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Artigos-->Sobre professores: o que é um facilitador de processos. -- 18/07/2002 - 11:37 (Dante Gatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SOBRE PROFESSORES: O QUE É UM FACILITADOR DE PROCESSOS.



Tomei contato com o termo facilitador de processos, inserido no título deste pequeno e despretensioso artigo, na minha breve aproximação com as teorias de recursos humanos, no tempo que ainda era bancário. Muito se tem falado nos tais facilitadores. Às vezes, em tom perojativo. Pois é, e de uma forma branda desta vez, tomei as dores e chamo-os, caros colegas discentes e docentes, à reflexão. Os especialistas do assunto, os profissionais da administração, ajudar-me-ão (aprovando ou condenando, pouco importa), levando este debate a uma síntese dialética oportuna. Decerto, circunscritos à cátedra, discutem com muito mais profundidade do que eu jamais poderei fazer. Acho melhor, desafiando o caráter formal dos artigos em geral, no meio do caminho, alterar o título. Vai lá:



O QUE É UM FACILITADOR DE PROCESSOS?



Viram, ficou melhor. O acento interrogativo demonstra que não se trata de um especialista que vos fala.

O Reitor da UNEMAT, em reunião no Campus de Tangará da Serra, por incontáveis vezes repetiu a expressão “facilitador de processos” quando se referia ao exercício professoral. Ora, ele estava certo, na minha modesta, e pouco científica, opinião. Pois bem: o que entendo por facilitador de processos? Não entendo que seja uma pessoa que facilite um processo, simplificando-o, assim como suprimindo uma das suas fases, diminuindo-o ou minorando sua inerente complexidade. Não, não é isto. Aliás, não vamos refletir neste sentido. Deixemos o processo no limbo em que se encontra. Vamos pensá-lo grande, profundo, indômito, insondável, dialético. É, não há o que fazer. Retornaremos ao processo oportunamente.

Proponho uma reflexão, sem fugir da questão, de outro ângulo, aproximando-se da linha do pensamento do Reitor. Vamos pensar na nossa, também complexa, profissão de professores. Ora, o que nos cabe fazer enquanto professores? Cabe facilitar o processo, não é? Não?

Estou engolindo a seco novamente. O mundo é muito complicado, não é? Adentrei em outro terreno por demais delicado e o peso da especialização novamente me aponta para minha enorme ignorância e perplexidade. Acho que vou mudar o título novamente em reverência aos pedagogos. Acho melhor assim:



DEVE SER O PROFESSOR UM FACILITADOR DE PROCESSOS?



Agora ficou supimpa. Vejam, eu não sei, estou perguntando.

Professor?! Vejo o problema assim, conforme sintetizei da Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire. Professor é aquele cidadão (cidadão na mais ampla acepção da palavra), profundamente inserido na comunidade que ensina, e tal ensino constitui numa assimilação das necessidades e anseios de tal comunidade e – como praxis – na devolução, didaticamente sistematizados, deste conhecimento (material e espiritual, funcional e humano) que representa um salto qualitativo às contradições da realidade, que sempre se insinuam, porque a realidade e dialética e o fenômeno humano intangível. Sim, professor tem de ser educador, concordam? A educação seria a criação de condições propícias à exuberante florescência do fenômeno humano, que, por sua vez, é a nossa necessidade intrínseca de liberdade e transcendência. Ufa, que responsabilidade!

Este educador, afinal, pode ser um facilitador de processos? Realizaria sua grande obra (coisa divina mesmo, não é?) assim se comportando? Vou tentar responder esta complexa pergunta, esperando a adequada retificação dos especialistas.

O facilitador de processos, como acima já anunciamos, não é aquele que simplesmente reduz o processo. Somos facilitadores do processos quando, por exemplo em caráter introdutório, adequamos questões amplas e complexas, que já despenderam rios de tinta dos pesquisadores, em um Backgroud (ocupando uma ou duas aulas, porque vivemos circunscritos à carga horária) que constituirá um alicerce às reflexões que se seguirão. Não verdade, tal redução incita à reflexão porque assim o iniciante percebe a amplitude apaixonante do problema. Veja que facilitar assim não deve ser visto com maus olhos: facilitamos, criando condições propícias para aprofundar, não é?

