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Contos-->Adélia Dos Ventos -Taylor - -- 13/01/2004 - 09:50 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

















Ao povo do Estado de Goiás















Se fomos criados a imagem e semelhança de Deus, então é fácil ver o rosto de Deus. Porque ele se encontra espalhado por cada canto desse mundo. Onde há uma pessoa, aí está seu rosto. E se quisermos ser bem vistos aos olhos de Deus, basta olhar com bondade, para cada pessoa que encontrarmos em nossos caminhos. Seja em cidades grandes ou pequenas. Em grandes metrópoles ou em pequenos vilarejos.
Há muito mais fora de nós para se aprender. Achamos que somos mais inteligentes, por saber operar um computador; usar um celular; programar uma máquina de lavar ou mesmo de falar corretamente. Mas, a vida que nos foi dada é a mesma para todos, e o que nos parece ser fundamental. Em outros lugares não há nenhuma serventia.
Existem pessoas hoje por esse mundo, que não sabe o que é luz elétrica ou mesmo eletricidade em si. Todavia, dentro dessas pessoas haja a mesma vida, que existe dentro de você. Que consegue decifrar esse código, que se traduz em palavras.
Fundamentalmente Deus pôs as pessoas para viverem em seus lugares, as cercaram de modernidade ou não. A mesma vida que nasce, é a mesma que morre em cada palmo desse chão. E vai continuar sedo assim. Você começará a ser mais feliz quando passar a olhar para outra pessoa com bondade no olhar.




Se ao menos uma única vez
Eu pudesse sentir o cerrado
Nos olhos e pés...
Seus Sapos Carurus e suas Emas
A minha vida não seria tão pequena,
E não passaria tão depressa demais
E eu seria mais corajoso e feliz...

E quando chegasse o momento
Num piscar de olhos... eu voaria com as Araras Canindés... ah, minhas amigas... tuas penas não tem preço...
A minha liberdade é que me prende ao chão
Ao não posso... ao não dá... ao não quero...

Quando tudo fica distante e o destino sussurra ao Seu ouvido vem e tens que ir... é chegado a hora,
Aí, sei que não verei chapadas e florestas desse cerrado... sem fim... Jequitiba e mato grosso goiano... como romance... só acontece uma vez....






Capitulo 01

C
orria o ano de mil novecentos e oitenta e quatro, e o vilarejo de Cajás encontrava-se no coração da América do Sul e no seio do Brasil. O vilarejo era conhecido por todos como “Vila do céu”, pela miragem que a distancia provoca em todos, o vilarejo parece suspenso no ar, parecendo flutuar como se emergisse no horizonte acima da águas cristalinas de um imenso lago azul.
Entre duas chapadas, nasceu Cajás e com a força da terra atraiu mais e mais famílias para a região do cerrado, vindas de todas as partes do país para trabalhar na agricultura. A cidade cercada por rios; serras; montanhas; florestas e lagos.
O cerrado estendia-se até perder de vista, os arbustos secos davam aquela paisagem a impressão de uma imagem congelada no tempo. No vilarejo as pessoas não acompanham o ritmo lento daquele lugar e apressadas puxam os carros de bóis e cruzam as carroças pelas ruas de terra roxa.
E nessa paisagem bucólica e poética, vive Adélia Fallenbach Tomaz, uma jovem de vinte anos, de pele clara e amanteigada, com seus cabelos longos, encaracolados e loiros, da cor da palha do milho e de olhos arredondados e tão azuis que pareciam um espelho, embora fossem tristes e seus lábios finos pausavam a voz macia e seu rosto pequeno sempre com um sorriso tímido, porém encantador. A cor e a altura fora herdada da mãe, Louise Fallenbach, uma cientista européia, bióloga e botânica, que veio ao Brasil para pesquisar sobre a vegetação do planalto e apaixonou-se por Cinézio e jamais retornou a Holanda onde vivia a vinte e um ano atrás. Apesar de nunca ter parado com as pesquisas que a trouxeram ao cerrado. Adélia era o resultado dessa união e paixão, em seus olhos azuis, podia-se ver a bondade alojada em cada um deles, recatada embora sempre linda em seus vestidos longos e largos, que ajudavam-lhe a disfarçar sua estatura de quase um metro e oitenta, em acima do padrão local.

Enquanto caminhava, Adélia tinha sempre a companhia do vento, que cercava-lhe de carinho e cuidados, sacolejando o seu vestido e acariciando-lhes os cabelos. Assim era sempre, o vento que acompanhava-lhe como se a protegesse.
Entretanto, ela não sentia-se feliz, já com seus vinte anos ainda não havia encontrado a cura do amor passado e com poucas oportunidades ao viver naquele vilarejo de tão poucas pessoas, cabia-lhe a certeza de ter que casar-se com o primeiro que propor-lhe, senão, continuar a viver sozinha.

Adélia no principio não entendia quando sua mãe, fazia questão de passar-lhe todo o conhecimento que aprendera sobre biologia, com tantos livros, recomendações, reproduções, plantios e preservações. Ainda criança, Adélia já entendia bastante sobre o nosso biosistema, suas fortalezas e suas fraquezas; onde deveria atuar para ajudar no fortalecimento e onde deveria preservar para continuar o crescimento.
Animais reproduzindo em cativeiros, plantas, flores em estufas, peixes em reservatórios. Tudo que sua mãe lhe ensinou. Adélia aprendera com disciplina e atenção e ela bem que poderia ter-se formado em biologia feito mãe, ma preferiu ficar ali aplicando tudo que aprendera.

Agora, assim cavalgando ao pé da Serra da Pedra, no Morro do Serrote, indo até a parte um pouco mais íngreme, podia-se ter uma visão do Parque do Tororó e do Parque dos Bichos Soltos e ela entendia perfeitamente o porquê de tudo que sua mãe lhe ensinara ao longo dos anos. O Parque do Tororó tem esse nome devido as duas corredeiras, que do alto pareciam lágrimas a rolar continuamente de alguma face; duas corredeiras que seguem uma ao lado da outra. Além de uma floresta ciliar com árvores frondosas e seus pássaros, flores e animais. O Parque dos Bichos Soltos, com seus rio mais calmo e suas cachoeiras com quedas superior a vinte metros de altura, a própria Serra da Pedra com sua formação rochosa e com paredões verticais. Tudo isso ali, bem guardado e bem aproveitado.

Adélia descera da sua égua, charmosinha e de junto ao pé de um Jequitiba, olhava tudo e era como se desejasse que tudo aquilo fosse como um brinquedo, que ela brincara por muitos anos e depois passasse-o para uma outra criança que também pudesse brincar por longos anos e também pudesse passar para outra criança e essa a outra e depois outra e outra e outra...

Dali do alto nada chegava em seus pensamentos de forma dura e sem piedade; nada a angustiava; nada a desassossegava e nada tirava sua paz. Com ambas as mãos, num gesto delicado, colocava os cabelos por trás das orelhas e sorria um sorriso com gosto de vitória e com os braços bem abertos, diante daquela imensa região do cerrado, Adélia não conseguia sentir-se pequena ao contrario sentia-se feito um gigante, forte e capaz.

As trilhas que ela fizera em diversos lugares e em outros lugares fechando-os com muros de pedras sobrepostas, que carregava nos carros de bóis, impedindo passagens para os rios, das matas, dos lagos. Desviando para atalhos com caminhos preparados, ajudaram a manter a beleza e sobrevivência do lugar.
Embora lhe faltasse respostas para o abandono que sofrera, e pela falta do amor e do carinho, Adélia mergulhara nos livros e na vida, nunca deixara de sorrir ou de omitir-se, ela estava sempre presente; nas modas de viola; nos balneários; nas festas e com amigos. Apenas alimentava uma tristeza particular e quando olhava para alguém, não saia de seus olhos, um olhar de tentativa; de busca ou de espera. E quando a olhavam com olhares cheios de paixão; de romance, Adélia mantinha o olhar vazio, distante e intocável. Com uma flor de cerrado nas mãos.
Ela sabia que não seria assim para sempre, não era para ser, seria um castigo, se não amasse novamente, se não fosse amada verdadeiramente. Teria que acontecer, mas não teria que ser esperado, viria inesperado e saberia quando chegasse, mas ainda não era hora e ainda não era daquela vez. Descia da serra montada em charmosinha, desviando-se do galhos e vagarosamente despedia-se da beleza e da plenitude e logo estava em seu galope em retorno a sua casa, exibindo aquelas testemunhas, a sua formosura ao saracotear-se no lombo da égua, ali estava uma imagem linda da mulher que tornara, porém solitária.

E em noites quentes quando rolava em sua cama sem conseguir dormir, Adélia fazia sempre a mesma prece enquanto o vento entrava por dentro de seu vestido e o erguia quase como se a despisse e depois retirava-se.
Movido pelo ciúme, o fogo não continha-se de inveja por não poder toca-la como o vento fazia e sem pena e sem compaixão e empurrado por esse egoísmo, naquela noite, o fogo ardeu na palha seca eu carregada na carroça próxima à casa, fez do incêndio o seu ato final, o seu último desejo de tocar na carne de Adélia.
O vento desesperado soprou forte tentando empurrar o fogo para o lado contrario, embora sem conseguir o seu intento, o seu esforço transformara-se em luta para que o fogo não chegasse até a casa e consumisse tudo que havia lá, inclusive Adélia.
Diante da impotência da situação e da maldade provocada pelo fogo, Deus deu a oportunidade ao vento para transformar-se num ser humano, tendo ele apenas que apagar o incêndio e jamais tocar em Adélia, com a condição de ser castigado e jamais retornar como vento.
E lá em meio a fumaça surgia um homem nu, de cor parda e de um corpo forte, com o peito largo e de olhos negros como a cor da escuridão e seus cabelos longos esvoaçantes e negros como a noite, extinguiu todo o fogo e dentro da casa enquanto a fumaça se dissipava, ele pode ver diante de si, pela porta entreaberta, Adélia ainda deitada, amedrontada com o que acontecia lá na sala. Olhou sem entender a imagem daquele homem nu; parado diante dela; sem pronunciar uma palavra, mas com profunda gentileza no olhar.
Sem ter como reagir aos encantos dela, ele tomou-a em seus braços e ela como hipnotizada pela beleza daquele homem, permitiu que ele a pegasse no colo. E com a mão direita numa de suas coxas, ele sentiu a maciez daquela pele de seda, e com a outra mão acariciou-lhe as costas quase nuas, pelo vestido já descomposto. Os dois mudos, sem palavras, sem som, entreolharam-se e toda retidão foi ficando para trás e ele desobedeceu ao mandamento e primeiro tocou-lhe os lábios e com sua boca percorreu-lhe o pescoço e ombros e desnudando-lhe os seios pousou sua língua, sentindo em sua narina o odor quase juvenil de Adélia.
Ele voltou sua boca e bebeu da saliva dela e num desejo violento, retirou-lhe o que restou do vestido, e antes que os outros os encontrassem, olhou-a dentro dos olhos e a deixou de pé, segurando o vestido, nua e feliz e foi-se em meio a fumaça.
Como paga pela desobediência, e por ser uma vontade de Deus, ele não pôde voltar e não foi permitido a ele, ser vento outra vez. Teria que aprender a viver como homem, teria um nome e chamaria Marinaldo Ferrero, vinte e um ano, e só isso caberia em suas lembranças.
Enquanto Adélia era encontrada por seus pais e pelos poucos vizinhos; já vestida e com alegria noz olhos e gentileza nas palavras; extasiada pela lembrança daquele homem, e com seu rosto gravado em sua mente.

Passado dois meses após o incidente, Adélia continuava com as lembranças em sua mente, e mesmo não tendo contado o que lhe aconteceu, nem a sua melhor amiga Mariana dos Anjos, por temer que pensassem que ela pudesse estar louca ou que ficasse com a reputação manchada. Sentia sozinha as sensações que nunca pensou que pudesse sentir e não tinha a menor intenção de dividir isso com ninguém.
Já era dia alto e Adélia encontrava-se pronta para mais um dia de trabalho, quando quase que mecanicamente, ela foi-se pondo de pé e com olhos de quem vê um sonho; um homem aproxima-se dela e sorri-lhe, um sorriso de menino:

__ Por favor, estou há dias na estrada a caminhar, e nem consigo lembrar da última vez que descansei... mas na verdade moça...eu estou precisando de um trabalho.....
__ Não está me reconhecendo? De onde vem?
__ Venho andando pela Belém-Brasília... e sinto muito, mas eu nunca lhe vi antes...moça...
__ Seu cabelo... você cortou-o recentemente?
__ Moça, você deve estar me confundindo. Desde de que me lembro, sempre tive o cabelo com esse corte e moça....
__ Pode me chamar de Adélia. E qual é o seu nome?
__ Marinaldo Ferrero. Você me parece triste...
__ Não há de ser nada. Deve ser porque estive sonhando nesses últimos dias. Mas, deixe-me apresenta-lo aos meus pais e minha avó.

Seu Cinézio com sua calma e gestos lentos, contratava com a cor de sua filha, com seus grandes e negros olhos e de um olhar profundo, que parecia enxergar a alma de quem o encarasse. Apesar da estatura mediana e seu porte franzino, os centímetros pareciam multiplicar quando falava. E ao seu lado, uma mulher alta, loira, de quem Adélia recebera toda beleza e elegância, em seus quase um metro e oitenta e um.

__ Pai. Este rapaz está procurando por emprego. Ele se chama Marinaldo.

Capitulo 02

__ Você não é daqui...porque nunca lhe vi por estas bandas – Seu Cinézio enquanto falava gesticulava bastante.
__ Pai... ele veio da Belém-Brasília e... Cinézio interrompeu-a com sutileza.
__ Minha filhinha, deixe-o falar, eu preciso saber quem está na minha casa, uai...
__ Eu me chamo Marinaldo, e estou sozinho nesse mundo há bastante tempo e não tenho me estabelecido em nenhum lugar. – a verdade e generosidade lhe saltavam os olhos. sem nenhum sotaque da região.
__ Cinézio. Pode empregar esse rapaz e deixe-o ficar no quarto lá noz fundo do quintal. – Louise falava carregada no sotaque, ma com segurança e convicção.
__ Nem vou mais argumentar, uai. Meu rapaz... o que você sabe fazer?
__ Sei laçar e consigo carregar sacos de setenta quilos, sei arar a terra, plantar e tudo que precisar que eu faça.

Louise Fallenbach tinha o Dom e o talento de reconhecer o bem nas pessoas, e o seu marido confiava nas análises que ela fazia. A noticia de que Marinaldo ficaria ali, deixou Adélia um pouco mais feliz.

Sem estar carregando nada além de uma sacola, ele se alojou no quarto onde havia uma cama de solteiro, uma cômoda, e uma janela. De banho tomado, ele foi convidado a tomar um café reforçado, com milho, curau e tudo mais, com seus novos patrões. E Adélia vestida numa blusa negra e uma microsaia negra, e de botas de cano longo, também negras, com seus longos cabelos loiro quase nunca alisados, sempre ondulados e soltos. Parada diante da porta de entrada da casa; exibia seu corpo alto e esbelto e aquela roupa deixava-a mais linda do que parecia ser possível. Sorria para Marinaldo, que sem jeito, retribuía um sorriso tímido, porém charmoso.

__ Até mais tarde, meu pai. Até mais tarde, minha mãe. Está quase na hora de dar a minha aula na escola.
__ Que aqueles marmanjos não lhe faltem com respeito...
__ Não ligue para o que seu pai diz. Você está linda demais para ser desrespeitada, minha filha. Vá com Deus.

No caminho até a escola, Adélia encontrou com sua amiga, Mariana, com sua pele branca quase neve, e seus cabelos castanhos claros longos e lisos, parecendo cair de sua cabeça e escorrer pelos seus ombros, atingindo suas costas e seus seios e quase escondendo os seus pequenos olhos castanhos; fazendo-a parecer menor que seus um metro e sessenta e oito. sempre provocante com seu andar sensual e sua voz rouca, que dava mais feminidade com seus lábio carnudos e nariz e bumbum arrebitados.

__ Mariana, hoje chegou um Deus grego para trabalhar com meu pai....
__ De onde viria um Deus grego?
__ Veio pela estrada com suas longas azas brancas e pousou na minha frente, e se meus pais não o contratassem, eu o faria...
__ Parece sério... nunca a vejo tão interessada assim...
__ Quando a aula terminar, eu a levarei até a ele e verás que é sério.
__ Você parece muito entusiasmada... vá com calma... minha amiga que você pode se decepcionar.
__ Ei, deixe-me sonhar. Você sempre fica assim quando fala do Antônio dos Reis...
__ Está louca. Aquele magrela... nem parece ter dezenove anos, com sua piadas sem graça, que ele insiste em fazer a toda hora.
__ Nossa... pensei que você gostasse dele. Ele está sempre tentando lhe agradar, coitado.
__ Às vezes ele me irrita com esse negocio, desculpe-me...
__ Tudo bem, não tocarei mais nesse assunto, Se lhe incomoda tanto.
__ Não é isso Adélia. Eu até acho ele meio legal, mas é meio grudento e criança demais e isso me deixa louca.

Adélia estranhou o comportamento de sua amiga, que era sempre calma, com gestos lentos e delicados. Acabara de perder o controle ao falar de alguém que ela sempre fez questão de manter por perto. Mas, preferiu deixar para lá e pensar que a amiga apenas estivesse nervosa ou chateada com alguma coisa.
Assim calada continuou caminhando, e em silêncio permaneceu até chegar a porta da escola, quando apenas disse: “chegamos”. Na saída, Adélia procurou e esperou por sua amiga, que recusou o convite de ir até a fazenda para conhecer o tal Deus grego.
__ Deixe para outra hora, hoje, eu não quero conhecer ninguém. Essa turma de pirralhos deixou-me cansada e ainda tenho que ir buscar leite de vaca...puxa não há nada para e fazer aqui, exceto serviço porqueira. Não é de se admirar que todo mundo por aqui nasce e morre agricultor.
__ Não se pode ter a perfeição. Ma, quem garante que teríamos sido sempre tão felizes se não vivêssemos aqui?
__ Adélia veja esse ano que passou, por exemplo. Como teria sido se eu fosse casada? - Adélia fizera esta pergunta várias vezes.
__ Podia dar um jeito se fosse realmente isso o que queria e se seu marido fosse um homem compreensivo. – não havia recriminação em sua voz, falava como se estivesse pensando em voz alta.
__ Está certa... está certa...desisto... é obvio que estou sendo uma boba, Adélia.

Beijou-a na face e despediu-se de Adélia e prometera ir à noite na casa dela. Adélia não olhou para triz se tivesse feito teria visto que sua amiga tomara um caminho diferente e parara diante da casa de Romilda Santin, uma maranhense de pele morena quase chocolate, no esplendor de sua meninice, aos dezessete anos agia como se tivesse treze, sempre mantinha os cabelos curtos e usava roupas largas como se quisesse esconder sua sensualidade, que lhe aflorava pelo corpo afora. Sempre tomava banho de rio ou lago, vestida. E nunca onde todos costumava ir. Parecia não querer crescer. Vivia fugindo do olhares que Jobson Melquíades lhe lançava.

__ Romilda, sabe aquele livro do Fernando Pessoa que você disse que me emprestaria? Vim cobrar-lhe. – Disse sorrindo marotamente.
__ Oi, Mariana. Aquele livro... que coincidência... hoje mesmo na escola eu comentei sobre ele. O livro está na casa da Andresa, vá até lá e apanhe-o, uai.
__ Fico sem jeito de ir lá sozinha...sabe... pensei que se você pudesse ir até lá comigo... sabe... eu não tenho tanta intimidade com ela, e ainda por cima tem aquele trem com Hilda, a irmã dela...
__ Trem... Mariana... você a fez fazer papel de idiota no casamento da Luana e Noberto.
__ Ela é que acreditou que az madrinhas usariam aquele laço azul enorme na cabeça, uai...
__ Não teria sido porque você falou?
__ Ah, deixe esse trem para lá... sabe...foi apenas uma brincadeira.
__ Ainda bem que eu sou sua amiga. Vamos lá ante que você me esgane.

Depois de apanhar o livro na casa de Andresa, az duas voltaram pelo mesmo caminho que foram. Até que Mariana sugerisse que usassem o atalho.
__ Mas, Mariana por aqui encurta o caminho, mas temos que passar por dentro da fazenda do Cinézio.
__ O que tem demais?
__ Nada. Então vamos é bom que eu vejo uns cavalos que eu vou pedir emprestado para montar a noite. – Romilda tinha o costume de cavalgar durante a noite pelas chapadas. Ao passarem por trás do estábulo próximo a cocheira, Mariana parou e ficou boquiaberta por alguns segundos.

__ O que foi, Mariana? – quis saber Romilda curiosa com o que a amiga tinha acabado de ver.
__ Nada. Vá até a cocheira e escolha logo o tal cavalo... vá...

Marinaldo banhava-se com um balde e uma bacia, e enquanto a água corria pelo seu corpo, Mariana fazia o mesmo caminho com os olhos. Desabotoou dois botões de seu vestido, deixando seus pequenos e redondos seios quase à amostra. E parecendo distraída quase deu um encontrão com aquele homem de aparência tão encantadora.

__ Ohm, desculpe-me. É que eu vinha distraída e com esse sol, eu quase não levantei a cabeça. – nem terminou de falar e fingiu desequilibrar-se, Marinaldo segurou-a pelo braço e puxou-a contra si, e desajeitada, um dos seios ficou exposto ao sol e aos olhos dele, que mal acabara de conhecer.
__ Menina, é melhor você abotoar esse vestido. Eu me chamo Marinaldo e você?. – Fitou-a no olhos deixando sem ar nos pulmões.
__ Sou Mariana dos Anjos. É melhor que vá agora... sabe...estou com uma amiga e sabe... não quero ser vista com alguém que acabei de conhecer. – Disse abotoando o vestido e depois apanhou o livro que caíra no chão e chamou Romilda e se retirou dali apressadamente, contudo com um sorriso preso no rosto e cara de quem havia enfiado o dedo no bolo da festa. Nem as ruas acidentadas e de terra batida tirava-lhe o bom humor. Enquanto Romilda suspeitava que algo tivesse acontecido em sua ausência, mas, temia perguntar qualquer coisa, para não levar bronca. Porém, no fundo sabia que Mariana havia aprontado alguma das suas.

Iluminada pelo sol, Adélia vagueia sem esquecer-se de suas emoções, ela alcança seu êxtase numa cavalgada para distanciar-se das coisas ruins da vida. Na velocidade ritmada de sua égua, charmosinha. Com os cabelos loiros dançando no ar e seu vestido negro a flutuar, Adélia se imaginava voando.
Disfarçando uma dor contida e pensamentos que a deixavam infeliz. Do dia em que ela viu sua vida ir embora na poeira, como não relembrar aquela emoção, embora já tenha se passado quase três anos. O sentimento de abandono e rejeição ainda lhe eram particular. Em dias que o céu fica tão claro ou mesmo quando escurecido pela noite, são em dias assim que ela se lança no lombo da égua e sai a cavalgar pelas distâncias das terras compridas. Esse é o jeito dela se aliviar da tristeza do seu coração em chamas.
Grandes vales abertos em sua frente, onde a égua vai deixando as marcas de suas patas pelo chão. No começo a vegetação arbustiva ainda consegue acompanhar as duas e depois vão ficando para trás. As pequenas montanhas cresciam e grandes vales se abriam no chão. Cavaleira e animal felizes se projetavam na paisagem como parte dela.
Marinaldo a viu passar adiante e de carroça foi ao seu alcance temendo que ela se machucasse. E ela cavalgando com os pensamentos bem acima da cabeça. Recebia os últimos raios de sol que lhe davam uma cor de prata. Logo adiante parada com sua égua, dando a ela uma folga para descansar. Amarrou-a bem firme à uma árvore e deitou-se à vontade na relva. Não imaginava que há poucos metros dali vinha Marinaldo de carroça.

__ Desculpe-me, Adélia! – disse com um sotaque irretocável do sudeste, fazendo com que Adélia ficasse com um grito preso na garganta e uma leve expressão de pavor. Parecendo ser pega fazendo algo de errado, embora apenas estivesse deitada na relva.
__ De onde você veio? – perguntou com o coração ainda disparado de medo e a menta confusa. Ela seguiu-o com o olhar e percebeu que ele não tinha mais a expressão implacável e sorria relaxado.
__ Vi quando você passou em disparada e pensei que da maneira em que você estava; ausente; distante, que pudesse lhe acontecer alguma coisa.

Alguma coisa no olhar dele a trouxe de volta a realidade e só então deu-se conta do significado do que acabara de acontecer.

__ Mais uma vez desculpe o meu atrevimento...
__ Apenas porque quis me proteger?
__ Você deve achar que eu a sigo por aí. Essa é a primeira vez que faço isso, não gostaria que pensasse que fiz de propósito. Mas, quando me vi, estava assim próximo à você.

