prestar muita atenção na vida e nos
vivos, é fácil perceber que as pessoas mais criativas,
mais felizes, mais produtivas, mais bem ajustadas ao mundo
tiveram a infância povoada pelos livros.” - Ziraldo


Capítulo I
O CICLONE



Dorothy vivia feliz com os tios, Henry e Ema, no coração do território do Kansas, nos Estados Unidos. A casa tinha um cômodo, um velho fogão a carvão, um guarda-comida, uma mesa, quatro tamboretes, a cama do Tio Henry e da Tia Ema e uma de Dorothy. Não havia uma flor, um ornato; o único livro era a velha Bíblia. Nas paredes, o retrato de Tia Ema ao lado do marido, tirado no dia do casamento; já acinzentado pela ação do tempo, mas ainda dando idéia de como eram jovens e bonitos. Estava com vinte anos e prendia, entre os dedos, um pequeno buquê de flores campestres.
Com sol e vento castigando seu rosto, Tia Ema envelheceu em pouco tempo. O rubor dos lábios e das faces acabou cedo; ela perdeu o sorriso e o brilho nos olhos azuis; a pele acinzentou-se e os cabelos brancos, ainda fartos, permaneciam enrolados sobre a nuca, presos por um antigo pente de tartaruga. Sempre enterrada num vestido azul escuro, com um xale preto, dobrado em triângulo e preso por um camafeu ao peito; lidava desde a manhã até a noite, de um lado a outro, com os sapatos de couro de cabra, executando os serviços da casa. Quando Dorothy foi morar em sua casa, levou muito tempo para se acostumar com a jovialidade da sobrinha. Admirava a menina ser tão alegre em lugar tão triste, tão cinza!
Como também mostra a fotografia, Tio Henry usava o cabelo curto; o pescoço comprido saindo de uma gravata preta de várias voltas. O rosto era fino, rapado, apenas o bigodinho ralo pegado ao nariz. Agora estava barbudo, pesado. A face larga, nariz aquilino, pele corada, quase vermelha; tinha a respiração curta e os olhos dorminhocos, sempre pitando o cigarrinho de palha preso entre os dentes.
Dorothy tinha doze anos. Mocinha forte e cheia, sempre apertada num vestido de chita, meio desbotado. Loirinha, os cabelos lisos feitos em duas tranças que lhe desciam pelas costas. Tia Ema a chamava às vezes de mocinha bonita; quase sempre pegava nas mãos de Dorothy para contar-lhe os dedos, como, com esse e outros gestos e palavras, pudessem recordar sua infância em Nova Iorque. A única diversão de Dorothy era brincar com Totó, cãozinho bastante alegre, sempre ao seu lado.
Na casa, não havia sótão nem porão; só o enorme buraco cavado no chão, onde a família se abrigava durante os furacões. Era um buraco anti-ciclones, como dizia Tio Henry. Para se esconder ali, desciam pelo alçapão num canto da sala.
Em torno da casa, a extensa campina acinzentada, coberta por relva com as extremidades de suas hastes sempre torradas pelo sol. Nada de árvores, nada de verde, tudo muito árido! Nenhuma vila, nem mesmo uma casa vizinha. Tudo era cinzento; até a casa de Tio Henry, pintada há tempos de branco, tornou-se cinzenta e melancólica, como tudo em volta.


Certo dia, o céu amanheceu escuro, mais cinza. O vento arrastava ondas de capim para todos os lados. Tio Henry, preocupado desde cedo, permanecia sentado na soleira da porta. Apreensivo, examinava o mau tempo. Em pé, ao seu lado, Dorothy com o Totó nos braços, também olhava o céu, enquanto Tia Ema, lá na pia, lavava louças. De repente, Tio Henry levanta-se e observa:
- Mau sinal, gente! Vem aí ciclone bravo – e virando-se para a mulher - Ema, tome conta da garota. Vou cuidar dos bichos.
O velho corre para o curral, já berrando pelo nome os animais. Tia Ema, assustada com a violência do vento, larga o trabalho, e desce para o esconderijo, gritando:
- Dorothy!... Dorothy!... Depressa, menina, corra para o porão.
Totó, assustado, escapa dos braços de Dorothy e se esconde debaixo da cama. A menina tenta agarrá-lo, suplicando:
- Totó, venha cá. Depressa, maluquinho!
Quando Dorothy finalmente segura o cachorro e corre em direção ao alçapão, uma rajada de vento abala tudo com violência, ela se desequilibra e cai sentada no chão. A casa rodopia duas vezes no ar e, como balão, começa a voar.
- Trem mais esquisito! – murmura a menina, quase morrendo de medo.
Dorothy sem saber como fazer, acha melhor ficar quietinha num canto da casa, aguardando os acontecimentos. Totó, impaciente, latia feito doido, correndo pelo quarto sem parar; passava tão perto do alçapão que, de repente, é tragado pelo vento para fora da casa.
A menina chora e grita pelo cão, imaginando que pouco ou nada poderia fazer pelo amigo. Mas logo avista suas orelhas aparecendo na boca alçapão; a forte pressão do vento fazia Totó flutuar. Imediatamente, limpa as lágrimas com as costas das mãos, engatinha-se até o cachorrinho, pega firme em suas orelhas e puxa-o para dentro. Depois, fecha a tampa para evitar outros acidentes; aperta o cãozinho no colo e pula para a cama, pensando dormir um pouco para dar pausa em seus pensamentos e esperar com calma os acontecimentos.
- É isso aí! – murmura.
Agarradinha a Totó, adormece, apesar do balanço da casa e do barulho do vento.

Capítulo II

O PAPO COM OS ANÕES

Desperta Dorothy com o choque da casa pousando no solo, tão brusco e repentino, não fosse a maciez do colchão, teria se machucado. Totó salta da cama, latindo.
- Psiu! – faz Dorothy, meio espantada.
Senta-se na cama, olhando em torno. Fica encantada com um risco de luz do sol, entrando pela fresta da janela. Pula para o chão. Abre a porta e depara com a bela paisagem na sua frente.
- Santo Deus!... Não acredito no que estou vendo!
Era mesmo uma visão maravilhosa! Logo na porta de casa, um terreiro cheio de árvores frutíferas de dar água na boca: maçãs, laranjas, pêras, tâmaras, ameixas e muito mais. Pássaros coloridos cantavam e saltavam de árvore em árvore. Havia maritacas com bico azul e uma infinidade de micos avermelhados, pulando nos galhos. Mais abaixo, reluzia o riacho cortando um campo salpicado de flores multicoloridas. Tudo um sonho. Dorothy, acostumada com a planície seca e cinzenta do Kansas, se deslumbra com a beleza das flores, o canto dos pássaros e o sussurro melodioso das águas do regato.





Enquanto admirava a beleza do lugar, surge na sua frente um grupo de pessoas estranhas; todos bem menores que ela, mas com aparência de velhos. Totó começa a latir. Dorothy ralha:
- Psiu! Quieto, amor.
O cão obedece e fica, da porta, os olhinhos pretos bem atentos, espreitando aquela gente esquisita: três homens vestidos de roupas azuis, e uma mulher com os cabelos compridos e grisalhos trajando túnica clara, adornada de estrelinhas faiscantes ao sol. Usavam chapéus redondos terminando em bico, com mais de trinta centímetros acima da cabeça; dependurados nas abas, um monte de sininhos, tilintavam ao menor movimento.
Sorrindo, a mulher aproxima-se de Dorothy e faz reverência:
- Benvinda à terra dos Anões, ilustre Bruxa!
Dorothy dá um passo atrás, assustada.
- Hã!... Uma o quê?
- Não se acanhe. Parabéns por ter acabado com a Bruxa Malvada do Leste. Seu gesto de coragem libertou nosso povo da escravidão.
Dorothy, ainda sem entender:
- Eu!... Deve haver engano, minha senhora. Nunca matei nem um mosquitinho de nada!
Enquanto admirava a beleza do lugar, surge na sua frente um grupo de pessoas estranhas; todos bem menores que ela, mas com aparência de velhos. Totó começa a latir. Dorothy ralha:
- Psiu! Quieto, amor.
O cão obedece e fica, da porta, os olhinhos pretos bem atentos, espreitando aquela gente esquisita: três homens vestidos de roupas azuis, e uma mulher com os cabelos compridos e grisalhos trajando túnica clara, adornada de estrelinhas faiscantes ao sol. Usavam chapéus redondos terminando em bico, com mais de trinta centímetros acima da cabeça; dependurados nas abas, um monte de sininhos, tilintavam ao menor movimento.
Sorrindo, a mulher aproxima-se de Dorothy e faz reverência:
- Benvinda à terra dos Anões, ilustre Bruxa!
Dorothy dá um passo atrás, assustada.
- Hã!... Uma o quê?
- Não se acanhe. Parabéns por ter acabado com a Bruxa Malvada do Leste. Seu gesto de coragem libertou nosso povo da
Enquanto admirava a beleza do lugar, surge na sua frente um grupo de pessoas estranhas; todos bem menores que ela, mas com aparência de velhos. Totó começa a latir. Dorothy ralha:
- Psiu! Quieto, amor.
O cão obedece e fica, da porta, os olhinhos pretos bem atentos, espreitando aquela gente esquisita: três homens vestidos de roupas azuis, e uma mulher com os cabelos compridos e grisalhos trajando túnica clara, adornada de estrelinhas faiscantes ao sol. Usavam chapéus redondos terminando em bico, com mais de trinta centímetros acima da cabeça; dependurados nas abas, um monte de sininhos, tilintavam ao menor movimento.
Sorrindo, a mulher se aproxima de Dorothy e faz reverência:
- Benvinda à terra dos Anões, ilustre Bruxa!
Dorothy dá um passo atrás, assustada.
- Hã!... Uma o quê?
- Não se acanhe. Parabéns por ter acabado com a Bruxa Malvada do Leste. Seu gesto de coragem libertou nosso povo da escravidão.
Dorothy, ainda sem entender:
- Eu!... Deve haver engano, minha senhora. Nunca matei nem um mosquitinho de nada!
- Não há engano nenhum.
- Juro. Não matei ninguém. Nem sou Bruxa.
- Bem, se não foi Você, foi a sua casa, dá no mesmo.
A velha Anã insiste:
- Veja, existem dois pés aparecendo por baixo daquela viga que sustenta a sua casa!
Dorothy arredonda os olhos de espanto.
- Santo Deus!... Quem era?
- A Bruxa Malvada do Leste – repete a mulher.
- Trem esquisito!... Não tenho culpa, foi acidente. A casa caiu em cima da coitada. Mas...
- Não se preocupe. Ela era má. Dominou os Anões por longos anos. Livres, querem agradecer a Você.
- Quem são eles?
- Os habitantes deste lugar.
- A Senhora é a rainha deles?
- Não, apenas amiga. Ao saber da morte da Bruxa Malvada do Leste, corri para cá. Sou a Bruxa do Norte.
- Uma Bruxa!... Bruxa de verdade?
- Sim, a Bruxa do Norte. Mas sou uma Bruxa boa. O povo me adora.
- Então Você é uma Fada?
- Bem... prefere me chamar assim? Sou pouco menos poderosa que a Bruxa Malvada que acaba de morrer, é verdade... Agora, existe apenas uma Bruxa má, na Terra de Oz.
- Cadê a outra? – quis saber Dorothy, hesitante.
- Mora além, muito além daqui. É a Bruxa Malvada do Oeste.
- Ela é tão má assim?
- Nem lhe conto!
- Quantas Bruxas boas ainda existem por aqui?
- Duas. A Bruxa do Norte e a do Sul.
- Você é uma delas?
- Sim – responde a outra com pitada de orgulho.
Dorothy pensa um pouco e revela:
- Engraçado!... Tia Ema sempre me disse: - As bruxas más morreram há muito tempo.
- Quem é Tia Ema?
- Mora no Kansas, o lugar de onde venho.
- É um lugar civilizado?
- Ah, é sim.
- Então é por isso. Nos lugares civilizados não há mais Bruxas, nem Fadas. Muito menos Feiticeiras ou Mágicos.
- Mágico eu garanto que tem – se apressa a menina.
- Esses não são os verdadeiros. Mágicos de circo são mágicos de mentirinha, só para enganar.
- Bem!...
- No Reino de Oz, sim, ainda há Bruxas e Mágicos de verdade. Oz é o mais poderoso de todos. E vive na Cidade das Esmeraldas.
Dorothy ia fazer pergunta, quando, um dos Anões grita e aponta para a casa.
- O quê foi? – indaga a Bruxa, curiosa.
- A Bruxa Malvada do Leste desapareceu – mostra o homenzinho.
A Bruxa Boa dá gargalhada:
- Coitada!... Era muito velha e se evaporou! Dela, ficou apenas seu par de Sapatos de Prata.
A Bruxa do Norte caminha até os Sapatos de Prata. Agacha-se e pega-os; sopra a poeira e diz:
- Agora são seus, minha pequena. Foram úteis para a Bruxa Malvada do Leste.
- Dizem que são poderosos – interveio um dos Anões.
Dorothy agradece e leva os Sapatos de Prata para dentro da casa. Retorna num instante e pergunta:
- Podem me ajudar a encontrar o caminho de volta para casa? Tia Ema e Tio Henry estão preocupados comigo.
Os Anões e a Bruxa entreolham-se, balançando negativamente a cabeça. Um deles garante:
- Impossível atravessar o deserto pelo Leste.
- A mesma coisa acontece no Sul – alerta o outro.
- Ao Norte fica minha Região – explica a Bruxa Bondosa. O mesmo deserto impede qualquer um de atravessar para além.
- A Oeste, também não dá. A Bruxa Malvada faria de Você escrava para sempre – previne o terceiro Anão.
- Você poderia viver com a gente – sugere a Bruxa Bondosa, rindo.
- Não posso, preciso voltar para o Kansas – lamenta a menina, já meio agoniada.
Dorothy, como se atingida por novo ciclone, começa a soluçar com medo de não poder voltar para o Kansas. Suas lágrimas comovem os Anões.
- Não chore, menina – pede um deles em tom de consolo -, a boa Bruxa do Norte vai ajudá-la. Ela adora tanto as crianças; em nossa cidade, quando passa pelas ruas, nossos filhos correm para ela; adoram receber o carinho de suas mãos macias, e ouvir de seus lábios palavras de afeto.
A Bruxa Bondosa, também comovida, começa a andar de um lado para o outro, com as mãos entrelaçadas, atrás das costas. Depois, pára e puxa a ponta do chapéu para junto do nariz, e começa a contar pausadamente:
- Um!... Dois!... Três!...
Subitamente o chapéu vira em quadro negro, onde se lê:

MOSTRE A DOROTHY O CAMINHO
DA CIDADE DAS ESMERALDAS.

A Bruxa retira o quadro do nariz e, lendo o escrito, pergunta:
- Seu nome é Dorothy?
- É sim – confirma a menina, enxugando as lágrimas com a manga do vestido.
- Vá à Cidade das Esmeraldas. Só o Mágico de Oz pode ajudar Você.
- Onde fica?
- Distante daqui.
- Quem é Oz?
- Um mágico poderoso.
- Deve ser bom homem, não?
- Bom homem?!... Não sei, nunca vi o Grande Oz.
- Como posso chegar lá?
- Através de uma região cheia de surpresas e perigos.
- E a senhora pode ir comigo?
- Não, não posso. Mas vou protegê-la. Ninguém se atreverá a lhe fazer mal.
A Bruxa toma Dorothy pelos brasços e dá-lhe um beijo, deixando a marca redonda e cintilante na sua testa. E ensina:
- A estrada para a Cidade das Esmeraldas é pavimentada de pedras amarelas. Quando encontrar Oz não tenha medo nem banque a boba. Conte-lhe sua história e peça ajuda. Boa sorte! Adeus, querida!
Mal acaba de falar, rodopia três vezes sobre o pé esquerdo e desaparece no espaço. Os três Anões se despedem também e saem em disparada; os sininhos dos chapéus tilintando como malucos.
Totó late bem alto, espantado. Dorothy acha normal a Bruxa desaparecer daquele jeito; em toda história de Contos de Fadas é sempre assim. E pensa lá com seus botões: se tinha visto aquilo tudo no primeiro dia no Reino de Oz, quanta coisa nova não veria pelo caminho até Cidade das Esmeraldas?






