A verdade sobre a Chapeuzinho vermelho
Tere Penhabe
Sempre tive fascínio
por qualquer conto de fadas
de uns tempos para cá
já não entendo mais nada
estão sempre a duvidar
do que se ouviu contar
por nossos antepassados.
A última que eu soube
me deixou de boca aberta
a chapeuzinho vermelho
na verdade não era neta
apenas uma vizinha
roubava a merendinha
para negociar com ela.
Dava para o caçador
e o lobo se empertigou
peitou lá a tal menina
e desse jeito falou:
ou divide isso comigo
ou vamos bater umbigo
vou comer o que sobrou.
Era levada da breca
e barato não deixou
maquinando dia e noite
o seu plano arquitetou:
levou a vizinha no bico
se propondo ao serviço
que à filha a mãe destinou.
O tal desvio do caminho
não foi bem o que contaram
era de caso pensado
ela e o lobo tramaram
pra enganar o caçador
que achava ser seu amor
até hoje ele é chifrado.
Mas ao dar a merendinha
para o lobo, com louvor
o safado do tal lobo
sua tarefa não honrou
Chapeuzinho virou onça:
guarda essa geringonça
que para mim não prestou.
Nisso ouviu o caçador
que vinha pelo caminho
sua modinha de quartel
assoviando baixinho...
já que não deu o que quero
me encheu o seu lero lero
disse ela ao tal lobinho.
Nisso descambou a gritar
fingindo de coitadinha
o lobo mau que não corre
ao contrário, se avizinha
é porque não dava conta
da tesão de grande monta
da nossa tal heroína.
E tem um detalhe sórdido
rendeu-se sem resistência
deu os pulsos para algemas
quase até pediu clemência:
leve-me preso, seu moço
que senão eu viro almoço
da donzela de aparência.
O caçador que era outro
trambiqueiro e salafrário
combinou com Chapeuzinho
pra melhorar o salário
armariam uma contenda
pra merecer a comenda
de heróis do tal fadário.
O lobo aceitou a trama
por conta do seu quinhão
receberia pra sempre
esse tal de mensalão
e o povo como sempre
envergaria a patente
de palhaços de plantão.