Para insatisfação sua viu a alegria desaparecer dos olhos de Marinaldo. Por uma fração de segundos, pensou encontrar nele a mesma amargura que ela sentia. Devia ter se enganado, pois ele olhou para o lado e falou com displicência:

__ Bem, não tenho muita certeza, quanto a montaria, mas, você tem uma certa classe. Ausente em muitas que já vi montando. Mas, ainda sim, acho perigoso sair à cavalo em pêlo. Mas, quem sou eu para julga-la.
__ Cavalgo assim desde menina. Não gosto de selar a égua, adoro sentir as minhas pernas roçando em seus pêlos enquanto cavalgo. – depois de falar, ela o viu olhar direto em suas pernas e corou-se.
__ Ainda sim, eu acho perigoso. – instintivamente seus olhos foram parar nas coxas dela.
__ Você sabe andar à cavalo?
__ Não! Eu mal sei conduzir uma carroça, e quando preciso montar é apenas para colocar o cavalo no estábulo. – Adélia montou em sua égua com agilidade e leveza. Esticando-lhe a mão convidou-o para um passeio.
__ Não sei se devo...
__ Está com medo de cavalgar ou de min. – ela fez uma expressão de menina.
__ Teria que fazer um ato que demonstraria uma coragem rara... mas, acho que vou aceitar.

Aceitando a mão que Adélia lhe oferecia, ele desceu da carroça e foi em direção à ela. Endireitou os ombros e rezou para não cair ao tentar montar. Adélia curvou-se e ajudou-o a montar. E quando ele já montado encostou-se nela. Ela pode sentir o peito suado em suas costas nuas e as mãos tocar-lhes as coxas descobertas pelo vestido erguido. E ao dar inicio à cavalgada as pernas deles roçavam suavemente contra as dela.

__ Segure-se que vamos correr!

Agora as mãos dele pressionavam sua barriga e seu abdômen e às vezes tocavam em seus seios. Que pela respiração e pela cavalgada, subiam e desciam. As mãos fortes de Marinaldo a apertava gentilmente. E quando ele já começara a se acostumar com o perfume vindo dos cabelos de Adélia e com a maciez de seu corpo. A égua parava bruscamente. Fazendo com que ele encostasse os quadris contra as nádegas dela, que por uns instantes ficaram erguidas no ar. Como se esperasse por aquela colisão.

__ Acho que chegamos! - disse Adélia sem jeito e ofegante.

Os segundos que antecederam para que Marinaldo desencostasse dela, pareceram não ter fim. E era como se nenhum dos dois quisessem sair dali. Sabendo que não podia ficar ali por mais tempo, ele desceu da égua e desajeitado ao tentar dar a mão para que Adélia pudesse desmontar. Quase jogou-a no chão e ao ampara-la nos braços. O vestido foi se erguendo lentamente até cobrir-lhe o rosto.

__ Droga!
__ Não se preocupe! Não deu para você ver o meu coração...
__ Mas, eu pude ver sua alma! – disse encarando-a nos olhos e deixando-a sem jeito.
__ Vamos descansar um pouco aqui antes de voltar... – disfarçou.
__ Também estou exausto e esse silêncio é tentador.
__ também acho! – concordou Adélia deitada na relva a olhar para o céu alaranjado.
À noite na casa de Adélia quando todos se preparavam para jantar, eis que surge á porta, Mariana de calças jeans e com uma blusa de um rosa bem claro e com os cabelos sempre soltos, mas desta vez com um ar de ingenuidade que quase incomodava-a.

__ Oi, Mariana. Venha entre, nós estávamos a sua espera. A vovó fez um frango com pequi daquele que só ela sabe a receita, não é dona Micaela?
__ Sempre elogiosa, essa minha neta.
__ Boa noite seu Cinézio e dona Louise... e dona Micaela, o eu frango com pequi e de comer rezando...

Enquanto Adélia e Mariana conversavam e arrumavam a mesa, Louise observava-as em silêncio.
Capitulo 03

__ O que lhe incomoda, mulher? – perguntou Cinézio um pouco desconfiado.
__ Essa menina, Mariana... há algo nela que eu não sei... não consigo dizer se é bom ou se é ruim... ela diz uma coisa mas... eu não sei... eu não consigo ver...
__ Quando você fala é melhor ficar de olho. Porque a nossa filha tem essa menina como sua melhor amiga. Eu vou falar com Adélia depois...
__ Deve ser cisma minha... ela sempre noz tratou muito bem... vá buscar o rapaz para jantar, ele deve estar faminto.
__ Por falar nele... eu ainda não tinha conhecido ninguém que trabalhasse tanto e tão bem.. Com esse você acertou. Ele é honesto, trabalhador e generoso. Deixe que eu vou chama-lo.

Quando Marinaldo entrou na sala de jantar, todos já estavam à mesa, e ao reconhecer Mariana lançou-lhe um sorriso discreto. Adélia sentindo-se desconfortável, porém lucidamente educada, levantou-se e foi ao encontro dele.

__ Mariana este é o Marinaldo. Do qual lhe falei hoje cedo, e ...
__ Eu já sei minha amiga, hoje quando sai da escola, eu fui à casa da Andreza com a Romilda apanhar um livro e voltei pelo caminho do açougue e passei pelas terras de seu pai, e quase joguei-o no chão quando ele banhava-se.

Adélia fitou-a furiosa e estupefata, mas, encoberta pela fúria havia uma magoa incomensurável.

__ Algum problema, minha filha?. – quis saber a sua mãe.
__ Não mamãe, nenhum. – Adélia olhou-a com incredibilidade total
__ Então vamos jantar, já que todos se conhecem.

Após o silencioso jantar, seu Cinézio sentou-se em sua poltrona e chamou a todos para conversar um pouco. Louise sentou-se ao lado de Adélia e Mariana sentou-se na outra ponta do sofá e em frente delas, ficou Marinaldo e dona Micaela.

__ Você deve estar estranhando esse calor, não é rapaz? É que não sopra mais vento nessa região. Já faz mais de dois meses. E é estranho que aqui sempre havia vento. Desde de que a minha filha nasceu o vento sempre a acompanhava. Ela até ganhou o apelido de “Adélia dos Ventos”, mas depois do incêndio que teve aqui em casa. Desde de aquele dia, ninguém mais notou nenhuma brisa, eu não me lembro de nenhuma brisa por aqui.

O olhar de Marinaldo percorreu por toda a sala, como se procurasse pelo vestígio do incêndio ou que pudesse ver algo se movendo, uma cortina ou a chama de alguma vela ou se a fumaça que as lamparinas soltavam ao ar pudessem se movimentar, mas, nada se movia.

Para o coração de Adélia ainda restava uma esperança de após ouvir aquela estória, que ele pudesse dizer que fôra ele quem a salvara, mas, ela só conseguia lembrar de um rosto, que talvez fosse apenas um rosto criado por sua imaginação. Pois, não lá passado, só o presente e a ausência de onde renascem os mortos e então ela amuou-se como de costume.
Estava presente mas ao mesmo tempo ausente, olhava pela janela, sozinha, a olhar para a lua que distante lá no céu parecia lhe sorrir. Já Mariana nunca lhe pareceu mais expansiva, mais sem pudor e se atirava com olhares para Marinaldo, que comedido não ousava compartilhar da animação dela.

Ao levar a jarra de suco para cozinha, Marinaldo lançou-se sobre a bandeja de copos, e ajudou Adélia com a louça.

__ O jantar pareceu-lhe um suplício, Adélia!
__ Pegou-me de surpresa a revelação de que já havia conhecido minha amiga!
__ Ela surgiu nessa manha pela fazenda e quase chocou-se comigo, parecia aturdida pelo sol. Nada além disso...
__ Não precisa explicar-me! Eu apenas fiquei um pouco surpresa. Coisas de mulher!

O reflexo das lamparinas davam a ela um dourado em sua pele e mais brilho em seus olhos quase transparentes. Por um breve instante, ela pôde sentir seu peito arder quando ele tocou-lhe os ombros com ambas as mãos, maiúsculas, fortes e pesadas. Se não fosse pela penumbra em que a cozinha se encontrava. Ele poderia ver que o desejo foi descendo por seus ombros, chegando aos seios pontiagudos embora fartos, os bicos quase furavam-lhe o vestido e passando por sua barriga, causava-lhe arrepios e descia até seu ventre e coxas, deixando-a com as pernas enfraquecidas.

De volta à sala e depois de quase quatro horas de conversa, Mariana levantou-se para ir embora.

__ Deixe-me leva-la até sua casa. – ofereceu Marinaldo como já esperava Mariana.

Ao longo do caminho, Mariana falava e falava. Mostrava-se sem reservas. Contava-lhe em resumo toda sua vida, listava seus gostos; de cor; de fruta; de livro; de roupas e de pessoas. Sempre insinuava-se e mostrava-se disponível.
Marinaldo não mostrava-se entediado, mas limitava-se a ouvi-la, mesmo que aquele tipo de conversa não lhe interessasse muito. Ao parar diante do portão de sua casa, ela pediu para que ele a aguardasse enquanto apanharia lá dentro um livro. E quando retornou trocara de roupa e pusera um vestido curto e transparente, que sob a luz da lua podia-se ver claramente, que ela estava nua por baixo.

__ Meus pais já estão dormindo! Você não quer sentar-se comigo no banco que existe lá nos fundos() – ela parou a dois metros de distância dele, para que ele pudesse ver que ela nada usava além daquele tecido fino.
__ Não acho que devemos e você vestida assim! – ele falava pondo uma das mãos na cabeça demonstrando um certo nervosismo.
__ Não creio que haja em min nada que não lhe agrade. Melhor, que você não tenha visto ainda ou que não tenha querido ver...
__ Melhor não!
__ Por que resistir? Ninguém vai nos ver aqui! E nós podemos fazer o que quisermos, pois, nessa hora não passa ninguém nessa rua. – Mariana aproximou-se um pouco mais de Marinaldo e ergueu o vestido e lançou-lhe ao chão e com os olhos cerrados, pôs as mãos na camiseta dele e tentou retira-la. E baixando uma das mãos, segurou o short baixou-o até o chão. Num gesto rápido, ele ergueu-o de volta e fitou-a com força no olhar.
__ Eu não vou arrancar pedaços, calma! – ela falava com suavidade e com muita sensualidade.
__ Melhor que eu vá agora e que você vista-se...
Antes que ele pudesse perceber qual seria à atitude dela, Mariana puxou com força o short dele para baixo, e lançou-lhe a perna direita em volta de sua cintura e prendeu-o e agarrado a ele, beijou-o com sofreguidão.

__ Diga que não está gostando disso? Pois, seu amiguinho parece-me muito animado ai embaixo... não é melhor pô-lo dentro de min do que deixa-lo pulsando entre as minhas pernas?
__ Você não está entendendo nada! Não se trata de estar gostando ou não! Sei que não há ninguém e que podíamos nos deitar aqui mesmo. Mas, e depois, como vai ser? – disse-lhe empurrando-a quase jogando-a ao chão.
__ Pensa que pode rejeitar-me assim? Quem você pensa que é, hã? Acha que sou sonsa feito a Adélia? Eu sei o que eu quero!
__ Pare de se comportar feito louca! As coisas não são simples assim! Pela manha você me mostra o seio e a noite fazemos amor... não somos animais... pense o que quiser e seja quem você quiser ser... eu vou embora e obrigado pelo livro, ao termina-lo lhe devolverei...

Quando Marinaldo ia entrar no seu quarto, ele viu Adélia sentada no canto junto à cerca no quintal.

__ O que faz acordada?
__ Eu não conseguiria dormir enquanto você não chegasse. Não agüentaria esperar até amanha para saber o que aconteceu entre você e Mariana! – com o rosto voltado ao chão e com vergonha nas palavras, Adélia calou-se.
__ Nada aconteceu! Ela contou-me sobre tudo que acontece aqui. Disse onde vocês compram roupas; que não sei quem trás da capital; perfumes; esmaltes e jóias. E falou por longos dias e só. Você está apenas preocupada com ela... por que?
__ Ela é minha melhor amiga e você chegou hoje na cidade. Vindo de não sei onde e ela é muito ingênua...
__ Espere um pouco! Você pensou que eu pudesse fazer-lhe mal?
__ Não, não! Mas, você pode ser um conquistador...
__ Pareço-lhe um conquistador? Bem... olhe... tem que ser sincera!
__ Desculpe-me, não tive a intenção de ofende-lo e estou sendo estúpida com essa conversa sem sentido. Não tenho o direito de me meter em sua vida assim. Você já é grande demais para guia-la sem que alguém tenha que ensinar-lhe. – ela começou a soluçar.
__ Eu não fiquei ofendido! Você é diferente... não sei... e é bom saber que você se importa comigo assim...quanto a sua amiga, acho que não deva preocupar-se demais com ela, aquela lá sabe bastante e muito mais do que você imagina. – disse enigmático.
__ Boa noite e durma com Deus!
__ Espere, Adélia! Deixe-me enxugar-lhe essas lágrimas. – ao tocar-lhe a face, Adélia sentiu-se envergonhada demais para permanecer ali, ao tentar afastar-se dele, recebeu um beijo no rosto antes de entrar em casa.

Adélia caminhava sem pressa para chegar à escola quando Mariana aproximou-se.

__Está com ótima aparência! Parece que cresceu de ontem para hoje... há algo que queira me contar sobre ontem? além do que já me contou Marinaldo? – de repente, a despeito de todas as promessas que fizera a si mesma durante a noite. Fitou-a com um olhar perscrutador.
__ O que ele lhe contou? – torcia para que ela não soubesse o que fizera de verdade e sorriu para ela enquanto esperava que ela lhe dissesse logo.
__ Bem... que vocês conversaram e que você emprestou-lhe um livro de poesias de Fernando Pessoa. – Adélia sentiu vontade de lhe contar as suas preocupações, mas confiava na honestidade de Marinaldo e pensara no que dissera a respeito de Mariana.
__ Então foi só isso! – disse meia constrangida.
__ Existe algum interesse por ele?
__ Ele é interessante e parece ter muita certeza e jeito para morar aqui nessa roça. Às vezes penso que vou ficar doida aqui! – sorriu disfarçadamente.
__ E você? – Adélia teve vontade de lhe dizer que sentia algo novo, um sentimento bom, mas não lhe pareceu direito. Sentia como se ele estivesse morando lá há uma eternidade.
__ Não o conheço bem...mas acho difícil que venha ficar aqui por muito tempo... já esteve em vários lugares e nunca ficou. Mas, ele é um homem maravilhoso, um trem bão... às vezes tenho a impressão de já conhece-lo há anos. E com ele morando lá em casa e nos vendo todos os dias... não sei... vejo que ele me olha de forma carinhosa... e se?
__ Se o que?
__ Se nos apaixonássemos? Somos duas pessoas livres e não consigo pensar numa combinação melhor... nunca conheci alguém como ele e provavelmente conhecendo bem a minha sorte, nunca conhecerei. E penso em não deixar escapar essa oportunidade... cansei de tomar notas das exigências que faço de min mesma. No final, sei que vou acordar velha um dia e tudo estará acabado.
__ Isso não é verdade! Você é apenas devagar... já enfrentou dificuldades antes...

Adélia carregara sozinha um grande peso nos ombros, e por muito tempo. Mariana fôra a única pessoa que lhe aliviara ao menos alguns dos fardos, durante um longo período de sua vida.

Todas as recordações daquela tarde, a cavalgada à dois, inundavam-lhe a mente. Mais uma vez encontrava-se deitada sob as folhas, sentia o cheiro da lenha queimando ao longe e entregue as lembranças de estar nos braços de Marinaldo e de sentir-lhe o calor que lhe provocara dor física. Que importância tinha a promessa feita a si mesma diante do alvoroço do coração, do desejo ardente de ser beijada e acariciada. Tinha consciência de que dificilmente resistiria por mais tempo.
Capitulo 04

As mãos dele em suas coxas e os quadris contra sua nádegas , Adélia continuou a relembrar. Fôra apenas um contato rápido, pois, ele se afastara logo. Havia alcançado a linha, que uma vez atravessada, não ofereceria ponto de retorno. Ela marcava o limite da inocência de Adélia. Embora o sofrimento por qual passara já a houvesse quase destruído tudo nela.
Tudo que Adélia queria naquele momento era compartilhar as aflições e temores. Transferir o fardo pesado de seus ombros frágeis para outros mais resistentes! A oportunidade estava ali, ao seu alcance. E como adoraria sentir outra vez o amparo daqueles braços, o aconchego do peito onde poderia recostar o rosto e chorar à vontade! Adélia suspeitara de seus sentimentos e também notara os olhares que recebia de Marinaldo.

O tempo passava. Já lá iam três semanas da chegada de Marinaldo ao vilarejo. A euforia dos primeiros dias tinha dado lugar a um sentimento mais sólido. E ao revisitar os lugares que mais gostava encontrava-se feliz. Às vezes cavalgava percorrendo vastas áreas, todavia sempre passava pela trilha de seu primeiro passeio. Até então tinha tido sorte, pois, não encontrara mais a necessidade de se esconder em tristeza. Seus pensamentos entretanto, não eram tão obedientes quanto sua razão. Sem esperas, ela se apanhara refletindo sobre Marinaldo.
Essa era uma experiência nova. Jamais a imagem de um homem tinha ocupado sua mente de maneira tão persistente e desafiadora. Desde de que seu noivo a abandonara. Era como se ele fosse uma pessoa intima, e não uma pessoa com que se encontrara duas vezes. Contra sua vontade, reconheceu que gravara na memória, cada palavra e cada gesto que ele fizera.
De qualquer forma, ela sabia que não estava mais à beira do abismo. Com um único passo o havia cruzado e pretendia continuar na outra margem. Adélia sabia que não voltaria ao estado deprimente em que se encontrara. Nada mais poderia dete-la, tinha a sensação de ser invencível e capaz de fazer muito mais por si mesma, do que vinha fazendo ao próximo.
Desde de antes de sua horrorosa experiência pessoal, Adélia vinha lecionando para as pessoas do vilarejo. Reergueu a escola; formou outras professoras; fez multirões para que todos no vilarejo pudessem ter uma vida melhor. Assim era querida por todos, e todos a tinham como uma figura forte e amiga. Alguns a considerava uma heroína.

__ Posso lhe interromper esses pensamentos?
__ Claro, vózinha!
__ Não perca mais tempo. Vá atrás de sua felicidade.
__ Do que está falando, vó?
__ Daquele rapaz que está arando a terra para o plantio... lá na fazenda! Você o ama, não é?
__ Vó! Como soube?
__ Esse brilho nos seus olhos e esse ar feliz... não deixe que o medo lhe atrapalhe e não se esconda atrás do passado... vá em frente e sempre!
__ Às vezes, eu acho que a senhora não existe ou que é um anjo em minha vida.
__ Sou apenas uma velha cansada...
__ Para min, a senhora é a minha fada madrinha, que sempre sabe me alegrar.
__ Filha, você merece ser feliz e esse rapaz já mostrou ser alguém justo e honesto. Não tenha medo, e procure-o e diga o que sente. Ele também sente algo por você.
__ A senhora tem razão! Eu vou procura-lo após a aula!


Na volta da escola, ela decidiu ir até a fazenda com uma desculpa tola, no fundo queria mesmo era ver Marinaldo trabalhando. Parou diante da cerca de madeira e sentiu uma onde de choque percorrê-la e ao mesmo tempo, uma ânsia havia muito esquecida no estômago. Diante dela ao longe, Marinaldo e Mariana conversavam e mesmo sem poder ouvi-los, Adélia não conseguia imaginar qual seria o assunto que teriam, pois, acabara de conversar com a amiga e ela nada disse que o veria tão depressa.

__ Marinaldo! Gostaria de pedir-lhe desculpas pelo meu comportamento de ontem à noite! Eu enlouqueci desde daquela hora em que lhe vi tomando banho e só pensava em me deitar com você e acabei sendo vulgar...
__ Você pareceu-me bem acostumada nesse papel... apesar de ser uma mulher bela e desejável... acho que gosta de fazer esse tipo... mas, é preciso um pouco de cautela, não sou todos que gostam desse tipo de relação...
__ Bem, eu gostaria de saber se podemos começar de novo... – o rosto delicado e jovial dela brilhava no contato com o sol.
__ Apenas amigos! – a resposta seca e sem emoção a fez corar, para logo em seguida jogar-se contra ele e o beijar no rosto.

Adélia de longe não pôde ver onde ela o havia beijado, por Mariana estar na sua frente e assim mal conseguiu mover-se e sem direção saiu correndo, pelo mesmo caminho que veio e deu de cara com Andresa.

__ Andresa! Desculpe-me... é que estou meio que com presa...
__ Adélia! Você está chorando... o que houve?
__ Nada! É que... – Andresa olhou por cima dos arbustos e viu ao longe, Mariana conversando com Marinaldo e não precisou muito para entender o que acontecera.
__ Então era esse o plano de Mariana?
__ Plano? Do que você está falando?
__ Ontem, ela foi até minha casa com a Romilda após a aula para apanhar um livro do Fernando Pessoa.
__ Você acha que...ela não gosta de Fernando Pessoa... e ela disse que veio aqui com Romilda acompanha-la para ver um cavalo e esbarrou nele e ele se interessou pelo livro e a pediu emprestado...
__ Sabe de uma coisa... eu não acho... eu tenho certeza... esse trem está cheirando mal... acidentes e coincidências...
__ Mas, ontem ela foi jantar lá em casa e me contou que já o havia conhecido. Só que quando eu a convidei para apresenta-lo, ela disse-me que não estava querendo conhecer ninguém ontem...
__ Ela deve ter mudado de idéia... à que horas você a convidou ontem?
__ Às sete e meia da manha!
__ Sei que ela é sua amiga, mas, Adélia tome cuidado. Eu sempre achei-a falsa, armadora e maldosa. Depois do que ela fez com a minha irmã, principalmente.
__ Hoje pela manha, ela perguntou-me se eu estava interessada nele e eu disse que sim, e ...
__ E ela adiantou-se e veio conferir primeiro... o que você fará?
__ Nada! E você não dirá que estivemos aqui, afinal, ela não está fazendo nada de errado. Eu não tenho nada com ele e eles são livres e desimpedidos. Tem o direito de fazer o que quiserem...
__ Mas, você não acha estranho o que ela fez para conseguir essa oportunidade?
__ Confio que ela deva ter os seus motivos! Vamos esquecer tudo isso e voltar para casa.

Desta vez, Adélia conduzia sua égua para um lugar onde era exatamente onde queria estar. Montada sempre com a montaria em pêlo. Ela segurava as rédeas como se segurasse sua vida e direcionava ao lugar certo. Ela sabia o que queria fazer e onde queria ir.
Ao longe dali, ela podia ouvir o costumeiro som estridente, choroso e solitário do berrante, sendo tocado por algum tocador de gado. E cavalgando sempre em frente, Adélia levava a marcha até o Poço das Capivaras. Uma volta fechada do Rio Jururu, onde além das capivaras, encontra-se com tamanha facilidade: Cachorro do mato, Antas e Tamanduás Bandeiras. Nesta pare fechada do rio, nessa reserva, os animais vivem protegidos e livres e esse era o motivo de Adélia querer cavalgar por ali. Porque ela estava sentindo-se como eles, livres e protegidos, dentro daquela vegetação de mato grosso goiano.
Arvoredo basto e extenso cercado de vegetação nativa produzindo uma selva espessa e longa, com parte da mata fechada, onde horas, anos e minutos não fazem diferença para quem se encontre ali.
Adélia livre, bela, menina de corpo crescido. Corria por entre árvores, feliz, sonhadora e mulher. Descansava nos lençóis do rio, mergulhava nas águas cristalinas, e deitava em sua margem. Satisfeita, esperançosa e segura.
Ao chegar em casa depois da aula na escola, encontrou em cima de sua cama uma flor do cerrado, que certamente fôra deixada lá, por Marinaldo, que no dia anterior, Adélia revelou que essa era sua flor predileta. Com sua cor lilás manchada ao centro de brancura serena, parecendo ter sido cortada de uma folha de papel. E Adélia tinha certeza de quem colhera aquela flor fôra Marinaldo, já que ela estava conversando na varanda com sua vó, Micaela e só ele é quem estava por perto.
Era evidente a tentativa de agrada-la ao deixar a flor ali em sua cama, tudo era evidente, as aproximações, os olhares, os sorrisos e a vontade. Adélia percebia que os sentimentos nasciam apesar de não encoraja-los, mas, as batidas do seu coração a impulsionavam para um caminho já não mais pisado por seus pés. Ela não pensava mais no que perdera e se afastava das marcas que foram deixadas no seu caminho. Ali correndo atrás das capivaras com risos que afugentava todos os macaquinhos saguis, nas árvores próximas e ela assim, era feliz.
Os olhos azuis tristes e sem vida, brilhavam com alegria, de aparência indiscutivelmente clara. Adélia como todos já haviam esquecido de como era, inclusive, ela mesma. Retornava ali, correndo, erguendo a barra do vestido com as mãos, deixando os cabelos ondulados irem de um lado para o outro como ondas de um mar nunca visto por ela. Retornava ali, a vida que se desprendia de dentro daquele coração. Com os pés molhados e soltos, com o som do riso e da água pisada com os pés velozes, assim renascia a menina, a mulher, a força e a vida, assim ressurgia Adélia.
Com a flor do cerrado na mão, ora levando-a aos lábios ora levando-a contra o peito, Adélia transferia todo amor contido para a frágil flor e ficara horas a olha-la com olhar de ternura, de procura, de encontro e de amor.
Sentia-se uma boba, por beijar uma flor, mas, queria sim, beija-la, abraça-la e dormir ao lado dela. Coloca-la em sua cama sob seu travesseiro e adormecer com seu odor. E na sua mente, a imagem de Marinaldo, até que o dia chegue e traga-lhe o sol como luz em sua vida.