Capitulo III
DE COMO DOROTHY SALVA
UM ESPANTALHO

Dorothy sente fome. Abre o guarda-comida, escolhe uma fatia de pão e oferece outra a Totó. Pega o balde e caminha para o riacho em busca de água para tomar banho. Totó segue atrás, latindo, perseguindo os pássaros. Na volta, Dorothy colhe algumas frutas gostosas para comer durante a viagem.
Depois do banho, põe o vestidinho xadrez de azul e branco; embora o azul já estivesse desbotado, ainda era bonito. Ajeita na cabeça o chapeuzinho cor-de-rosa, de abas largas, calça os Sapatinhos de Prata e, acomoda nos braços a cestinha de pão e frutas, protegida por um guardanapo branco. Antes de sair, vira-se para o cachorrinho, dizendo:
- Vamos andando, Totó. O Grande Oz nos ajudará.
Totó olha para ela com os olhinhos brilhando e balança a cauda para mostrar que tinha entendido. Dorothy continua, rindo:
- Coragem, amigo! Uma estrada de mil léguas começa por um passo.
Outra vez Totó abana o rabo. A menina tranca a porta, coloca a chave no bolso do vestido e, com o cachorro todo saliente a seu lado, começa a longa jornada, ouvindo o ruído da Natureza, na festiva manhã de Primavera.
Brilhava o sol. Seus raios, filtrados pelas folhagens das árvores, deitavam reflexos de cristais no leito da estrada. Aqui e ali, muitos pássaros cantavam alegremente. Cheia de entusiasmo, admirava a beleza das grandes áreas plantadas de trigo e de outros cereais, separadas por cercas pintadas de azul, a cor predileta do povo dali. Quando passava em frente de uma residência, os moradores corriam à porta para cumprimentá-la; todos sabiam que a menina tinha sido a libertadora, embora involuntária, do seu povo. As casinhas dos Anões eram redondas e cobertas por cúpula parecendo casquinha de sorvete de cabeça para baixo, quase todas com girassóis ou ciprestes perfilados ao pé dos degraus das varandas.
Ao cair da noite, sem saber onde dormir, Dorothy chega a uma casa maior do que as outras. No pátio, homens e mulheres dançam ao som de violinos, tocados por cinco músicos. Em torno de uma grande mesa cheia de frutas, bolos, doces e castanhas, outros Anões comem, riem e cantam.
Dorothy foi bem recebida pelos donos da casa, convidada a cear e passar a noite com a família de Boq, dos mais prósperos fazendeiros da região. A festa comemorava a derrota da Bruxa Malvada do Leste.
No jantar, a menina devora tudo que pode. Totó, também. Depois, senta-se num banco, fica olhando os outros dançarem. Boq não tirava os olhos dos Sapatinhos de Prata, e pergunta:
- Você deve ser uma grande Bruxa?
- Por quê?
- Por dois motivos: usa Sapatos Prateados e matou a Bruxa Malvada do Leste. Além do mais, tem o branco no vestido. Somente bruxas e feiticeiras se vestem de branco.
- Meu vestido é listrado de azul e branco.
Boq, esfregando as mãos:
- Muito gentil de sua parte. O azul é a cor predileta dos Anões. O branco, das Bruxas. Então, Você é Bruxa amiga de nossa gente.
Dorothy, sem saber o que dizer, cala-se. Totó, depois de engolir outro prato de torta de maçã, se enrosca nas suas pernas como gato manhoso, sacudindo o rabo, sem parar. Mais tarde, ao sentir sono, a dona da casa, que já havia preparado o quarto de hóspede, a leva para dormir. O cãozinho se acomoda no tapete também azul.
Na manhã seguinte, depois do café, Dorothy pergunta a Boq:
- A Cidade das Esmeraldas fica muito longe?
- Não sei, nunca estive lá. Terá de atravessar desertos e regiões perigosas.
Dorothy, demonstrando coragem, deixa os Anões e continua a viagem. Depois de percorrer bom trecho da estrada, resolve descansar. Escolhe um lugar tranqüilo e se acomoda no alto da cerca para admirar a paisagem. Na sua frente, uma grande planície de lavoura, repartida em quadras verde-claros e verde-escuros, que lhe recordavam a toalha feita de remendos, forrando a mesa da casa de Tia Ema; um grupo de anões carpinavam a roça de milho. E, pertinho de onde estava, chama sua atenção um Espantalho suspenso no alto de uma vara. Olhando bem para ele, observa que tinha os olhos, nariz e boca bem desenhados, usava terno meio desbotado, par de botinas velhas e chapéu bicudo, bastante surrado. Tudo azul, segundo o gosto do lugar.
Dorothy imagina mil coisas a respeito do Espantalho. Tanto que, num momento, acha que a simpática figura piscara para ela. Não, impossível. Nunca tinha visto nem ouvido dizer que boneco seria capaz de piscar. Daí a pouco, ele dá outra piscada e acena com a cabeça. Desconfiada, desce da cerca, enquanto Totó corria em torno do Espantalho, abanando a cauda, latindo.
- Bom dia – cumprimenta o Espantalho, com voz rouca.
- Você fala, cara?...
- Claro. Como vai?
- Muito bem, obrigada. E Você?
- Mal. Muito mal. Não é nada divertido passar dias e noites, espetado aqui em cima, só para espantar os pássaros.
- Por que não desce daí?
- Hahahaha!... Não posso. A não ser que me desprenda desta vara.
Dorothy não pensa duas vezes, levanta os dois braços e tira o boneco da estaca. Muito fácil; espantalho, feito apenas de palha e pano velho, não pesa quase nada.
De pé, ao lado de Dorothy, o Espantalho agradece:
- Muito obrigado! Agora, sinto-me outro homem.
- Fico feliz por isso!
- Quem é Você e o que faz por aqui?
- Sou Dorothy, vou à Cidade das Esmeraldas falar com o Grande Oz. Preciso voltar para o Kansas.
- Onde fica? E quem é esse Grande Oz?
- Uai!... Você não sabe?!...
- Nada sei desta vida. Não tenho cérebro, portanto não posso raciocinar.
- Oh!... Sinto muito! – se comove Dorothy.
- Quem sabe esse Mágico me daria um cérebro para pensar?
- Pode ser. Quer viajar comigo?
- Claro! Possuir palha no lugar dos miolos, ah, me faz sentir tolo!
- Então, pé na estrada!
Totó, de início, não gosta muito da nova companhia, late sem parar em volta do Espantalho.
- Não ligue. Ciúmes!... Cachorro que ladra, não morde – brinca Dorothy.
O boneco solta uma risada:
- Ra-rá-rá!... – Se me mordesse não me machucaria. Por ser feito de palha, suporto até beliscão.
E depois de uma pausa:
- Advinha qual a coisa do que tenho mais medo neste mundo?
- Já sei!... Do fazendeiro, seu dono! - responde Dorothy, coçando a testa.
- Sua boba!... De um fósforo aceso!
Os dois riram. De repente, Totó empina o rabo e pára diante de uma moita de capim, farejando, e agitando a cauda com insistência.
- Que foi, Totó? – grita Dorothy, já caminhando em sua direção.
No fundo da touceira, tremendo de medo, encolhia-se um filhote de passarinho; ainda mal empenado, feiozinho, e com os olhos de moleque espantado.
- Vem depressa, Espantalho. Aqui tem um filhotinho perdido.
- Deve ser Bem-te-vi!...
- Sim. Depressa, temos de encontrar o ninho dele.
O Espantalho aponta um dos braços para árvore em frente.
- Fica naquela árvore. Passei a tarde assistindo os pais tratar dos filhos.
- Então, me ajude a salvar o bichinho.
O Espantalho sobe com facilidade na árvore, levando o filhotinho numa das mãos. Deixa o passarinho no ninho, desce e elogia a nova amiga:
- Tem o coração bom e a alma pura, menina! Seremos amigos para sempre.
Alegres, os três saem pela estrada de pedras amarelas a caminho da Cidade das Esmeraldas.
Dorothy respirava as exalações suaves das flores do campo, sentindo nos cabelos e no rosto o doce afago dos sopros da manhã.


Capítulo IV
NOVAS AVENTURAS

A estrada piorava a cada passo, sempre esburacada. Região feia e triste, até o capim dos campos crescia ao abandono. Não tinha casas e raramente os viajantes avistavam uma árvore, de onde se ouvia, às vezes, o piado monótono de um pardal. Dia inteiro caminhando no meio do sertão. À tardinha, por sorte, encontram um córrego cortando a estrada.
Dorothy, enjoada de ver aquela paisagem agreste, filosofa:
- Legal este regato! Tio Henry dizia que nada havia de melhor para o homem que o sabor e o som de água. Melhor ainda é descansar na beira de um rio, vendo a correnteza.
- Parabéns!... Parabéns!... – aplaude o Espantalho
Sorri e torna:
- A água, apesar de não ter serventia para mim, é um bem muito precioso a vida.
Dorothy, enquanto retira um pedaço de pão da cesta, olha para o céu e agradece. Dá uma fatia a Totó e, por educação, oferece outra ao Espantalho. Ele recusa, dizendo jamais ter fome, mas gostaria de saber alguma coisa sobre o Kansas.
A menina abre um sorriso enorme, fazendo sim com a cabeça. Fala tudo sobre o Kansas. E também explica como um ciclone a trouxe até essa estranha Terra de Oz.
- Não entendo como quer deixar este lugar tão lindo e voltar para um lugar tão seco e tão cinzento!
- Você não compreende porque não tem cérebro. Nós, gente de carne e osso, jamais trocamos a nossa terra por nenhuma outra, por mais bela que seja.
O Espantalho suspira:
- É claro. Se a cabeça dos humanos fosse de palha, viveriam somente em lugares bonitos. Sorte para o Kansas que Vocês têm cérebro.
Dorothy sorri. E pede:
- Que tal me contar sua história?
O boneco se ajoelha, e colhe uma florzinha silvestre:
- Minha vida é tão curta e simples como a desta florzinha.
- Mesmo assim, quero saber.
- Muito bem. Fui criado anteontem. O que aconteceu antes no Mundo é mistério para mim.
- Conta o depois. Estou curiosa.
- Nasci no momento em que o Fazendeiro terminou de desenhar meus ouvidos e perguntou ao companheiro:
- Que tal as orelhas?
- Parecem meio tortas.
- Isso não tem importância, importante é que são orelhas – sorriu o Fazendeiro.
- Se é assim, tudo bem – concordou o amigo.
- Agora vou desenhar os olhos – disse o Fazendeiro, eufórico. Então ele pintou de azul meu olho direito. Que legal! Olhei em volta com enorme curiosidade, quando ouvi novamente a voz dele:
- Que tal o olho?
- Está bonito, sô!
- Vou fazer o outro pouquinho maior – garantiu o Fazendeiro.
E depois de um longo suspiro:
- Ah!... Quando ficou pronto, pude ver muito melhor. Em seguida, fez o nariz e a boca. Não disse nada, ainda não sabia a utilidade da boca. Quando juntou minha cabeça ao corpo, já com os braços e as pernas, fiquei orgulhoso, senti que era homem igual a todos os outros. E o Fazendeiro foi logo elogiando:
- Esse levará terror para os corvos. Parece muito com homem de verdade.
E depois de outro suspiro, mais longo ainda:
- No mesmo instante, o Fazendeiro colocou-me debaixo do braço, chamou o amigo, e me levou para o milharal. Nada pior poderia ter acontecido!... Fiquei ali, abandonado feito trouxa, preso naquela estaca, espantando pássaros. Era o início de minha triste vida de Espantalho, sem nada para pensar.
- Tinha muitos pássaros para espantar? – pergunta Dorothy.
- Sim, principalmente corvos. Assim que me viam, fugiam para longe, achando ser homem de verdade.
- Que legal!
- Isso até me fez sentir mais importante. Mas, lá pelas tantas, um velho corvo pousa no meu ombro, sem demonstrar o menor medo. Examina-me da cabeça aos pés, e ironiza:
- Arre!... Aquele fazendeirozinho pensa me tapear de forma tão grosseira? Você não passa de um espantalhozinho de nada, recheado de palha.
Fiquei chateado, nem dei resposta ao corvo. Ele então desceu e comeu todo o milho que quis. Outros pássaros, vendo o corvo naquela folga, aproveitaram para comer milho também; bem na minha frente, provando que não era bom espantalho. Mas o velho corvo, antes de sair, me consolou:
- Se Você tivesse cérebro, seria um homem até melhor do que muitos que existem por aí!
Passei o resto do dia e a noite toda chateado. Então, resolvi lutar por um cérebro. Por sorte Você chegou, tirou-me da estaca e, pelo jeito, poderá me ajudar.
- Claro, vamos tentar juntos – entusiasma Dorothy, sorrindo.
- Obrigado. É triste ser eterno boboca!
- Bem, vamos indo.
Dorothy entrega a cesta ao Espantalho, chama Totó e voltam os três a caminhar. O sol preparava para se esconder; do tamanho de um tomatão maduro; vermelho, esticava a sombra dos viajantes e das poucas árvores para lá do meio da estrada. Pouco tempo depois, escurece por completo; a menina toma o braço do Espantalho que enxergava bem no escuro. Logo adiante ele pára, afirmando:
- Estou vendo uma cabaninha. Será nosso abrigo para passar a noite.
- Claro. Estou exausta.
A cabana era simples. Dorothy entra e encontra uma cama de folhas secas e, com Totó enroscado ao lado, em pouco tempo estava dormindo. O Espantalho encosta-se num canto da sala, e fica esperando pacientemente pelo outro dia. dia.







Capítulo V
O HOMEM DE LATA

Quando Dorothy acorda, o sol ia alto. Totó já perseguia os pássaros e os esquilos, se divertindo como nunca.
- Precisamos buscar água – lembra ao Espantalho.
- Para quê?
- Uai! Para beber e lavar o rosto.
- Como é incômodo ser feito de carne e osso!...
– Precisamos comer, dormir e beber água. Tomar banho, também.
- Em compensação, Vocês têm cérebro para pensar. Isso supera todas as desvantagens.
Imediatamente, os três deixam a cabana e andam pela floresta até encontrar um regato de água pura. Dorothy lava o rosto e, sentada numa pedra, merenda com Totó. De repende, escuta um gemido agonizante.
- Que será isso? – pergunta a menina, apreensiva.
- Nem imagino, vamos andando por aquele lado.
Outro gemido. Caminham pouquinho mais e avistam um boneco de metal, brilhando ao sol, ao lado de um tronco de árvore cortada. Era um homem feito de lata, completamente imóvel, segurando um machado, como se estivesse encantado.
- Bom dia, rapaz – cumprimenta Dorothy.
- Bom dia, menina – responde o Homem de Lata, gentilmente.
- Você gemeu?
- Sim. Há mais de um ano faço isso, mas ninguém aparece para me socorrer.
- Podemos ajudá-lo?
- Pode, sim. Busque a lata de óleo na minha cabana e lubrifique minhas juntas; estão enferrujadas. Depois disso, ficarei bom novamente.
Dorothy corre à cabana e traz a lata de óleo, já perguntando:
- Começo por onde?
- Pelo pescoço – pede o Homem de Lata.
A menina lubrifica com jeitinho todas as articulações do pescoço, estava tão emperrado que o Espantalho foi obrigado a pegar a cabeça do homem de lata, movê-la lentamente de um lado para o outro, até voltar a funcionar sozinha. Em seguida, foi a vez das juntas dos braços e das pernas.
Livre da ferrugem, o Homem de Lata suspira com alívio:
- Obrigado. Sem ajuda de Vocês, passaria o resto da vida neste lugar, totalmente imobilizado.
- Não se preocupe. Faríamos isso para qualquer um numa situação assim.
- Belo gesto, menina. Que fazem por estas bandas?
- Vamos à Cidade das Esmeraldas falar com o Grande Oz.
- Para quê?
- Quero voltar para o Kansas e o Espantalho quer pedir um cérebro ao Grande Mágico.
O Homem de Lata, depois de pensar um instante:
- Oz me daria um coração?
- Acho que sim. Seria tão fácil como dar cérebro ao Espantalho.
- É verdade! – concorda o Homem de Lata. – Posso acompanhá-los?
- É claro! – balança a cabeça o Espantalho..
Dorothy também concorda. O Homem de Lata pede para a menina guardar a lata de óleo em sua cesta, enquanto apoiava o machado no ombro; e partem todos a caminho da Cidade das Esmeraldas. Logo na frente o Espantalho leva o primeiro tombo do dia, tropeçando numa pedra.
- Por que não pulou a pedra? – procura saber o Homem de Lata.
- Não tenho cérebro. No lugar dele, tenho palha, por isso não raciocino direito.
- Ah, é!...
- Espero ganhar um cérebro do Grande Oz.
- Para mim, Espantalho, o cérebro não é o mais importante deste mundo.
- Você tem cérebro?
- Não. Minha cabeça é completamente oca. Mas já tive cérebro e coração. E, por ter experimentado os dois, prefiro mil vezes o coração.
- Uai, por quê?
- Ah, isso é uma longa história.
- Então conta para nós – pede Dorothy.
- Tempos atrás, eu era criatura normal, de carne e osso, filho de um casal de lenhadores. Quando virei rapaz me apaixonei por uma moça que cuidava há anos de uma velha preguiçosa. Vendo que a moça ia sair de sua casa, a velha ofereceu duas ovelhas e uma vaca à Bruxa Malvada para impedir nosso casamento.
Neste ponto da história, o Homem de Lata faz longa pausa, como se estivesse colocando as idéias em ordem. E continua:
- Não deu outra, a Bruxa Malvada enfeitiçou o machado. Um dia, quando trabalhava, a ferramenta escapuliu de minhas mãos e cortou-me a perna esquerda. Fui ao funileiro e ele me fez a perna de lata, tão boa quanto à de carne. A Bruxa, ao saber da nova perna, não se conteve. Acreditem!... Mal voltei ao trabalho, o machado decepou a perna direita – o funileiro outra vez quebrou meu galho. Depois, fiquei sem os braços – o funileiro mais uma vez colocou em mim braços de lata.
E depois de um suspiro:
- Você acha que a Bruxa Malvada me deixou em paz?
Ele mesmo responde:
- Minha filha, a Bruxa não dava trégua. Tiririca de raiva ordenou ao machado que me arrancasse a cabeça e partisse meu corpo em pedaços. Pela quarta vez o bom funileiro me reconstituiu tudo em lata. Mas, para a minha tristeza, não fez coração! Sem coração, perdi todo o amor pela moça. Desmanchei o noivado.
Dorothy leva uma das mãos à boca, admirada:
- Você perdeu algo importante na vida, o amor.
O Homem de Lata abaixa a cabeça, respira fundo.
- Você tem razão. Por outro lado, passei a sentir orgulho vendo meu corpo brilhar ao sol, resistente ao golpe de machado. Hoje, só temo a ferrugem. Ando sempre com a lata de óleo para lubrificar as juntas.
- Por que um coração?
- Quero me apaixonar de novo.
Dorothy fica emocionada com a história do Homem de Lata.