Recentemente, por ocasião do mestrado, estudei a filosofia de Nietzsche e li grande parte de sua obra. Contei com um facilitador de processos: a uma certa altura da pesquisa, tomei conhecimento de um pequeno artigo do professor Paulo César Souza, “Para ler Nietzsche”, publicado na Folha de São Paulo (13 set. 1992, p.6). Obtive indicações de leituras, com a respectiva seqüência. Foi o bastante para descobrir que o livro que escolhi para ler primeiro, o famoso Assim falou Zaratustra deveria ser lido por último: “a compreensão de suas parábolas, de sua linguagem altamente simbólica, pressupõe o conhecimento das demais obras”. Sim, é verdade. Alterei a estratégia inicial e alcancei a desejada eficácia.

O trabalho de pesquisa, por si só, despende uma enorme energia. Além da bibliografia selecionada e delimitada, além do trabalho organizacional, devemos deslocar atenção e nervos para destilar o orientação adequada (indutiva, dedutiva, transdutiva). Na UNEMAT, em particular, temos um dificultador neste processo de amadurecimento do pesquisador, que começa a mostrar seus tentáculos já nas primeiras experiências acadêmicas: não temos, unificadas, as normas para publicação. Cada qual faz de uma maneira, consultado aqui e ali, despendendo energia preciosa que deveria estar voltada a pesquisa, recaindo, por vezes, em erros grosseiros e desgostando os professores mais sisudos. Veja que um trabalho estabelecendo as normas para publicação facilitaria por demais o processo.

Mas a questão não se reduz somente aos aspectos pedagógicos de ordem prática. É uma questão muito maior e seu aspecto fundamental é de outra natureza. Parodiando Nietzsche: humana essencialmente humana.

Cabe, agora, a título de esclarecimento voltarmos ao processo propriamente dito, que deixamos suspenso acima. Pois bem, acerquemo-nos dele. Vamos pensar sobre ele. Vamos pensar como será mais adequado trazê-lo à luz, discernindo analogias. Vamos selecionar a melhor bibliografia sobre o assunto. Vamos pensar numa orientação adequada: vislumbrando o fim, objetivando meios. Pois bem, ai o temos. Podemos levá-lo para a sala de aula. Ele traz duas auras: da seleção e da sistematização. Será exposto, distribuído no quadro-negro, destilado lentamente no discurso, dividido em seminários, etc., etc. Acabou o trabalho do facilitador de processos?

Inserido em todo este trabalho, ainda de ordem prática, está a natureza essencial do trabalho do facilitador de processo. Esta constitui-se numa atitude. Tudo funciona como se esse Professor/Educador/Facilitador, diante do processo, apesar de todo trabalho anterior de lapidação, dissesse aos seus alunos/colegas: “Ai o temos, isto é o pouco que sabemos sobre ele, temos muito a corrigir e descobrir e este é um trabalho de todos nós”. Percebam a importância de tal atitude. O ser humano, isto nos é inerente, encontra enorme satisfação em criar, descobrir, transcender. Esta é a natureza do fenômeno humano. Já andei tratando disto com mais profundidade em artigo anterior. O essencial desta atitude é trazer todos à participação. A participação gera responsabilidade e comprometimento, e romperá a estaticidade doentia do dogmatismo e da verdade absoluta.

Em suma, o facilitador de processos é aquele que deixa aflorar a característica essencial do fenômeno humano: sua capacidade natural de transcendência. E absorverá todas essas contribuições, as sistematizará, para começar tudo de novo, num interminável trabalho dialético. As vantagens são duplas e profundamente interseccionadas: as pessoas, neste processo, completam-se enquanto profissionais e enquanto Ser (auto-desenvolvimento combinado à auto-realização). Afinal, é um processo de facilitar a vida, humanamente falando.

Diante dessas intermináveis metamorfoses, o professor/facilitador sabe que sua profissão se efetiva no ponto extremo da condição humana que, afinal, é a eterna procura de si mesmo. Portanto, ele próprio, parafraseando o poeta, uma “metamorfose ambulante”.



Dante Gatto, professor da UNEMAT (Universidade do Estado de Mato Grosso)

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