Adélia sabia que estava tudo errado, mas, o que poderia fazer, pensava, sozinha, e se ela não contara nada do que aconteceu pela manha... é que isso é da intimidade dela.
Voltara a fitar o céu com uma expressão triste e um olhar longínquo e mergulhara em sua tristeza e perguntas sem respostas. As mesmas que voltavam sempre e sempre. Sentada no banco da varanda perdia-se em pensamentos longos e ficava vendo as estrelas que nasciam no céu. E nem percebeu a chegada de Marinaldo.

__ Que susto! Quer me matar?
__ Claro que não! Mas, gostaria de convida-la para dar um passeio... o que você me diz?
__ Espere que eu vou avisar a minha mãe.

Logo os dois se distanciaram das poucas casas que haviam no vilarejo, e depararam com uma chapada linda e de vegetação verdíssima. Que parecia haver passado um grande rio, em tempos anteriores, mas, era apenas a erosão e ali nunca havia sido nada além de um grande terreno acidentado.

__ Por que me chamou para vir aqui?
__ Porque a sua companhia é agradável e adoro conversar com você.

Adélia sentada na grama com suas coxas esguias, uma por cima da outra com os braços e cabelos jogados para trás, era uma bela visão.

__ Tenho medo de ser atrevido, mas, você assim... sentada ao meu lado... linda... possível... perto...alcançável... faz-me ser imprudente e sonhador... além de cultivar uma enorme vontade de... de beija-la...

Adélia lançou-lhe um olhar vazio e ele sem entender jogou-lhe os braços em volta dos ombros e pôs sua boca contra a dela e forçando jogou-lhe a língua dentro da boca de Adélia que levantou os olhos e embaraçada fitou-o com uma expressão decepcionada, e de repente percebeu que seu coração se despedaçara. Ela enrubesceu, era embaraçoso admitir que estava ali, e parecia tão irreal. Inspirou longa, lenta e profundamente. Nem pensara numa coisa dessa, supusera que ele fosse um mortal comum, não o Deus grego que havia dito a sua amiga, o homem dos sonhos de qualquer mulher, porém um cafajeste. Adélia ficou olhando para o rosto dele como se ele estivesse a dois dias dali.

__ Desculpe-me, Adélia... não tive a intenção...
__ Como pôde?
__ Isso nunca mais vai acontecer, eu prometo... – Marinaldo virou-a gentilmente para si e passou sua mão pelos cabelos dela e olhando-a nos olhos, e sentindo-se com dez mil anos de idade.
__ Você acha que poderá enganar a min e a Mariana ao mesmo tempo?
__ Espere! O que tem a Mariana a ver com isso?
__ Primeiro você conquista uma e depois a outra...
__ Como conquista uma e depois a outra, do que você está falando?
__ Espera ficar enrolando e enganando as duas por quanto tempo?
__ Do que está falando? Eu não tenho nada e nem quero ter com a Mariana...
__ Então por que se encontrou duas vezes com ela na fazenda, como fez hoje?
__ Ela é quem esteve lá e foi apenas isso...
__ Chega de mentiras! Eu os vi se beijando, hoje de manha... – não conseguia mais falar, deitou-se de bruços na grama enquanto soluçava, e ele começou a lhe alisar suavemente as costas e os cabelos. Ela queria manda-lo embora, mas, não tinha forças. Não conseguia acreditar no que ele tinha feito e o que isso revelava a respeito dele era muito doloroso.
__ Gostaria que acreditasse em min... – ele deitou a cabeça em suas costas e com um ar infeliz soluçou.
__ Por favor! – ela estava magoada demais para sentir raiva, apenas sentia uma grande dor.
__ Oh... Deus... meu bem... por favor! Se eu pudesse eu arrancaria essas lágrimas desses olhos tão bondosos e lhe colocaria um sorriso, para que sempre venha a sentir-se feliz... não quero perde-la...
__ Devia ter pensado nisso antes de tê-la beijado. – sua voz era de derrota. Adélia sentou-se enquanto ele aninhou-se em suas coxas.

Adélia não sentia-se tensa ou cansada de tanto trabalhar. Sentia-se apenas abatida e infeliz. Sentada com ele ao pé da chapada. Pensava no que havia naquele homem que a envolvia, com uma sensação de bem-estar e conforto, uma espécie de calor que a acalentava. E ali estava ele indefeso, ingênuo, feito uma criança amedrontada. E ele beijava delicadamente ora uma coxa ora a outra. E ela ali inerte feito uma menininha, de bermuda jeans e camiseta velha, com os longos cabelos loiros espalhados nas costas. A preocupação aos poucos foi desaparecendo e seu rosto e de seus olhos. Ela se encontrava relaxada e serena.


Capitulo 05

__ Você precisa confiar em min... não houve beijo... apenas no rosto... acredite... – suplicava baixinho.

Adélia fitou-o bem nos olhos e sentiu algo agitar-se dentro de si, bem no intimo. Ainda não sabia bem o que sentia por ele ou se quer devia permitir-se pensar no assunto. Era tão desagradável do jeito que as coisas estavam! Mas, era estranho como ele se tornara importante para ela, o quanto necessitava saber que estava ao seu alcance, de alguma forma e que poderia conversar com ele, se fosse preciso. Não conseguia mais imaginar a vida sem ele.

__ Você significa muito para min... não sei se faz muito sentido, não é? Nunca chegamos a passar um tempo junto, na verdade... – a voz dela foi sumindo.
__ Talvez isso seja o bastante... sinto como se a conhecesse melhor do que qualquer outra pessoa.

Era isso o mais espantoso nele. Ela o conhecia e sabia que ele também a conhecia como realmente era. Com suas cicatrizes, temores e pavores particulares. Assim com toda as suas forças. Permitiria que ele a conhecesse mais de si mesma do que qualquer outra pessoa. o lado engraçado; vivo; a parte forte e sólida de seu ser. Mas, por enquanto não tinha certeza se confiaria nele o bastante para isso.

__ Você também significa muito para min! Eu vou provar que nada aconteceu entre min e Mariana. Não tenha medo de acreditar em min. – era uma coisa segura a ser dita, porém nada parecia ser seguro no momento. Ambos estavam pisando em terreno delicado. Ela o pressentia. Ficou olhando para ele, que se inclinou e beijou-lhe a face com ternura.

Adélia assentiu e a coisa ficou mais fácil para ela depois que ele disse aquilo, e de repente parecia espantoso que o tivesse conhecido apenas por duas semanas e que já estivesse confiando no que dissera e entregando-lhe os sentimentos assim.

__ Adélia! Eu sempre lhe direi a verdade, sobre o que eu sinto e o que eu quero. Lembre-se sempre disso! – ficaram em silêncio por um momento, cada um imerso em seus pensamentos. Ele lhe dera muito em que pensar.


__ Na vida há muitas coisas que dão medo. Geralmente, tudo que é bom. Pense em quantas coisas boas que já fez. Quantas foram fácies? – ela teve vontade de dizer que formidável era ele, mas, não teve coragem.
__ Marinaldo... é difícil para min deixa-lo... tudo que eu sei que... sinto... como é difícil...

A idéia da solidão dela o deprimia. Merecia mais do que isso, muito mais, merecia alguém maravilhoso que a amasse. Era boa; forte; jovem e sensata o bastante para passar o resto da vida sozinha. Sem dizer uma palavra sequer, passou a mão pelo ombro dela e espalmou a mão em sua nuca e puxou-a levemente e beijou-lhe os lábios tão carinhosamente quanto adorável.
Marinaldo não deixaria que essa estória de Mariana tivesse mais importância do que já tivera. Era suficientemente maravilhoso tê-la beijado. Não tinha nenhuma vontade de não sentir-se de novo daquele jeito e sabia que só se sentiria assim com Adélia. Era fácil imaginar-se amando-a ela era uma mulher formidável e admirável. E por esse motivo tinha que ficar ainda mais na defensiva com Mariana. Só assim daria a confiança de que estaria seguro na sua decisão. Agora, era sobre Adélia que derramava todo seu amor; cada sentimento; cada pensamento; cada segundo em silêncio. E dali a pouco Adélia resolveu que estava na hora de ir embora:


__ Amanha vai ser um belo dia para ambos!
__ Quem me dera ter certeza! – disse ela soltando um suspiro baixo – Às vezes eu gostaria de acreditar e ficaria aqui para que tudo isso pudesse durar para sempre.

Os olhos de Adélia encheram-se de lembranças distantes, ao pensar nos anos em que estivera sozinha. Mas, segura e protegida, ele pegou em sua mão delicada e prendeu-a por um momento.

__ Eu vou estar para sempre aqui com você. – os olhos dele eram meigos e se a luz da lua tivesse mais forte, ele a teria visto enrubescer.
__ Obrigada!
__ Será bom amar alguém como você! – disse isso ao acompanha-la até a porta da frente e foi tão inesperado que deixou ambos espantados.
__ Quero acreditar que será possível ama-lo também...
__ Já está sendo possível...
__ Digo, sem ninguém entre nós dois...
__ Não há ninguém e nunca haverá... só existe você aqui dentro do meu peito e será assim para sempre!
__ Eu cheguei a pensar que tudo seria apenas um sonho meu e que não se tornaria real...
__ Nós somos reais e viveremos o que temos para viver em amor!
Adélia sabia que não passaria muito do seu atarefado dia ao seu lado. Punha o despertador para às cinco e meia como em todas as manhas. Para certificar-se de que já estaria acordada antes que o galo cantasse em sua janela. Estaria pronta para que o dia lhe traria. Adélia acordou ante do alvorecer, na manhã seguinte, e a cama pareceu-lhe subitamente muito grande, porque dormia nela sozinha. Ficou ali, pensando em Marinaldo, deitado aos seus pés, em que freqüentemente seus corpos se uniram, tudo isso antes do alvorecer. Continuou ali enquanto o sol começava a entrar lentamente pela janela, sentindo-se pesada como chumbo, querendo nunca mais ter que levantar. Não sentia o horror e o pânico que experimentara quando eu noivo se foi, apenas vazio e perda, um tipo de tristeza abismal que pesava sobre ela como a lápide de uma sepultura. Voltava a pensar naquela perda repetidas vezes, e az palavras ecoavam em sua cabeça. < Fausto se foi... nunca mais o verei de novo...>. era quase meio dia, finalmente, forçou-se a sair da cama, e ficou tonta por um momento, ao por-se de pé. Estava com uma sensação de mal-estar e de vazio, pois não comera nada desde a manhã e nem conseguiria faze-lo agora. Az mesma palavras continuavam ecoando em sua cabeça... < Fausto e foi... nunca mais o verei...>. ficou meia hora no chuveiro, fitando o vazio, enquanto a água caía em seu corpo como chuva forte, depois levou quase uma hora para vestir os jeans, uma camiseta e um par de sandálias. Ficou olhando para o armário, como se com ele vivesse uma vida inteira de preciosos segredos, mas já passara por tal experiência uma vez e não podia permitir que aquilo a derrubasse de novo.
A principio, vivia obcecada com a pasmaceira daquele lugar, com o tempo, ela acostumou-se a prever os dias comuns.
Na hora do jantar, exausta, fez a oração antes da refeição e sorriu em direção ao pai. Após o jantar, saiu e foi sentar-se lã fora, para ver a lua, acostumara-se à sua solidão, aos próprios pensamentos, ao consolo de abrir a alma para o céu.

Os dias começaram a passar ligeiros. Na verdade era uma linda época do ano, a melhor possível, ma até mesmo o tempo fresco, dourado e ensolarado não a animava tanto. Estava pouco ligando para isso, e havia algo de morto em Zeus olhos ao se levantar todas az manhãs e se perguntar o que faria consigo mesma. Sabia que devia procurar esquecer sobre Mariana, mas não tinha vontade E Adélia também sentia como e estivesse superado a fase de morar sozinha, e as trocas de olhares e os leves toques nas mãos cresciam entre eles e o afastamento de Mariana, davam-lhe a confiança de que precisara para confiar nele. Em casa os dois só se encontravam na hora do jantar, ela quase nunca o encontrava na fazenda. Às vezes de longe e em outras bem próximo, quando tinha que levar alguma vaca à leiteria. Marinaldo sempre se oferecia para ajuda-la, embora tudo não passasse de uns poucos minutos, sempre acompanhado dos olhos de seu Cinézio e de dona Louise.

__ O que você está achando desses dois? – seu Cinézio começara a notar o brilho que se alojara nos olhos da filha.
__ São jovens e livres...
__ Acha possível que eles estejam de namoro?
__ Se você confia em sua filha, sabe que se ela tiver certa de vai namora-lo, ela contará para nós dois. Devem estar se conhecendo...
__ Eu faria muito gosto dessa união! Esse rapaz é muito trabalhador...
__ Nossa filha é quem sabe o que quer. E se for o desejo dela, nós dois a apoiaremos. Ela merece ser feliz! Mas, por enquanto eles estão apenas se entendendo e se conhecendo. Vamos deixa-los em paz!

Louise Fallenbach sempre foi muito centrada e observadora, sentia que a filha estava apaixonada, mas, lhe dava a privacidade necessária para que não sentisse nenhuma pressão. Pensava em como foi difícil para o amigo de Adélia: Peixoto Santin, quando foi trabalhar para os Andrades: Maciel e Cássia. O rapaz se apaixonou pela filha deles, Micheline e os dois sofreram o inferno, passaram tanta humilhação, que tiveram que sair de Cajás e foram para Goiana, para começar a vida por lá. Uma estória de amor que poderia ter sido linda, e acabara num escândalo. Só depois de um longo período é que eles aceitaram a união deles e arrependidos, imploraram para que a filha voltasse a viver perto deles. Os pais de Peixoto: Augusto do Maranhão e Luzia, como é conhecido por ter sido um dos primeiros que migraram do Maranhão para aqui. Mineradores de Cristal de Rocha, na época pobres, não tiveram tanta escolha e permitira a saída do filho e venderam quase toda parte de suas terras, e hoje sobrevivem com os cristais que retiram da pequena mineração que lhes sobrou.
Hoje, do outro lado do vilarejo, vivem Peixoto e Micheline, que cultivam umas cabeças de gado e esperam ansiosos a chegada de seu primeiro filho.

O dia seguinte foi um pouco melhor. Até que finalmente às 10:40, Mariana procurou por Adélia e lhe parecera aflita.

__ Calma, minha amiga! O que foi?
__ Adélia! Eu não sei como lhe contar... estou tão nervosa e envergonhada...
__ Se você não começar a falar, eu não poderei ajuda-la.
__ Fiz algo vergonhoso... uma loucura... eu tive um caso... eu me entreguei ao Marinaldo...
__ Como? Quando? – Adélia sentiu-lhe faltar ar no pulmões.
__ Aconteceu no dia em que ele me levou em casa... ele foi gentil e carinhoso comigo o tempo todo e retirou a minha roupa e deitou-se por cima de min e quando acabou levantou-se e eu tola deixei-me levar e acabei envolvendo-me e agora, ele nem me procura mais e o pior... acho que estou grávida...
__ Gravida?
__ Sim, a minha menstruação está atrasada há dois dias e já deveria ter chegado e nada... eu não sei o que devo fazer...

Adélia quisera não acreditar numa só palavra que Mariana estava dizendo e sentindo-se perdida, ela não sabia o que dizer ou o que pensar. Sentia sua vida ficar resumida; pequena; pouca e confusa.

__ E se meu pai descobrir? Ele vai me matar e depois matar o Marinaldo...
__ Ninguém vai matar ninguém! É preciso reparar o que foi feito!
__ E se ele fugir? Ele sabe o que fez e...
__ Devia ter pensado nisso antes!
__ Deus como fui ingênua, em acreditar nas promessas que ele fizera. – Mariana chorava copiosamente e Adélia tentava consola-la sem pensar em seus sentimentos. Cuidava para que a amiga acalmasse.
__ Vamos resolver tudo... conversarei com ele...
__ E se ele negar? – perguntou em desespero.
__ Contra os fatos não haverá como negar! E depois que eu conversar com ele, e espero que ele se porte como homem, que penso que ele seja.

Enquanto Adélia ia se afastando, cambaleante e lenta. Ela não percebera o sorriso que ficara estampado no rosto de sua amiga.

__ O que foi Mariana?

Essa era Isoldinha, negra de traços finos, de cabelos cacheados caindo em seus ombros, de olhos grandes e negros, sorriso charmoso, com seus dezenove anos e de uma feminidade notável, sua sensualidade no andar devido sua estatura mediana e seu evidente e lindo traseiro. Provocava elogios até das outras meninas, com sua voz rouca e pausada e sua pele lisa e jovial.

__ Nada, Isoldinha, Nada! Era só Adélia com os seus costumeiros lamentos. Mas, para que servem as amigas, não é mesmo? Como é Adélia para você?
__ Ninguém é mais meiga e gentil do que ela. Ela é carinhosa e aplicada, porém compassiva e triste...
__ Deve ser... levou pancadas que dariam para matar dez pessoas.
__ Mas não a mataram. Isso é que é mais espantoso nela. É mais meiga e gentil e franca do que qualquer pessoas que conheço...
__ Não acredito. – disse Mariana, sacudindo a cabeça.
__ Por que não? É verdade... ela...
__ Vamos até o rio nadar? – não a deixou continuar
__ Vamos! Mas, terá que ser rápidinho. Eu tenho que ir para colheita com o meu irmão...
__ Me conte se ele já conseguiu alguma coisa com a Romilda...
__ Ih, esse negocio não vai dar em nada! Esse meu irmão, o Jobson é muito devagar e romântico. Eu não acho que esse trem vai dar em nada. Ainda mais com aquela moleca!
__ Venha, Isoldinha! Apresse-se e desça aqui...
__ Você vai tomar banho nua?
__ E você também! Deixe-me ajuda-la a desabotoar esse vestido...
__ Espere e se aparecer alguém?
__ Logo estaremos dentro d’água e ninguém verá nada! Vamos tire logo essa roupa e deixe-me vê-la nua! Nossa! É por isso que os garotos ficam loucos quando você passa... essa sua bunda é perfeita e que corpanzil, e esses seios fortes e redondos... humn, dá até vontade de toca-los e beija-los...
__ Pare com isso... aqui não é lugar... tire suas mãos... pare... O que pensa que eu sou?... – como se o dia fosse a única testemunha, as duas brigaram, correram e nadaram sem parar.
__ Você não quer?
__ Eu não acho certo...
__ Bem, agora deixe-me tocar nesses seios! - com as duas mãos Mariana agarrou-os e começou a massagea-los com experiência levando-a à loucura.
__ Acho melhor parar que eu já estou fervendo de raiva... e não tem ninguém, aqui para me apartar de você e esse fogo!
__ Parar!! Ainda nem passei a minha língua nesses bicos. – ao pôr a boca e sugar-lhe um dos seios de Isoldinha, a menina soltou um gemido baixinho, porém interminável.
__ Assim não eu nunca fiz isso ... assim não para... assim não para...
__ Deixe-me beijar essa boca! Quero sentir esses lábios carnudos no meu pescoço. Você acha que eu não sabia que você topava de tudo... eu já tinha visto você olhando para os meus seios e eu sempre quis fazer isso com você...
__ O que você quer fazer? Eu sempre gostei do Antônio e ele nunca me olhou... dizem que sou estranha...
__ Tudo! Abra as pernas e coloque uma dessas coxas grossas entre as minhas. Quero me esfregar em você enquanto beijo essa boca linda. Assim... esfregue na minha coxa e vamos aproveitar juntas essa gostosura, esse trem bão...

depois de horas em êxtases, as duas deitadas as margens do rio, exaustas, caladas e abraçadas. Trocavam olhares de arrependimento.

Capitulo 06

__ Como você descobriu que tenho um problema? Eu nunca disse nada à ninguém.
__ Fácil! Linda como você é e nunca lhe vejo com os garotos. Está sempre com um ou com outro e sempre escondido e com algumas meninas estranhas...
__ Você não vai contar nada à ninguém, vai?
__ Claro que não! Descobrirem que você é uma putinha, que gosta de mulher! Esse será o nosso segredo e você me fará um favorzinho...
__ O que você quer que eu faça e será algo que eu vá me arrepender?
__ Arrependerá é se não fizer esse favor! É só um idiota que me enganou, me iludiu e me possuiu e agora está me desprezando. Farei com que ele case-se comigo e depois vou joga-lo fora. Para que ele sinta exatamente o que eu senti. quero acabar com
ele.
__ O que tenho que fazer?
__ Bem simples! Vai dizer para Adélia que a umas três semanas atrás, você foi a noite em minha casa apanhar um livro de português e viu o Marinaldo e eu fazendo amor...
__ O que? Você fez amor com aquele rapaz que está trabalhando na fazenda do seu Cinézio?
__ Meu bem, você não está entendendo! Ele me enganou e eu quero me vingar. Você só precisa dizer que esteve na minha casa naquela noite, para me pedir o livro de português e nos viu no quintal, na frente da casa... fazendo... você sabe...
__ Contar isso para Adélia. Eu não estou entendendo porque dizer isso para ela...
__ Você não tem que entender nada! Vai contar para ela hoje, antes das cinco da tarde.
__ É minha impressão ou está me chantageando?
__ Só precisando de um favor!
__ Tudo bem! Não sei o que isso pode ser! – Isoldinha ficou pensativa.
__ Não faça essa carinha, vai!
__ E se o seu plano der certo. O que será depois?
__ Eu me casarei com ele e se quiser poderemos ser amantes. E quem sabe até dividir a cama os três!
__ E o Antônio?
__ Todos pensam que eu gosto daquele bobão... espere ai! Não me diga que gosta daquele idiota?
__ Ele não é um idiota! Acontece que sempre fui louca por ele, mas, ele nunca teve olhos para min. Talvez por isso tenha feito tanta besteira por aí!
__ Acho que posso lhe pagar pelo favor!
__ O que vai fazer? Dizer a ele que gosto dele?
__ Sei como fazer isso! Confie em min! E faça a sua parte direito!
__ Vendo dessa forma!
__ Parece que está aprendendo! Agora, vista-se e vá fazer o que deve ser feito, que eu vou falar com ele.
__ Tenho medo do que falará para ele!
__ Como você é medrosa!
__ É que ele pensará que sou fácil!
Mariana marcara um a um dos seus passos, e agora entrara num ponto em que seu jogo entrara na reta final.

__ Antônio!
__ O que foi, minha irmã?
__ Mariana está lá fora querendo falar com você.
__ Obrigado, minha irmãzinha! Já estou indo!

Mariana vestira uma saia azul curta e uma blusa fechada de cor amarela e antes que ele chegasse ela retirou o sutiã para que os seios pudessem ficar visíveis e sedutores. Fez um ar de entediada e desprotegida. Sentou-se no muro e deixou às coxas à amostra. Para que Antônio tivesse uma visão total delas.

__ Mariana, que boa surpresa, uai! – seus olhos foram diretos até as pernas dela.
__ Meu amigo! Eu preciso falar com você.
__ Conversar comigo! Sempre é um prazer conversar com você!
__ Sabe o motivo que me trouxe até aqui? Nem tente pensar, você jamais saberia. Venho falar de uma amiga e ela nem pode desconfiar que falei contigo. A Isoldinha! Ela vem há dias dizendo-se apaixonada por você. Escreveu seu nome no diário e sabe tudo sobre você. Por isso, eu sempre evitei me interessar por você. Por saber o que ela sente...
__ A Isoldinha! Ela nunca olhou para min...
__ Homens são todos uns cegos! Ela sempre sonha com você!
__ Sonha comigo?
__ Sim! Ontem mesmo ela me contou que sonhou contigo lá pelado no rio e depois...vocês... sabe... ela disse que passou o dia todo sentindo as suas mãos no corpo dela...
__ Ela é tão distante!
__ Deve ser por você ser virgem. Ela disse que isso a afastaria de você. Por pensar que você não passa de um virgem. E ela disse que se você quiser ela o espera amanha de manha na margem do Rio Jururu ...
__ Amanha de manha?
__ O que está acontecendo com todos? Ficam fazendo perguntas o tempo todo! Se você deixar de ser virgem quem sabe eu também não me interesso em você. Ela disse que se você não quisesse depois que ela aceitaria. A não ser que você esteja com medo de uma mulher...
__ Se você não quiser se arrepender... não repita isso novamente!
__ E o que fará? Arrancará a minha saia e vai me provar que és macho? Deixe de ser virgem e depois a gente conversa, verei se é macho mesmo.
__ Eu não sou virgem!
__ Prove-me! Vá à esse encontro e mostre o que sabe fazer. Depois se for bom mesmo, eu vou querer comigo também ou não passa de um maricas...
__ Diga a Isoldinha que estarei lá amanha e depois pergunte a ela se sou maricas...
__ Vamos ver! Cachorro que muito late não morde, meu bem... se você fizer direitinho, eu deixarei que faça comigo.