Capítulo VI
O LEÃO MEDROSO

Os forasteiros seguem com dificuldades na estrada suja de galhos e de folhas secas, caídos das árvores. Vez ou outra, um pássaro corta o ar, num vôo brusco. De repente, um urro de um animal selvagem, vindo da mata, faz até o Espantalho tremer de medo. Totó corre para juntinho a Dorothy, sem latir, pressentindo perigo.
- Falta muito para chegarmos à Cidade das Esmeraldas? – pergunta, também intrigada, Dorothy ao Homem de Lata.
- Não faço a menor idéia. Papai esteve lá uma vez. Reclamava muito da lonjura, embora afirmasse ser tudo muito bonito nas proximidades da Cidade.
- Estou com medo.
- Bobagens, amiga!... Você está protegida pela marca da Bruxa do Norte.
- Mas... e o Totó?
- Em caso de perigo, tomaremos conta dele.


Apenas acaba de falar, um Leão gigante salta no meio da estrada, rugindo na maior altura. Chega perto do grupo e dá uma patada tão violenta no Espantalho que o joga por cima da cerca. E com outra mais forte ainda derruba o Homem de Lata no encostamento da estrada.
Totó late e ameaça a fera. O felino, ao ver o tamanho do inimigo, se estende na estrada e abre a imensa boca. Dorothy, ao perceber o perigo, acerta um tapa bem no meio do seu focinho, aos gritos:
- Covarde! Covarde!
O Leão recua um pouco, apreensivo. Dorothy, mais brava:
- Absurdo! Monstrão desse querendo degolar um cachorrinho inocente como Totó! Devia se envergonhar!
- Bolas! Não mordi ninguém – nega o Leão, esfregando o focinho com a pata.
- Não mordeu, mas queria. Covarde!
- Covarde!... Ah, isso eu sei! – concorda o Leão, envergonhado.
- Covarde e metido a besta! – esgoela o Homem de Lata de onde estava.
Dorothy, ainda muito irritada:
- Espancar um homem de palha, como o Espantalho! Que vergonha, meu Deus!
- De palha? – o Leão fica surpreso ao ver a menina colocar o boneco de pé.
- Sim, de palha – repete Dorothy.
– Por isso que saiu voando por cima da cerca. O outro também é de palha?
- Não. De lata – confirma a menina, também, ajudando o Homem de Lata a se levantar.
- Humm... Agora sei porque não se machucou com minha patada. E que bichinho é esse, querendo me atacar?
- Totó, meu cachorro de estimação.
- É de lata ou de palha?
- Feito de carne e osso, como eu e Você.
- Animalzinho curioso, tão pequeno! Santo Deus!... Só mesmo um covarde como eu atacaria bichinho tão delicado!
Dorothy, já demonstrando pena do Leão:
- Por que é tão covarde, hein?.
- Mistério!... Talvez nasci assim. Na floresta, tenho fama de Rei dos Animais; todos temem meu rugido. Só barulho. Se um Urso, um Tigre ou um homem me enfrentasse, fugiria de medo.
- Não acredito!... O Rei dos Animais não pode ser tão covarde assim – critica o Espantalho, já recuperado do susto.
O Leão, enxugando uma lágrima com a ponta do rabo:
- Sou mesmo infeliz! Meu coração dispara ao menor perigo.
- Deve ter alguma lesão no coração – chuta o Homem de Lata.
- Pode até ser.
- Você tem cérebro? – procura saber o Espantalho.
- Acho que sim.
- Eu não. Minha cabeça é cheia de palha. Pedirei a Oz um cérebro.
- Para mim um coração – atalha o Homem de Lata, em tom melancólico.
E Dorothy, apressada:
- E eu, que me mande de volta ao Kansas.
O Leão, franze a testa, interessado:
- O Grande Oz me daria um pouco de coragem?
- Acho que sim!... – anima Dorothy.
- Então, posso seguir viagem com Vocês?
- Será muito bom – aplaude o Espantalho. – Você assustará outras feras que surgirem no caminho.
- Eu!... Assustar outras feras!...
- Bem, o papo está bom, mas temos que dar o fora daqui – alerta Dorothy.
O Leão passa para o lado de Dorothy, e retomam a caminhada. A viagem seguia tranqüila até o Homem de Lata esmagar, sem querer, um pequeno besouro. Engraçado!... Quase morre de remorso. Chora tanto que as lágrimas enferrujam as juntas dos maxilares. Foi preciso muito óleo para reuntá-las.
- Que isto me sirva de lição. Um homem tem de ver onde pisa! – reconhece o Homem de Lata, assim que pôde falar novamente.


Capítulo VII
A CAMINHO DA CIDADE DAS ESMERALDAS

Naquela noite, os viajantes são obrigados a acampar debaixo de uma árvore frondosa. O Homem de Lata acende uma fogueira com galhos secos para aquecer os companheiros de carne e osso. Em torno dela, Dorothy e Totó comem o último pedaço de pão.
- Posso caçar um preá, e Você assa o bichinho na fogueira – sugere o Leão.
- Esqueça, prefiro comida vegetal – sorri Dorothy.
O Espantalho, temendo que uma fagulha caísse em sua palha, sai pela redondeza, colhendo nozes para Dorothy. O Leão, por sua vez, corre para o meio da floresta à procura de bom jantar. O que comeu, não disse a ninguém.
Ao amanhecer, o grupo reinicia a jornada rumo à Cidade das Esmeraldas. A viagem corria bem, até encontrarem um abismo separando a estrada em duas partes; tão fundo e com barrancos tão íngremes que nenhum deles mostra coragem para descer.
- Que vamos fazer? – pergunta Dorothy, aflita.
- Não tenho a menor idéia – responde o Homem de Lata.
O Leão sacode a juba, pensativo. Faz cara de quem estava avaliando mentalmente a distância de uma margem à outra:
- Posso pular para o outro lado.
- Então está tudo resolvido! – aplaude o Espantalho, mais alegre. – Você leva nas costas um de cada vez.
- Mais vale arriscar que voltar. Quem é o primeiro?
- Eu – levanta o braço o Espantalho.
O Espantalho imediatamente pula para as costas do Leão. A enorme fera vai até a beira do abismo, toma impulso e dá um salto com tanta força que alcança com sucesso o outro lado do despenhadeiro. Depois, busca Dorothy e Totó; finalmente, o Homem de Lata. Livres do abismo, retomam a jornada pela estrada de pedras amarelas. Andam poucos metros e escutam um ruído distante, como se fosse um urro selvagem, vindo da floresta, cada vez mais sombria. Dorothy assustada:
- Que rugido é esse?
- São os Kalidás - esclarece o Leão.
- Kalidás!... Quem são eles?
- Nunca os vi. Dizem que têm o corpo de urso e cabeça de tigre.
Dorothy, escondendo o rosto com a mãos:
- Santo Deus!...
- Feras enormes, do tamanho de cem cachorrinhos enrolados num só. E têm as garras afiadíssimas.
- Cruz credo!... Dorothy faz o sinal da cruz.
Quando o Leão ia falar mais sobre as feras misteriosas, deparam com outro abismo cruzando a estrada – muito mais largo, muito mais profundo; desta vez, impossível o Leão saltar.
Dorothy fica bom tempo estudando a região. Dá idéia:
- Vejam aquela árvore na beira do despenhadeiro, que está cai, não cai? Se o Homem de Lata acabar de derrubá-la, de modo que fique atravessada ao longo do abismo. Aí... passaremos sem risco, numa pinguela improvisada.
O Homem de Lata pega o machado e, em pouco tempo, a árvore geme e tomba sobre o abismo, ligando as duas partes da estrada. Imediatamente, começam a travessia, contentes com o trabalho do lenhador. Mas, antes de alcançarem o outro lado, viram que as feras continuavam a perseguição.
- Corram, corram! São os Kalidás! Temos que atravessar esse abismo o mais rápido possível - urra o Leão, já sentindo as pernas bambas.
- Com mil raios! – exclama o Espantalho, assustadíssimo.
Dorothy com Totó agarradinho ao colo, pede a Deus que ajude a todos naquele momento de horror; foi a primeira a pisar do outro lado do despenhadeiro. Atrás, o Homem de Lata e o Espantalho. Por último, o Leão; apesar do medo, urrava sem parar numa tentativa de afugentar os Kalidás. Vendo todos salvos, o Homem de Lata pega o machado e corta a extremidade da árvore, apoiada no barranco. Ah! O tronco despenca, levando com ele os Kalidás para o fundo do abismo.
- Ufa!... – suspira o Leão, mais aliviado.
A perigosa aventura deixa o grupo ainda mais ansioso para sair da floresta. Dorothy, muito cansada, monta nas costas do Leão, e prosseguem a viagem pela estrada de pedras amarelas. De tarde, chegam às margens de um rio largo e uma mata cheia de árvores frutíferas. Maravilha! Do outro lado, a estrada atravessava campos verdejantes, pontilhados de flores coloridas.
Surpresa, Dorothy pergunta:
- Será esse o rio da Cidade das Esmeraldas?
- Deve ser; toda cidade tem um rio – imagina o Leão.
- Como faremos para atravessar o rio?
O Leão já estava com a resposta na ponta da língua:
- Fácil! Através de uma embarcação, construída pelo Homem de Lata. É só escolher bom tronco seco, preferencialmente de árvore derrubada por raios. E mãos à obra.
Sugestão apoiada por todos. O Homem de Lata não perde tempo. Procura e acha um bom tronco seco de árvore para fazer boa embarcação. O Espantalho, muito feliz, sai pela mata a colher frutas gostosas para Dorothy e Totó, já enjoados de nozes. Quando cai a noite, os viajantes de carne e osso estavam quase mortos de cansaço; nunca tiveram um dia tão ruim assim na vida. Escolhem o aconchego de uma árvore bem copada e dormem ali mesmo, embalados por uma aragem gostosa e repousante, que chegava lentamente do rio.
Dorothy até sonha que o bondoso Mágico de Oz a levava de volta para o Kansas. Que legal!... Só de pensar nisso, o coração saltava-lhe por fora, tomada de alegria muito grande.

Capítulo VIII
A PLANTAÇÃO MORTAL
DE PAPOULAS

Quase meio-dia, quando a jangada ficou pronta. Para impulsioná-la, o Homem de Lata preparou duas grandes varas de madeira. Dorothy, com Totó nos braços, foi a primeira a embarcar. Depois, o Leão, o Espantalho e o Homem de Lata.
Tudo ia bem até o meio do rio, quando a forte correnteza começa a arrastar a jangada rio abaixo.
- Que azar!... – queixa-se o Homem de Lata.
- Temos que fazer alguma coisa para refrear essa geringonça – alerta o Leão.
O Espantalho, afobado com a situação, empurra com tanta força o varão no fundo do rio, que fica grudado na lama. Antes que pudesse puxá-lo ou largar, a embarcação é levada pela correnteza, deixando o Espantalho dependurado na vara no meio do rio.
Dorothy fica apavorada, temendo o pior para o Espantalho. O Leão então decide:



- Vou nadar e arrastar a embarcação até a outra margem do rio, antes de perdermos o Espantalho de vista – e se dirigindo ao Homem de Lata - segure firme aqui na ponta da minha cauda.
- Positivo, companheiro.
O Leão pula na água. Em pouco tempo, leva a jangada até a outra margem do rio. E agora, como salvar o Espantalho? Sentam-se todos desolados na beira do rio, olhando com tristeza o amigo, agarrado ao varapau no meio da correnteza.
- Como tirar nosso amigo Espantalho desse apuro?
- Calma, Doroty. Vamos pensar um pouco - responde o Leão, enquanto rolava na relva para secar.
Nisso, aparece uma Cegonha para beber água. Ao ver os estranhos, pergunta:
- Quem são Vocês?
- Sou Dorothy. Eles são meus amigos. Vamos à Cidade das Esmeraldas.
- Ah, é!... O caminho é mais adiante – mostra com a ponta da asa.
- Sabemos disso – confirma Dorothy. Antes, precisamos salvar o Espantalho. Veja, está preso ali no meio do rio.
A Cegonha vira o longo pescoço para o lado do Espantalho espetado:
- Coitado! Se não fosse tão grande e tão pesado!...
Dorothy abre um sorriso de esperança:
- Ele não pesa quase nada, é todinho de palha por dento. Oh! Por favor, nos ajude!
- De palha!... Bem, se é assim, posso tentar.
Imediatamente voa até o Espantalho, agarra-o e transporta o boneco para junto dos amigos. Que alegria! A ave, toda orgulhosa com a boa ação, se despede e o grupo reinicia a caminhada.
A região era de encher os olhos, atapetada de papoulas coloridas, brilhantes ao sol. Dorothy agacha, apanha uma flor e elogia o forte cheiro:
- Não são lindas? E que perfume!...
Mal sabia que o forte cheiro daquela flor era capaz de narcotizar qualquer pessoa, e deixá-la dormindo entre as papoulas para o resto da vida. Dorothy foi a primeira a sentir os efeitos da planta e cai desmaiada na grama.
- Meu Deus, que vamos fazer? – o Homem de Lata sente um arrepio percorrendo-lhe a lataria.
- Qualquer coisa para tirar Dorothy daqui - acode o Leão. - Essa planta é do diabo, pode até causar morte. Eu mal consigo manter os olhos abertos. Vejam: o cachorro também já perdeu os sentidos.
Totó estava caído ao lado da menina. O Espantalho e o Homem de Lata, como não eram de carne e osso, nada sentiam. Ao ver o Leão cambaleando, o boneco grita.
- Leão, saia! Saia logo desse lugar! Cuidaremos de levar Dorothy.
O Leão não pensa duas vezes, dispara para estrada de pedras amarelas. O Espantalho e o Homem de Lata fazem uma cadeirinha com os braços e transportam a menina e o cachorrinho. No meio do caminho são surpreendidos com o Leão adormecido na beira do rio.
O Homem de Lata abaixa a cabeça, fica pensativo por um momento, e lamenta:
- Que pena! Não podemos fazer nada por ele. É pesado demais! Dormirá aqui para sempre; talvez sonhe que encontrou a coragem.
- Sinto muito! Era bom sujeito – elogia o Espantalho.
- Bem... Vamos embora. Dorothy pode não suportar esse cheiro maldito por mais tempo – alerta o Homem de Lata.
Em pouco tempo, os viajantes deixam o campo de papoulas. Procuram lugar seguro e estendem Dorothy e Totó na grama macia, na esperança que a brisa suave, batendo no rosto, a despertasse logo.



Capítulo XIX
A RAINHA
DOS RATOS SILVESTRES

- E a estrada de pedras amarelas?
- Deve estar perto – responde o Homem de Lata.
Neste instante, surge do mato um gato selvagem, aos saltos pela grama, perseguindo um ratinho cinzento, que grunhia desesperadamente.
- Malvado gato!... - ameaça em voz alta o Lenhador, já erguendo o machado.
Quando o Gato-do-Mato passa na sua frente, corta-lhe a cabeça num golpe certeiro. O ratinho pára logo adiante e volta, agradecido:
- Obrigado por salvar minha vida.
- Não há de quê – responde o Homem de Lata. – Apesar de não ter coração, não meço esforços para socorrer quem precisa de ajuda, mesmo que seja um simples ratinho.
- Um simples ratinho? – protesta o animalzinho, indignado. – Pois fique sabendo que eu sou uma Rainha.
- Rainha?!... – surpreende-se o Homem de Lata.
- A Rainha dos ratos silvestres! – responde com voz empostada.
- Mil perdões, Majestade - curva-se o Homem de Lata, numa reverência.
- Tudo bem, está perdoado. Vamos ao que interessa. Você acaba de praticar uma ação heróica. Mandarei condecorá-lo por ato de bravura.
Nisso, aparece um bando de ratos, ofegantes de tanto correr.
- Majestade! Majestade! Pensamos que tivesse morrido nas garras daquele malvado gato – declara emocionado o porta-voz dos ratinhos.
- Este estranho homem de lata me salvou. Devem prestar a ele grande homenagem, e satisfazê-lo nos menores desejos.
- Será uma honra para nós – guincharam os ratinhos numa só voz.
De repente Totó desperta. Ao ver aquela quantidade de ratos, lladra e salta para o meio deles, provocando debandada geral - persegui-los era uma de suas diversões no Kansas. O Homem de Lata segura o cachorro nos braços e procura tranqüilizar a rataria:
- Voltem, voltem! Garanto que Totó não fará mal a ninguém.
A Rainha, com o coração aos pulos, espicha a cabeça para fora da moita de capim:
- Como pode garantir?
- Palavra de homem de bem, Majestade.
A Rainha solta um grunhido longo e agudo. Daí a pouco, ainda desconfiados, um a um, os ratinhos iam voltando. O porta-voz, outra vez, toma a palavra:
- Estamos prontos para recompensar o nobre gesto, Grande Herói.
O Homem de Lata ia dizer que não era preciso, quando o Espantalho se coloca no meio do papo, dizendo:
- Claro que sim. Vocês podem salvar o Leão Medroso, dormindo no meio do campo de papoulas.
- Um leão! – sobressalta-se a Rainha. – Nada disso, ele pode nos devorar em pouco tempo!
- Oh, coitado! – retruca o Espantalho. - Ele é um Leão medroso.
- Verdade! – exclama a Rainha, admirada.
- Pode confiar, Majestade – garante mais uma vez o Homem de Lata.
- Então, o que devemos fazer?
- Devem ser milhares os leais súditos, não? – pergunta o Espantalho.
- Ah, centenas de milhares! – responde a Rainha, toda orgulhosa.
- Ordene que venham para cá, cada um trazendo um barbante bem comprido.
- Isso é mole para nós. Nosso lema é um por todos, todos por um.
Imediatamente os melhores mensageiros da Rainha partem em todas as direções, levando a ordem imperial aos ratos da região.
- Agora – o Espantalho vira-se para o Homem de Lata, – preciso que Você faça uma carrocinha de madeira para transportar o Leão.
Imediatamente ele começa a construir a carrocinha, enquanto chegavam ratos de todos os lados, com um bom pedaço de barbante preso entre os dentes. Dorothy acorda e fica espantada ao se ver cercada por tantos ratos. O Espantalho conta a ela toda a história e apresenta a Rainha dos ratos silvestres; as duas se tornam boas amigas.
Em pouco tempo, milhares de ratinhos são atrelados, como num carro de bois, ao carrinho. O Espantalho dá o sinal de partida; e, com ajuda do Homem de Lata, logo chegam ao local onde o Leão Medroso dormia. Após muito esforço, principalmente para colocá-lo no veículo, o felino é conduzido para junto de Dorothy, que agradece a lealdade dos ratinhos. Cumprida a missão, cada um sai em disparada para casa. A Rainha parte por último, dizendo a Dorothy:
- Vou presenteá-la com este apito azul. Basta apitar, e aparecemos para atender qualquer pedido. Adeus, amiga!
Dorothy pega e dependura o pequeno instrumento de madeira no pescoço. Segura Totó no colo, receosa dele provocar outro tumulto entre os ratos, e acena para a Rainha, que sai a mil por hora.
- Adeus, amiga! Tenha cuidado com os gatos!
Acomodados todos em volta do Leão, os amigos aguardavam com angústia que acordasse.



