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Poesias-->ALAGADOS -- 11/11/2000 - 01:46 (Nelson Haroldo C Anjos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:135343223766200400
ALAGADOS



Estes versos

são memórias e sonhos

da maré como lembrança

nos desejos da infância

vivida nas palafitas...

De pés descalços

correndo pelas pontes,

catando raios de sol

nas asas de um beija-flor!

Meu coração tinha enredos.

Melancolia e fantasias

palpitavam como folias

e desfilavam sem alegorias...



À noite,

os momentos eram

infinitos, um fifó aceso,

espantando a escuridão,

gatos lânguidos esfomeados,

ratos correndo dos algozes

e tamancos rachados

fugindo da leptospirose...

O tempo á noite

sempre se estendia.

Eu tentava empurrá-lo

com as mãos, pura agonia!

Ele teimava em desfilar,

entre os dedos lentamente...

Segundos, minutos, horas e dias,

parava o tempo!



Uma Ave Maria e um Pai e Nosso

para amenizar o sofrimento!



Pela fresta,

via-se as últimas gotas

de estrelas trêmulas,

circulando sobre

tábuas podres sobrepostas

e esqueletos de caibros

sob a lua, que ludibriava

os telhados...



O dia

florescia na enchente,

atiçada pela maré de março.

Em cada barraco, olhos velados

retiravam o que tinham

e o que não tinham, sufoco!

O povo dos alagados

recorria a todos os santos

sob a luz de um sol minguado...

Correi, marezeiros!

Há nas pontes,

dependurados e sombreados,

desejos da vida, sangue em lágrimas,

trapos velhos e pinicos furados

rasgando o ventre dos sonhos

agora macerados!

Bocas de caranguejos, asas de morcegos

e nenhuma flor como desejo...

A maré cheia

nos convidava ao mergulho.

Crianças davam caídas,

era o prazer do corpo na água,

o debater de braços e pernas,

nadar! Ingenuidade da flor idade...

Na borda do prazer,

a cilada montava o cenário

entre estacas, lixos e galhos.

O perigo era fatal... Tarde demais!

No azul, um sol de tempestades.

A morte é crua, a felicidade é fugaz,

na adversidade mais um que partia...

Erguia-se um silêncio!

Havia uma alma desesperada,

em fuga, pedia a extrema-unção.

A tarde uivava, a dor se curvava,

e nenhum padre, nenhuma benção,

mas a noite te virá em orações!

Naqueles momentos,

a maré cumpria a sua sina.

Vestia-se de cinza

e nos desespero das lágrimas

uma garoa fina!



Mas, não sei, era paradoxal!

Pratos vazios, tripas em revoluções,

urubus, cachorros e ratos

lutavam por comidas no beira mangue...

Siris magros e mariscos aferventados,

crianças amareladas exangues.

O prato se repartia, mercúrios disputados,

enquanto lombrigas faziam greve de fome!



Sob um céu de jade,

natal chegava,

como luas estreladas!

Nos olhares, quanta alegria,

escondendo a dor, a melancolia...

Os barracos eram enfeitados,

nos pisos de tábuas carcomidas

a areia branca dava o toque mágico,

nos alagados enfim, tinha vida!

Nos jarros de barro,

galhos de pitanga e espadas de Ogum,

folhas de arruda presas nas portas,

sal grosso nos telhados e alfazema

para espantar os maus-olhados,

gatos pretos ludibriados...

A noite era o olhar e viria em clarões!

Nas portas, nenhum tamanco, nenhum chinelo

e pela manhã, nem ao menos uma bola, uma boneca!

Papai Noel nunca vinha, disfarçava, enganava...

No fundo de nós,

uns olhos de tormentos

torturados por natais iguais,

à procura de manhãs desiguais!



Valei-nos, Jesus menino!

Lembrai dos vossos pequeninos,

em vossas mãos, os nossos destinos!



Nhca

Nov/00

























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