Mariana levantou a saia e mostrou-lhe a calcinha e saiu correndo e deixando-o de boca aberta, nada disse, ficou apenas com os olhos de sonhador.

Ela ainda precisava fechar o círculo de seu plano e foi procurar a irmã de Antônio, Janeth, a adolescente de 16 anos, morena de pele acetinada, de cabelos castanhos curtos, pequenina feito um bibelô.

__ Oi Mariana! Você veio falar com meu irmão e voltou. Vai dar trela à ele?
__ Quem me dera... o seu irmão agora só tem olhos para Isoldinha...
__ Ele nunca me disse nada sobre ela. Ele sempre fala de você, que estranho!
__ Eu fiquei marcando touca e quando pensei que ele estivesse mesmo querendo um negocio sério comigo. Ele só queria é o que está tendo com a Isoldinha... fazer sexo... sabe... eu não devia lhe contar nada... sabe... eu estive aqui aquela hora para marcar um encontro entre ele e ela... sabe... queria ver se ele teria coagem de ir... sabe... e ele me humilhou... dizendo que eu só sirvo para fazer sacanagens e isso ele faz com qualquer uma.
__ Essa só vendo para acreditar, uai!
__ Não conte à ninguém... amanha... eu a levo lá no rio... depois da aula... me espere... sabe... agora eu tenho que ir.

Sentindo-se com a missão quase cumprida, Mariana chegou em casa radiante. Enquanto Adélia nem conseguia levantar-se da cadeira e quase não viu quando Isoldinha passou pelo portão e a chamou:

__ Oi, Adélia! Desculpe-me vir aqui em sua casa, mas é que eu estou preocupada com sua amiga, Mariana.
__ Diga o que foi?
__ Eu não quero estar parecendo fazer fofoca, mas, à uns dias atrás eu fui até a casa dela para pegar um livro de português e...e vi esse rapaz, o tal Marinaldo... que mora aqui, uai!
__ Diga de uma vez!
__ Eles estavam deitados... nus... na entrada da casa dela... e eu tenho a visto muito abatida e preocupada... deve ser... esse negocio...
__ Ela me disse algo sobre isso e agradeço por ter se lembrado de min. Mariana foi muito ingênua e agora temos que apoia-la e você não fez fofoca nenhuma. É nessas horas que precisamos ficar juntas. Obrigada!
__ É bom ter uma amiga como você! Mas, você parece muito triste... você e ele... não sabia... sinto muito!
__ Você é legal, Isoldinha! Agora quem está precisando de ajuda é nossa amiga Mariana. Deixe-me ver o que eu posso fazer pela nossa amiga.

Com a cabeça toda bagunçada, Adélia ficara mais intrigada e só conseguia pensar no que Marinaldo lhe falou. Entrou e foi tomar seu banho, para não se perder no que teria que falar com ele assim que ele chegasse.

A pressa em acabar o jantar e sair logo dali e ouvir as explicações que ele supostamente teria a dar.

__ Marinaldo, vamos dar uma volta?
__ Sim!
__ Até logo mãe! Até logo pai! Até logo vó!

Pela expressão séria em que se encontrava Adélia. Marinaldo mostrara-se preocupado.

__ Você me parece chateada. O que está lhe incomodando, que até agora você não me deu um sorriso?
__ Acho que não terei motivos para sorrir... é sobre Mariana e... desta vez não será fácil fugir... não depois do que eu soube... acho que ela está gravida!
__ Eu não estou entendendo! O que nós temos com isso?
__ Vai me dizer que você não sabe do que eu estou falando?
__ Como eu poderei saber de uma coisa dessa?
__ Não seja cínico! Você o que fez com ela na porta da casa dela quando a levou em casa naquela noite ou vai continuar fingindo que não sabe ainda?
__ Por Cristo! Já lhe disse que nada aconteceu...
__ Nem que vocês ficaram pelados?
__ É verdade... é verdade... isso aconteceu... mas, foi só isso... e não houve nada mais além disso... ela entrou em casa e veio vestida numa espécie de camisola, e retirou-a e tudo foi muito rápido... ela aproximou-se de min e tentou abaixar o meu short e prendeu-me com uma das pernas... eu lhe empurrei tão forte que ela chegou a cair chão... e disse a ela algumas palavras e fui embora de lá imediatamente.
__ Uma menina estava lá e disse tê-los vistos como dois animais se amando no chão. E só agora você vem me contar essa estória... por que não me contou antes?
__ Porque eu achei melhor não lhe contar essa coisa suja... e essa menina, só pode estar mentindo...
__ Se você tivesse me contado isso antes... mas, agora... é tarde demais... – os olhos dela encheram-se de lágrimas e sem levanta-los com eles fixos na chão, ela foi ficando cada vez mais pálida.
__ Está é a Segunda vez que você não acredita em min...
__ Acho que você não foi totalmente honesto e omitiu certos negócios...
__ Para que lhe contar o que ela tinha feito? Ela é sua amiga e não quis mancha-la aos seus olhos e achei que depois do fora que lhe dei, ela sossegaria e me deixaria em paz.
__ Para que agora eu pudesse ficar do seu lado. Essa menina que os viu no chão?
__ Não sei que menina é essa... mas, provavelmente ela está mentindo... ou pensa que viu mais do houve lá... – parecia haver mais muita coisa para se dizer.
__ Chega! Chega!
__ Sinto por toda essa situação... nada disso era para estar acontecendo...
__ Mas está acontecendo e tem que ser resolvido, antes de tudo isso se tornar um escândalo.
__ Depois de ver nos seus olhos essa desconfiança e gente dizendo o que eu não fiz... temos que resolver isso... isso é um terreno minada... uma armadilha...
__ Você precisa falar com Mariana...
__ Ela foi me procurar no outro dia e até me pediu desculpas pelo que havia feito...
__ Disso eu sei... eu os vi lá na fazenda se...
__ Por favor!!
__ Chega! Não sei porque ela inventaria um negocio desse! Diga-me o que fará?
__ Quer me jogar nos braços dessa mentirosa? Tudo bem, diga a essa peste que faço tudo que ela quiser que eu faça e até que me caso com ela...

Adélia sabia que não era isso que ela estava querendo ouvir, mas, não havia outra direção a tomar.

__ Se você não quiser... é direito seu... mas, eu não vou estar ao seu lado...
__ Estou vendo... já sei disso... – ele hesitou por um momento, sempre inseguro quanto ao que dizer exatamente.
__ Na verdade eu não gostaria de estar aqui... mas, o que devo fazer?
__ Acreditar em min e ajudar-me a saber o que está havendo... a verdade tem que aparecer... sempre aparece... – ele ainda a viu se afastar e ir embora em prantos.

Quase no meio da manha do outro dia, Mariana acompanhava Janeth até um local escondido de onde poderiam ver Isoldinha e Antônio em seu encontro secreto à beira do rio Jururu. Antônio foi o primeiro a chegar e foi logo tirando a roupa e Isoldinha chegou logo em seguida. Parada na margem do rio, usando um vestido verde-claro de alcinhas que mostrava toda sua exuberância. Antônio saiu nu da água e causou espanto nela que nunca havia percebido essa virilidade nele e pelo sorriso pareceu ter gostado.

__ Que sorriso lindo!
__ Obrigada!
__ Tire esse vestido e deixe-me admira-la também... – Isoldinha pôs o dedo numa das alças e depois na outra e deixou o vestido deslizar pelo seu corpo, mostrando lentamente a beleza de seu corpo nu por baixo do vestido.
__ Você sai sempre de casa assim? Nossa você é linda!
__ Estou assim para você... eu sempre quis você... – Antônio tocou-a de leve no rosto e cheio de desejo, beijou-a na boca e depois no pescoço; nos ombros; nos seios. Isoldinha não pensara que pudesse ficar tão à vontade diante dele, mas seus sentimentos lhe confundiam a mente. Ela o acariciava e beijava-o no peito e mostrava toda a paixão que ela guardara por ele por todo aquele tempo.

__ Beije a minha boca, Antônio!
__ Sim! – Antônio deitou-a no chão e pôs-se por cima dela, abriu-lhes as pernas e as ergueu em volta de sua cintura e delicadamente beijou-a na boca. Ambos começaram a descobrir o amor.
__ Isoldinha... eu vou querer sempre estar com você... cada minuto da minha vida...
__ Jamais pensei que pudesse sentir esse negocio... com você... tão envolvida e tão bom...
__ Você permite que eu comece a vê-la em sua casa? Eu posso ir agora mesmo pedir a permissão dos seus pais. Seu Agnaldo e dona Isolda... se você quiser que eu faça isso...
__ Amanha... venha me encontrar aqui outra vez... e depois vamos juntos falar com os meus pais...

Capitulo 07

Mariana e Janeth saíram antes que eles acabassem e com um ar de felicidade estampado no rosto. Um misto de vitória e satisfação. Mariana caminhava segurando a mão da pequena Janeth.

__ Janeth você não há de contar esse trem para ninguém. O que você viu pode prejudicar seu irmão e Isoldinha vai ficar mal falada... sabe como são os fofoqueiros... esses roceiros daqui?
__ Todos os namorados fazem isso? Quer dizer ficam com o negocio daquele jeito?
__ Você nunca tinha visto um... depois a gente conversa sobre isso... agora vá e calada! – Mariana avistou Marinaldo vindo pela rua cabisbaixo e tratou de despachar a menina e foi ao encontro dele.

__ Mariana não sei como você fez mas, você conseguiu...
__ Do que você está falando? – disse cínica.
__ Das suas armações... desde do livro até me levar à porta da sua casa e colocar alguém lá para inventar essa estória sórdida de que está grávida... e se estiver mesmo... sabe que não pode ser de min... quer saber... tenho pena de quem você usou para conseguir isso...
__ Por que está me tratando assim, uai?
__ Em geral não uso tratar ninguém assim. Mas, você é baixa e vulgar. E fico assim quando alguém me encosta na parede...
__ Desculpe, não foi minha intenção...
__ O que a levou pensar nisso tudo? E agora?
__ Nunca fez loucura para ficar com alguém que estivesse apaixonado?
__ Nunca passei por cima de sentimentos alheios... que não me pertencem e nem nunca me pertencerá...
__ Nunca se sabe! – ela deu os ombros e abriu um sorriso.

Era estranho estar interrogando-a daquele jeito, pareciam velhos namorados tendo uma discussão, mas, Marinaldo estava muito nervoso e era bastante difícil para ele conversar com ela depois do que ela havia aprontado com ele. Sentia como se a fuzilasse com os olhos. Era como se estivesse numa ilha deserta e o resto do mundo não tivesse nenhuma importância. Estava ali parado, sozinho. E ele bem curioso à respeito da personalidade cruel e mesquinha de Mariana.

__ Adélia não acreditou em min e disse-me que eu tenho que reparar o que fiz e sabemos que nada fiz... mas, só há uma maneira de reparar o que fiz. E se ela acredita mais em você do que em min e se você está grávida. Então devo assumir o meu papel e vou até a sua casa à noite e falarei com seus pais...
__ Com meus pais?
__ Sim!
__ Mas, se você disser que eu estou grávida... sabe... ele vai nos matar...
__ Não direi que está grávida e cá entre nós... sabemos que não está... eu vou apenas pedir permissão para namora-la em casa. Bem, não pense que você terá mais do que isso de min...
__ E depois, o futuro?
__ Levarei essa mentira até o fim. E saiba que nunca tocarei num fio do seu cabelo e mesmo se pudéssemos viver duzentos anos. Se você me queria tanto assim contente-se com o que terá e só...
__ Será o suficiente! Com o tempo você verá que eu sou melhor para você do que a Adélia... sabe... eu amarei pelos dois... sabe... lhe conquistarei... você verá...
__ Não crie ilusões... o meu coração nunca deixará que se aloje nele... nunca lhe pertencerá... por você só tenho desprezo e nojo!

Desiludido, Marinaldo tomou o caminho de volta e havia nele o desapego e desespero. Sentia-se muito infeliz por estar fazendo tudo aquilo. Não suportara a indiferença de Adélia. Se não tomasse aquela atitude não poderia viver em paz, sabendo que ela jamais o perdoaria e se ele deixasse Mariana de lado e só agindo assim é que teria como provar sua inocência.

Mariana saíra dali feliz e fora direto à casa de Adélia contar-lhe a novidade que acabara de saber. Embora acreditasse que ela já estivesse à par de tudo. O contraste entre as duas jovens, tanto na aparência quanto na personalidade, não poderia ser maior. Conheceram-se na infância e apesar das diferenças profundas, alimentaram uma grande amizade. Mariana sempre fútil; egocêntrica; irritante e incapaz de um raciocínio sensato. Porém, não perdia tempo com rodeios e ia direto ao que lhe interessava.

Adélia estava pronta para sair à cavalo, mas, ao vê-la ali, parada e altiva. Sabia o que ela lhe diria:

__ Adélia! Marinaldo procurou-me e pediu-me em namoro... sabe... e disse que logo mais, ao anoitecer falará com os meus pais. – por uma pequena fração de segundos, Adélia permaneceu muda, de olhos arregalados e respiração entrecortada pela raiva.
__ Essa era a única atitude decente que ele poderia tomar depois do que fez à você. Fico feliz por você...
__ Bem, eu vou para casa e depois a gente conversa, eu não quero atrapalha-la, já que está pronta para cavalgar... depois nos falamos.
__ Ótimo! – disse tentando esconder sua emoção.

Mariana virou-se e Adélia entrou correndo em casa e foi até o quarto e mergulhou na cama e pôs-se a chorar copiosamente e passando as mãos no rosto, abriu o armário e apanhou um vestido preto cumprido de pano muito fino e com oito botões frontais, retirou a bermuda de jeans e a camiseta e ficando nua em pêlo, vestiu-se apenas com o vestido e saiu.


A idéia de cavalgar nua fez um sorriso alojar-se no rosto de Adélia. Entretanto, no momento seguinte desaparecera. Lembrava da cena confusa em sua mente. Aproximando-se de sua égua que estava praticamente pronta. Adélia retirou a sela, desejava sentir o contato de seu corpo como pêlos do animal e deixou-lhe apenas as rédeas.
Com a certeza de que dali por diante seria impossível pensar na possibilidade de ser feliz ao lado de Marinaldo. Ela se esforçava para continuar forte, mas, sendo humana e possuindo um coração. Preferia não mostrar aos outros a sua dor e montar e fugir tornaram-se sinônimos em sua vida.
Linda, com o sol fraco em meio a tantas nuvens negras, mas, ainda refletindo raios em seu corpo e sentindo-se a única habitante do mundo, Adélia montou com certa elegância e postura e foi-se afastando do vilarejo. Com o sol refletido em seus longos cabelos loiros, ela parecia uma pintura em movimento e como se estivesse sem pressa, ela ia se afastando dali lentamente.
Sem olhar para trás ou para os lados, Adélia perdia-se em seus pensamentos e em profunda tristeza. Tentava se conformar, mas, seu coração disparava ao pensar que perdera seu tão sonhado grande amor. Tudo voltaria a ficar como no passado, apenas lembranças, que certamente nunca se apagarão de sua mente.
Adélia tinha começado a cavalgar pouco depois de aprender a andar. Não muitos anos mais tarde, já decifrava os primeiros livros, com auxilio de sua mãe. Enquanto seu pai se entretinha com a agricultura e pecuária. Adélia apanhava qualquer livro das estantes e o devorava. Entretanto, mal uma réstia de tristeza chegasse em seu coração, ou ela saía a cavalgar pelos vales do cerrado ou passava pela fazenda para ver como o trabalho era executado. Poderia ter crescido mimada e egoísta, caso seu interesse fosse em si própria e não nas pessoas que lhe cercava. E sem duvida seria uma pessoa indisciplinada se a severidade do pai não tivesse moldado seu comportamento. Alias, graças a presença dele e a influencia literária da mãe, Adélia crescera e tornara-se uma mulher forte e inteligente.
Os cabelos esvoaçando em completo desalinho e o coração pesado feito chumbo e os olhos turvados em lágrimas, ela cavalgava. Ressentimentos e mágoas davam lugar a um desejo louco de perder-se na felicidade de um amor, ansiava em correr pelas chapadas ao entardecer e depois atirar-se na relva enquanto os pássaros revoavam pelo céu a procura de seus ninhos. Havia sido criada nessas paragens e o amor à terra corria-lhe nas veias.
Adélia havia aprendido a se comportar com certa moderação, mas, agora, quanto tudo que mais amava encontrava-se tão distante. Achava difícil manter uma atitude comedida. Sentia-se como as múmias egípcias dos livros que lera; envolta em dedos; rendas; uma prisioneira de seus vestidos. Livrou-se do vestido e deu liberdade à montaria. O galope se acelerou. Égua e amazona comemorando a velocidade.
O vento unicamente provocado pela corrida, fustigava a crina da égua e os cabelos de Adélia, que elegantes se desfizera. Eufórica, ela ria e chorava ao mesmo tempo. Espirito impetuoso, já lhe dissera a mãe, que momentos como esse e com toda razão, tinha algum valor.
Ansiava por encontrar-se livre... manhas, tardes inteiras eram passadas numa imobilidade enervante. Tinha certeza de que os ossos acabariam se desfazendo com tanta inércia. Assim, nua e cavalgando, não tinha que exercitar os lábios e a língua para expressar palavras quando não se levava em consideração à mente e o resto do corpo.
Jamais se uniria a um homem que lhe negasse prazeres, de ser livre e verdadeira, sem transparência. Preferiria ficar solteira. Ah, mas, Adélia soubera que havia encontrado um que a entendera e que ao menos uma única vez, a viu por inteira. Então, de repente, sentiu a realidade esmagada sob as patas da montaria.
Adélia tinha sentido falta desse galope que a exercitava. Satisfeita, apreciava a paisagem enquanto as patas ecoavam um ritmo constante na terra. Todavia, como se não corresse mais do que duas ou três vezes por semana. Desacostumara-se à velocidade desenfreada. Logo, Adélia percebeu o cansaço da égua.

__ Vamos lá moça bonita, devagar! – disse ao puxar as rédeas e leva-la de volta ao trote moderado.

Os cabelos alvoraçados caiam-lhe no rosto atrapalhando-lhe a visão, e prendendo-os delicadamente como sempre fazia, ao lado das faces, o que lhe permitiu voltar a ver melhor. Entregue ao entusiasmo, a cavalgada tinha lhe parecido muito curta, entretanto, ao olhar à sua volta, percebia ter-se afastado mais do que planejara. Para trás tinham ficado as colinas entre as quais viam-se luzes bruxelantes de fazendas esparsas. À frente, a terra que anunciavam o inicio das enormes chapadas que se estendiam por quilômetros sem fim. E o estrondo de um trovão que prestes a cair a obrigou a sair novamente em disparada e nem percebera a tempestade que se aproximara rápida e perigosa.

O canto de um passarinho. Um cardeal esvoaçando de galho em galho numa árvore. E o outro único som vindo das gotas de chuva caindo incessantes. O cheiro de vegetação e terra molhada misturando com o de fumaça e de lá úmida. Um cavalo relinchou e bateu com as patas no chão. Um cavalo, pensou Adélia vagamente. Poderia montar outra vez. Mas, não tinha certeza de onde queria ir. O pássaro novamente cantou e o cavalo relinchou mais uma vez e com esforço, ela abriu os olhos. Estranho! Uma flor do cerrado, ao seu lado. Sua flor predileta.
Árvores com suas folhas pingando água da chuva, brilhantes como pedras preciosas sob os raios inclinados do sol da manha. Sol e chuva. Entre o lugar onde se encontrava deitada e as árvores, havia uma meia parede de pedras. Um vapor tênue emanava de onde o sol batia, como nuvens de poeira tinham se levantado com o impacto inicial da chuva. Uma tempestade. Agora sim, conseguia solucionar o mistério. Ela tinha saído à cavalo sozinha. A avó dissera alguma coisa sobre uma tempestade, porém, não havia lhe dado ouvidos. Lembrava-se agora da chuva torrencial e do medo. Mas, como teria vindo parar nesse lugar?
Chamas crepitavam alegres numa fogueira a poucos passos de distância. Roupas estavam penduradas num varal, um vestido preto. A água numa chaleira, no chão da fogueira, fervia. Não havia telhado nem paredes dos outros dois lados, apenas o céu de nuvens esgarçadas e as árvores de pequi.
De repente, sabia onde se encontrava e por quê. Num lampejo rápido de consciência, lembrou-se de tudo: Estava cavalgando quando a tempestade eclodira, forçando-a a abandonar a trilha e atravessar a mata, depois disso sua memória não registrava mais nada.
O sol batia nas paredes velhas e nas roupas penduradas. Curioso, era seu vestido. Deviam estar ensopados quando chegara ali e ela o tinha tirado e pendurado para secar. Havia, então, acendido o fogo e adormecido enquanto olhava a tempestade? Po quanto tempo dormira? Imaginou. Nesse instante, lembrou-se do pai. Tinha que avisar-lhe que estava bem.
Num movimento brusco, tentou sentar-se, porém algo mantinha seu braço direito preso ao lado do corpo. Além de uma dor horrível latejar na cabeça, no ombro e no peito. Afastou o cobertor para o lado e viu ataduras enroladas no braço direito. Quem lhe havia feito isso? Lembrou-se novamente do pai e deixou a pergunta de lado.
Com o braço livre, descobriu o resto do corpo. E viu que vestia uma camisa masculina e esta lhe cobria o corpo por inteiro e chegara até os joelhos. Fitou-a perplexa tentando descobrir a quem ela pertencia, embora isso não a ajudasse em nada. Com a respiração presa, virou-se bem devagar para o lado. Mesmo assim, a dor a atordoava. Prosseguiu, entretanto, e conseguiu ficar de joelhos primeiro, e depois, em pé. A vista escureceu e ela transpirava com o esforço e com as pontadas lancinantes.
Adélia esperou que passassem um pouco e levantou a cabeça. Presa à uma árvore do outro lado da clareira, estava sua égua. A aparição repentina de Adélia fez a égua relinchar. Ela tentou gritar-lhe palavras de encorajamento, porém apenas um gemido rouco escapou-lhe dos lábios.
A roupa na corda adquiriu um aspecto estranho, brilhante demais, e a fogueira parecia retroceder a uma distância intransponível. Cambaleando, Adélia forçou-se a caminhar em sua direção. Passo a passo, mal suportando a dor, chegou bem perto da corda com a roupa. Ouviu, então, o ruído de aproximação de alguém e viu Marinaldo, com o peito nu, sair da mata. Entre perplexa e confusa, fitou-o e viu que ele também a encarava, porém com apreensão. No instante seguinte, ele atirou a lenha para o lado e correu até a ela e conseguiu ampara-la antes que as pernas cedessem completamente e caísse. Ergueu-a nos braços como se pesasse menos do que a lenha que trouxera.
__ Já ia embora? – gracejou ele, e sem outra palavra, carregou-a de volta pelo espaço transposto com tanta dificuldade um pouco antes.

Ela gemeu de dor ao ser deitada na cama improvisada no chão e Marinaldo franziu a testa preocupado, embora falasse em tom displicente ao comentar:

__ Não imaginava que as meninas da região fossem tão mal educadas e fossem embora antes de tomarem um chá! – a menção da xícara de chá deixou-a ávida por uma bebida quente. A boca e a garganta estavam secas e irritadas.
__ Ah, seria uma delicia tomar um pouco! – murmurou.

De seu canto observou-o servir o chá da chaleira numa caneca de folha. Assoprando o liquido quente, recomendou:

__ Deixe esfriar um pouco, está fervendo!
__ O que aconteceu comigo? – ela quis saber.
__ Um galho de árvore arrancado pela chuva atingiu-lhe o ombro e eu encontrei-a desmaiada na mata. Não se lembra de nada? – Adélia fez um esforço com a memória, mas negou com um gesto de cabeça.
__ A pancada quebrou o meu braço?
__ Não, mas foi por pouco! Por isso está mais dolorido. Eu estava esperando que a tempestade passasse para ir buscar ajuda. Olhe, tome o chá que já esfriou bastante.

Marinaldo levou-lhe a caneca até os lábios, porém, Adélia não conseguiu levantar a cabeça. Ele teve que coloca-la sentada e com as costas apoiadas nele. A sede era tanta que ela poderia ter tomado a caneca de uma vez só. Contudo, ele a fez beber, gole por gole, bem devagar. Ao terminar, ela fechou os olhos e suspirou satisfeita. O calor da bebida espalhava-se pelo peito feito um tônico e o calor do corpo de Marinaldo, lhe produzia uma sensação de bem-estar nas costas. Naturalmente, podia pedir-lhe para deita-la outra vez, todavia, não era o que desejava. Havia decidido evitar vê-lo e no entanto, ali se encontrava amparada por ele.