Capítulo X
O GUARDA DO PORTÃO

O Leão abre os olhos, bocejando. Acha esquisito estar dentro de uma corrocinha:
- Gente, o que aconteceu?
- Você quase partiu dessa para uma melhor! – brinca o Espantalho.
O felino ainda meio zonzo:
- Puxa! Como me salvaram a vida?
E acrescenta, suspirando:
- Aposto que contrataram um elefante para me arrastar até aqui?
Todos acham graça. Dorothy conta a história dos ratos silvestres, o Leão desata a rir, mal acreditando:
- Que coisa, hein!... Flores aparentemente inofensivas como essas papoulas quase me matam! Animais minúsculos como os ratos me salvam a vida!
- De onde menos se espera, acontece – ri o Espantalho.
Dorothy, querendo partir:
- O papo está bom, mas já é tempo de continuar nossa viagem. A estrada de pedras amarelas deve estar perto.
Em pouco tempo, cada um mais animado que o outro, marchavam no caminho para a Cidade das Esmeraldas. A estrada, naquele trecho, era pavimentada e a paisagem bem mais bonita. Por todo canto, surgiam sítios bem cuidados, com casinhas pintadas de verde e roseirinhas à varanda. Às vezes, algum curioso aparecia na porta. Ao espiar o Leão, voltava correndo para dentro da casa - usavam roupas e chapéus pontudos, também verdes.
Dorothy, radiante:
- Ufa!... Aposto que estamos perto da Cidade de Oz!
- Podemos perguntar numa casa – sugere o Homem de Lata.
Todos fazem sim com a cabeça. Andam pouco mais e chegam a uma chácara. Uma mulher entreabre a porta da casa e pergunta:
- O que deseja, menina? E por que traz esse Leão?
- Gostaríamos de passar a noite por aqui. O Leão é amigo, não ataca ninguém.
- Então é manso? – indaga a mulher, dando outra olhada no felino. – Já que é assim, entrem.
- Obrigado, minha senhora, pode confiar – agradece o Leão, sorrindo.
- Entrem – repete a mulher, mais aliviada. - Terão comida e lugar aconchegante para dormir.
Na casa, morava um homem, deitado no sofá com uma perna enfaixada. Surpreso, dispara a fazer perguntas:
- Aonde estão indo?
- Para a Cidade das Esmeraldas. Vamos falar com Oz – responde Dorothy.
- Bolas!... Acha que Oz, o Grande, vai receber Vocês?
- E por que não?
O homem, espreguiçando-se:
- Ele é sistemático, não recebe ninguém. Não conheço um que já falou com Oz.
O boneco com cara de assustado:
- Por quê?
- Não sei. Nem mesmo os criados conhecem o rosto dele.
Dorothy, curiosa:
- E como é ele?
- Impossível dizer! – reponde o homem, pensativo. - Sendo mágico, toma qualquer forma. Aparece como pássaro, ou elefante. Há quem diga que é mais parecido com gato. Mas pode transformar-se numa linda mulher, num gênio, ou num duende.
O homem, depois de uma pausa, conclui:
- Nenhuma pessoa viva pode dizer qual a verdadeira face de Oz.
- Muito estranho!... – encabula-se Dorothy. – Temos de ver Oz de qualquer maneira.
- Por quê?
- Eu quero um cérebro – conclui o Espantalho.
- Ah! Mole para o Grande Oz. Ele tem inteligência para dar e vender.
O Homem de Lata:
- E eu, um coração.
- Fichinha para o Grande Oz – continua o homem, animando os forasteiros – Ele possui grande estoque de coração.
O Leão Medroso, até então calado:
- E eu preciso de coragem. Muita coragem.
O homem ri alto:
- Coragem, né?!... Moleza para Oz! Tem potes cheinhos de coragem! Claro, bicho, que lhe dará um pouco de coragem.
Dorothy, toda satisfeita:
- Eu quero voltar para o Kansas.
O homem, ainda rindo:
- Onde fica o Kansas?
- Não sei. Mas é lá onde eu e Totó moramos.
- Oz é capaz de tudo! E Você, que pretende? – pergunta o homem ao cachorro.
Totó apenas balança o rabo, não sabia falar. Neste momento, a mulher avisa que o jantar está servido. Cada um assegura bom lugar na mesa, de olho na comida, menos o Espantalho e o Homem de Lata.
Dorothy saboreia uma sopa de aveia e um bom prato de ovos mexidos com chouriço. Comida que não provava há dias e dava-lhe a sensação de estar na casa de Tia Ema. Satisfeita, elogia:
- Oh!... Uma delícia!
O Leão, limpando os bigodes dos pingos da sopa:
- Aveia é alimento mais para cavalos. Chouriço é bem gostoso.
Totó satisfeito da vida devorava tudo. Após farta refeição, a dona da casa conduz os hóspedes aos aposentos, acende a lamparina de azeite e deseja-lhes boas-noites. Ao raiar do dia, a turma esperta cheia de ânimo. Dorothy, Totó e o Leão tomam


um café reforçado. Juntos com o Homem de Lata e o Espantalho, reiniciam a marcha. Por volta do meio dia, um clarão esverdeado no céu chama a atenção dos viajantes.
Dorothy, surpresa:
- Oh, deve ser a Cidade das Esmeraldas!...
Na medida que avançam, o brilho ficava mais intenso. Por fim, avistam a alta muralha circulando a Cidade. Apressam o passo; meia hora mais tarde, chegam a um grande portão, todo cravejado de esmeraldas, tão brilhantes que até os olhos desenhados do Espantalho se ofuscam. Dorothy balança a sineta. Um Anão de pele esverdeada aparece e pergunta:
- Querem o quê na Cidade das Esmeraldas?
- Ver o Grande Oz – se adianta Dorothy.
O homenzinho senta-se num tamborete para refletir. Minutos depois, ainda desconfiado:
- Oz não admite pedido fútil. Enfurecido, pode destruir todos num piscar de olhos.
- Mas é importante – assegura o Espantalho.
– Ouvimos falar que é um Mágico bondoso – reforça Dorothy.
- Realmente! – o homenzinho balança a cabeça. – Governa a Cidade das Esmeraldas com sabedoria, competência e bondade. Com desonestos ou curiosos, Oz é severo.
- Não somos curiosos, nem desonestos!
- Muito bem, sou o Guardião dos Portões. Pedem para ver o Grande Oz, então devo conduzi-los ao Palácio. Antes precisam colocar os óculos de lentes verdes.
Dorothy, sem entender:
- Óculos!... Por quê?
- São especiais. Sem eles, o esplendor da Cidade poderá cegá-los para sempre.
O homenzinho tira de uma caixa vários pares de óculos de lentes verdes. Com duas fitas douradas prende-os em torno da cabeça de cada um dos visitantes.
Depois de proteger Dorothy e seus amigos com lentes especiais, o Guardião abre outra grande porta, e todos, quase mortos de curiosidades, passam a caminhar pelas esplêndidas ruas da Cidade das Esmeraldas.

Capítulo XI
A MARAVILHOSA
CIDADE DAS ESMERALDAS

Dorothy e os companheiros, mesmo com óculos protetores, sentem os olhos ofuscados pelo brilho da Cidade. As ruas, calçadas com pedras de mármore verde, são ladeadas por lindas casinhas, com vidros verdes nas janelas. Nas lojas, tudo é verde: doces, pipocas, sapatos, roupas.
Homens, mulheres e crianças cruzam sem parar de um lado para outro, todos vestidos de verde. Olham cheios de curiosidade para Dorothy e seu estranho cortejo; as crianças se escondem atrás das mães ao ver o Leão.
Os visitantes passam por diversas ruas, dobram esquinas, sobem e descem ladeiras. Totó caminhava ora na frente, ora atrás, ou no meio do grupo, sem latir, meio desconfiado, talvez, achando estranho não encontrar animal de sua espécie ou mesmo gato, a perambular pelas vias públicas. Não havia nem cavalos puxando carroças; os carregadores transportavam objetos em carrinhos de mão. Todos pareciam felizes e bastante prósperos. A fartura era tanta, que usavam pedras de esmeralda como dinheiro.
Em pouco mais de uma hora, chegam ao Palácio de Oz. Um Sentinela, vestindo farda verde-oliva, montava guarda ao portão real e os recebe ao pé da escada:
- Quem são eles?
- São forasteiros, querem ver Grande Oz – responde em tom solene o Guardião.
- Entrem. Levarei a mensagem ao Grande Mágico.
Imediatamente, os visitantes são conduzidos até um salão decorado com tapetes de sisal verde e móveis de madeira verde.
O Sentinela anuncia:
- Fiquem à vontade. Vou até a Sala do Trono comunicar que estão aqui para falar com o Grande Oz.
Uma hora mais tarde, retorna confirmando:
- Oz abriu exceção.
Dorothy, cheia de curiosidades:
- Oba!... Você viu o Grande Mágico?
- Absolutamente. Nunca vi o Grande Mágico. Falo com ele por detrás de um biombo bordado de ouro.
A menina, mais ansiosa ainda:
- Ele vai-nos receber?
- Sim. Concederá audiência a cada um de Vocês, em separado.
- Como assim?
O Sentinela, com firmeza:
- Isso mesmo. Receberá um a um, em dias diferentes.
- Dias diferentes!... Onde ficaremos?
- Não se aflija. Terão a honra de ser hóspedes de Oz.
O Sentinela sopra um apito verde e aparece uma moça de avental verde, já cumprimentando os forasteiros. E se dirigindo a Dorothy:
- Por favor, me acompanhe até os aposentos
A menina se despede dos amigos. Com Totó no colo, segue a Moça de Verde. Passam por vários corredores até chegar a um quarto iluminado por uma bonita lâmpada de óleo, com vista para os jardins do Palácio. O mais lindo já visto na vida: a cama macia e confortável, coberta de lençóis de seda verde. Na mesinha de cabeceira, um montão de livros, registrando fatos históricos sobre o Reino de Oz, todos ilustrados em tinta verde.
No centro do quarto, havia uma fonte pequenina, esguichando água de cheiro, que tombava numa bacia de mármore verde. O guarda-roupa, para surpresa de Dorothy, estava cheio de vestidos de seda e veludo; todos do seu tamanho e igualmente verdes.
- Veja, Totó, que lindos vestidos! – suspira a garota, encantada.
O cachorrinho, como se entendesse, abanava o rabo, concordando.
- Esteja à vontade – corteja a Moça de Verde. – Se precisar de alguma coisa, toque a campainha. Boa noite, querida.
A Moça de Verde ainda mostra a porta da casinha para higiene pessoal e vai cuidar dos outros, deixando Dorothy com mil pensamentos tramitando na cabecinha. Mas, de tão cansada, adormece logo.
O Espantalho e o Homem de Lata foram acomodados em quartos separados. O Leão teria preferido cama de folhas secas na floresta, mas como era animal de bom senso, não reclama. Aceita o conforto de um quarto palaciano e logo começa a roncar pesado.
No meio da manhã, a Moça de Verde entra nos aposentos de Dorothy. Serve o café e sugere à menina usar o mais belo vestido do guarda-roupas, enquanto amarrava uma fitinha verde no pescoço de Totó. Em seguida, as duas partem para a Sala do Trono. Atravessam vários corredores e chegam a um salão, onde muitas pessoas conversavam, aguardando audiência com Oz. Ao verem Dorothy, uma delas salta da cadeira:
- Você pretende ver Oz cara a cara?
- Claro que sim.
O Sentinela toma a mão de Dorothy:
- Vamos, menina. O Grande Oz espera por Você, embora deteste audiências.
- Serei gentil com ele, prometo.
- A princípio não queria recebê-los. Quando disse que Você calçava Sapatinhos de Prata, Oz ficou interessado. Por fim, quando falei da marca na sua testa, decidiu ver um de cada vez.
Dorothy, ao entrar na Sala do Trono, se encanta com a forma circular do salão e as paredes cobertas de esmeraldas. E mais ainda com o teto altíssimo e côncavo de onde descia uma luz tão brilhante quanto o sol. Para surpresa, em vez do Mágico, no trono estava uma cabeça gigante, completamente careca. De repente, uma voz grave ressoa por todos os lados:
- Sou Oz, o Grande! O Terrível! Quem é você? O quê deseja?
Dorothy, meio gaguejando, mas sem perder a coragem:
-Sou Dorothy, pequena e meiga. Quero ajuda do Grande Oz.
- Onde conseguiu esses Sapatos de Prata?
- Eram da Bruxa Malvada do Leste. Por azar, minha casa a matou.
- E essa marca na testa?
- É a marca do beijo da boa Bruxa do Norte. Pediu-me para procurá-lo.
- Muito bem, que deseja de mim?
- Que me mande de volta para o Kansas, onde vive minha família.
- E por que devo fazer isso por Você?
- O senhor tem poderes. Sou uma pobre menina desamparada.
- Será?... Mas foi capaz de matar a Bruxa Malvada do Leste.
- Acidente, eu juro – insiste Dorothy.
- Tudo bem!... Ganharei o quê, satisfazendo sua vontade?
- Hã!... Não havia pensado nisso.
- Comigo é toma lá, dá cá! – afirma Oz, com risadinha ameaçadora.
- O quê devo fazer?
- Simples para Você. Basta que mate a Bruxa Malvada do Oeste!
Dorothy leva susto:
- Não, não posso. Nem tenho poderes para tanto!
O Mágico pôs-se a rir, falando mais arrastado, com sotaque de malandro:
- Há.... Há.... Como não?... Você matou a Bruxa Malvada do Leste e se apoderou dos Sapatos Encantados. Pode muito bem matar a última Bruxa Malvada que vive nas Terras de Oz.
- Não posso. O senhor não pôde acabar com ela, como espera isso de mim?
- Chega de lenga-lenga. Quando acabar com essa Bruxa Malvada, prometo enviar Você de volta ao Kansas. Antes, nem pensar! – conclui Oz num tom áspero.
A menina, sentindo aperto no coração:
- Nunca matei, por querer, nem um mosquitinho.
- O problema é seu e de seus companheiros – determina Oz. - Adeus e boa sorte!
Dorothy leva a notícia aos amigos, que se assustam com as condições de Oz.
Na manhã seguinte, o Espantalho é recebido pelo Mágico. Ao entrar na Sala, em vez da cabeça gigante descrita por Dorothy, encontra no Trono uma belíssima princesa, que tinha sobre os longos cabelos negros a coroa crivada de esmeraldas; dos ombros nasciam duas asas coloridas, tão leves que esvoaçavam ao menor sopro.
Encabulado, o Espantalho se curva numa reverência desajeitada. A figura então diz:
- Sou Oz, o Grande!... Quem é Você? Por que me procura?
- Oh, Poderoso Oz! Sou um pobre Espantalho, recheado de palha e sem cérebro. Desejo um pouco de inteligência para pensar e ser homem como qualquer de seus súditos.
- E por que devo fazer isso por Você?
- O senhor é um Mágico generoso.
- Não faço favores sem recompensa.
O Espantalho franze a testa mal desenhada:
- Me desculpe, Poderoso Mágico, não entendi.
Oz aperta as sobrancelhas:
– Simples, meu caro. Você precisa de um cérebro, não é? Pois bem, terá seu cérebro. Em troca, quero que mate a Bruxa Malvada do Oeste.
- Fez o mesmo pedido a Dorothy!
- E daí? Minha política é esta; pouco me importa quem vá liquidar a Bruxa. Enquanto ela viver, não atenderei seu desejo, nem o de ninguém. Adeus, boa sorte!
Desolado, o Espantalho deixa a Sala do Trono e conta tudo aos amigos. Dorothy estranha o Mágico aparecer em forma de mulher.
- Dá na mesma – observa o Espantalho – Oz precisa mais de um coração do que o Homem de Lata.
No dia seguinte, foi a vez do Homem de Lata. Acomodado no trono, encontrou um animal medonho: o corpo cheio de pernas e cinco olhos grandes, avermelhados e ameaçadores; tinha o couro grosso e encaracolado como o de rinoceronte.
- Sou Oz, o Terrível!... uma voz rouca e cavernosa ressoava pelo salão. - Por que me procura? Quem é Você?
- Um homem feito de lata. Venho mplorar ao Grande Oz que me dê um coração e me torne igual aos outros do Reino.
- E por que motivo devo fazer isso?
- Somente Oz poderá me ajudar!
- É claro. Se deseja um coração deve lutar para merecer – grunhe Oz.
- Lutar! Como?
- Simples, meu caro. Ajude Dorothy a liquidar a Bruxa Malvada do Oeste. Feito isso, lhe darei o maior e mais amoroso dos corações.
O Homem de Lata, decepcionado como os outros, volta e conta tudo aos amigos, que ficam admirados com o poder do Mágico de se metamorfosear. O Leão, quase morrendo de raiva, promete:
- Ah, se amanhã Oz aparecer sob a forma de fera, vou rugir tão alto que, de medo, fará tudo o que eu pedir. Se aparecer como linda princesa, terei mais chances. Mas se estiver sob forma de uma cabeça, eu a rolarei pelo Salão do Trono até que atenda nossos desejos.
No outro dia, para desapontamento do Leão, o Mágico surge transformado numa cintilante e ardente bola de fogo. De dentro dela uma voz estridente, dizia:
- Sou Oz, o Terrível! Quem é Você? O que deseja?
- Sou um Leão, medroso pra dedéu. Vim pedir ao Grande Oz coragem para ser o Rei dos Animais.
- E por que lhe faria esse favor?
- O senhor é o Mágico dos Mágicos, o único capaz de satisfazer minha necessidade.
- Em troca, o quê me dará?
- É só pedir, Grande Mágico.
- Quero a morte da Malvada Bruxa do Oeste. Enquanto ela estiver viva, permanecerá medroso e covarde.
O Leão engole em seco com a proposta do Mágico. E corre para contar aos amigos a conversa.
Dorothy, com ar triste:
- E agora, que vamos fazer?
- Não há outro remédio – responde o Leão, já decidido.
– Vamos liquidar a Bruxa Malvada do Oeste.
- E se não conseguirmos?
- Pior para todos – murmura o Espantalho, cuspindo de raiva.
– Jamais conseguirei um cérebro, o Leão nunca terá coragem, o Homem de Lata continuará sem coração, e Você, Dorothy, não voltará para o Kansas.
- Não. Mil vezes não! – choraminga Dorothy.
E enxugando as lágrimas:
- Já que é assim, temos que tentar.
Mesmo sem entusiasmo, todos concordam. E decidem viajar no dia seguinte. O Homem de Lata afia o machado e se lubrifica como de costume; o Espantalho pede a Dorothy para repintar seus olhos para ver melhor, enquanto a Moça de Verde enchia a cestinha de Dorothy de comida apetitosa e amarrava um sininho na fita verde do pescoço de Totó.
Dormem cedo. E acordam com o canto de um galo verde, no quintal do Palácio.

