Eu olho você à distância,
(e nem tem que ser tão distante)
mas ao te olhar de longe assim, bastante,
creio no engano de diminuir a ânsia
de ter você ao lado a todo instante,
e sigo assim enganando-me - que ignorância,
crendo-me por isto um tanto menos amante.
Vou colocando você no final de uma estrada imensa,
bem distante, quase fora do alcance da visão,
olho o espelho satisfeita, como quem pensa,
que o peito lá dentro, bate conformado,
devidamente enrolado com as artes da razão.
Pronto! Que trabalho tão perfeito!
Você bem longe, inalcançável,
é o modo mais que perfeito
de engabelar este coração instável
que vai sacudindo dentro do peito,
incomodando a razão de um jeito
e criando um clima insuportável.
Fique aí, no lugarzinho distante que te dei,
facilite o meu trabalho,
deixe-me pensando que me enganei,
não queira surgir de algum armário,
nem de lugares que não pensei
e que eu não fico voando, dando asas,
ao pedaço do coração, impertinente,
que segue, teimoso e irreverente,
sentindo teu cheiro em toda parte,
quarto, sala, cozinha, banheiro,
e o que é pior (ou melhor), no travesseiro
e na roupa que você deixou em casa... |