__ Você parece ter uma queda por cavalgadas estranhas. O que a fez sair com essa ameaça de tempestade?
__ Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa?
__ Vim atrás de você. – disse ele de olhos fechados e inalando o perfume de seus cabelos ainda úmidos. Adélia manteve-se calada por uns instantes, sentindo a respiração quente em sua nuca. E depois, perguntou num ímpeto:
__ E a minha roupa, por que a tirou?
__ Você estava nua quando a peguei no chão e seu vestido estava ensopado e podia adoecer. Não pense que me aproveitei da situação, fique tranqüila, eu fiquei de olhos fechados.
__ Ah, sei com que propósito eu confiaria em você?
__ Não considera errado continuar me julgando mal? Você estava desmaiada e nua numa mata e apenas cuidei de você...
__ E por que ficou nu?
__ A minha camisa está com você...
__ Você está apenas com esse short...
__ Eu a enrolei nesse cobertor velho, e sequei a minha camisa ao fogo e depois a vesti em você e foi só!

Com um gesto delicado, ele tocou em seus cabelos afastando-os das costas, e trazendo-a mais junto a si. deixando que ela sentisse um pouco mais de seu calor, como se a esquentasse e a protegesse.

__ Bem, agora, eu irei até a fazenda buscar ajuda e...
__ Espere! Fique um pouco mais. – disse encostando-se mais em seu peito. Adélia suspirava e aconchegava-se nele, e fechava os olhos e mordia os lábios inferiores e procurava as mãos para abraça-lo.



Capitulo 08


Num gesto suave, ele a acariciou os ombros com o intuito de acalma-la. Conseguiu o desejado. Após um suspiro profundo, ela aquietou-se novamente. Depois de puxar o cobertor até o queixo, Marinaldo apertou-a e ficou calado, profundamente mudo.

A sua camisa fina e ainda levemente úmida, no corpo de Adélia, grudada como uma membrana, revelando os seios arredondados e firmes. Arfava ligeiramente. Por um momento, as mãos dele hesitaram. Ele fechou os olhos, respirou fundo e reabriu-os e em seguida, suspirou novamente.

__ Ainda não disse obrigada!
__ Não precisa... eu não sei o que faria se não a tivesse encontrado... seu pai e eu saímos quando a tempestade começou e eu vim pelo caminho que já a tinha visto cavalgando antes e dei sorte de encontra-la... sabia que sairia da trilha e cortaria pela mata... pena não tê-la achado antes de machucar-se...
__ Não se preocupe! Não foi nada, já estou bem, quase sem dor..
__ Que bom!
__ Acho que já podemos ir para casa. Você me leva?
__ Seria um perigo deixa-la ir sozinha, moça. Você é uma ameaça as árvores da região...
__ Se eu pudesse eu lhe esbofetearia... é melhor irmos todos devem estar muitos preocupados.

Marinaldo apanhou o vestido no varal e entregou-a Adélia levou a mão até os cabelos desalinhados. Deviam estar horríveis, pensou. Ao vê-lo sorrir, seguiu-lhe o olhar, que não se dirigia à sua cabeça. Atônita, percebeu a atração oferecida por sua falta de roupa. No momento, esqueceu que não havia posto o vestido no lugar, e ao levantar as mãos, desnudou-lhe por completo e arfava em respiração irregular.
Baixou a mão depressa e deixou escapar uma exclamação de constrangimento, puxou o vestido contra o corpo, porém com a mão trêmula não conseguia se enfiar dentro dele e desequilibrada quase caiu. Desesperada e sentindo-se incapaz de vestir-se e querendo não revelar a intimidade. Marinaldo encontrava-se tão perto que ela podia sentir-lhe a respiração. Pensava no escândalo que seria se fosse pegos daquele jeito. Morta de vergonha. Diante da própria ingenuidade, corou até a raiz dos cabelos, ao lembrar que ele a vira nua antes. E a tentativa de pôr o vestido continuava sem sucesso.

__ Com licença! – disse Marinaldo ajudando-lhe a passar o vestido por sua cabeça.

Sem falar nada, Adélia o viu juntar palavra à ação. Ele mexia os dedos depressa, quase de maneira brusca, sem contudo tocar-lhe a pele. Mesmo assim, Adélia sentia-lhes o calor como se uma língua de fogo penetrasse sua carne. Incrédula, ela abria mais e mais os olhos duvidando da realidade. Uma sensação desconhecida, jamais provocara tanta dominação. Deixando-a sem ação.
Marinaldo alcançou o último botão e fechou-o, porém, não afastou logo as mãos. Ambos mantinham-se imóveis e mal respiravam. Os dedos demonstravam uma certa hesitação, então, ele as ergueu e percorreu-lhe a linha do queixo num gesto delicado. Adélia estremeceu violentamente e ele puxou a mão como se a houvesse queimado. Fitou-a com uma expressão vaga e sacudiu a cabeça dando a impressão de que acordara de um sono profundo.
De repente, deu-se conta do que pretendera fazer. Com o coração acelerado, deixou as rédeas caírem, e voltou a apanha-las e passou-a pela cabeça da égua e amarrou-a a carroça. Ergueu um pouco o vestido de Adélia e colocou-a na carroça.
Embora nessa época do ano levasse uma eternidade para escurecer, a claridade do dia se confundia em sua mente. Adélia já havia se deitado na carroça quando criança.

__ Adélia, você será a única que minha mão fará um carinho... – não havia respostas para essa indagação e ela apenas ansiava em sair dali o mais rápido possível. Desejara encontrar-se na segurança de sua cama em sua casa.
__ Lamento muito, tudo isso! – murmurou ele baixinho.
__ Tudo bem! – tomada pela surpresa de ter sido vista chorando, Adélia baixou os olhos rapidamente.

Adélia não conseguia continuar. Um nó formara-se na garganta. Respirou fundo, mas de nada adiantou. Lágrimas copiosas começaram a rolar por suas faces. A tristeza lhe pertencia outra vez e a dor que vivia em seu íntimo, surgia agora inesperadamente pelo pranto. Chorou como uma criancinha e Marinaldo subiu na carroça e cedeu-lhe o conforto de seus braços. Embalou-a com carinho, devagar e com cuidado e a fez virar de frente até poder aconchegar-lhe o rosto de encontro ao peito.

__ Por que precisa ser assim? Aquela menina está mentindo e sabemos disso... eu a amo! – com essas palavras tenras, ele encorajou o desabafo. Afastou-a de si para que ela pudesse vê-la fita-lo nos olhos e ela se lançou nos braços dele e emitiu um grasnido que era o seu . Ela tocou-lhe a face com um sorriso carinhoso. Marinaldo lançou-lhe um olhar, e seus olhos se encontraram e não se desfitaram. Um elo possante estava se formando entre eles. Adélia acabara de dividir uma parte importante com ele, que se sentiu emocionado e satisfeito por ela ter permitido que conhecesse um pouco mais dela. Esperando que a angustia passasse.

Adélia aliviada desejava não se soltar mais dos braços acolhedores de Marinaldo. Apenas quando ele teve certeza de que as lágrimas haviam cessado, a fez deitar-se novamente. Algumas mechas de cabelo grudavam-lhe nas faces úmidas e ele com a mesma suavidade do último toque em seu rosto, afastou- as. O resultado foi imediato, e desta vez, ele não retirou a mão de seu rosto.
Com a respiração presa e os olhos bem abertos, ela observou-o. Viu-o curvar a cabeça e esperou uma eternidade até sentir-lhe a boca na sua. Soltou a respiração num longo suspiro e entreabriu aos lábios para receber o beijo.

__ Ah! – ouviu-a gemer enquanto as mãos dele afagavam-lhes os cabelos. Sempre com a mesma meiguice.
Sob a delicadeza do gesto, Adélia percebia a paixão controlada, também no beijo. Como um campo seco atingido por um raio, o calor espalhava-se por seu corpo. Ergueu a mão esquerda e puxou-a a seu encontro ao mesmo tempo que a acariciava na nuca.
Adélia sentiu-lhe não só os dedos como também o corpo arqueado de encontro ao dela. Uma onda de desejo ofuscou-lhe o raciocínio. Através do vestido fino que ela usava, notava-se a elevação dos seios, que pulava para fora. Os lábios dele, abandonando os seus. Procuravam a maciez arredondada, as encontrar o que buscava, Adélia estremeceu.
O contato dos lábios dele em sua pele, produzia fortes ondas de prazer em seu corpo. As mãos dele, percorriam-lhe as costas nuas enquanto ambos, mais e mais elevavam-se com a paixão compartilhada. A respiração de Adélia tornara-se ofegante e Marinaldo desceu a mão por sua coxa e erguendo o seu vestido. Deixou-a de pernas entreabertas, e em seguida, Adélia soltou um gemido abafado, que escapou-lhe da garganta. Marinaldo num gesto repentino, saiu de cima dela.

__ O que foi? – perguntou com a voz mais rouca do que o normal.
__ Eu disse a você que não sou um aproveitador e que nada fiz com Mariana, e se eu fosse quem você achava que eu fosse... agora... eu teria conseguido o que queria com você... mas. Adélia... eu a amo de verdade.
__ Você me ama?
__ Sim e muito! Eu só quis mostrar a você que não foi por sexo que me aproximei de você, foi por sentir um sentimento lindo, que descobri em min. Algo que parecia já viver no peito, mesmo, sem ter lembrança de já ter sentido isso em minha vida. Posso ter me sentido vazio por tanto tempo. Mas, de alguma forma esse sentimento por você, parece estar aqui no peito. Como se eu fosse descobri-la em algum lugar, em algum dia. E quando a encontra-se, ai sim, a minha vida teria valor e eu poderia ser feliz.
Depois que eu a vi sentada no portão naquele dia. Percebi que havia lhe encontrado e que eu estava a todo tempo lhe procurando...
__ Por favor... – suplicava para que ele parasse de falar, embora seu coração gravasse cada palavra que ele dizia.
__ Adélia... é você e sempre será...
__ E Mariana?
__ Se você confiar em min, eu vou descobrir o que essa menina fez. Mas, eu vou precisar que você fique do meu lado, para desmascara-la...
__ Acredito em você! – disse sentando-se na carroça.
__ Graças a Deus! – Desabafou com seu sotaque diferente parecia um menino.

Marinaldo ajoelhou-se na carroça e deitou a cabeça no colo de Adélia, como se procurasse por um afago, após pesados dias de intensos conflitos. Ela pousou-lhe as mãos em sua cabeça e debruçou-se para frente e afagou-lhe os cabelos enquanto as lágrimas caiam de seu rosto e corria pelas costas dele e as lágrimas dele molhavam as coxas dela.
Adélia sentira que aquele amor chegara para ficar e ser verdadeiro, honesto e puro. Não poderia estar errada e tudo que sonhara era perfeitamente igual ao que vinha vivendo e sentindo. Os olhares que trocavam; as lembranças ao longo do dia; do cheiro; do querer bem; e dos sorrisos que trocavam ao se encontrarem. Tudo verdade.
Ela ergueu-o e abraçou-o e num impulso carinhoso beijou-lhe a boca. Primeiro tenramente e em seguida sofregamente. Retornando ao desejo inicial.

__ Como espera desmascara-la?
__ Adélia, eu vou dar corda a ela e ela vai se enforcar... existe mesmo essa menina?
__ A Isoldinha...
__ Essa menina está mentindo e é cúmplice de Mariana. Preciso pensar numa maneira de chegar até a ela e faze-la dizer a verdade...
__ Ela não é ruim... tem que haver algo de errado nesse negocio. Ela não falará com você e ela não é muito amistosa com homens. Quase não tem amigos homens. Deixa que eu vou descobrir com ela...
__ Então vai me ajudar?
__ Está na hora de lutar pelo o que eu quero e não vou abrir mão de você. E se diz que não fez nada, eu acredito...
__ Obrigado!
__ Finja estar do lado dela e não deixe que ela desconfie de nada... e ela não sabe de nós dois...
__ Claro! Eu vou deixa-la despreocupada.
__ Agora vamos para casa que temos que avisar a todos. E tentar esconder que foi você que me achou será um erro. Acho que passamos a noite juntos e temos que arrumar um jeito de pensarem que só me encontrou pela manha...
__ Fique tranqüila! Mariana acha que ganhou o jogo, e está confiante de que tudo acabou como ela planejara.

Dois dias se passara após o acidente e já recuperada Adélia retomava os seus afazeres. Seu ombro e seu braço já não doíam mais.

Adélia apanhou os livros e despediu-se de todos, saindo apressada. Com os pensamento longe e feliz. Caminhava com uma satisfação, e com passos largos e firmes se distanciava da casa. Já sem o peso da tristeza que pairava em seus ombros.
Ao chegar próximo a escola, Adélia avistou Mariana conversando com Isoldinha e pôs-se atrás de uma carroça para que não pudesse ser vista. Mesmo sem ouvi-las ficou lá vendo-as conversando animadamente.

__ E hoje! Mariana! O Antônio vai lá casa para pedir-me em namoro para os meus pais...
__ Parece que ele gostou do que fez com você...
__ Nossa, foi maravilhoso e ele foi tão carinhoso comigo. Envolveu-me. Estou sentindo-me meia boba. Sinto o cheiro dele, a boca, as mãos...
__ Chega! Acha que ele vai amar você?
__ Eu gostaria que você entendesse que eu sempre o amei e por ele me afastei dos garotos. Eu sempre fui confusa em relação a isso e você veio carinhosa e gentil. E sei que era só para me usar para chantagear o Marinaldo. Você não tem nenhum sentimento por min e gostaria que não me procurasse mais...
__ Tá bom! Julieta do cerrado! Mas, nem pense em abrir essa boca, senão eu abro a minha e ai eu quero ver se o Antônio vai continuar babando por você! – Mariana vibrava por dentro apesar de estar agarrando e sacudindo Isoldinha pelo braço.

Adélia de longe pode ver Isoldinha chorando, com um ar triste e abafado. chegando a ficar com os olhos emaranhados e ela preocupava-se com a tristeza da amiga e não suportando ficar ali e aproveitando que Mariana não estava mais presente. Se aproximou dela:

__ O que foi?
__ Oh, Adélia! Eu fiz algo terrível. E logo agora que eu estava tão feliz... é que eu e o Antônio estamos namorando...
A noticia deixou Adélia suspensa e não conseguia ver nenhuma relação as suspeitas contra Mariana.

__ O Antônio! Mas, ele não vivia atrás de Mariana?
__ Pelo jeito desistiu, uai!
__ E a Mariana ficou chateada com você, e por isso ela estava brigando com você?
__ Não! Foi ela mesma que o convenceu a me encontrar. Ela soube que eu o amava... e me ajudou... infelizmente...
__ Infelizmente! – sua pele negra avermelhava-se de raiva.
__ Ela me pediu para que eu mentisse à você e eu menti... ela não pode saber que eu lhe contei se não ela vai espalhar coisas sobre min. Eu não queria prejudicar o Marinaldo e acho que não vou suportar e eu vou acabar contando tudo. Apesar das ameaças dele...
__ Não será preciso!
__ Ela vai continuar com essa sujeira e só eu posso contar a verdade...
__ Só você e ela! E será ela mesma que falará!
__ Como? Ela nunca vai dizer que fez isso a ninguém...
__ Dirá ao Marinaldo e será em breve...
__ Tomara que ela diga e que me deixe em paz. Adélia... você gosta do Marinaldo? Eu disse a ela que não queria prejudicar ninguém, especialmente você que sempre foi minha amiga e que sempre me tratou muito bem. Se você não o fizer, eu o farei!
__ Acabará tudo bem e ela terá o que merece. Obrigada!


Adélia continuava o trabalho que sua mãe começara na escola, e que apesar da falta de recursos, montou uma escola no vilarejo, para que as pessoas não tivessem que ir para outro lugar para estudar. E assim mantinham as crianças e os adultos, todos sendo alfabetizados. Desde os pais até os filhos, do primário ao ginásio. A luta da sua mãe para dar estudo e cultura à aquele povo. Havia gerado frutos, como sua filha que lecionava e mais três professoras: Luana Vieira, Giovana Castro e Hilda Castro. Além da escola, Louise Fallenbach construiu uma biblioteca e um centro de saúde.
A falta de energia elétrica era uma outra luta dela, mas, essa era mais difícil de ganhar, não dependia de seus esforços. Apesar de Goiana estar tão próxima, apenas a quatrocentos quilômetros de Cajás. Mas, a cidade ficava situada entre duas chapadas que a isolava e a mantinha escondida no centro do país. E com o desenvolvimento pecuário da região, os governantes esqueceram-se de Cajás ou preferiam ignora-la.

O sol já atingia o alto do céu quando Adélia deixou a escola. Apressada. Precisava contar a Marinaldo o que acabara de descobrir, e só teria chance se o pegasse em casa, na hora do almoço. Caso contrário, ela só estaria com ele depois que ele já tivesse pedido aos pais de Mariana para namora-la.

Capitulo 09

__ Marinaldo, que bom que lhe peguei aqui. Conversei com Isoldinha e ela acabou confessando tudo...
__ Então vamos acabar com essa Mariana...
__ Mariana está chantageando a Isoldinha e prometi não prejudica-la. Você não deve ir à casa dela hoje à noite. É preciso faze-la falar... depois que vocês começarem a namorar e mesmo terminando por causa das mentiras dela. O pai dela exigira que você se case assim mesmo.
__ Bem, eu posso dizer que tenho duvida se ela me quer e pedir uns dias para pensar enquanto nós namoramos escondidos.
__ Pode ser...
__ Logo mais, antes do anoitecer vou leva-la ao parque dos Bichos Soltos, esteja lá antes de nós. Acho que sei como faze-la falar.
__ Como?
__ Esteja lá e confie em min! Fique perto do muro da nascente do rio, do lado esquerdo.

O sol já fraco manchava o céu de um alaranjado intenso e atrás do muro bem próximo da única trilha que dava acesso ao parque. Adélia esperava pelo casal e quando eles chegaram. Ela fez um leve sinal para que Marinaldo pudesse vê-la.

__ Mariana, eu lhe pedi para que nós viéssemos aqui antes de ir na sua casa, porque eu pensei melhor e achei que fui muito duro com você, afinal, tudo que você fez foi para ficar comigo, não foi?
__ Não estou entendendo...
__ Se vamos ficar juntos, eu quero que sejamos honestos um com o outro. E quero saber se me ama mesmo ou se é só um capricho. – ele alisava os cabelos de Mariana enquanto falava e emitia um sorriso meigo e envolvente.
__ Claro que te amo! Desde que eu lhe vi na fazenda naquele dia tomando banho...
__ Que bom! – falava alisando os longos cabelos dela.
__ Pensei que estivesse com raiva de min!
__ Fiquei na hora! Depois pensei melhor e pensei que você é linda e que eu jamais poderia querer alguém melhor do que você. Linda; sensual; inteligente e tão decidida do que quer...
__ Você disse que eu não teria o prazer de toca-lo...
__ Pode fazer o que quiser comigo...
__ Eu o quero aqui e agora... – ela levantou o vestido e o tirou e colocando ele no chão deitou-se. Marinaldo ficou inerte sem saber o que fazer. Não contava com essa atitude.
__ Tire essa roupa e deite-se aqui do meu lado.
__ Sim, claro! – Mariana tocou em seu peito e beijou-o no pescoço e pegando uma de suas mãos e pondo sobre um de seus seios.
__ Gosta?
__ Sim! São lindos e macios... sabe... eu até agora não sei como aquela menina nos viu lá na sua casa. – enquanto falava massageava-lhe os bicos e passava a língua em seu pescoço.
__ Que menina.. – ela se contorcia toda e gemia abafado.
__ A que nos viu em sua casa! – desceu uma das mãos e tocou-lhe entre as pernas. Levando-a a se estremecer da cabeça aos pés.
__ Meu Deus que gostoso... eu preciso disso... senão eu vou enlouquecer... não posso continuar esperando... – ela pegou no sexo dele e o massageou rapidamente enquanto ele continuava a lhe apertar os seios.
__ humn, você me quer mesmo, hein!
__ Sim, Mariana se aquela menina tivesse nos visto assim...
__ Aquela idiota não viu nada... eu é que pedi para que ela mentisse... imagine o que aquela babaca que tinha medo de homem faria se lhe visse assim...

Saindo rapidamente detrás do muro, Adélia surgiu diante deles com um olhar furioso:

__ Aquela boba eu não sei, Mariana! Mas, eu sei o que eu farei!
__O que significa isso? – disse assustada enquanto Marinaldo colocava a roupa.
__ Graças a Deus! Eu pensei que teria que continuar com essa tortura!
__ Vista sua roupa, Mariana! Que eu quero conversar com você.
__ Oh, que vergonha!
Depois de avaliar rapidamente a situação, Mariana resolveu revelar parte da verdade. E contou o que havia feito. A indignação da amiga fiel não conheceu limites e ela não exigiu mais justificativa, ao contrário. Pediu que Mariana se calasse.

__ Tudo o que você fez ficará entre nós e ninguém mais saberá...
__ O que isso pode significar?
__ Que não ficará mal falada! Não se aflija! Logo tudo estará esquecido. – num gesto leve, Adélia passou a ponta dos dedos na testa dela desfazendo as rugas de preocupação.
__ Eu lhe dou a minha palavra também. – disse Marinaldo com seu irresistível sotaque.
__ Em nome da nossa amizade. Eu não a prejudicaria. Entendo que tenha agido errado por ser inconseqüente. Mas, não deve ser mais punida por isso. Acontece que Marinaldo estava aflito por causa da sua chantagem e que pobre são os seus sentimentos, obrigando alguém a ficar com você. E eu cheguei a brigar com ele porque acreditei em você... e ele tentaria aqui a sua última cartada e se não desse certo. Eu não sei o que aconteceria com nossas vidas... agora, vamos embora... levante-se e enxugue essas lágrimas!
__ Obrigada, Adélia! Você é realmente minha melhor amiga. E quanto à você Marinaldo...sabe... gostaria que me perdoasse... eu enlouqueci... e fiz essa bobagem... sabe... ainda bem que não durou muito... desculpe-me...
__ Tudo bem! Vamos sair daqui e esquecer essa coisa toda de uma vez.

Por causa da pressão que o dia lhes proporcionara. Adélia sabia que seria impossível conciliar o sono com a expectativa da qual vivera na últimas horas.

__ Adélia, agora que tudo terminou bem, diga-me, você acha que agiu certa em relação a Mariana?
__ Sim, ela não poderá nos prejudicar mais e eu não quero acabar com a vida dela. Ela errou e já está pagando pelo que fez... – a voz meiga era tamanha.
__ E se falhasse?
__ Eu fugiria com você daqui. Pois, eu não suportaria saber que você estaria ao lado dela, como hoje... lá no parque... foi horrível vê-los daquele jeito... e seria assim todos os dias e...
__ Você é incrível! Agora vamos até sua casa que eu quero lhe fazer uma surpresa...
__ Outra surpresa? Duas no mesmo dia, eu não vou suportar, hein?

Chegando em casa Marinaldo reuniu os pais de Adélia na sala e pediu consentimento a eles para namora-la.

__ Rapaz, eu faço muito gosto e mesmo apesar de estar aqui há pouco tempo... você já se mostrou de confiança e tem a minha benção, sim!
__ Tem a minha benção também, meu filho. – Louise estava emocionada ao falar.
__ Dessa velha também! – a avó de Adélia a abraçou gentilmente.

Adélia parecia flutuar. A luz fraca dos lampiões refletia uma certa luminosidade em seus olhos azuis e seu semblante era de total alegria. Após os abraços e palavras comemorativas, Marinaldo tomou-a pelos braços e saiu abraçado a ela pela porta da frente.

__ Ainda lembro-me daquele dia em que cheguei aqui e você estava assim sentada junto a esse portão. E todos os meus medos foram levados embora. Tanto foi o cuidado que vi em seus olhos, que me senti protegido de min mesmo. Sem as lembranças ruins de quando eu estava sozinho, ou da agonia de pensar que nunca seria amado por alguém especial como você. Assim eu vivia antes de chegar aqui. Dividia com a dor, as mesmas horas e o mesmo coração.
__ Eu sempre soube que você chegaria e entraria na minha vida.
__ E pensar que esses belos olhos estiverem tristes, por minha causa. Tudo que eu mais desejava era poder retirar toda a tristeza que lhe machucava e colocar nos seus olhos a felicidade que jamais deveria ter saído deles.
__ Quando você chegou. Você me encontrou feito uma cidade destruída pela guerra, mas, bastou me olhar nos olhos, para vir a reconstrução.
__ Era em dias assim que eu escutava o seu coração e tinha certeza, e não sei como, que você também escutava o meu. E Adélia saiba, que apesar de todo o barulho que estava fazendo, era o seu nome que se repetia aqui dentro de min.
__ Eu também sempre me senti assim...

Adélia jogou-se nos braços de Marinaldo e ele a apertou junto ao corpo, lutando contra as lágrimas que brotavam com grande facilidade. Agora estavam felizes, e os dias de solidão pareciam um sonho distante. Ela só queria ficar ali sentindo-o apertar seu corpo quente de encontro ao dele.

A noite foi longa para Adélia que sentindo-se realizada e amada, não conseguia fechar os olhos. E deitada, brincava com as imagens que a claridade da lua formava nas paredes e no teto do quarto. Jamais sentira tanta felicidade, e agradecia a Deus por Ter-lhe enviado o amor que sempre pediu e agradeceu pelo momento feliz que estava vivendo.
Lá fora um vento tímido sacudiu as folhas das árvores do quintal. Até entrar por sua janela e tocar-lhe o rosto, como se lhes acariciasse as faces e os cabelos. Adélia levantou-se e pôs-se diante da janela aberta, a olhar as orquídeas e rosas balançando ao dançar com o vento que voltara a região. Aumentando o brilho nos olhos da menina. E os cabelos esvoaçados por aquela corrente de ar e felicidade.