Capítulo XII


A BRUXA MALVADA

Antes de partirem, o Guardião dos Portões tira os óculos de cada um. Sem eles, Dorothy observa que seu vestido não era verde, mas branco, como também a fita no pescoço de Totó. E pergunta ao Guardião:
- Qual a estrada para o Castelo da Bruxa Malvada do Oeste?
- Não existe caminho para aquelas bandas.
Dorothy, quase perdendo a paciência:
- Ah, é!... Então, como encontrar essa Bruxa Malvada?
- Relaxe, relaxe! Seguindo para o Oeste, ao entrarem nas terras dos Pisca-Piscas a Bruxa vai achar Vocês e escravizar todos.
- Isso é que vamos ver! – urra o Leão, confiante.
- Destruiremos a Bruxa Malvada do Oeste – promete em voz alta o Homem de Lata, levantando o machado no ar.
- Boa sorte para todos!... deseja o homenzinho.
A turma agradece e se despede do Guardião dos Portões. Dorothy e os amigos, hesitando entre a esperança e a dúvida, tomam rumo do pôr-do-sol, tentando encontrar alguma trilha para tornar menos árdua a viagem. Na medida que avançam, o terreno fica mais acidentado e cheio de mato; totalmente desabitado. Antes de anoitecer, Dorothy, Totó e o Leão, de tão cansados, resolvem repousar debaixo da primeira árvore frondosa que encontram pelo caminho.
Não muito longe dali, a Bruxa Malvada do Oeste, que só tinha um olho, mas potente como um telescópio, observava os forasteiros nas suas terras. Furiosa, resmunga, entre os dentes:
- Tem gente bisbilhotando meus domínios!
Imediatamente chama uma alcatéia de lobos para destruir os viajantes.
- Não quer torná-los escravos? – pergunta o Rei dos Lobos.
- Ficou bobo, bicho! Um é de lata, o outro, de palha; aquele outro, um leão sem serventia. A menina é muito pequena, teria pouco rendimento no serviço. Não me servem para nada. Vamos, cumpra minhas ordens: matem todos.
- Perfeitamente – concorda o Rei.
E virando-se para seus comandados:
- Pelotão, em frente! Atacar!...
Na mesma hora os lobos disparam em direção a Dorothy e seus amigos. Como o Espantalho e o Homem de Lata nunca dormem, logo percebem o perigo.
- Deixe comigo – pede o Homem de Lata, erguendo o machado.
Nem teve graça! Assim que os lobos iam chegando, um a um caíam no chão com a cabeça cortada pelo machado afiado do Homem de Lata. Não ficou um para contar a história. Passado algum tempo, Dorothy acorda e leva susto com a quantidade de lobos mortos. O Homem de Lata conta-lhe tudo.
A Bruxa Malvada, vendo os lobos liquidados, se enfurece. Sopra duas vezes o apito prateado chamando os corvos selvagens. E dá ordens severas ao Rei dos Corvos:
- Liquidem com aqueles forasteiros.
Um bando de corvos selvagens sai voando em direção aos forasteiros. O Homem de Lata pega o machado, mas o Espantalho dá um salto para frente e grita:
- Agora é a minha vez. Fiquem todos quietos, deitados no chão.
O Espantalho abre os braços e fica, quietinho, para espantar as aves. O Rei dos Corvos ao ver o bando amedrontado, crocita na maior altura:
- Medo de que, pamonhas! Não passa de um homem de palha. Deixem comigo, vou arrancar os olhos dele.

O Rei dos Corvos investe contra o Espantalho. Para quê?!... O Espantalho agarra a ave pela cabeça e torce seu pescoço até o último chiado. Outro corvo quis vingar a morte do companheiro, o Espantalho torce também seu pescoço. Havia mais de quarenta corvos e por mais de quarenta vezes o Espantalho torceu pescoço de corvo; não restou um para levar a má notícia ao Castelo da Bruxa Malvada do Oeste.
A Bruxa, lá do Castelo, ao ver a pilha de corvos amontoados no chão, fica arara de raiva. Tira o apito de prata do bolso e o sopra três vezes. No mesmo instante, surge um enxame de abelhas.
- Piquem os forasteiros até que morram – ordena a Bruxa à Rainha das Abelhas.
Imediatamente, numa zueira dos infernos, as abelhas partem para o ataque mortal. O Espantalho, vendo as Abelhas Negras, em direção ao grupo, toma decisão rápida:
- Homem de Lata, tire a palha do meu corpo e cubra Dorothy, Totó e o Leão. Assim estarão protegidos das picadas.
De pé, as abelhas só encontram o Homem de Lata. Furiosas, investem contra ele com tanta violência que quebram os ferrões no ataque. Mutiladas, iam caindo mortas no chão. Vencendo a batalha, o Homem de Lata chama Dorothy para ajudar a recolocar a palha no Espantalho. Feito isso, o grupo se põe a caminho do Castelo da Bruxa Malvada.
A Feiticeira quase enlouquece de raiva. Sapateia. Grita palavrões. Range os dentes e ordena a doze escravos, armados de lanças pontudas, que impeçam os forasteiros de chegar ao Castelo. Outro vexame. Como os Pisca-Piscas não eram guerreiros valentes, ao ver o Leão rugindo, fogem feito diabo da cruz. Coitados!... Acabam duramente castigados pela Bruxa.
Agora a Bruxa teria que convocar os Macacos Alados para destruir Dorothy e os companheiros. Para isso, usaria o último pedido de uma Touca de Ouro encantada. Corre ao armário, pega a Touca na prateleira e põe na cabeça. Apóia-se na perna esquerda, já dizendo as palavras mágicas:
- Cashiel! Schaltiel! Aphiel! Zarabiel! Sapo ré Ep-pe! Soila i riê!
Depois, na perna direita:
- Sapo ré, prequeté! Ziri-zy! Ali-erê, erê!...
Sobre os dois pés:
- Gunga lá, gunga cá!... Zapt Zipt Zupt... Zu-gunga, apareçam!...
Em menos de um minuto, os Macacos Alados surgem aos montes. Satisfeita, passa a ordem ao Rei:
- Destruam os forasteiros, menos o Leão. Resolvi ter o bicho trabalhando para mim.
- Suas ordens serão cumpridas – garante o Rei.
Os macacos voam para o ataque. Agarram o Homem de Lata e os transportam pelo ar até uma região de rochas pontiagudas e jogam o infeliz sobre as pedras, onde fica todo amassado. Outros macacos tiram a palha do corpo do Espantalho, embolam suas roupas, as botinas e o chapéu numa trouxinha e jogam para a copa de uma árvore. Um grupo de macacos imobiliza o Leão com uma corda resistente e o levam para uma pequena jaula, no quintal do castelo da Bruxa Malvada.
Dorothy assistia a tudo, tremendo de medo. Apertava Totó no colo, esperando sua vez de ser atacada. Mas, um dos macacos toma susto ao ver a marca na sua testa. Retrocede, gritando:
- Não! Não! A menina não. Ela está protegida pela Força do Bem, maior que a Força do Mal.
O Rei dos Macacos analisa a menina:
- Deve ser uma bruxinha perdida neste fim do mundo!
- O que vamos fazer com ela? – pergunta um apressado.
- Transportar para o Castelo da Bruxa, no maior cuidado.
Assim foi feito. Diante da Bruxa, o Rei dos Macacos explica:
- O Homem de Lata e o Espantalho foram destruídos. O Leão já está preso na jaula. A menina, ah, quando vimos que está protegida pelas Forças do Bem, não pudemos fazer nada contra ela. Nem ao cãozinho que carregava nos braços.
- Atchim!... Agora chispem daqui: tenho alergia a pêlo de Macaco – rosna a Bruxa, torcendo o nariz.
- Seu poder sobre Os Macacos Alados termina aqui. Espero ser a última vez que nos vemos – declara, todo satisfeito, o Rei.
- Atchim!... O diabo os carregue!
Os macacos, desapontados pela grosseria da Bruxa, levantam vôo e somem entre as nuvens.
A Feiticeira examina o rosto de Dorothy e fica preocupada com a marca na testa. Notando os Sapatinhos de Prata nos seus pés, começa a tremer as pernas de medo - conhecia seus poderes. Pensa até em fugir. Mas, olhando bem nos olhos da menina, percebe a alma simples e pura por trás deles. E pensa: - Com certeza, ela desconhece o extraordinário poder desses sapatos. Vou escravizá-la sem o menor problema.
E num tom rude, cheia de pose:
- Menina, agora Você é minha escrava. Venha comigo e obedeça minhas ordens. Caso contrário, terá o mesmo fim dos seus amigos.
Pobre Dorothy!... A Bruxa Malvada pronuncia algumas palavras cabalísticas, pega a menina pelo braço e a leva até a cozinha para lavar a louça, varrer o chão e pôr lenha no fogão. E sai apressada para ver o Leão, disposta a montar nele como num cavalo. Ao abrir a portinhola da jaula, o Leão solta um urro tão alto que a Bruxa recua, rosnando:
- Oh! Oh! Estúpido! Que idiota!
- Idiota é a senhora! – responde o Leão no mesmo tom, cheio de ódio.
A Bruxa, arrebatando o chicote no ar:
- Oh! Deixe estar, bicho. Amansarei uma besta como Você pelo estômago. De hoje em diante só terá comida se me obedecer. Ouviu, asno?
Dias depois, a Bruxa volta à jaula e pergunta:
- Já podemos colocar os arreios no lombo?
O Leão urra, fazendo terrível careta:
- Suma daqui, azarenta!
O Leão não precisava obedecer a ordens da Bruxa, porque todas as noites, assim que ela dormia, Dorothy levava comida ao companheiro. Sentava-se ao seu lado e ficavam ali horas, traçando planos mirabolantes para fugir. Sonho difícil de realizar; o Castelo era vigiado dia e noite pelos Pisca-Piscas, escravos da Bruxa Malvada.
Dorothy trabalhava o dia inteiro, sem reclamar. Mesmo assim, volta e meia, a Bruxa ameaçava espancá-la com a sombrinha. Ameaça, apenas. A Bruxa Malvada, por mais topetuda que fosse, não se atrevia a bater na menina, protegida pela Força do Bem. Certa vez acertou um bicudo no Totó. Para quê?!... Levou uma mordida tão forte na perna que nunca mais mexeu com o cachorrinho.
A Bruxa era mesmo vidrada nos Sapatinhos de Prata de Dorothy, que os queria a qualquer custo. Desconfiada, a menina só tirava os Sapatinhos para dormir e tomar banho, pois descobriu que a feiticeira tinha medo danado de escuro e muito mais de água.
Um dia, a Bruxa Malvada espicha uma barra de ferro invisível no chão da cozinha, na qual a menina tropeça e cai. Não se machuca, mas um dos sapatos voou e cai justamente no pé da Bruxa.
- Ah, não!... Devolva meu Sapato, Bruxa Malvada!
- Não, não e não – nega a Bruxa, dando gargalhadas.
- Você é uma criatura má, tomando sapato de criança indefesa!
A Bruxa num gesto de desdém:
- Ah!.... Agora, quero o outro.
Ao ouvir isso, o sangue sobe à cabeça de Dorothy. Tomada por ímpeto de coragem, apanha um balde, despeja a água e molha a velha Bruxa da cabeça aos pés.
- Que é isso, maluca! Detesto água! – a Bruxa esbraveja, apertando as mãos na cabeça.
- Ah, é!... Sinto muito – diz Dorothy, vendo a bruxa agonizar.
- Você me paga!... Pestinha do inf.... – ainda berra a Bruxa, enquanto se derretia feito pedra de açúcar numa xícara de café.
Em poucos segundos, a Bruxa Malvada do Oeste desaparece, se exalando no ar como pequena nuvem de fumaça . Dorothy calça o Sapatinho de Prata, corre até a jaula e solta o Leão Medroso, dizendo:
- A Bruxa Malvada do Oeste não existe mais.
- Como?!...
- Isso mesmo!... Joguei um balde de água na cabeça dela. Em poucos segundos, sumiu no ar.
- Ulalá... Ulalá – aplaude o Leão, não cabendo em si de contente.
Dorothy responde com um sorriso glorioso.

Capítulo XIII
O RESGATE DO
ESPANTALHO E DO HOMEM DE LATA

Dorothy liberta também os Pisca-Piscas. A alegria foi tanta que aquele dia passou a ser considerado Feriado Nacional, comemorado com desfiles alegóricos, danças e fogos.
No meio da festa, Dorothy sente falta dos outros amigos:
- Pena que o Espantalho e o Homem de Lata não estejam aqui.
- Precisamos salvá-los – apoia o Leão, também sentido.
No dia seguinte, com a ajuda dos Pisca-Piscas, Dorothy segue para a mata, guiando comitiva formada pelos mais espertos caçadores da região, em busca dos viajantes perdidos. Quase dois dias de viagem depois, chegam a uma planície pedregosa, onde estava o Homem de Lata. Coitado!... Todo amassado, braços e pernas retorcidos e juntas enferrujadas.
Os Pisca-Piscas, bastante jeitosos para carregar pessoas, colocam o Homem de Lata nos ombros e o levam até o Castelo da falecida Bruxa do Oeste. Chegando lá, foi preciso convocar os melhores funileiros do lugar para deixar o Homem de Lata novinho em folha, apesar de algumas emendas.
- Agora – reafirma Dorothy - precisamos trazer o Espantalho.
Novamente os Pisca-Piscas se oferecem para ajudar. Após longa viagem, a comitiva encontra o pé de Jatobá, onde o Espantalho estava dependurado, ou melhor dizendo, suas roupas.
O Homem de Lata pára diante da árvore, já afiando a lâmina do machado:
- Num minuto ponho esta árvore no chão, salvando o que restou do Espantalho.
Dorothy pega no seu braço:
- Não! Não precisa derrubá-la. Tenho outra idéia.
E virando-se para os Pisca-Piscas:
- Tem gente aqui para subir na árvore e pegar as roupas do Espantalho?
- Oh, sim – adianta-se um. - Sou craque em subir em pau-de-sebo.
- Então, suba e jogue as roupas do Espantalho para mim.
Em poucos minutos, o homenzinho, feito macaco prego, trepa na árvore, alcança a trouxinha de roupa do Espantalho e joga para Dorothy. O Homem de Lata fica um pouco sem graça, mas logo reconhece que salvar uma árvore é causa nobre; e torna a sorrir. De volta ao Palácio, os Pisca-Piscas enchem de palha a roupa do boneco, que fica tão vivo como antes.
Passados alguns dias, Dorothy, com saudades da família, sugere:
- Que tal retornar ao Castelo e cobrar de Oz o prometido?
- Ah, sim. Quero o coração.
- E eu, meu cérebro.
- E eu, minha coragem.
- E eu, retornar ao Kansas – festeja Dorothy, batendo palmas.
Decidem partir na madrugada do dia seguinte. Os Pisca-Piscas ficam tristes e pedem ao Homem de Lata para retornar e governar o país deles.
- Podem esperar – promete o Homem de Lata.
A menina ganha dos Pisca-Piscas lindo bracelete de ouro cravejado de diamantes. Totó e o Leão, coleiras de ouro. O Espantalho, uma bengala; o Homem de Lata, um pote cheio de óleo, tudo de ouro.
Dorothy agradece os presentes. Corre ao armário da dispensa do Castelo e enche a cesta de comida para a viagem. Ao ver a Touca de Ouro, embrulhada num pano vermelho com vários desenhos de figuras cabalísticas, decide usá-la na viagem, mesmo sem saber que era encantada.