Adélia foi até o quarto de seus pais e os acordou para mostrar-lhes que o vento voltara naquela noite, após tantos dias, o vento estava de volta.

__ Adélia minha filha, vá chamar o Marinaldo. – pediu dona Louise.

Ela atravessou a porta dos fundos e todo o quintal e esticando-se pela janela tentava alcançar com a vista a cama, mas, percebeu que o quarto estava vazio. Franziu a testa e fez ponderações consigo mesma enquanto entrava em casa.

__ Aonde esta o rapaz? – perguntou seu pai.
__ Ele não está lá. Deve ter saído para espairecer um pouco...
__ Bem, eu vou deixa-las aqui admirando o vento e vou para cama, pois, amanha será o dia da colheita dos tomates e teremos que carregar os caminhões para levar até Goiana.
__ Vão dormir e durmam com Deus! Eu também vou me deitar! E já estou indo...
__ Durma com Deus, minha filha!

Adélia voltou ao seu quarto e permanecera com a janela aberta e como o cansaço do dia pesou em seus ombros, ela deitou-se e deixou que o vento brincasse em seu corpo, como fazia antigamente. Suavemente o vento erguia sua camisola e tocava em seu corpo como mãos que a acariciassem. Até que ela pegasse no sono de vez. Dali a meia hora estava novamente a mil quilômetros de distancia, entretida com seus pensamentos.

Com o sol tocando em seu rosto e despertando-a de um sono profundo, Adélia abriu os olhos e espreguiçando soltou um sorriso leve e gostoso. Como seu pai e sua mãe já haviam ido para colheita e ela não teria que ir à escola naquele Sábado. Ela percorreu todo quarto e observou tudo. Desde a cortina até as toalhinhas de rendas nos criados-mudos e penteadeira e até mesmo para sua fina e larga camisola e tudo se mexia. E lá fora as árvores e roseiras dançavam ao vento. Adélia soltou um ruído estranho, uma espécie de gemido e com satisfação no olhar. Logo se apavorou com Marinaldo passando diante da janela:

__ O que faz aqui? – ela ficara pálida e intrigada com a presença dele. Já que ele deveria estar na colheita.
__ Desculpe-me por assusta-la! Mas, tive que vir buscar o carro de boi com o restante dos caixotes. Voltando com sua cor normal e já sem o espanto nos olhos, ela sorriu envergonhada.
__ Na próxima vez faça um barulho ou poderá matar-me...
__ Lembrarei de ser barulhento, mas, eu não pensei que estivesse aqui. Pensei que estivesse na escola.
__ Estamos no Sábado...
__ E hoje é dia de entrar pela janela e beija-la. – disse subindo pela janela.
__ Se você chegar perto de min, eu grito por meu pai...
__ Terá que gritar bem alto, porque ele não a escutará nessa distância...
__ Eu sou perita em artes marciais... melhor tomar cuidado comigo... eu posso me tornar uma arma mortal... melhor afastar-se... – Marinaldo passou por detrás dela e a abraçou e ergueu-a dando uma sonora gargalhada.
__ Assim que és perigosa? Diga-me como saíra daqui? – disse apertando-lhe um pouco mais.
__ Bem, quem disse que eu quero sair daqui!
__ Pensei que eu fosse uma ameaça.
__ Uma ameaça dessas até que me cai bem... – Adélia virou a cabeça para beija-lo e ela afrouxou os braços e deixou que ela deslizasse um pouco em seus braços roçando seu corpo contra o corpo suado dele.
__ humn!
__ Agora verás o quanto sou perigosa!
__ Estou tremendo de medo... – enquanto ele falava, Adélia se dava conta de como tinha sorte. Na verdade, mais sorte do que Mariana. Ficou calada por um momento enquanto Marinaldo a observava, depois, ele se inclinou e beijou-a com ternura. Marinaldo nunca se sentira tão feliz na vida, pois tinha visto Adélia se desabrochar ante seus olhos como uma flor de verão, nas duas últimas dez horas . Adélia estava sorridente e feliz e seus olhos tinham mais vida do que na época em que ele a conhecera.
__ Serei breve para que não sinta dor e para que não possa reagir aos meus beijos e encantos. Apenas fique quieto enquanto eu lhe torturo com minha boca. – agora foi a vez de Adélia soltar uma gargalhada. Sob o olhar tenro e doce de Marinaldo. Os dois ali feito crianças.
__ Que bom eu ter vindo aqui!
__ Veja você amor. Também estava sofrendo.
__ Ninguém pode ser tão só e ser feliz...
__ Eu não estava só, e estava muito infeliz com a idéia de que perderia você. – mas Adélia sabia agora que ele permanecera terrivelmente só nesses últimos dias, enquanto estivera separados. Foi quando ele lhe contou tudo que ela abriu o coração e se permitiu confiar nele. Fora profundamente magoado, mais do que ela pela mentira de que engravidara Mariana. E agora ele ali a tomara nos braços enquanto ela chorava, pondo para fora toda a culpa e a tristeza que sentia e guardava dentro de si, havia mil anos. - Nossa, você precisa ir trabalhar! Vamos ande e vá depressa. Ah, ontem eu fui lhe chamar para mostrar-lhe que o vento voltou e você havia saído, onde é que você foi?
__ Fui trazer o vento de volta para você!
__ Tá bom! Logo mais vamos encontrar o pessoal lá na beira do rio Jururu, haverá uma moda de viola e será divertido.
__ Sim, tudo bem! Então até mais tarde, minha arma mortífera!

Adélia recolheu uma calça jeans e uma camiseta e foi tomar café com sua vó. Para depois ir ajudar na colheita. E seus olhos faiscavam de tanto brilhar, aquele tempo triste realmente ficara para trás e isso já era suficiente para alegra-la.

A noite na beira da fogueira sentada com um vestido de renda azul-bêbe e sandálias branca transformara-se numa linda mulher. Com o fogo refletido em seus olhos, a sua beleza espalhava-se por entre as pessoas em sua volta.
Antônio e Isoldinha chegaram de mãos dadas anunciando a todos que estavam juntos. Até que Marinaldo chegou e foi direto até a Adélia e a beijou. Deixando a todos perplexos: Andresa; Hilda; Romilda; Isoldinha; Jobson; Antônio; Noberto; Janeth e principalmente Mariana que emitia no olhar não apenas surpresa mas uma fúria dilaceradora.

__ Bem, em razão dos novos casais aqui presente, eu, Noberto vou dedicar essa musica à felicidade de Antônio e Isoldinha e Marinaldo e Adélia. – disse dando os primeiros acordes na viola. Uma musica de Roberto Carlos que ele sabia que era a preferida de Adélia: “Cavalgada”.

Embalados pelo som do violão, todos cantavam em voz alta os versos da canção, exceto Mariana que se remoía de ódio.

__ Todos sabem que eu adoro essa musica e agora você também!
__ Então deixe-me canta-la nos seus ouvidos... – a cada abraço ou que trocavam e a cada caricia. Eles não percebiam a expressão dura que Mariana fazia.
__ Que voz linda!
__ Adélia essa noite eu guardarei para sempre sua imagem na minha mente.
__ Para sempre?
__ Sim, você e essa lembrança ficarão sempre comigo. – com a mão no rosto dela, ele fazia um carinho demorado e apaixonado. E todos testemunhavam aquele amor, sincero e bonito entre os dois. Adélia de mãos dada a Marinaldo o tempo todo. Envolvida pelas musicas que ecoavam no ar. Permanecia alegre, jovial, festiva e feliz.
__ Deixe-me olha-lo assim contra o fogo.
__ O Que foi?
__ Nada! É que você fica mais lindo com esse brilho.
Com o rosto virado em direção ao fogo, satisfeito por terminar as obrigações rotineiras. Adélia segurava as mãos de Marinaldo. Estava contente por estar ali entre amigos.

__ Adélia, eu lamento o que fiz, especialmente depois dos acontecimentos anteriores. Eu lhe peço, aliás, suplico para que me perdoe... é só o que posso pedir. – sufocada pela tristeza e impotência, Isoldinha não se deu conta do desprezo que Mariana do outro lado lhe lançava com os olhos, ao vê-la com Adélia.
__ Por favor, não se atormente por causa do que aconteceu. Esqueça já é passado... aproveite o namoro...
__ Obrigada, amiga! Eu vou torcer para que vocês sejam felizes. Assim como eu espero ser ao lado do Antônio. – Isoldinha sentiu um peso no coração.
__ Ah, Deus, eu sabia. Você está apaixonada. – apontou um dedo para ela. Adélia abriu um sorriso e Isoldinha enrubesceu intensamente. E Adélia deu-lhe um forte abraço. - Vocês serão felizes e saiba que formam um lindo casal.
__ Estou feliz por você, Adélia.

No momento seguinte, a expressão de derrota voltava ao rosto de Mariana que a tudo assistia, prestando atenção em tudo e nada deixa-a satisfeita. Podia ser que eles a tivessem vencido mas ela não parecia estar derrotada totalmente.
Adélia mal pensara nessa possibilidade, e esqueceu os últimos dias e todo o aborrecimento causado pela amiga. Até o ressentimento doloroso contra ela havia desaparecido. Seu prazer era tanto que ela ergueu o nariz e respirou fundo. Marinaldo notou e sorriu:

__ Adélia, você não passa de uma criança bem-humorada.
Adélia apenas sorriu. Talvez porque nunca tivera um amigo assim antes ou talvez nunca tivera sido a mulher que era agora. Fortalecera ao longo dos anos e estava mais forte do que jamais sonhara estar.
Ficaram sentados fitando o fogo, por algum tempo. Era extraordinário como ela se sentia à vontade ao lado dele. Havia em Marinaldo algo tranqüilo e sem pressa. Como se tivesse a vida inteira à sua frente e tempo o bastante para saborear cada momento precioso. E seu rosto perfeitamente esculpido era lindo à luz do fogo.

__ Marinaldo! – não sabia o que exatamente estava sentindo, quem sabe mais tarde, ela conseguisse dize-lo.
__ Sim, garotinha? – mas ela não conseguia encontrar as palavras certas. Finalmente com a voz macia e rouca disse o que lhe cabia.
__ Que bom ter conhecido você! – ele assentiu com a cabeça devagar e com um aceno. Sentindo exatamente como ele se sentia. A paz e a compreensão que fluíam entre eles. Rodeou-lhes os ombros com o braço e Adélia sentiu a mesma força serena que lhe parecera tão gostosa no começo da noite. Gostava do peso do braço dele, do toque de sua mão e do seu cheiro. Ele cheirava uma mistura de desodorante e loção pós-barba. Tinha um cheiro que combinava com sua aparência, a de um homem forte e atraente que vivera toda vida entre morros e florestas. Olhou-a naquele momento e notou que uma lágrima deslizava por sua face. Aquilo deixou-o emocionado, e puxou-a mais para perto junto a si.

__ Está triste, amor? – a voz dele era profunda e meiga, mas, ela meneou a cabeça negativamente.
__ Não! Eu estou muito feliz... aqui... desse jeito... não pense que eu seja maluca... mas, eu estou me sentindo viva novamente. É como se eu estivesse morta. – era difícil dizer as palavras mas, tinha que dize-las. Ficou lutando contra as lágrimas, enquanto toda a sua alma ansiava para suavizar sua dor. Marinaldo ficou em silêncio por um tempo que parecia interminável, com o rosto muito próximo do dela, observando-a, depois falou:
__ Tem direito a uma vida própria agora. – beijou-a nos lábios e foi como se uma flecha a tivesse varado. O toque dele a atingiu no âmago e ela ficou sem fôlego quando ele tomou o seu rosto entre as mãos e ficou olhando-a tão suavemente.
__ Onde esteve a minha vida toda, Marinaldo Ferrero?
__ Dentro do seu peito! – ele beijou-a de novo e desta vez, Adélia passou os braços pelo pescoço e o trouxe bem junto a si. Gostaria de agarrar-se a ele à vida toda. Dali a pouco, as mãos dele começaram a percorrer-lhes os ombros e depois os seios, finalmente entraram sob o vestido. Ela soltou um gemido baixinho. Sentindo a paixão crescente, parou e afastou-se, dali algum tempo, fitando-a nos olhos.
__ Venha comigo!
__ Para onde?
__ Não faça perguntas!
Adélia levantou-se e o tomou pela mão e despedindo-se alegremente de todos, foi-se em direção a sua casa, mas, no meio do caminho parou e sentou-se numa árvore puxando-o pelo pescoço e beijou-o. enquanto ele brincava com seus cabelos deixando que eles cascateassem pelos ombros e costas abaixo. Correu os dedos por ela e tocou de novo o rosto, os seios e depois as imensas mãos voltaram-se com suavidade para as pernas e ela não pode deixar de se contorcer de prazer, quando ele a tocou.

__ Adélia! – sussurrou seu nome deitados no tronco da árvore e com os corpos latejando de prazer.

Adélia então levantou-se e tomou-lhe as mãos, conduzindo-o para o chão. Ela sabia que tudo acontecera muito depressa entre eles e ela queria ficar com ele para sempre e não por uma noite apenas ou por um momento.

__ Ama-me! – murmurou ela bem baixinho enquanto ele a despia devagar. Até que ficou parada à sua frente. O corpo perfeito, a pele brilhando ao luar, o cabelo louro quase cor de prata. Ele pegou-a no colo e ergueu-a no ar e depois despiu-se lentamente. Largou as roupas no chão e deitou-se junto dela.

O toque de sua pele de cetim quase desnorteou-o e a ânsia que sentia por ela não podia ser controlada. Mas, foi Adélia quem tomou o rosto dele entre as mãos, que o abraçou enquanto arqueava o corpo para ele. Quando lentamente. Como uma lembrança esquecida renascida com força total e deliciosa. Sentiu que ele a penetrava. Alcançou ápices que jamais atingira, nem mesmo antes. Finalmente saciados, ficaram deitados lado a lado. O corpo dela entrelaçado no dele e Adélia murmurou-lhe junto ao pescoço que o amava.

__ Eu também a amo! Ah, Deus, como a amo! – enquanto falava ergueu os olhos aos céus e com um sorriso sonolento encostou-se mais e depois fechou os olhos e adormeceu nos braços de Adélia.
__ Rapaz! Acorde! Acorde!
__ Que loucura, eu peguei no sono e...
__ Calma! Acho que apenas cochilamos... ainda é noite...
__ Ainda bem! Imagine se acordássemos de dia...
__ Não precisamos justificar nada...
__ O que sentimos não! Mas, o que fazemos sim... nós ainda devemos satisfação e respeito aos seus pais.
__ E vamos que logo mais iremos tomar banho no balneário do Jururu com a galera...
__ Que ótima idéia!
__ Ainda bem que gostou!
__ Nós estamos mesmo precisando de descanso e você está um bagaço...
__ Olha quem está falando? Acabou de dormir e se eu não o acordo ficaria aqui babando no meio da mato... – ela saiu em disparada com ele em seu encalço dando gargalhadas.
__ Como é super-homem, não consegue me alcançar?
__ Espere e verá...
__ Acho que esse super-herói precisa se aposentar...
__ Cuidado! Tem uma cobra no caminho!
__ Cobra! Onde? – ela parou de correr imediatamente e foi agarrada por Marinaldo. Ele pegou-a no colo e começou a correr com ela nos braços.
__ Ponha-me no chão seu mentiroso...
__ Vou leva-la até em casa. Minha assustada e medrosa princesa... senão a cobra lhe pega...
__ Assim não vale... você me enganou... seu trapaceiro de meia-tigela...
__ A corajosa e durona, ficou medo...
__ Ponha-me no chão e enfrente-me...
__ Claro. Mas, existe uma formiga aqui e ela pode ameaça-la.
__ Seu bobo! – Adélia beijou-o com tanto carinho e cuidado.
__ Acho que vou assusta-la mais vezes... se essa sempre for a recompensa.
__ Poderia ser mais do que isso. Se me pusesse no chão. – disse maliciosa e provocativa. Sendo atendida imediatamente. Adélia o fez fechar os olhos e quando ele a escutou, ela já se distanciava numa carreira inalcançável.
__ Venha e veja se consegue me pegar...
__ Ah, sua mentirosa...
__ Estou aprendendo com o mestre...
__ Eu vou lhe ensinar outras coisas...
__ Nessa moleza! – chegaram em casa, cansados, suados e bastantes desalinhados.
__ Os dois vieram correndo ou é impressão minha? – perguntou dona Louise que estava sentada na varanda.
__ Sim, mamãe! Apostamos uma corrida até aqui – disse ofegante.
__ Sua filha é uma excelente corredora, dona Louise! – disse Marinaldo jogando-se no chão.
__ Na próxima vez não aposte corrida com ela. Por aqui não há ninguém capaz de vence-la.
__ Só agora é que fui saber disso...
__ Vá tomar um banho, meu filho...
__ Sim. Até amanha para vocês duas. Será mais fácil pegar sagui.
__ Minha filha, agora que ele entrou. Venha até aqui e conte-me... – ela sentou-se no colo da mãe e se aninhou toda.
__ O que quer saber, mamãe?
__ Você ama esse rapaz?
__ Sim, eu o amo muito!
__ Há tempo não a vejo tão feliz e realizada. Ainda bem que ele chegou em sua vida e levou embora aquele ar de tristeza que pairava sobre você.
__ É verdade, mamãe. Ele está me fazendo muito feliz.
__ Que bom, minha filha. Fico feliz que tenha encontrado o amor que tanto merecia.
__ Pensei que não fosse encontra-lo nunca mais...
__ Nunca é tempo demais!
__ Eu não tinha mais nenhuma expectativa.
__ Aproveite para ser feliz, então. E viva o melhor que esse amor pode lhe dar.
__ Obrigada, mamãe! – disse com lágrimas nos olhos.
__ Agora entre e vá tomar um banho e procure dormir um pouco.
__ Sim. Amanha nós vamos ao balneário tomar banho, quer ir conosco?
__ Amanha!! Não, obrigada! Eu vou cuidar do nosso jardim.

Adélia foi direto para o banheiro e aproveitou a água na banheira e sumiu dentro dela. Pensando nas palavras de sua mãe. Ela assim o estava fazendo, aproveitando o que o amor havia lhe reservado. Da melhor forma e maneira possível e cada vez mais profundamente e melhor seria impossível. A felicidade não cabia em si. Saiu do banheiro e mergulhou exausta na cama e nem viu o dia amanhecer.


Capitulo 10

__ Ei, menina, acorde! – sua mãe soprava-lhe as palavras no ouvido.
__ Bom dia, mamãe!
__ Bom dia, minha filhinha! Vamos tomar um bom café antes de vocês saírem.
__ Humn! Café!
__ Sim. Sua vó fez daquele bolo de fubá que você adora. E ovos com bacon, também.
__ Essa minha vó quer me engordar uns dois quilos logo de manha...
__ Depois da corrida de ontem, acho que vai precisar mesmo.
__ Mãe, a senhora acha que dará certo... que vamos ficar juntos?
__ Filhinha! Quando eu vim para o Brasil em 1964, em Janeiro. Para fazer estudos da vegetação do cerrado. Eu dizia umas poucas palavras em português e o nosso grupo de pesquisadores estavam muito apreensivos e não sabíamos bem como seria estar aqui. Tínhamos recebido amostras de um liquido encontrado dentro de algumas árvores da mata atlântica e de algumas espécies de plantas que o laboratório queria transformar em vários remédios. E quando estávamos descendo o Rio Tocantins. Os meus olhos cruzaram com a luz dos olhos de seu pai e naquele momento, eu soube que seria para sempre. Fiquei admirada com a cor da pele dele, moreno e com um físico de atleta. E lá estava ele, numa outra balsa de pé e quando as balsas se cruzaram, eu quis mergulhar nas águas daquele rio e ir atrás dele.- os olhos de Louise faiscavam.
__ E o que a senhora fez?
__ Eu era jovem que sonhava em salvar o mundo. Estava com vinte e seis anos e não sabia como perguntar de onde viera aquela balsa. E então resolvi ficar na margem de onde as balsas saiam, para esperar que ele pudesse voltar. E horas depois, seu pai retornou e ao passar por min. Ele me sorriu e eu sorri de volta e foi o suficiente para que eu me despedisse do grupo e ficasse em terra.
__ Mas, e o papai?
__ Ele percebeu que alguma coisa acontecia. Ele ficou ali sorrindo em minha direção. E eu feliz, parada, gelada e muda. Até que o nosso guia, percebendo a situação aproximou dele e disse algumas palavras. E voltando-se a min, perguntou-me se eu gostaria de almoçar com seu pai, que acabara de me convidar. Assim começou a nossa estória e não precisou de tempo para saber se daria certo ou não!
__ Mamãe, que estória maravilhosa e que amor lindo...
__ O seu amor também pode ser lindo. Vá e lute para que assim o seja. – Adélia abriu um sorriso e abraçou-a risonha e faceira, levantou-se e puxou-a pela mão e começou a dançar com sua mãe pelo quarto.
__ Vamos pare com isso...
__ Sinto-me leve e feliz... – a porta se abriu e era seu Cinézio.
__ Posso participar dessa dança?
__ Claro, papai! Venha vamos dançar à três...
__ O que deu nessa menina, para estar assim tão feliz?
__ Contei-lhe como nós nos conhecemos...
__ Mas, espero que tenha sido só até a parte das balsas...
__ Lógico! O que aconteceu depois eu a contarei.
__ Ah, bom! Senão ela estaria chorando de rir com as confusões que eu arrumei.
__ Quais confusões?
__ Por causa da língua... não conseguia faze-la me entender e só...
Nessa época em que as cheias dos rios que compõem o cerrado quase se extinguem. Surgem lençóis de areia por toda região onde as margens dos rios se transformam em verdadeiras praias.
Durante a estação seca as árvores pequenas com suas poucas folhagens e longas raízes. Vão assim surgindo, espalhadas, dando a paisagem, uma visão seca e solida. Na parte do rio Jururu em que se transformara numa imensa praia, as pessoas vão chegando e logo tudo vira uma festa. Uns se aglomeram em volta de uma viola e outras vão se espalhando pela areia.

__ Oi, Adélia. Como vai?
__ Oi, Jobson. Tudo bem.? – ele a abraçou gentilmente.

Marinaldo estava a uns metros de distancia e subitamente os olhares dos dois se encontraram e mantiveram-se presos e Adélia sentiu uma estranha sensação, que não entendeu direito. Jobson era seu amigo desde a infância. Mas, ela se deu conta, de repente de como ele ficara feliz ao vê-la. Um sorriso caloroso iluminou os olhos escuros dele enquanto Marinaldo dirigia-se lentamente até os dois. Houve um momento de constrangimento entre ambos ao ficar evidente a excitação de Jobson.

__ Você está ótima, Adélia! – reparou que ela estava muito mais esbelta. Andava trabalhando demais, isso era evidente, mas, estava muito feliz. Havia um sorriso no olhar e algo mais, que o perturbava. Percebera nela algo diferente, que não notara antes. Estava mais feminina, talvez mais abertamente sensual. E os pensamentos dele voltaram-se imediatamente para a voz masculina de Marinaldo, que aproximava-se. Tentou afastar à força tais pensamentos, mas, não conseguiu. Adélia parecia mais linda do que nunca, e ele queria muito não estar pensando tanta besteira sobre ele, sabia que não tinha esse direito. Enquanto Marinaldo que já chegara próximo demais, o olhava curioso:

__ O que foi, Jobson?
__ Só estou feliz por vê-la, Adélia... não sei o que aconteceu... – os olhos dela pousaram com meiguice em seu rosto.
__ Ainda somos amigos. Lembre-se disso... e agora deixe-me apresenta-lo ao Marinaldo.
__ Ah, sim!

Adélia sabia que Jobson não estava bancando o engraçado.

__ Você está com uma cara muito séria, Adélia! – Marinaldo deixou para falar depois que Jobson se afastou.
__ Não é nada. Acho que é só cansaço e uma enorme vontade de nadar, vamos?
__ Claro!

Adélia franziu a testa desejando que não tivesse nenhum problema com Jobson. Ainda que o conhecia desde pequeno e ele sempre fora muito seu amigo.

__ Não será assim que vai conquista-la...
__ Mariana! Eu não sei do que você está falando...
__ Desse negocio duro dentro do seu short! É disso que eu estou falando...
__ Isso... isso... foi um acidente...
__ Acidente! Mudou de nome agora, é?
__ Mariana, eu não estou a fim dela... foi só...
__ Vocês sempre foram muito ligados desde pequenos. Mas, daí, ter essa reação... se você quiser eu posso dar um jeito nisso aí em baixo...posso deixa-lo bem louco... mas, não aqui...agora veja se entra nessa água para esconder esse tubarão...
__ Vai entrar comigo?
__ Deixo você fazer tudo que você quiser comigo, mas, terá que me fazer um favorzinho antes...
__ Que favor?
__ Vá para água e depois eu lhe falo...

Mariana da margem do rio olhava para Adélia maldosamente pensando em como separa-los. Quando de repente fez uma expressão de quem acabara de ter uma idéia.


__ Romilda, eu estive conversando com o Jobson e ele quer encontra-la hoje à tarde na “Gruta dos Morcegos”.
__ Mas, porque ele não fala comigo aqui e agora?
__ Deve estar querendo ficar à sós com você. Acho que você conseguiu o que queria...
__ Obrigada, Mariana. Diga a ele que estarei lá às quatro da tarde!
__ Direi agora mesmo.

Mariana entrou na água e falou rapidamente com Jobson sobre Romilda e o encontro e que seria às três da tarde.

__ Antes eu vou aparecer lá e te deixar com gostinho de quero mais e só depois farei o que você quiser...
__ Romilda a fim de min! Nunca pensei! Legal, eu estarei lá...
__ Deixe-me ir falar com Janeth. Depois você me diz o que vai querer que eu faça com você...
__ Tá bom... sei... sei... – afastando-se dele, ela nadou até Janeth.
__ Janeth! Você me fará um enorme favor...
__ Que favor?
__ Lembre-se que eu não contei nada sobre o seu irmão e a Isoldinha, não foi?
__ É você foi muito legal! O que quer que eu faça?
__ Simples! Basta levar Adélia até a gruta dos morcegos e depois volte e leve o Marinaldo também. Às três e em ponto.
__ Para quê?
__ Saiba apenas isso e esse será o nosso segredo. É só um trote!

Mariana em poucos minutos já tinha em sua cabeça um plano terrível para acabar com a felicidade de Adélia, ao perceber que Marinaldo ficou tenso ao vê-la abraçada a Jobson. Um lapso de ciúme bem orientado poderia se transformar num imenso barril de pólvora.

Domingo à tarde com tudo montado. A gruta dos morcegos, onde um rio subterrâneo passava pela caverna e formava uma bacia de águas turvas dentro da montanha. Mariana que a espreita no meio do caminho observava o seu plano iniciar. Viu assustada, Romilda passar correndo com Adélia e o plano que ela tinha de fazer com que Marinaldo encontrasse com ela e Jobson, mudou. Algo aconteceu e era real. E não fazia parte de seu plano. Foi atrás das duas em escondido.

__ Adélia, graças a Deus! Por favor venha depressa. Eu estava com o Jobson e ele desapareceu na água... ele estava meio febril..
__ Calma! Onde vocês estavam?
__ Na gruta dos morcegos... era para encontra-lo às quatro, mas, ele foi lá em casa e me levou para lá... eu vou buscar mais ajuda...
__ Vá lá no poço das capivaras, que Marinaldo está lá...

Adélia saiu em disparada, com menos de dois minutos já estava atravessando as árvores que ficavam próximas a margem do rio. Vasculhando por todos os lados do rio. Mergulhando em todas as direções e o avistou boiando. Adélia nadou em direção ao amigo inconsciente e arrastou-o até a margem. E o pôs de lado e depois de barriga para cima. Sem se importar que ele estivesse nu. Levantou o vestido e passou-lhe as coxas em volta de sua cintura e sentou-se nela. Não havia tempo para pudor precisava salva-lo. Com um braço por baixo de sua cabeça erguendo-a um pouco, começou a fazer-lhe respiração boca a boca, sentiu que não havia resposta, aplicou uma massagem cardíaca e repetiu mais uma vez a respiração boca a boca. Até que a resposta surgiu num gemido baixinho.

__ Graças a Deus! Respire devagar...
__ Devo estar morto e você deve ser um anjo...
__ Fique quieto... – Adélia sentiu entre suas pernas o sexo duro de Jobson que quase inconsciente não tinha nenhuma noção do que acontecia. Ela sentia a rigidez dele pulsar entre suas pernas e em sua pele. E ele jovem, com seus um metro e setenta e dois de morenice e de um porte físico espetacular e de olhos tão escuros quanto seus cabelos longos. Ali, em delírios. Sentou-se e abraçado a Adélia delirava em febre. E com a mão apertava suas costas e tresloucadamente movimentava-as pelo corpo de Adélia que não conseguia reagir e sair de cima dele, que se mexia sem parar como se quisesse penetra-la.
__ Sua boca...você disse que... fará o que eu quiser...
__ Jobson... pare.. eu não quero...por favor... – Adélia tentava sair mas, a cada vez que tentava levantar-se sentia as estocadas violentas e forçando para penetra-la. Se continuasse tentando se erguer fatalmente seria invadida por aquele membro.
__ Jobson ... sou eu Adélia...por favor... sou eu... – Jobson pôs a mão entre as pernas de Adélia e conduziu seu sexo ao encontro do dela e forçando, tentando entrar.

Até que Romilda chegara com Marinaldo e de longe, os dois não conseguiam acreditar no que seus olhos lhes mostravam. Viam Jobson nu e Adélia sentada em seu colo. Marinaldo virou e saiu correndo na direção oposta e Romilda caminhou lentamente em direção aos dois.

__ Jobson... abra os olhos... veja... sou eu...você está me machucando... – num instante de lucidez ele abriu os olhos e soltou um grito de pavor.
__ Meu Deus! – acabou de falar e cair para trás desmaiado.

Adélia recompôs-se e colocou-o lentamente no chão, ela sabia que aquilo fôra um delírio e ninguém tinha culpa e também precisava leva-lo para casa. Teria que ser cuidado. Não o abandonaria ali em meio ao nada. Tinha que chegar ajuda.

Romilda aproximou-se em soluços, apenas olhava tudo.


__ Adélia... vocês...
__ Claro que não! Ele estava delirando! Está queimando de febre. Não sei o que houve. Encontrei-o boiando e trouxe-o aqui e fiz respiração boca a boca e de repente, ele começou a delirar...
__ Vamos tira-lo daqui! Deixe-me ir lá atrás pegar a roupa dele... nós estávamos para entrar na água e ele tirou a roupa e mergulhou e eu nem cheguei a entrar na água. Disse que só entraria se ele colocasse a roupa e de repente, ele desapareceu e sai correndo... Adélia... o Marinaldo...
__ O que tem ele?
__ Ele os viu... e ... acho que pensou que vocês...
__ Ah, não!
__ Desculpa, Adélia... mas de longe parecia que...
__ Vamos leva-lo daqui e depois eu tentarei explicar a ele...
__ Eu vou com você...
__ Obrigada!

Chegando em casa com a respiração entrecortada, Adélia e Romilda chegaram e encontraram Marinaldo com um ar triste sentado junto ao jardim.

__ Marinaldo! Marinaldo! – ao ver o desespero nos olhos de Adélia e sem entender, ele nunca a vira tão nervosa.



__ Calma! – apanhou-a pela mão. Aquilo pareceu acalma-la, mas, quando entraram para almoçar, Adélia ainda pensando, com espanto, no que ele dissera. Ele já começava a vê-la como ela era, com seus temores e falhas, além das virtudes. Mas nenhum dos dois estava pensando nisso, quando percebera que sentiam a parte mais vital de seus seres sendo arrancada de novo. Adélia já sentira essa dor muitas vezes, e no entanto, cada vez, era sempre como se fosse a primeira.
Marinaldo, que ficara calado enquanto Adélia chorava, fitando cegamente o chão, simplesmente lhe rodeou os ombros e puxou-a para junto de si.

__ Marinaldo, você precisa confiar em min... escute... eu estava indo ao poço das capivaras para encontra-lo... e Romilda veio correndo até a min... dizendo que o Jobson havia desaparecido... lá na gruta dos morcegos... eu fui para lá e pedi que ela fosse lhe chamar... e quando eu cheguei lá... mergulhei e encontrei-o boiando...nu e desacordado... tire-o da água... e fiz respiração boca a boca nele... e ele começou a delirar de febre... e ficou descontrolado...
__ Eu é que sou um idiota e não suportei vê-la em seu colo... sentada... ele nu... fique calma... já passou... e ele?
__ Eu e Romilda conseguimos leva-lo para casa e os pais dele estão cuidando dele. O médico deve chegar logo, mas, ele já está melhor...
__ Quando for bancar a heroína novamente me chame antes!
Capitulo 11

__ Oh!
__ Se não fosse a Adélia, ele teria morrido afogado...
__ Romilda! Se não fosse você... eu o teria matado por agarrar minha heroína daquele jeito... que nem parecia um salvamento...
__ Eu quase não consegui me mexer, mas, desci, e fui lá para ver o que acontecia. Não acreditava que esses dois estivessem de sem-vergonhice.
__ Eu nem sei o que eu pensei... depois do que vi...
__ Vocês estão me ajudando muito, obrigada! Na próxima vez, se alguém estiver precisando da minha ajuda, vai esperar e esperar... que eu não vou sair do lugar onde estiver. Depois desse susto...
Adélia mais uma vez cavalgava à céu aberto e nesses momentos nada a segurava nem sua tristeza e nem suas velhas lembranças. Apenas flutuava levada por sua égua, charmosinha. Com sua cor negra e postura de campeã. Uma bela espécie da raça mangalarga marchador. Nascida e criada na fazenda. Como uma verdadeira rainha.
Entre as duas existia uma espécie de cumplicidade quase humana. Toda vez que Adélia aproximava-se de charmosinha sentindo-se triste, a égua compadecia-se e relinchava alegremente e abaixava-se para que Adélia pudesse monta-la.
Adélia mergulhava em seus pensamentos e deixava que a égua a conduzisse sempre a lugares onde as duas pudessem ficar sossegadas e quietas. Desta vez o rumo tomado foi do Salto do rio Jururu, batizado pelos antigos moradores de Cachoeira Celestial, pela visão de sua altura e a formação de nuvens d’água. A impressão de quem a olhava de longe, parecia que sua queda d’água iniciava-se no céu. Os antigos moradores acreditavam que Deus mandava aquelas águas do céu, para que quem se banhassem nelas, pudessem lavar todas as impurezas do corpo e d’alma.
Vários poços espalhados ao longo do rio. Eram como bacias que guardavam a água a espera de alguém para usa-los. E do mirante improvisado podia-se ter uma visão de tudo o vale e bastava virar a cabeça e lá estava a exuberante e formosa floresta com pequenas cascatas em regatos próximo.
Diante dessa belíssima paisagem. Sentada junto ao regato com o olhar perdido em meio ao nada, Adélia tentava livrar-se da tristeza que lhe pesava os ombros. Ela queria deixar que aquela fosse simplesmente embora. Mas, assim como aquele remanso do rio, onde ela se encontrava com o movimento do curso d’água quase nulo. Os seus sentimentos também pareciam estacionados em seu ser.
Chegavam rápidos e vagarosamente iam cessando, sempre lentos, presos em sua mente, como se essa cessação de resoluções caíssem bem em Adélia, que parecia já estar acostumada com a tristeza e a solidão. E agora com a paixão por Marinaldo, que com seus olhares que pareciam desfigura-la. Ela acreditava que nele estava a chance de voltar a viver, de esquecer das coisas que sofreu depois do abandono de seu noivo. E que podia ser feliz, embora ela não quisesse dar atenção além de suas forças. Ela sabia que os olhares dele eram sinceros e honestos e no fundo daqueles olhos negros havia algo que a fascinava.
Diferentes das outras vezes, naquele instante, ali, sentada, inerte, hipnotizada. A dor já não parecia insuportável. Era contida, pequena, quase uma lembrança de algo que lhe acontecera, uma vez no passado. Os seus sentimentos misturavam-se entre o que passou e o que estava porvir. Assim, como as águas daquele remanso, mesmo quase sem perceber, elas iam passando lentamente e mudando como a sua vida que lentamente apresentava uma mudança.
Um leve sorriso surgiu em seu rosto, primeiro timidamente e logo após, mais livremente, e as lágrimas que se ajuntavam nos cantos dos olhos iam secando. A cada lembrança e pensamento. Podia fechar os olhos e ver Marinaldo lhe olhando. Até o som peculiar da arara vermelha, que tinha uma nota triste aos ouvidos de Adélia. Agora, tinha algo diferente, de esperança, de alegria e de sonhos. Assim, como a arara livre nas árvores, ela pela primeira vez, sentia que também podia ser livre, e soltar o que antes lhe fizera prisioneira de si mesma.
Montada novamente e tendo a certeza de que deixara o episódio triste da gruta para trás. Adélia voltava mais confiante e queria chegar antes que Marinaldo pudesse estar dormindo. Queria vê-lo, estar com ele mais uma vez. Ela sabia que ele estaria na cama. Foi só dali a algum tempo que reparou que podia perder-lhe. E uma menininha dentro dela teve vontade de chorar, mas, nada transpareceu-lhe nos olhos, exceto o amor que sentia por ele. Sorriu ao vê-lo deitado e inclinando-se para beija-lo na face, viu-o se mexer, mas, não o acordou.

Novamente pela manha, Adélia foi até o quarto dele. Desta vez, ela fez um barulho na cadeira.

__ Está dormindo, meu rapaz?
__ Não, eu estou acordadíssimo! – olhou para o relógio na parede com um sorriso.
__ Tem tempo para uma xícara de chá ou quer que eu leve esta bandeja embora?
__ Gostaria muito de tomar café com você. Que gostoso acordar e vê-la do meu lado, assim linda. – Adélia sorriu para ele enquanto lhe servia uma xícara de café quente e deixava transparecer uma beleza íntima e cúmplice.
__ Eu acho difícil acreditar que você já parte de min. – falou com um sorriso lento e sereno e com as pernas cumpridas estendidas para a janela.
__ Às vezes parece –me que sempre você sempre fez parte de min e que sempre estive ao seu lado. Como esse vento... – Adélia sorriu e desde então, era mais difícil acreditar em todas as coisas que tinham acontecido na vida dela.
__ É assim que eu me sinto sendo sua há bastante tempo. Toda minha vida... – o coração dele tremeu ante tais palavras, embora estivessem juntos há pouco tempo. Sentia que esse sentimento lhe pertencia a vida toda.

Adélia notou então que os olhos dele estavam mais apaixonados do que quando falara. E havia neles um brilho que não existia antes. Parecia moço, mas, era responsável e maduro. Era o que lhe agradava nele. Não tinha beleza suave, mas, olhar constantemente para aquele rosto fabuloso era algo maravilhoso e ao mesmo tempo era desconcertante se dar conta de que Marinaldo era lindíssimo. Dia após dia. Sua aparência física era como uma região sem chuva ou nuvens, apenas sol radioso o tempo todo.
Adélia inspirou longa, lenta e profundamente. Ela enrubesceu. Era embaraçoso admitir que já não sentia pesar em seus ombros. As lembranças terríveis, todo o sofrimento e solidão com que viveu cercada por tanto tempo.

__ Não pode ser muito difícil conviver com isso! – ele voltou os olhos para o rosto dela.
__ Sim, realmente não é! – teve que concordar e depois ela sorriu sonhadoramente.
__ Então, talvez valha a pena!
__ No momento é só o que vale...e gostaria de agradecer-lhe por não ter duvidado de min. No que aconteceu lá na gruta...
__ Deixe de pensar nisso... - a voz dele estava acalentadora e ao passar a mão nos cabelos dela. Adélia sentiu-se protegida.

Marinaldo beijou-a com força e longamente e pousando-lhe as mãos em suas costas deixou que ela a envolvesse em seus braços. Por alguns minutos, calado, sereno e seguro. Ele permaneceu sentado na cama, admirando-a e com uma serenidade e em profundo silêncio observava o vento em seus cabelos e em sua face.



A noite caiu pesadamente no cerrado e sob as colinas verdejantes. Ao chegar em casa, Adélia o aguardava no portão, nessa noite, eles estavam iluminados não só pela luz da lua, mas, também por uma luz interna.

__ Ah, minha menina você está adorável! – ele tomou-a pelas mãos e afastou-se um pouco a fim de admirar o vestido de seda azul-turquesa que reluzia sob a iluminação das estrelas. Decotado até a entrada dos seios se ajustava logo abaixo.

De fato o tempo mostrava-se esplêndido. O ar vibrava, a aragem fresca vindo do rio abrandava o calor. O orvalho, as pastagens, faiscava com a luminosidade e as roseiras silvestres no jardim, carregadas de flores, espalhavam um perfume delicado no ar. O cenário, os odores e as sensações despertavam-lhes uma alegria profunda.
Adélia recordava-se de outros meses no passado e que, certamente não se repetiriam no futuro. Seria felicíssima se passasse o resto da vida ali, congelada. Suspirou, satisfeita por haver encontrado Marinaldo e estar sendo uma mulher mais alegre e feliz. E ainda por cima, tinha uma fazenda e região para ser cuidada e preservada.
Mas então, lembrou-se das cenas estranhas que vivera no dia anterior. Voltou a sentir o toque dos dedos de Marinaldo em seu rosto e ouviu-lhe a respiração e deu-se conta da própria receptividade. Encontrava-se imersa em reflexões, cada um entregue aos próprios pensamentos. Sorrindo Marinaldo explicou:

__ Estamos livres do pesadelo! Vamos até o lago quero aproveitar essa alegria...

Adélia desconfiada feito um cachorro que apanhou muito quando pequenino que ficou medroso para o resto da vida. Ao alcançarem a estrada do lago, ela virou-se pata trás sorrindo, a menininha tinha reaparecido. Seu rostinho iluminou-se sorridente quando Marinaldo a apertou-lhe contra si.
Caminhavam ao luar no fim da estrada, o lago cintilante. logo adiante à esquerda do lago e a estrada, havia uma cabana onde todos se trocavam para nadar. Tudo maravilhoso e magico. Mas, precisavam retornarem para o jantar.

Ambos encontravam-se à mesa. Quando dona Louise anunciou o noivado. Os olhos do pai brilhavam de orgulho. Adélia surpresa, não se continha em lágrimas e a avó, pela centésima vez indagou-se como era feliz por ter uma neta tão linda e determinada.
Por estar de costas para a avó. A quem demonstrava tanto carinho e afeição. Virou-se e abraçou-a e sentou-se à mesa e aspirou o vapor que subia do frango com pequi, dos ovos mexidos e feijão recém saídos do fogão à lenha. Sentia uma apetite enorme.
Arrumado o prato, ajeitou-se à mesa em frente à avó, feliz não sabia se mastigava ou se admirava o anel em seu dedo da mão direita, que segundos antes fôra posto por Marinaldo. E era o mesmo anel que estava na família há anos e anos atrás.
Quando todos terminaram retiraram-se para a sala e como de costume, a avó contava estórias de seu passado. Adélia as escutava com atenção e prazer. A mulher franzina curvou a cabeça e enxugou as mãos no avental desbotado. Ali, tudo nela tinha uma aparência apagada, as roupas, os cabelos e as feições envelhecidas.

__ Esse anel foi-me dado pelo seu avô, Teodoro Lins. Lá na cidade santa, Belo Monte quando nós aos vinte anos de idade largamos tudo aqui em Goiás e fomos para Bahia lutar ao lado de Antônio Conselheiro e seus jagunços. Nós acreditávamos que se lutássemos ao lado do beato, nós ganharíamos os reinos dos céus. Então, largamos a nossa pequena terra e nos juntamos ao seu exercito e vivemos uns meses em canudos, como era conhecida aquela região. Seu avô e eu descobrimos que eu estava grávida de seu pai. E ele decidiu que nós tínhamos que sair de lá. Eu relutei muito, mas, ele me convenceu a deixar a fazenda.
Dois dias depois de chegarmos novamente aqui, no dia cinco de Outubro de mil oitocentos e noventa e sete, espalhou-se a noticia que todos os mais de trinta mil jagunços, foram mortos, pelo exercito montado pelo Presidente. Homens que saíram do Rio de Janeiro e outros formados pela Igreja Católica, que era contra outras religiosidades populares.
Na verdade eu fui salva pelo seu pai que em minha barriga, salvou-nos da ira do General Artur Oscar, que cumpriu sua missão e não fez nenhum prisioneiro.
__ Vovó, por que a igreja ficou contra?
__ Porque muitos preferiam ouvir os sermões de Antônio Conselheiro, figura messiânica inaceitável ao clero, e ele prometia ao povo de Canudos, além de sobrevivência, a salvação de suas almas. Acreditando que seria aquela uma guerra santa e que herdaríamos o reino dos céus, se morrêssemos na luta.
Apesar da tristeza de saber que milhares de camponeses e mesmo os soldados que morreram as margens do Rio Vaza Barris. Dois dias antes, seu avô, deu-me este anel, que pertenceu a família dele por gerações, e naquele dia, eu senti-me a mulher mais feliz do mundo. E sempre que eu olhava para esse anel, eu não conseguia lembrar-me da tristeza, eu só sentia a vida e a alegria. E em mil novecentos e cinqüenta e sete, perdi seu avô para um enfarto.
__ Oh, vovó! Pode deixar que de agora em diante, eu vou me lembrar sempre dessa estória linda e jamais esquecerei disso. – com a voz embargada pela emoção, Adélia não segurou as lágrimas.
__ Venha mamãe! Eu vou leva-la para cama. – disse seu Cinézio emocionado como todos os outros presentes.
__ Vê! Esse é o meu orgulho!
__ Venha mamãe, já foi muita emoção por hoje.
__ Bença. Minha vó!
__ Deus a abençoe, minha filha! – Adélia ergueu a mão direita e contemplou o anel emocionada e feliz – Nós não temos mortes para lembrar, apenas as tristes armações de Mariana. Mas, eu vou me lembrar do meu avô e da minha avó, cada vez que eu me sentir triste. Olharei para esse anel e lembrarei da felicidade deles dois e da nossa.

E longe dali ao pé da Serra da Pedra, Romilda vinha de sua cavalgada noturna, e ao perceber que Jobson estava parado com os olhos fixos aos abismos que se encontravam à sua frente, o rosto da moça iluminou-se de prazer.

__ Deixe-me ajuda-la a descer – disse ele sorrindo ao vê-la.
__ Obrigada!
__ De onde vem vindo? – Quis saber curioso.
__ Ah! – suspirou ela. – Nós estávamos cavalgando a horas.
__ Então, divertiu-se bastante. Imagino!
__ Nem queira saber! – garantiu ela com um outro suspiro. Jobson entretanto já tinha lhe virado às costas, para segurar a montaria.
__ Não gostaria de ir ao topo da serra e ver o nascer do sol? Vai ser lindo, e não teremos que esperar por muito tempo.
__ Ah, não vai dar. Eu estou muito cansada.
__ Calculo! Ainda mais depois dessa cavalgada...
__ Seria capaz de dormir e não ver nada e ainda mais como justificaria minha ausência em casa ela manha?
__ E também teria que explicar minha presença ao seu lado – ele comentou num tom estranho que a fez virar-se surpresa. Jobson mostrava-se tenso, porém continuava a sorrir. Seria tão bom manter a companhia de Romilda, nesse momento: pensava ele.

Romilda feliz por estar ali naquele lugar com ele, antes desejava chegar em casa e ficar sozinha no quarto a fim de refletir sobre tudo o que acontecera. Mas, sentia-se alegre por ele ter aparecido ou por eles terem se encontrado ali. Depois do breve afastamento dele após o incidente da gruta.
Porém, Jobson estava ali, e pelo jeito sem a mínima pressa de ir embora. Ele havia tomado as rédeas em suas mãos e conduzia o cavalo. Romilda não se apercebia de nada, exceto da atração exercida pela adorável criatura ao seu lado. Ela erguendo os ombros para os pensamentos distantes.

__ O que você acha de Mariana? – perguntou ele cabisbaixo.

A pergunta foi inesperada e Romilda não se atreveria responder o que sentia. Fitando-o com certa moderação e torcendo para que ele não percebesse o conflito em que se encontrava, a menina disfarçou a voz e firme respondeu:

__Por que me pergunta sobre ela? o que acha que eu posso saber?
__ Acho que eu descobri que ela não era como eu pensava que fosse...
__ E como você pensava que ela fosse? – falou nervosa.
__Que fosse amiga, leal e generosa. Essas qualidades que eu sei que tens e que admiro muito.
__ Obrigada! – Romilda sabia que Mariana não tinha esses sentimentos para afetar-lhe os sentidos dessa forma. Apesar de saber que fisicamente não seria páreo para a beleza física de Mariana. Ela sabia que o caminho que escolhera era o mais seguro para se conquistar um homem.
__ Mariana, mentiu e me enganou. E ainda por cima me usou querendo que fizesse algo contra Adélia, marcou aquele encontro com você na gruta e disse que antes ela apareceria lá que me daria uma amostra do que me daria se eu a ajudasse. Por isso fui mais cedo à sua casa e a levei para a gruta, caso ela aparecesse eu estaria lá com você...
__ Ela havia dito que era para estar lá às quatro da tarde...
Capitulo 12

__ E para min, ela disse às três da tarde. Seja o que for que ela queria fazer não deu certo.
__ Por isso, você estava feito louco e parecia estar com febre...
__ Era de nervoso...Mariana sabia que eu não fiquei com nenhuma mulher até hoje e que eu... estou ... sem controle. Por isso ela me seduziu no balneário e disse-me uns negócios sujos...
__ Sinto muito, não poder ajuda-lo...
__ Claro que pode! Romilda se você permitir que nos vejamos e que venhamos a ser mais do que amigos... – Romilda tinha a sensação que os pulmões não conseguiam se encher de ar completamente. A mente se esvaziava diante da necessidade de estar na presença dele. Não só por aquela noite. Algumas horas antes nessa mesma tarde tentara se convencer de que tudo que sonhara não passaria de ilusão. E agora com Jobson ao seu lado, lutava para impedir uma inundação de águas revoltas com uma barragem de gravetos.