OS MACACOS ALADOS

Como não havia estrada para a Cidade das Esmeraldas, os quatros viajantes tomam a direção do Leste. Por volta de meio dia, com o sol bem no meio do céu, perdem a direção. Mesmo assim, continuam a caminhar, parando somente de noite para dormir.
O dia amanhece anunciando chuva. O sol não aparece.
- E agora? – pergunta o Espantalho, apreensivo.
- Não podemos parar de jeito nenhum – responde Dorothy, mesmo insegura.
Caminham dias e dias através da floresta, escutando pássaros de todas as cores e espécies, vendo esquilos espertos que se lançavam de uma árvore a outra, sem que chegassem à Cidade das Esmeraldas ou outro lugar qualquer. Dorothy, muito preocupada:
- Leão, aposto que estamos perdidos.
- Concordo! Podemos chamar a Rainha dos Ratos.
- Ótima idéia – aplaude Dorothy.
A menina então sopra o apito azul, dependurado no pescoço. Em poucos minutos surgem ratos de todos os lados. A Rainha chega sorrindo:
- Olá, Dorothy, posso fazer alguma coisa por Vocês?
- Estamos perdidos. Precisamos ir até a Cidade das Esmeraldas?
- Virgem Santa!... Estão indo no sentido contrário!
- Ah, é!
- Que touca é essa que está usando?
- Foi da Bruxa Malvada do Oeste. Achei bonita...
- Ela tem poderes mágicos sobre os Macacos Alados. Basta chamá-los que levarão Vocês até Oz.
Dorothy abre um sorriso de contente:
- Como funciona?
- A fórmula mágica está escrita no forro da Touca – indica a Rainha. - Mas, antes temos que voltar correndo, adoram amolar ratinhos.
- E a nós, não irão maltratar?
- Não, Dorothy. Devem obrigação ao dono da Touca de Ouro.
A Rainha chama os ratinhos, e desaparecem no meio do capim. Dorothy lê as instruções e coloca a Touca na cabeça, já dizendo:
- Cashiel! Schaltiel! Aphiel! Zarabiel! Sapo ré Ep-pe! Soila i riê!
Sustentada na perna direita:
- Sapo ré, preketé! Ziri-zy! Ali-erê, erê!...
Os amigos acham graça no jeito de Dorothy falar. Tapam a boca com as mãos para não rir. Deu certo. De repente, de todos os lados surgem os Macacos Alados. Um deles se apresenta, solenemente:
- Sou o Rei dos Macacos Alados. O que Você manda?
- Precisamos chegar à Cidade das Esmeraldas.
- Assim faremos, palavra de Rei.
Os Macacos Alados não perdem tempo. Apanham um por um dos aventureiros e saem voando. Dois deles, sendo um o próprio Rei, fazem cadeirinha com os braços, levando Dorothy confortavelmente abraçada a Totó. Durante o percurso, muito curiosa, procura saber sobre a vida dos Macacos Alados. E vai logo perguntando:
- Por que são obrigados a obedecer ao encanto da Touca de Ouro?
- É longa a história – afirma o Rei dos Macacos, um tanto sério.
- Gosto tanto de ouvir histórias!...
O Rei dos Macacos balança a cabeça, concordando. Tosse e começa:
- Tempos atrás, vivíamos em liberdade na imensa floresta do Norte, onde a linda Princesa Alegria, também mágica, morava num majestoso palácio feito de rubi. Um dia, antes do seu casamento...
O Macaco Alado faz uma pequena pausa e continua:
- Vovô, o Rei dos Macacos Alados naquela época, era um velho espirituoso, gostava mais de boa troça que de um bom cacho de bananas. Na véspera do esperado casamento, viu o noivo da Princesa passeando ao longo do rio. Shhhhiiiiiiii!... Não deu outra! Chamou outros macacos e, juntos, jogaram o jovem no rio. Foi uma festa! Nada melhor para a macacada assistir o elegante príncipe se debatendo no meio d´água. E para surpresa de todos, em vez de ficar zangado, também adorou a brincadeira; dava gargalhadas e, até jogava água nos macacos. Uma farra e tanto!
A Princesa, atraída pela algazarra, chegou furiosa à beira do rio. Quando soube que vovô era o autor da brincadeira de mau gosto, veio o castigo; enfeitiçou-nos a satisfazer três desejos para qualquer pessoa que fosse dona da Touca de Ouro.
- O que a Touca tem com a história?
- Foi o presente de casamento ao noivo. Como primeiro dono da Touca, o Príncipe pediu-nos apenas para sumir das imediações do Castelo, a Princesa havia tomado ódio de nosso grupo. Obedecemos com prazer, tínhamos muito medo de Alegria.
- Como a Touca foi parar na cabeça da Bruxa Malvada? – pergunta Dorothy, encantada com a história.
- Ninguém sabe ao certo. Mas foi terrível obedecer ordens da Bruxa. Primeiro, obrigou-nos a escravizar os Pisca-Piscas. Depois, expulsar o Grande Oz das Terras do Oeste e, finalmente, tentar destruir o Homem de Lata e o Espantalho, além de levar Você e o Leão para escravos da Bruxa Malvada do Oeste.
Mal o Rei acaba de contar a história dos Macacos Alados, Dorothy distingue no horizonte as muralhas verdes e brilhantes da Cidade das Esmeraldas. Em poucos instantes, as estranhas criaturas aladas pousam diante do portão principal, deixando em terra firme os forasteiros.
E partem de volta na velocidade de um raio.

Capítulo XIV
O MÁGICO QUE NÃO ERA MÁGICO

Dorothy toca a sineta. O Guardião abre a grande porta:
- Quê!?... Vocês de novo por aqui?
Dorothy, rindo:
- Sim. O quê há de errado?
- Pensei que tivessem ido às Terras da Bruxa Malvada do Oeste.
- E fomos.
- Como escaparam daquela Bruxa?
- Isso é história para outra hora. Primeiro, nos leva ao Grande Mágico.
- Ah, me conta – insiste o Guardião, verde de curiosidade.
- Derreteu-se. Dorothy fez a Bruxa desaparecer no ar – confirma o Leão.
- Não brinque!... – boquiaberto o homenzinho imediatamente coloca os óculos verdes em cada um, prometendo conduzi-los ao Grande Mágico.

Oz, ao saber da notícia, não faz nenhum comentário, muito menos marca o dia da entrevista. Dorothy e os companheiros ficam intrigados com a indiferença do Mágico. Três dias mais tarde, cansados e aborrecidos de tanto esperar, o Espantalho perde a paciência e manda um recado curto e grosso a Oz: caso não fossem atendidos, chamaria os Macacos Alados para obrigá-lo a cumprir as promessas.
Macacos Alados?!... O Mágico fica tão assustado com ameaça do Espantalho que agenda para as nove horas da manhã seguinte o encontro com os forasteiros.
Dorothy e os amigos acordam animados. Na hora certa, entram todos na Sala do Trono, inclusive Totó; curiosos para saber como o Mágico se apresentaria. Para surpresa geral não havia ninguém na Sala, mas do teto descia uma voz:
- Sou Oz, O Grande! Magnífico e Terrível! Que querem de mim?
- Onde está Você? – pergunta Dorothy, olhando para todos os lados.
- Em toda parte. Para os olhos dos mortais sou invisível.
- Vimos cobrar suas promessas.
- Que promessas?
- Mandar-me de volta para o Kansas, assim que a Bruxa Malvada do Oeste fosse destruída.
- A mim, prometeu um cérebro – lembra o Espantalho.
- Para mim, um coração – reclama o Homem de Lata.
- E a mim, muita coragem – urra o Leão Medroso.
Oz altera a voz:
- Estão certos de que a Bruxa foi realmente destruída?
- Claro! Dissolvi a infeliz com um balde de água.
- Muito bem! Boa notícia, mas tenho que pensar sobre o assunto. Voltem amanhã.
- Mais tempo? Teve tempo de sobra, meu caro! - bronqueia o Leão.
- Só mais um dia. Eu prometo.
O Espantalho dá um passo à frente:
- Tudo bem!... Só mais um dia, caso contrário, os Macacos Alados...
- Podem confiar.
O Leão Medroso, só para dar um sustinho no Mágico, solta um rugido tão alto e longo, que Totó dá um pulo para trás e derruba o biombo num canto da Sala, fazendo um barulhão danado. Todos olham para trás e ficam espantados ao ver que o tapume escondia um velhinho calvo, rosto enrugado, barba e bigodes por fazer, metido num grosso capote de lã e, calçando sapatos de lona verde, tão espantado quanto eles.
O Homem de Lata levanta o machado, pronto para atacar:
- Quem é o senhor?
- Sou Oz, o Grande e Terrível – responde o homenzinho com um sorriso amarelo.
- Não pode ser! – murmura Dorothy, mal acreditando no que via.
– Por favor, não me machuquem. Farei o que quiserem.
Dorothy, desapontada:
- Pensei que Oz fosse uma cabeça enorme!
- E eu, uma linda Princesa!
- Ainda bem que não é uma fera! - resmunda mais aliviado o Homem de Lata.
- E eu acreditei que Oz era uma Bola de Fogo! – rosna o Leão.
O velhinho recua um pouco, como tivesse engolido limão. E confessa:
- Estava fingindo.
- Fingindo, né! Então não é o Grande Mágico?
- Pssssiu!... Fale baixo, menina, ou estarei arruinado. Todos acreditam que sou o Grande Mágico de Oz.
- É ou não é? – pergunta o Espantalho, cuspindo óleo de raiva.
- Bem!... Aprendi alguns truques – confessa o velho, estalando a língua de nervoso.
- Um impostor, fazendo todos nós de bobo!
O Mágico torna a estalar a língua:
- Podemos conversar e chegar a um acordo.
Dorothy, cada vez mais confusa:
- Como me apareceu sob a forma de cabeça?
- Já disse, conheço os truques - responde Oz, com o olhar cada vez mais inquieto.
- Ora essa!...
- Vou explicar tudo, tintim por tintim. Sigam-me, por favor.
Oz, mesmo nervoso de medo, ergue a cabeça e conduz o grupo a um quarto, atrás da Sala do Trono. A primeira coisa que viram foi a imensa cabeça feita de papelão, abandonada num canto.
- A cabeça ficava pendurada no teto. Atrás do biombo, por meio de fios, movia a boca e os olhos – explica o homenzinho.
- E a voz?
- Sou ventríloquo. Jogo o som da minha voz para onde quiser.
- Trem danado! – admira o Espantalho.
O falso Mágico mostra-lhes o vestido e a máscara que usou para se transformar numa linda princesa. No outro canto do quartinho, viram que a fera horrível não passava de um monte de peles costuradas umas às outras, numa estrutura de arame. A bola de fogo, nada mais era do que uma grande bola de algodão, embebida em óleo de mamona, queimando intensamente. Dorothy e os amigos, em silêncio, ficam pasmos diante daquele inteligente aparato feito para enganar as pessoas.
- Devia se envergonhar de ser tão vigarista - recrimina o Leão.
- Ah, sim. Tenho vergonha, é claro. Mas era a única coisa que poderia fazer. Sentem-se, por favor. E escutem a minha história.
Interessados, cada um se acomoda nos tamboretes espalhados pela sala. De pé, Oz começa a contar:
- Nasci em Omaha. Muito longe daqui, mas bem perto do Kansas.
Dorothy até ensaia um sorriso. E o velho continua:
- Comecei a ganhar a vida como ventríloquo, fazendo espetáculo com bonecos. Com o tempo, aprendi a fazer algumas mágicas e passei a trabalhar num circo de picadeiro, tirando coelhos e pombos da cartola. Nas horas de folga, eu era balonista.
- Como assim?...
- Isso mesmo, menina: balonista. De cima de um balão, anunciava o espetáculo.
- Ah, sim! – entende Dorothy.
- Certo dia, as cordas que prendiam o balão ao solo rebentaram e ficamos um dia e uma noite viajando sem destino, levados por uma corrente de ar. Por fim, ele pousou numa terra maravilhosa, onde fui recebido por um povo que, me vendo descer das nuvens, imaginou que fosse um grande mágico.
- Nossa!... E aí? – interrompe Dorothy outra vez..
- Não desmenti, é claro! Aí, começaram a me adorar como um ser especial, com poderes mágicos. Foi até bom. ConstruÍram a Cidade das Esmeraldas e este fabuloso Palácio. Sendo o verde a cor da esperança e a minha predileta, decretei que todos os habitantes usassem óculos de lentes verdes, para que as coisas lhes parecessem sempre verdes.
- Então, nem tudo aqui é verde?
- Bem, menina!... Isso é outro truque: quem usa óculos de lentes verdes, tudo que vê lhe parece verde, não?
- Meu Deus!... Você é mesmo um senhor picareta!
- Sou bom para o povo. Todos aqui gostam muito de mim.
- E por que não aparece para eles?
- Faz parte do jogo. Pensei manter mistério para favorecer a imagem fantástica de Oz. Temia as Bruxas, principalmente as do Oeste e do Leste; poderiam me destruir a qualquer momento. Felizmente Você acabou com as duas.
- Sim. Agora, cumpra a promessa e me faça voltar para casa.
O Mágico revira os olhos:
- Também estou preocupado. Agora que Vocês sabem que não sou mágico tão poderoso, não sei como cumprir minhas promessas.
- Ah! Isso é que vamos ver! – vocifera o Homem de Lata.
Oz treme dos pés à cabeça. E tenta se defender:
- Oh, não, minha gente!... Sou um homem bom. Como mágico... talvez não seja lá grandes coisas. Mas...
- Quer dizer que não me dará um cérebro? - lamenta o Espantalho.
- Para quê? Adquirimos conhecimentos com a experiência da vida – afirma Oz, ensaiando um sorriso maroto.
- Sem cérebro, nunca serei feliz.
- Tudo bem! – e após pensar um pouco –, volte amanhã e rechearei sua cabeça com um cérebro. Mas, como usá-lo, terá que descobrir sozinho.
- Melhor assim.
- E a minha coragem?
- Meu bom Leão, Você já tem coragem de sobra. Basta ter confiança em si mesmo. O medo faz parte da vida de quem teme o perigo.
- Nunca serei feliz se não arranjar bastante coragem.
- Muito bem! Amanhã darei jeito.
- E meu coração?
- Bobagens, meu caro Homem de Lata! Coração, no mundo de hoje, só traz infelicidade.
- Mesmo assim, eu quero o coração prometido.
- Tudo bem. Amanhã vou arranjar-lhe um coração de verdade.
O Homem de Lata balança a cabeça, concordando. E Dorothy, mais do que depressa:
- E eu? Como voltarei para o Kansas?
- Pensaremos sobre isso – assegura o homenzinho.
- Mas...
- Sossegue, minha filha. Basta descobrir a maneira de atravessar o deserto. Amanhã, eu garanto, todos ficarão satisfeitos. Mas, por favor, não contem a ninguém que sou impostor. Como hóspedes do Palácio, serão bem tratados.
Todos balançam a cabeça, concordando. Retiram para seus quartos, acreditando que Oz não era tão mau assim, iria achar meios de satisfazer cada um dos viajantes.


Capítulo XV
A MAGIA DO
GRANDE VIGARISTA

No outro dia, o Espantalho foi o primeiro a entrar na Sala do Trono. Oz esperava por ele, junto à janela, refletindo:
- Sente-se nesta cadeira, amigo Espantalho. Tenho que separar sua cabeça do corpo durante algum tempo. Não se preocupe, confie em mim. É a operação para encaixar o cérebro no devido lugar.
- Está bem – obedece o Espantalho, confiante.
O Mágico desprende a cabeça do Espantalho, retira dela toda a palha e, no lugar, coloca um punhado de serragem, misturada de alfinetes e agulhas. Depois, recoloca a cabeça no lugar, esfrega as mãos, e garante:
- Agora, sim, será um grande homem.
O Espantalho fica comovido. Agradece ao falso Mágico e volta feliz da vida para a companhia dos amigos.
- Como se sente, Espantalho?
- Um gênio, minha amiga!
- Por que alfinetes e agulhas na cabeça? – extranha o Homem de Lata.
- Para provar sua inteligência aguda – caçoa o Leão, rindo.
- Chegou a minha vez.– avisa o Homem de Lata, e sai a passos largos para a Sala do Trono.
Oz, mais tranqüilo, esperava por ele:
- Você quer um coração, não é? Pois bem, serei obrigado a abrir um buraco no seu peito para colocar o coração no lugar certo.
- Rá-rá... Pode mandar brasa, eu não vou sentir nada mesmo!
Oz pega a tesoura de cortar metal e abre um buraco no lado esquerdo do peito do Homem de Lata. E retira da gaveta, um coraçãozinho feito de seda, recheado de serragem.
- Não é bonito? - pergunta.
- Bondoso também?
- Oh, sim! Muitíssimo bondoso! – garante o Mágico, já introduzindo o coração no peito do Homem de Lata.
Oz fecha o buraco com um tampão, soldando com cuidado. E elogia:
- Pronto, a operação foi um sucesso! Agora tem um coração e tanto, capaz de dar inveja a qualquer homem.
- Oh, nem sei como agradecer.
Oz abre um sorriso satisfeito. Põe a mão no ombro do Homem de Lata, e observa:
- Pouco adianta ter bom coração se não souber fazer bom uso dele.
O Homem de Lata bate com os punhos no peito, dizendo:
- Caramba!... Já sinto uma luz cá dentro.
E corre para contar aos amigos; o coração implantado já fazia muito bem à sua alma. O Leão, vendo os amigos felizes com os serviços de Oz, não perde mais tempo, parte para a Sala do Trono.
Sentado confortavelmente, Oz esperava por ele com uma garrafa verde na mão:
- Aqui está o poderoso elixir de coragem.
- Ah, é!... Verdinho, assim!
- Sim, mistura danada de boa para encorajar qualquer covarde.
- Tomarei tudinho!... – sorri o Leão.
O Mágico derrama o líquido numa tijela. O Leão bebe num só gole.
- Como se sente agora?
- O mais corajoso dos seres – lambe os beiços o Leão.
Feliz e cheio de coragem, corre ao encontro dos amigos.
Sozinho na sala, o Mágico pensava ter dado aos três o que cada um imaginava precisar. Quanto a Dorothy, seria preciso muito mais que ilusões dos sentidos para levá-la de volta ao Kansas.
Satisfeito, olha o relógio e sai para os aposentos, assobiando com entusiasmo.
















Capítulo XVI

COMO O BALÃO
FOI LANÇADO AOS ARES


Três dias depois, Oz recebe Dorothy todo sorridente:
- Encontrei a maneira de fazer Você sair daqui.
- Direto para o Kansas?
- Sim.
- E como atravessar o deserto?
- Tenho planos. Não veio pelos ares, impulsionada por um ciclone? Pois bem, cruzaremos o deserto pelo da mesma forma.
- Como assim?
- Num balão.
- Balão!... E como arranjar balão neste fim do mundo?
Oz esfrega as mãos, radiante. Nesta manhã explodia em imaginação:
- Feito de seda, revestida de cola para reter o ar quente.
- Ar quente!...
- Sim. O ar quente não é tão bom quanto o gás. Se esfriar, o balão cairá no deserto. Aí, sim, nós estaremos perdidos.
- Nós?!... O Senhor vai comigo?
Oz, com os olhos brilhando, já remexendo as pratinhas nos bolsos:
- Certamente. Estou farto desta vida de impostor.
Havia decisão e coragem no rosto de Oz. Após um momento:
- Na verdade estou farto de ser prisioneiro de mim mesmo, viver escondendo dos outros. Enjoei desta Cidade sem circo, sem poetas, sem artistas, ocupando-se somente de amontoar riquezas e enganar as pessoas.
- Vai abandonar tudo isso?
- Quero voltar a trabalhar num picadeiro. Ser livre. Tenho a convicção de que é a única luz que brilha, sem nuvens, no meu caminho. Concorda, filha?
Dorothy, comovida:
- Bem, pessoa inteligente como o Senhor não precisa de quem lhe dirija a consciência. Fico contente de tê-lo como companheiro de viagem. Deve ter bastante casos para contar.
Oz ri de leve, balançando a cabeça. Escorrega-se do tamborete, corre ao quartinho de despejos e volta num minuto, abraçado a um monte de pedaços de seda, já recomendando:
- Filhinha, se Você quer mesmo sair daqui num balão, mãos à obra; o tempo não espicha, encolhe!
O Mágico passa a Dorothy agulha e linha para ajudar a emendar as tiras de seda. Depois de três dias de trabalho, o balão fica pronto; tinha mais de sete metros de altura. Para que todo mundo admirasse a obra de arte, Oz manda amarrá-lo em duas estacas, bem na frente do Palácio. Para enchê-lo de ar quente, o Homem de Lata preparou uma grande fogueira.
Na manhã seguinte, louco para viajar, Oz aparece na sacada do Palácio, para admiração de todos, e comunica ao povo que ia visitar um grande mágico que morava nas nuvens. No seu lugar, enquanto estivesse fora, nomeara o Espantalho para governar a Cidade das Esmeraldas. Pega sua pequena bagagem e, com o boné na mão, desce as escadarias, rindo e dando adeus para todo mundo. Aproxima-se do balão, salta para dentro do cesto de passageiros e chama Dorothy, que ainda se despedia dos amigos:
- Depressa, menina, o vento está cada vez soprando mais forte.
- Um minuto só, tenho que encontrar Totó, perdido no meio dessa gente.
Neste momento, uma lufada de vento forte impulsiona o balão com tanta força que arrebenta a corda que o prendia ao chão. Começa a subir lentamente, deixando Dorothy em terra.
- Volte! Eu também quero ir! – grita a menina com as mãos na boca, em cone.
- Não posso, minha filha! – berra Oz, do cesto, dando pulinhos de alegria, abanando um lenço branco - Só o vento é capaz de manobrar este treco. Adeus, Dorothy! Au Revoir! Good Bye! Adeus Terra do Grande Oz!
- Adeus – responde a multidão, emocionada.
- Adeus!... Adeus!... – repetia Dorothy, desapontada, com os olhinhos úmidos de tristeza, acompanhando o balão até perder de vista.
Viajar, agora, só na imaginação, pensava a menina.


Capítulo XVIII
A PARTIDA PARA O SUL

O sorriso que iluminava o rosto de Dorothy logo se apaga. Começa a chorar de tristeza, perdida ali num fim de mundo; quase morta de saudades dos parentes, de casa e do Kansas.
No outro dia os quatro amigos se reúnem na Sala do Trono. O Espantalho, como novo Governador do lugar, foi o primeiro a usar a palavra:
- Nossa sorte está mudando. Agora possuímos este Palácio de Esmeraldas. Consegui um cérebro, o Homem de Lata, um coração; o Leão é o mais corajoso dos animais da floresta.
- E eu?... Continuo mofando nesta terra - protesta Dorothy, emburrada num canto.
- Oh, minha querida, Você poderia morar aqui para completar a nossa felicidade – sugere o Espantalho.
- Não, não e não! Quero viver com meus tios lá no Kansas.
- Então, vamos fazer alguma coisa – propõe o Homem de Lata.
- Podemos convocar os Macacos Alados para levá-la ao Kansas – sugere o Espantalho.
- Isso mesmo! – reanima Dorothy.
E sai correndo em busca da Touca de Ouro. Rapidamente aparece com ela na cabeça e, junto aos amigos na Sala do Trono, pronuncia as palavras mágicas. No mesmo instante, Macacos Alados entram voando pelas janelas abertas e se espalham pela sala. O Rei cumprimenta Dorothy com reverência:
- Como podemos ser úteis?
- Quero ir para o Kansas.
O Rei dos Macacos balança a cabeça, negando:
- Isso é impossível. Não podemos atravessar o deserto, pertencemos a este lugar e somente aqui podemos servir.
Assim falando, o Rei dos Macacos se despede de Dorothy, abre as asas e voa pela janela, seguido do bando.
- Pronto! Desperdicei o pedido à-toa – lamenta Dorothy soluçando.
O Espantalho teve outra idéia:
- Quem sabe o Sentinela pode nos dar uma luz.
E ele foi imediatamente convocado à Sala do Trono. O Espantalho logo pergunta:
- Como Dorothy cruzará o deserto para chegar ao Kansas?
- Não sei.
- Conhece alguém para nos ajudar?
- Talvez, Glinda.
- Quem é Glinda? – adianta-se Dorothy.
- A Bruxa Bondosa do Sul, a mais poderosa de todas. Governa os Quadradinhos. Como seu Castelo fica no fim do deserto, talvez saiba como cruzá-lo.
- E como chegar ao Castelo?
O Sentinela pensa antes de responder:
- Há caminho bom para o Sul. Mas a região é cheia de perigos, infestada de animais ferozes e um povo que ataca estrangeiros no seu território.
Ao ouvir isso, Dorothy decide partir o mais depressa possível.
- Vou com Você – confirma o Leão.
- Eu também – apoia o Homem de Lata.
- Pois bem, partiremos amanhã bem cedo – decreta o Espantalho, numa súbita resolução.
- Você vai mesmo? – indagam todos, surpresos.
- Claro. Pensando bem, devemos tudo a Doroty. É nossa oportunidade de ser útil e agradecer a quem sempre nos ajudou.
- Obrigada. Que seria de mim sem meus amigos?
Dorothy abraça todos e sai para providenciar os preparativos para a viagem.



Capítulo XIX
O ATAQUE
DAS ÁRVORES LUTADORAS

Os cinco companheiros partem cedo para o Reino do Sul. O Espantalho nomeara o Sentinela para governar interinamente a Cidade das Esmeraldas, prometendo ao povo reassumir o cargo após a viagem de Dorothy para o Kansas:
- Afinal de contas, não me canso de agradecer Oz pelo cérebro!
O Homem de Lata, ao ouvir isso, leva as mãos ao peito para sentir as pulsações do novo coração. O Leão solta um urro de satisfação por ter conquistado coragem. A menina permanece calada; para ela Oz não foi tão hábil assim. Mas reconhecia que fizera tudo para atender seu desejo.
Caminham animados até o anoitecer; o céu estava claro e cheio de estrelas. Dorothy, Totó e o Leão dormem na relva macia e descansam o suficiente para continuar a viagem. No dia seguinte, mal retomam a jornada, são obrigados a parar; imensas árvores interrompiam a estrada.
- Meu Deus!... Que floresta mais estranha!
O Espantalho dá uma de valente:
- Deixa comigo, Dorothy, vou entrar e abrir caminho.
Coitado!... Ao se aproximar das primeiras árvores, os galhos se enroscam em volta do seu corpo e, sem dó nem piedade, o arremessam para a estrada.
- Ah!... Isso não vai ficar assim! – protesta o boneco, fulo de raiva.
Teimoso como era, tenta penetrar outra vez na floresta. Novamente, as árvores agarram o boneco pela cintura e o atiram para longe.
Dorothy, atemorizada:
- Nunca vi nada mais esquisito!
- Querem impedir nossa entrada na mata – observa o Leão.
- Ah!... Em vez de árvores atrevidas, poderiam ser árvores dos desejos!... – desabafa o Espantalho, ainda meio frustrado.
O Homem de Lata decide enfrentar as árvores lutadoras. Agita o machado no ar e salta para dentro da mata. Subitamente uma delas tenta segurá-lo, mas com agilidade de esperto lenhador, desfecha contra seus galhos vários golpes de machado. A árvore sacode as folhas, como se sentisse dor insuportável e abre a passagem.
- Podem vir, já amansei a fera – vocifera o Lenhador.
Os viajantes atravessam a mata sem problemas. Somente as árvores da primeira fila, podiam inclinar os galhos para baixo, como se fossem o batalhão de guarda da mata. No fim da floresta, para sobressalto de todos, encontram um muro alto e branco, feito de porcelana.
- E agora?
- Não se preocupe, menina. Isso é mole para mim! – brinca o Homem de Lata. – Em pouco tempo faço uma escada e passamos por cima do muro.
- Legal! – aplaude Dorothy. – Essa é a mais antiga maneira de ultrapassar uma muralha!

Capitulo XX
A DELICADA
CIDADE DE PORCELANA

Com agilidade do Homem de Lata, em pouco tempo, a escada fica pronta.
- Oba!... Quero ser primeiro a subir e ver o outro lado! – avisa o Espantalho.
- Fominha!... – graceja o Homem de Lata.
Assim que a escada foi encostada no muro, o Espantalho começa a subir, tão desajeitado, que Dorothy teve de segurá-lo pelas pernas. Ao alcançar o quarto degrau, grita de alegria:
- Nossa Senhora!... Trem mais bonito, gente!
Dorothy sobe com Totó ao colo.
- Meu Deus! Que lindeza!
Em seguida, o Leão e o Homem de Lata. Cada um, ao levantar a cabeça acima do muro, também exclama:
- Jesus Cristo!... Nunca vi nada igual.
Sentados em cima do muro, ficam bom tempo observando a paisagem diferente de tudo. Era uma cidadezinha com dezenas de casinhas de porcelana de todas a cores; as maiores mal atingiam a altura da cintura de Dorothy. Aqui e ali, também apareciam minúsculos currais, cheios de cavalos, bois, porcos, galinhas; todos de porcelana. O povo trajava roupas de todas as cores e gorro pontudo na cabeça, tudo de porcelana.
Após um silêncio, Dorothy ainda preocupada:
- Como vamos atravessar essa cidadezinha tão delicada?
- Pisando em porcelanas!– brinca o Leão, sorridente.
- O único jeito. Não podemos mudar de direção – conclui o Espantalho.
- Como descer para o outro lado? – pergunta o Homem de Lata, apreensivo.
A escada era pesada para levantar por cima do muro. O Espantalho então pula e se estende no chão para que saltassem, um a um, sobre seu corpo de palhas. Assim que todos estavam no chão, Dorothy levanta o boneco, todo amassado e, com tapinhas leves, consegue refazer a sua forma original.
Encantados com a Cidade de Porcelana, andam como se pisassem em ovos. Param num curral, onde a pastora tirava leite de uma vaquinha. O animal fica inquieto com a presença dos estrangeiros, dá um coice no ar, despedaçando o balde. Coitada! E quebra a pata.
A moça, zangada:
- Vejam? Agora tenho que mandar colar a perna da minha vaca e juntar os cacos do balde!
Dorothy pede desculpas. A mocinha nem responde, sai resmungando; puxando para longe a vaquinha, coxeando em três pernas.
- Todo cuidado é pouco ao caminhar nesta cidade de porcelana – alerta o Homem de Lata.
Mais adiante, encontram uma linda mocinha, vestida com roupa colorida. Ao ver o grupo, ela corre e pára a certa distância. Dorothy grita:
- Você é muito bonita, sabe? Gostaria de levá-la para o Kansas.
- Sinto muito – disse ela. – Aqui, podemos falar, andar e correr. Somos felizes.
- No Kansas...
Antes de Dorothy terminar a frase, a mocinha completa:
- Longe daqui, nossas juntas endurecerão. Nunca mais poderia me mover, ficaria muda para sempre, quieta, enfeitando as prateleiras da sala de visitas. Aí, sim, me sentiria muito triste.
- Oh!... – exclama Dorothy, penalizada. – Esqueça... Não faria infeliz criaturinha tão linda como Você! Adeus, querida!
- Adeus! – repete, acenando para eles.



Redobrando cuidados, os forasteiros continuam a travessia pela Cidade de Porcelana. Nas janelas, pessoas debruçadas olham com desconfiança o grupo passar, receosas de acidentes graves. Num instante chegam ao fim da Cidade, onde o muro era mais baixo. Subindo nas costas do Leão, todos pulam para fora. Mas, na vez dele saltar, abana o rabo com tanta força, que espatifa uma igrejinha de porcelana.
Dorothy pensa repreender o amigo, mas apenas comenta, pesarosa:
- Felizmente a Igreja estava vazia.
O Leão baixa a cabeça, arrependido da falta de atenção:
- Ainda bem!... Só estragamos uma perna de vaca, um balde de leite e uma igreja!...
- Ainda bem, né? São muito frágeis as pessoas e as coisas deste lugar – conclui o Espantalho, tentando melhorar o clima entre os companheiros.
E sorrindo:
– Nessa hora me alegro de ser de palha.

Capítulo XXI
O LEÃO SE TORNA
REI DOS ANIMAIS

Depois da Cidade de Porcelana, os viajantes penetram numa floresta ainda mais sombria. O Leão fica todo contente, lançando olhar comprido para os lados:
- Delícia é o perfume de mata fechada!...
- Muito fechada para meu gosto! – desaprova Dorothy.
- Hhhuuuummmmm!... Gostaria de ficar aqui para o resto da vida!
- Está anoitecendo. De qualquer forma vamos dormir por aqui – determina Dorothy.
Todos balançam a cabeça, concordando. O ar estava fresco, uma leve neblina cobria a paisagem ofuscada na sombra da noite. Dorothy abraça Totó e se deita ao lado do Leão, enquanto o Homem de Lata e o Espantalho montam guarda.
Na manhã seguinte, despertam com o ruído de vozes, vindo do mato. Receosos, voltam a caminhar. Logo, chegam a uma clareira onde vêem um grupo de animais reunidos. Dorothy demonstra medo. O Leão explica que, a julgar pelos rugidos e rosnados, estavam em assembléia e discutiam assunto sério.
Ao verem o Leão, os animais ficam em silêncio. O maior dos tigres se curva com respeito diante dele.
- Bem-vindo, Rei dos Animais! O Senhor chega a tempo de combater um grande inimigo e trazer de volta a paz na floresta.
- Quem é esse inimigo?
- A monstruosa Aranha Negra, que há muito vem devorando animais de nossa comunidade. Ela tem oito patas, cada uma maior do que os troncos de um Carvalho adulto.
O Leão pensa um pouco e propõe:
- Se eu matar a fera Vocês me proclamarão Rei da Floresta?
- Sim, claro – comemora o Tigre, cheio de esperança.
Os outros animais rugem, apoiando as palavras do lider. E o Leão, já fazendo pose de bravo:
- Onde está o monstro?
- Vive lá entre os Carvalhos – aponta o Tigre com a pata dianteira.
- Cuidem dos meus amigos que vou destruir esse monstro!
O Leão se embrenha na selva em perseguição da terrível aranha. Não muito longe a encontra dormindo tranqüilamente debaixo de duas grandes árvores. Bicho feio mesmo!... A boca dava medo só de ver, mas tinha o pescoço fino como a cintura de uma vespa. Ao perceber o ponto vulnerável do monstro, o Leão imediatamente salta em cima de suas costas e, com uma tremenda patada, arranca-lhe a cabeça. Pobre fera! Nem teve tempo de dar o último suspiro. Morreu na hora. O Leão retorna cheio de orgulho, rolando a cabeça da aranha para junto dos outros animais.
- Fiquem tranqüilos. A Aranha Negra não ataca mais nada. Está morta.
Os animais fazem reverências ao mais valente dos felinos. Em meio a vivas, tapinhas no lombo, o Leão é aclamado Rei dos Animais.
Satisfeito, promete aos súditos governar a floresta para sempre.

Capítulo XXII

OS CABEÇAS DE MARTELO

Ao sair da floresta, os viajantes deparam um morro cheio de blocos de pedra; não havia sinal de gente pelos arredores. Mal começam a escalada, uma voz grossa ressoa no ar:
- Alto lá! Não queremos invasores em nosso país.
- Quem é você? - pergunta o Espantalho.
Estranha criatura se levanta detrás de uma pedra:
- O morro nos pertence. Ninguém pode passar.
Era um Cabeça de Martelo. Raça de anão sem braços, pescoço enrugado e aspecto ameaçador; tinha os olhos vermelhos como de uma águia. Num abrir e fechar de olhos, a cabeça do homenzinho salta para frente, como se fosse um polichinelo, e acerta uma tremenda cabeçada no Espantalho, jogando-o para bem longe.
O Homem de Lata ao ver a cena não se intimida:
- Sinto muito, velho. Temos que passar.
Para quê?!... Mais feroz ainda, o anão pula para frente do Homem de Lata e aplica-lhe um sopapo tão violento no peito que ele se precipita, estralando morro abaixo.
- Bicho, comigo não tem papo! Qual o próximo? - ironiza a criatura, com olhar cínico.
Um coro de gargalhadas explode no ar; centenas de Cabeças-de-Martelo apontam a cabeça chata na encosta do morro. Um deles, mais atrevido, esgoela lá de cima:
- Esse leão tem mais cara de sonso que gato de armazém.
O Leão, ao ouvir a ofensa fica enfurecido e solta um terrível rugido. O homenzinho esquisito revida com uma gargalhada mais alta ainda, e aplica no felino uma pancada na barriga, tão forte que o arremessa para junto do Homem de Lata.
Dorothy, assustada com tudo, desce para ajudar os companheiros.
- Precisamos fazer alguma coisa.
- Chamar os Macacos Alados! – aconselha o Espantalho.
Dorothy imediatamente coloca a Touca de Ouro na cabeça, já dizendo as palavras mágicas. Logo o Rei dos Macacos Alados aparece com o bando:
- O que deseja?
- Queremos ir ao País dos Quadradinhos.
Em pouco tempo os Macacos Alados levam os viajantes para região dos Quadradinhos, onde casas, cercas e pontes eram todas pintadas de vermelho.
O Rei dos Macacos se despede, avisando:
- Cumprimos nossa missão com Você, atendendo três pedidos. Adeus, Dorothy!
- Adeus! Obrigada por tudo.
A menina logo avista uma casa de fazenda. Caminha com os companheiros até lá e pergunta a uma mulher como chegar ao Castelo de Glinda.
- Logo ali, no fim da estrada – aponta a moça, alegre.
Animados, apressam os passos e chegam ao fabuloso Castelo de Glinda. Diante do grande portão, havia três elegantes moças de rosto rosado e marias-chiquinhas loiras. Uma delas pergunta a Dorothy:
- O que desejam no Reino do Sul?
- Precisamos falar com a Fada Glinda.
- Muito bem, aguardem aqui, volto com uma resposta.
A mocinha entra no Castelo, marchando. Em pouco tempo, retorna e convida a todos para falar com Glinda.
Capítulo XXIII


GLINDA, A BOA FADA

Antes de entrar no Salão do Trono, os viajantes são conduzidos a uma dependência do Castelo, onde Dorothy e Totó tomam um banho caprichado; o Leão sacode a poeira da juba; o Espantalho ajeita bem as palhas no corpo, e o Homem de Lata lustra a pele de lata, lubrificando as juntas. Em seguida, acompanham a moça de uniforme de gala até um imenso salão. Cada um mais curioso que o outro, olhava para todos os lados imaginando ver Glinda.
Ah!... Para a surpresa de todos, ao lado do trono vazio, resplandecia uma enorme árvore, toda enfeitada com bolinhas multicoloridas e brilhantes. De repente, uma luz forte ilumina o salão e, como por encanto, as bolinhas vão-se transformando em dezenas de passarinhos coloridos, voando e cantando em volta da árvore, que, pouco a pouco, tomava a forma da Fada Glinda, com seus lindos cabelos louros, amarelos como o trigo, e soltos em cachos pelos ombros.
Boquiabertos, os forasteiros ficam bom tempo sem saber o que falar.
- Bom dia, gente de outras terras – cumprimenta a Fada, sorrindo.
- Bom dia, Glinda – responde Dorothy com a voz meio trêmula de emoção.
- Em que posso ser útil?
Os olhos de Dorothy brilham, queria dizer mil coisas. Mas se limita a pedir para voltar ao Kansas, justificando:
- Tia Ema deve estar pensando no pior. Talvez já esteja usando vestido de luto!
Glinda se curva e beija a testa de Dorothy:
- Abençoado seja sempre seu coração, menina. Breve, estará com sua família. Em troca, quero a Touca de Ouro.
- Oh, claro!
Dorothy entrega a Touca à Fada. O coração começa a bater depressa, enquanto sua imaginação voava, como andorinha solta no céu. Glinda agradece:
- Obrigada. Precisarei dela três vezes.
A Fada abaixa a cabeça, refletindo. Os pássaros, num ritual fantástico, a envolvem numa nuvem colorida. Quando torna a falar, eles se espalham e, ficam revoando pelos cantos do salão.
- E Você, Espantalho, o que pretende fazer?
- Tenho que retomar o governo da Cidade das Esmeraldas. Não sei como atravessar o morro dos Cabeças de Martelo.
- Determinarei aos Macacos Alados que cumpram essa missão.
E virando-se para o Homem de Lata:
- E Você?
- Prometi ser o lider da terra dos Pisca-Piscas.
- Muito bem, partirá ainda hoje para lá.
- E você, Leão Corajoso, qual seu desejo?
- Assumir o trono na Floresta que fica além do morro dos Cabeças de Martelo.
- Deus, salve o Rei da Floresta!... Minha terceira ordem aos Macacos Alados será transportá-lo para lá. Depois, presentearei a Touca de Ouro ao Rei dos Macacos para que ele e seu bando fiquem livres desse encanto.
Dorothy, dá um passo à frente, dizendo:
- E eu?!... Tenho que ir para o Kansas.
- O poder está nos seus pés.
- Terei que atravessar o deserto andando?
- Não, voando. Se soubesse dos poderes dos Sapatos de Prata, teria voltado no mesmo dia em que chegou.
- Ah, não! - graceja Dorothy.


Depois, olhando para os amigos:
- Bem, se tivesse ido, não seria útil aos companheiros. Nem eles a mim. O Espantalho ficaria sem cérebro; o Homem de Lata, sem coração; o Leão permaneceria covarde para o resto da vida.
- Você é mesmo especial, Dorothy.
A menina abre um sorriso para Glinda, que revela:
- Os Sapatinhos Prateados são poderosos! Basta bater três vezes um no outro e ordenar que a levem aonde quiser.
Dorothy dá um pulo de alegria:
Depois, olhando para os amigos:
- Bem, se tivesse ido, não seria útil aos companheiros. Nem eles a mim. O Espantalho ficaria sem cérebro; o Homem de Lata, sem coração; o Leão permaneceria covarde para o resto da vida.
- Você é mesmo especial, Dorothy.
A menina abre um largo sorriso para Glinda, que revela:
- Os Sapatinhos Prateados são poderosos! Basta bater três vezes um no outro e ordenar que a levem aonde quiser.
Dorothy dá um pulo de alegria:
- Se é assim, vou pedir agora.
Rindo de orelha a orelha, Dorothy abraça o Leão, acariciando-lhe a juba. Beija o Espantalho e o Homem de Lata. Sobe ao trono e dá apertado abraço de adeus em Glinda. Toma Totó nos braços e bate três vezes com os calcanhares dos Sapatinhos Prateados, um no outro, ordenando:
- Sapatinhos de Prata, vamos para minha casa no Kansas.
Imediatamente, Dorothy é suspensa no ar. E sai voando em direção ao deserto; tão rápido que só percebia o vento batendo no rosto e assoviando nas orelhas. Em pouco tempo, chega ao Kansas, aterrissando na relva macia do lugar.
Uma enorme emoção se desenha no rosto alegre de Dorothy ao ver de novo as grandes pradarias cinzentas da região. Bem na frente, a nova casa construída por Tio Henry.
Totó, ao farejar o velho dono no curral ordenhando as vacas, pula dos braços de Dorothy e corre, latindo, ao seu encontro. Ao rever o cão, o velho abraça Totó e fica por algum tempo sentindo o calor bom do animal, acariciando o pêlo do pescoço.
Dorothy olha para os pés e viu que os Sapatinhos de Prata, foram perdidos no deserto. Só de meia, corre para casa, dizendo:
- Ainda que tudo tivesse sido apenas sonho, ganhei a certeza de que amo minha família e minha Pátria.

Capítulo XXIV
ENFIM, EM CASA

Tia Ema acabava de sair para regar a horta. Quase morre de susto ao ver Dorothy, disparada em sua direção.
- Minha filha, minha filha! – grita, apertando a menina com força nos braços, cobrindo-lhe o rosto de beijos.
- Onde esteve o tempo todo?
- Na Terra de Oz!
- E Totó?
- Também.
- Terra de Oz!...
Dorothy, ainda muito emocionada:
- Oh!... Tia Ema querida, estou contente! Agora, quero abraçar Tio Henry.
- Conte, filha. Conte mais.
- Foi a melhor viagem de toda a minha vida. Parecia sonho – revela Dorothy, caminhando com a Tia Ema para o curral.
E depois de um longo suspiro:
- Glinda me disse que se formos bondosos com as criaturas indefesas, não precisamos procurar a Árvore dos Desejos para realizar nossos sonhos, Alguém mostrará o caminho.

Dorothy descobrira que Tio Henry não tinha nada de bobo, raciocinava rapidamente; era ótimo para calcular variações do tempo, mas tinha dificuldade em expressar sentimentos. E Tia Ema, sempre gentil, olhava a sobrinha com ternura através dos olhos azuis.


Para saber mais

Qual é a diferença entre ciclone, tufão, tornado e furacão?
Ciclone, tufão ou furacão são nomes diferentes para o mesmo fenômeno. Varia conforme a região. Nos Estados Unidos e na América Central costuma chamar-se de ciclone ou furacão. Tufão, quando aparece no Japão ou na Ásia. Podendo chegar a 1000 metros de diâmetro e ventos de mais de 120 km/h. A região central do furacão, conhecida como olho pode atingir até 16 km de diâmetro.
TURBILHÃO EM FURIA

Quando acontece, a região pode ser atacada durante dias por ventos de 120 km/h. Tem sua origem sobre mares e oceanos muito quentes (mais de 27 graus centígrados), onde se formam grandes quantidades de ar quente que sobem em colunas. A massa de ar torna-se tão grande e compacta que passa a sofrer influência da rotação da Terra. Ao subir, forma o movimento em espiral, de redemoinho.
Quanto mais próximo do centro, maior é a velocidade de rotação do vento. O ar se mantém em movimento até atingir altura elevada, resfriando-se e sendo arrastado para fora do furacão.
Nos Estados Unidos, preparados para enfrentar desastres da Natureza, a passagem do furacão Floyd pela costa leste, no ano de 1999, custou mais de 4 bilhões de dólares em danos. A fuga de milhares de moradores vitimados foi a maior evacuação registrada na história do país.

O TORNADO
O tornado é uma tormenta bem mais violenta, rápida e mortal. Aparece em qualquer lugar, dura dois ou três minutos, mas tem efeito demolidor, capaz de arrebentar tudo que encontra pela frente. Conhecido por funil, tem poucos metros de diâmetro, mas traz ventos de até 800 km/hm.
Uma massa de ar quente e úmido não se mistura facilmente com outra massa de ar frio e seco. Quando elas se encontram em alta velocidade, vindo de direções opostas, o ar quente é lançado para o alto, se condensa e inicia a tempestade.
No momento do impacto, as duas massas começam a girar e perdem velocidade. No centro da tempestade, onde a rotação é mais intensa, surge um funil que chega até o solo. A velocidade do vento é muito forte, suficiente para destruir casas e lançar carros aos ares.

Para pesquisar mais:
www.tyndall.uea.ac.uk
www.climateark.org.
http://zope.greenpeace.org/z/pronk



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O AUTOR E SUA OBRA
Welington Almeida Pinto
O Autor e sua Obra
Mineiro de São Roque. Em 1971, conclui seus estudos em Passos, Minas. Transfere-se para Belo Horizonte para trabalhar no departamento contábil de uma empresa imobiliária, sem abandonar o gosto pela leitura dos grandes clássicos da literatura universal e a prática de Escritor e Jornalista. Entusiasmado com o movimento cultural da Capital, freqüenta as reuniões da Academia Mineira de Letras e outras instituições culturais da cidade.
Em busca de novos horizontes culturais, viaja por cidades da Europa e das Américas, onde manteve produtivo contato com artistas e entidades produtoras de cultura. De 1972 a 1976, estuda no Centro de Pesquisas de Artes Plásticas da ACM, especializa-se em Publicidade e funda sua agência.
No Teatro, produz A Cela, de sua autoria. Depois adapta e monta Flicts, de Ziraldo, como peça adulta; ambas dirigidas por Luciano Luppi. Participa da equipe de produção do espetáculo A Noite dos Assassinos, de José Triana, dirigida por Paulo César Bicalho. Adapta O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupery, para teatro infanto-juvenil, com trilha sonora de Fernando Boca, direção de Noema Tedesco. Publica Aula-Viva, com 6 scripts sobre assuntos da História do Brasil para aplicação em Sala de Aula.
Eleito para o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, associa-se também à UBE – União Brasileira dos Escritores/São Paulo,SP, à ABRALE-Associação Brasileira de Autores de Livros Educativos/São Paulo, SP e à AEI-LEJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil/Rio de Janeiro.
Publicou contos infantis no Gurilândia, do Estado de Minas, Belo Horizonte, Zero Hora Infantil, Porto Alegre e Gazetinha, do Gazeta do Paraná, Curitiba.

Livros Publicados

Coleção Infantil Vitória Régia/Edita, 1997:
* A Águia e o Coelho
* Clin-Clin, o Beija-Flor Mágico
* Tufi, o Elefante Equilibrista
* Seu Coelhino, em Viagem ao Sol
* O Gato-do-Mato e o Preá
* A Caçada
* O Ataque do Furadentes

Literatura Adulta:
* A Cela- Helbra/1973
Poesia:
* Antologia Poética - Edita/1980

Toponímia:
* Dicionário Geográfico e Histórico do Estado de Minas Gerais – Edita, 1986
* Dicionário Geográfico e Histórico do Estado de São Paulo – Edita, 1987

Coleção Legislação Brasileira/Edições Brasileiras/1993:
* O Condomínio e suas Leis
* Licitações e Contratações Administrativas
* A Empregada Doméstica e suas Leis
* Lei do Inquilinato
* Assédio Sexual no Local de Trabalho

Coleção Infanto/Juvenil/Edições Brasileiras/1998:
* Malta, o Peixinho-Voador no
São Chico
* Santos-Dumont, no Coração da Humanidade
* A Saga do Pau-Brasil

Dramaturgia:
* A Cela – peça adulta, adaptação do livro “A Cela”
* Flicts - adaptação do livro “Flicts”, de Ziraldo.
* Pequeno Príncipe - adaptação do livro “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupery
* História do Brasil, em Aula Viva - adaptação de temas históricos para teatro,aplicados em sala de aula - Edita/1978.

Ver livros nos sites: www.welingtonpinto.kit.net/

www.literaturanacional.kit.net/


www.ensinofundamental.kit.net/


www.legislacaobrasileira.kit.net

www.ministeriodacultura.kit.net/


E-mail: welingtonpinto@globo.com.br

* O livro é um instrumento importante na luta pelo desenvolvimento de uma Nação –W.A.Pinto









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