O perfume suave da grama, a respiração densa, os suspiros lhe exerciam um efeito devastador. Como mulher alguma jamais conseguira sentir. As mãos estavam trêmulas e suadas. Não convinha que Jobson descobrisse seu pânico. Sua meninice que tanto fez para demonstrar, escondia-se, e surgia uma mulher linda, morena, sensual, com olhos negros capaz de enxergar os sonhos e desejos de quem olhasse dentro deles. Controlou-se a fim de falar com naturalidade.

__ Estou contente por haver pensado em min e havia desistido desse trem e até de ser sua amiga...
__ Você aceita ficar do meu lado?
__ Sim, aceito! É isso que você quer?
__ É o que eu mais quero nessa vida, uai!
__ Eu nem acredito...
__ Pode acreditar... uai!
Romilda fez uma expressão de quem esperava algo mais, um aperto de mão, um abraço talvez. Enquanto ele percorria com o olhar por seu rosto, detendo-se finalmente em seus lábios. Ela sentiu o coração disparar ante a possibilidade de uma investida neles, depressa desviou o olhar.

__ Então, prometa-me que vai ficar bem... – o rosto da menina sombreou e o ouviu suspirar baixinho e virando-se, ela sentiu a mão dele tocar-lhe o ombro, e a outra segurar-lhe a mão.
__ Acho que nunca sentiria isso com outra pessoa e estar aqui. Sentado, olhando para aquelas árvores à distancia e de mãos dadas à você. Tenho certeza de que nunca me senti tão bem e feliz.

Pela primeira vez, Romilda quis livrar-se das roupas nada feminina que usava e mostrar a ele que era uma mulher linda e capaz de chamar à atenção para suas curvas arredondadas e perfeita. No instante seguinte, virando-se para ficar frente-a-frente com ele. Num movimento brusco, fez com que sua mão caísse de seu ombro e encontrasse seu seio. Esquivando-se para o lado, ela colocou o rosto para trás e os lábios dele tocaram em seu pescoço. E sem forças para empurra-lo, ela se viu diante dos lábios dele, e em seguida ele a estava beijando na boca.
Apesar do desejo intenso, ela recuou e ficou balançando a cabeça no ar e reconheceu que o esforço que fizera fôra inútil, sentia-se nua, exposta diante dele. Dominada por um amor irrefreável revelou algo que, em outras circunstancias teria tomado cuidado de omitir.
Romilda ainda tentou resistir, quando ele voltou a abraça-la e descobrir a maciez do corpo de uma mulher feita. Ao se tocarem pouco depois, o rosto dela ainda se mostrava rubro e os olhos brilhavam. Ela não se atreveu protestar, quando ele a beijou no ombro e no pescoço. Levou-a para trás delicadamente e deitou-a na relva enquanto ele deitava sob seu corpo macio, e com as mãos esfregou-a em seus cabelos, como se com esse gesto pudesse apagar as lembranças de suas angústias e das palavras que ainda não foram ditas.

__ Romilda, não pense que eu quero apenas aproveitar-me de você, ao contrario disso, eu gostaria muito de saber todas as coisas sobre você e conhece-la bem mais do que já conheço. Saber dos seus gostos, dos seus sonhos e enfim, participar da sua vida e se possível, ser seu namorado...
__ Namorado?
__ Sim, uai!
__ Mas, eu pensei que você fosse namorar a Mariana...
__ Mariana não será nunca nada para min. Ela usava o corpo para me confundir e eu tolo quase cai na dela. E você me mostrou que isso não é o mais importante e que eu não preciso disso para min. E saber que ela usou da sedução para que pudesse fazer algo contra uma pessoa tão generosa quanto Adélia.

Recostada com a cabeça em seus ombros, Romilda colocou uma das mãos em sua boca, a fim de protege-lo e contemplou os campos.


__ Você é bom e Adélia sabe disso... – falou com voz chorosa.
__ Ninguém lembrou-me disso. – comentou ficando de joelhos como se pedisse perdão.
__ Está estória tem que terminar... além do mais... você estava em choque... não podia evitar...
__ Ainda sim, eu sinto-me mal pelo que fiz, por ter ferido os sentimentos de Adélia, os seus e de Marinaldo. – relutou ele.
__ Eu o ajudarei a acabar com essa culpa. – Romilda apoiada nos joelhos e olhando para a claridade refletida em seus pés. Vasculhava a mente à procura de solução e correu o olhar em sua volta e o surpreendeu com um beijo tenro e gentil.
__ Romilda, amanha eu irei à sua casa pedir aos seus pais para namora-la...
__ Então, poderemos ir a festa de noivado de Adélia e Marinaldo. Como namorados de verdade?
__ Noivado?
__ Marinaldo me contou hoje cedo...
__ Então, nós vamos lá como namorados... – os dois se abraçaram felizes e por algum tempo ficaram abraçados e reunindo os sentimentos espalhados em seus corações e mentes.

O dia amanheceu com o mesmo calor do dia anterior. Jobson saiu apressado e feliz por não ter compactuado com qualquer que fosse a armação que Mariana tivesse em mente.

Mariana ao vê-lo sair de casa nem esperou que ele se distanciasse, pegou-o pelo braço e o conduziu até o estábulo nos fundos de sua casa. Ali, no estábulo, não haveria a menor possibilidade de serem vistos. Mariana o fez sentar-se num monte de feno.

__ Preciso que me ajude! – disse ela erguendo o vestido ao encostar-se na escada de madeira.
__ Eu não vou ajuda-la em nada...
__ Ainda nem disse que tipo de ajuda estou precisando. – disse ela erguendo um pouco mais o vestido para que ele pudesse ver que nada usava além daquele vestido verde –claro, curto e bem decotado e das sandálias branca.

O estábulo mergulhava na penumbra e no silêncio. As baias estavam vazias. Concentrando toda atenção, Mariana caminhou devagar até a porta no fundo da última baia à esquerda de onde entraram, abaixou a tranca. A única réstia de luz que passava pelo vão aberto, ficou do lado de fora. Levantando um pouco mais o vestido, foi andando para o meio do estábulo, sem correr em direção a Jobson. Com o pé juntou um pouco de feno na chão e depois curvou-se para observar melhor. No instante seguinte, encontrava-se de joelhos e juntava a palha à braçadas. Bem devagar, percorreu com a mão por seu corpo e enfiou a mão nos seios e a outra mão afastou os cabelos para o lado e soltou o nó que prendia a alça em seu pescoço. Sentiu estar com os seios livres. Apoiada nos joelhos curvou-se até ficar de quatro, quando enfim abriu-se completamente o vestido aos olhos nervosos de Jobson. Que tremia descompassado pelo medo e pela excitação.

__ Venha e esqueça essa bobagem. Pense que nós dois poderemos sempre fazer isso... sempre... – com a voz ofegante Mariana o hipnotizara.

A bela Mariana ali, exposta. Era irrecusável a qualquer homem. E Jobson, um menino sem controle em sua virilidade e energia. Embora sua boca negasse, o seu corpo implorava para toca-la e desfrutar daquele corpo sensual. percebendo que as mãos dele tremiam e que ele as esfregava sem parar. Mariana jogara a cabeça para trás e lançava ao ar os longos cabelos, fazendo uma imagem ainda mais sensual e provocativa.
E lentamente engatinhou até ele e colocou uma das mãos à entrada da cavidade de seu short. Desta vez, seu esforço surtiu mais efeito e sua mão o acariciou num ritmo frenético. Foram precisos alguns minutos para Jobson avaliar as dimensões do que estava prestes à acontecer.
Mariana deitou-se de bruços diante dos olhos aguçados de Jobson. Ela ergueu a cabeça de lado como se revelasse um segredo indagou:

__ Não vai querer provar? Eu sempre notei como você olhava para minha bunda de forma gulosa. – Jobson quase esqueceu-se do mundo. Completamente seduzido e entorpecido pelo desejo. Mariana sentindo uma hesitação nele. Pegou as mãos dele e colocou sob seu traseiro lindo e volumoso.

Jobson como se saísse de um transe. Levantou e agarrou-a pela cintura e a ergueu bruscamente.

__ Não será assim que vai conseguir me convencer a tomar parte de suas maldade... – enquanto falava prendia-lhe pela cintura para que ela permanecesse ali, indefesa.
__ Assim... você está me machucando...
__ Eu sou um cavalo, uai! E você nunca mais tocará em min...
__ Seu monstro...você está me arranhado toda...
__ Veja se entenda de uma vez! Eu não a quero mais perto de min! Talvez tivesse planos para me usar depois daqui, mas, sua sedução não vai funcionar comigo, não mais. Ou acha que não posso resistir a sua beleza e charme?
__ E você acha que consegue? Quem é que vai deixar você fazer amor com você, com esse negocio enorme que você tem, hein? Pensou nisso? você vai espantar qualquer garota com esse negocio de cavalo...
__ Você não se dá por vencida, né?
__ Claro que não! Depois, só eu posso agüentar tudo isso dentro de min...
__ Pois, então, eu morrerei virgem... será melhor o celibato do que alguém egoísta e mesquinha igual à você.
__ Jobson, você vai me procurar... ou você pensa que isso você terá com outra? Você vai ficar passando mal e ficar tendo delírios sempre, como da última vez lá na gruta...
__ Chega! Quero encontrar com outra o amor... que você nunca saberá o que é... só sabe ser suja...
__ Amor! Que bobagem! Sexo é melhor do que amor!
__ Não é não! Um dia eu espero que você descubra que não é. E eu quero mais do que ser esse animal que você usa para satisfazer seus caprichos e seus desejos de puta. Quero alguém para sorrir; chorar; conversar; brincar e amar. Alguém que eu possa ser mais do isso... vá embora daqui! – disse jogando-a longe.
__ Lembre-se que eu sempre vou estar aqui e que só eu posso lhe dar prazer de mulher...
__ Só isso é muito pouco... adeus...
__ Eu sei que eu errei, mas, acredite que eu cheguei a gostar de você e não seria só para usa-lo que eu vim aqui hoje. Eu queria você... só queria que soubesse disso. – recomposta ela se dirigia à porta para ir embora.
__ Muito tarde para isso... vá agora... por favor...

Antônio e Isoldinha era mais um casal unido pela maldade de Mariana. Livres do laço da moça. Passavam os dias felizes com a possibilidade de levarem adiante a promessa de ficarem juntos.

__ Antônio ainda bem que você chegou. Eu e minha mãe precisamos de sua ajuda.
__ Boa tarde, dona Isolda!
__ Boa tarde, filho!
__ Nós estamos querendo arrumar um quarto que foi transformado em depósito, você nos ajuda?
__ Claro! – disse tirando a camiseta.
Capitulo 13


Devagar, Antônio empurrou a porta e deparou-se com um quarto que até então, devia ser o tal depósito devido ao grande números de caixas e cestas empilhadas de encontro a uma das paredes. Encostada a outra parede havia uma cama larga e ainda não arrumada. Pois, os lençóis e a coberta ainda estavam lá.

__ Bem, para onde essas caixas vão?
__ Lá para o quintal. Este quarto está assim desde que a outra família mudou-se daqui. E agora, minha mãe decidiu arruma-lo...
__ Mudando de assunto! Antes de chegar aqui encontrei com Mariana que passou por min com uma cara de ódio...
__ Não deve ter conseguido aprontar com meu irmão. Ele antes de sair disse-me que havia se livrado dela...
__ Essa menina tem que aprender uma lição.
__ Deus sabe o que tem guardado para todos nós.
__ Vamos trabalhar, Isoldinha.

Isoldinha estava de costas para a porta e inclinada sobre uma caixa. Quando se virou, ela pode ver toda a beleza física de Antônio, que um pouco mais velho do que ela não escondia a apreensão, os cabelos castanhos e o olhos amendoados, davam encanto ao rosto oval. O sangue mestiço revelava-se na tonalidade da pele e nos traços herdados da mãe, Joana rendeira, como era conhecida. Ao vê-la olhando para ele, sorriu um tanto acanhado, mas, sem perder o ar jovial que lhe era muito peculiar e nem seu lindo e charmoso sorriso.

__ Tenha cuidado com essa caixa. Não vá se machucar! – alertou.
__Tomarei! – ele estava alerta.
__ D. Isolda, essas cestas devo coloca-las no quintal?
__ Melhor não! Deixe-as na sala por favor...
__ Pode deixar comigo...
__ Mamãe, acho que vamos terminar bem antes do que pensamos com esse nosso ajudante cheio de disposição.
__ Ah, minha filha. Nem me diga. O seu irmão tendo que repousar e apenas nós duas, acho que levaríamos o mês inteiro.

A uns passos atrás foi a vez dele observar dono Isolda carinhosamente cuidando da filha. Retirando do rosto o suor com um toalha. A cama era muito larga e a mãe afastou-se um pouco para dar lugar a filha. Sem perceber enquanto usava a mão livre em movimentos seguros nas costas da filha.
D. Isolda começou a cantar uma canção de ninar que aprendera na infância. Antônio sentia-se tão à vontade como se estivesse na própria casa.

__ Pronto! Essa foi a última caixa. Agora, basta trazer um balde com água e sabão, uma vassoura e pano...
__ Muitíssimo obrigado pela sua ajuda, Antônio. Mas, daqui para frente, eu e Isoldinha damos um jeito.
__ A senhora acha que eu vou ficar parado, apenas olhando?
__ Vá descansar um pouco, que depois eu lhe chamo. E obrigada!
__ Ora, não foi nada, uai!

Antônio agora recebia de dona Isolda o mesmo tratamento carinhoso que ela dera a filha. Com uma toalha úmida, ela limpava o suor de seu rosto.

__ Assim eu vou trabalhar para senhora o tempo todo! – disse sorrindo.
__ Diga isso perto do papai que ele faz com que trabalhe mesmo...
__ Seu pai não é um comprador de escravos. – todos riram.

Iniciava a festa de noivado de Adélia. A sala de sua casa encontrava-se repleta de convidados. Cansada, Adélia não sabia como conseguia manter-se de pé. O dia fôra longo e agitado e agora ainda precisava dançar e dançar. A cena a seus olhos assemelhava-se à um caleidoscópio, os dançarinos em sua volta, não passavam de pedrinhas de vidro colorido. Parecia que dançava nua em praça pública. Naturalmente, ela achava que todos a estavam olhando com recriminação e por instantes, esqueceu-se de que estava entre uma família simpática e amigos que torciam por sua felicidade.
Passara toda a tarde atarefada com detalhes da festa e o noivado. Adélia já tinha o respeito de Marinaldo e o consentimento total do pai. As amigas Romilda e Isoldinha estava radiantes com a festa do noivado. As duas falaram por horas com Adélia, sobre festas, vestidos e até de enxoval. Isso sem mencionar o casamento em si. Numa calma entorpecente que nada podia atravessar, Adélia ouvia-as falar ininterruptamente. Seus pensamentos giravam sem cessar como a roda de um moinho.
Haviam várias mesas no quintal nas quais, mais tarde, seria servida a ceia. no momento, elas acomodavam, as bebidas e copos. Além de uma poncheira havia bastantes garrafas de champanhe.

__ A musica está boa? – a voz de Marinaldo cortou um mundo silencioso dentro da cabeça de Adélia.
__ Sim. Eu é que estou exausta e não consigo relaxar...
__ Deixe-me ajuda-la. – disse pondo as mãos em seus ombros nus e delicado.
__ Você faz tudo parecer simples e tão fácil.
__ Pode ser! Mas não sei como explicar sem parecer um idiota completo. Mas, se eu ficar dançando mais um minuto, as minhas pernas vão quebrar... que tal dar uma fugida lá para os fundos?

Adélia podia sentir o coração batendo com força, e as palmas das mãos úmideceram rápidas. Ela abriu os olhos e por um momento ficou com medo, que possivelmente tivesse sonhado com aquilo e voltou a abri-los demoradamente.

__ Marinaldo? – a voz dela mal passava de um murmúrio.
__ Sim!
__ Você está aqui? – a voz estava débil e incerta e ela não parecia estar muito lúcida, mas, sorriu e Marinaldo tomou-lhe a mão.
__ Estou! E não irei a lugar nenhum sem você... e você também vai ficar. Sabe disso. Adélia há uma coisa que quero lhe dizer.

Adélia sentiu um bolo na garganta e lhe acariciou o braço enquanto ele a olhava nos olhos.

__ Nós vamos nos casar... logo... – os olhos grandes e azuis feito um mar fitou-o com um ar de encanto.
__ Logo... será bastante tempo...
__ Pensa que fiquei em sua vida para ser um rapaz educado...
__ Você sempre foi muito educado...
__ Não tão educado assim sua boba! – o tênue sorriso cresceu, e ela fechou os olhos, descansando-os por um minuto. Quando abriu de novo, ele fitava-a carinhosamente.
__ Eu a amo, Adélia. Sempre amei e sempre amarei. Era isso que eu queria dizer também.
__ Não, você não me ama... – tentou ficar séria, mas, o que fez foi uma careta e sorriu. Adélia olhou para ele durante um tempo, tomando consciência de tudo aquilo, que ela pensou ter escapado de sua vida quando recebeu de sua mãe uma carta, sentiu o sangue congelar dentro das veias. Sentia os joelhos dobrarem e ela empalideceu-se. Era uma carta de abandono, de fuga, de desculpa tola e despedida. Deixada por seu noivo, Fausto, a carta era inexplicável e em poucas linhas, não dizia nada verdadeiro ou que interessasse à sua vida. Era impossível de se acreditar que isso acontecia três dias antes do casamento e a cabeça de Adélia rodava e rodava e seus olhos escureciam e rapidamente clareavam. Enquanto as lágrimas que antes pareciam presas, agora corriam livremente como as águas do rio.
Lembrara que o vento lá fora que soprava uma brisa leve se transformara numa ventania e passara a correr a mais de oitenta quilômetros por hora. Parecendo querer levar embora o sofrimento de Adélia. As pessoas puderam dizer que naquela noite, o vento teve a largura, a altura e o comprimento exato da dor que Adélia sentiu. Devido a altura do choro que o vento descomunalmente gemeu durante toda a noite. Batendo em todas janelas que encontrava pela frente. Como se implorasse para entrar e ser acalmado. As árvores balançavam enfraquecidas e despejavam suas folhas como lágrimas e as carroças rangiam continuamente.
Era como se pudessem ouvir o grito de Adélia se espalhando por todo o vilarejo. Se se pudesse gritar a imensa dor que sentia, seria algo como o som uivado que o vento fazia por entre as árvores e montanhas. Que certamente poderia ser escutado num raio de milhares de quilômetros de distancia dali.
Aquele dia ficou marcado nas lembranças das pessoas que se acercavam de Adélia. Por esses dois fatores determinantes: o abandono do noivo e o vento que chorou alto a noite inteira. Fazendo com que cada pessoa que conhecia Adélia pudesse saber da dor que ela sentiu e que pudessem de alguma forma compartilhar com ela de seu infortúnio, de sua tristeza e de sua solidão. Ninguém que a amava pôde dormir, sem esquecer que ela sofria, que chorava, que gritava e que por dentro, morria uma grande parte dela. A dor de Adélia entrava nas casas através do choro levado pelo vento e permanecia lá copiosamente, sem tréguas e sem fim. Foi por toda noite, choro e ranger de dentes.


__ Marinaldo, eu me sentia culpada pelo o que eu sentia por você...
__ Por que?
__ Não sei... achava que não era justo com você e nem tampouco comigo... – olhou para ele por muito tempo desta vez.
__ Por que não me contou sobre isso?
__ Pensei que você não fosse se apaixonar por min... tive medo que não fôssemos chegar tão longe, mas, você disse...
__ Sei o que disse! – ambos falavam em murmúrios.
__ Pensei que não quisesse um maior compromisso e que fosse embora também... algum dia...
Capitulo 14

__ Acha que farei igual aquele idiota, que a deixou? Eu jamais a faria sofrer por min... se possível for... eu sofrerei por você... fico no seu lugar para que sempre possa ser feliz. – Adélia sorriu e toda uma vida lhe surgia nos olhos encantadoramente azuis. – Ele era um cretino. E nós nunca sentiremos falta dele e ao invés disso, vamos agradece-lo por tê-la deixado para min. Quer se casar comigo, hoje, Adélia?

Duas lágrimas enormes começaram a lhe deslizar pelas faces e ela tossiu quando começou a chorar e ele a beijou nos olhos e encostou o rosto no dela.

__ Não chore... Adélia... por favor... está tudo bem... não quis faze-la chorar. – sentiu vontade de chorar também, mas, apenas ficou alisando-lhes os cabelos enquanto ela tentava se acalmar.
__ Também amo você... e aceito me casar com você...
__ Então poderemos nos casar daqui a algumas horas ou minutos...
__ Como?
__ Eu e sua mãe... na verdade, seu pai e sua vó também. Levaram os seus documentos ao cartório de Cajás, e deram entrada nos nossos documentos e depois nós fomos à igreja, e marcamos com o padre João, que dentro de instantes vai chegar aqui...
__ Eu nem desconfiei... Ah, minha vovózinha...
__ Pensei que você fosse perceber que as suas amigas estavam muito elegantes com aqueles vestidos... elas serão as nossas madrinhas...
__ Espere... como posso me casar sem um vestido ou sem um bolo de casamento?
__ A sua mãe tem quase o seu físico e serviu de manequim para dona Joana fazer o vestido e o bolo foi feito na casa da Andresa...
__ Vocês pensaram em tudo...
__ Até no fotografo que deve estar morrendo de calor lá no estábulo... - Os olhares de ambos se encontraram e as lágrimas desciam suavemente dos olhos de Marinaldo.
__ Eu a amo!
__ Eu também o amo e isso foi desde o primeiro dia que eu lhe vi... nem consigo lhe dizer o quanto. - Foram interrompidos por um grupo feliz apareceu os chamando porque Padre João acabara de chegar, e ainda faltava alguns detalhes. Romilda não agüentou e perguntou curiosa:
__ E então, Adélia... você disse o “Sim”?
__ Sim! Minha amiga. Eu disse “Sim”.
__ Então, nós, esse grupo de loucas, a estamos esperando em seu quarto. Felicidades! – Romilda abraçou Adélia e Marinaldo juntos e apertados.
__ Posso ver o anel? – perguntou Isoldinha feliz por ser madrinha e o Antônio padrinho. Assim como Jobson e Isoldinha, também convencidos que foram perdoados.
__ Ela o engoliu. Por isso estamos aqui fora escondidos...

Sozinhos novamente e já refeitos da emoção, Marinaldo alisando os cabelos de Adélia quase em completo murmúrio disse:

__ Acha que é cedo?
__ Será melhor aproveitar a ocasião e a dor de cabeça já terá passado quando eu acordar amanha. – Adélia parecia muito cansada, mas, incrivelmente feliz.
__ Eu espero que sim...
__ E eu espero que não! – Adélia segurou a mão de Marinaldo, sem pensar em outra coisa que não fosse a felicidade que estava vivendo. Já não era mais sonho era uma realidade muito verdadeira que se estendia sob seus pés.

Erguendo as mãos aos céus e com a voz mais trêmula do que o normal e esforçando-se para manter-se de pé, a avó de Adélia, uma figura impressionantemente inesquecível. Que sempre soube fazer um bom uso das palavras, chamou a todos:

__ Quero aproveitar que aqui, nesse dia, estão reunidos alguns novos casais e alguns solteiros e a todos em geral. Gostaria que vocês pudessem não sentir a solidão, a dor que ela nos provoca. O medo que toma conta da nossa razão, e nos faz agir sem razão... se ficamos sozinhos, entristecemos e envelhecemos... não digo sozinho de amor, mas, sim, de pessoas. Sim, de pessoas... há quem se sente sozinho ao lado de uma multidão, mas, essa pessoa é que faz da sua vida o vazio que sente... – todos os presentes em silêncio completo, analisando cada som de cada palavra, tentando entender as suas próprias vidas. Se construindo e se reconstruindo. Alguns alegres e outros tristes, uns emocionados e outros intactos.

– Gente, essa solidão que em certos dias achamos que nos faz bem. É só a nossa fraqueza para admitir que falhamos. Dizemos às vezes que queremos sumir ou se isolar numa ilha deserta. Mas, só estamos tentando fugir de nós mesmos. Por não conseguirmos suportar a nossa própria companhia, e descontamos em quem está ao nosso lado... a solidão enlouquece e nos afasta de nós mesmos... com seu calor e com seu frio... um sonho que você não consegue ver, um mundo que você vive.
A imensidão das coisas que sentimos dentro de nós, pode ser devastador ou pode erguer castelos... castelos de areia... castelos impenetráveis... a nossa melhor opção é o sorriso, as palavras, o ouvido e a presença. A nossa arma contra a solidão é a amizade e o companheirismo. – todos ali mudos, silenciosos,, sorvendo as palavras. Os mais jovens aprendendo uma nova lição, que ainda não estava muito assimilada, mas, havia um encanto na voz dela, e uma sabedoria que cada um deles na sua maneira registrava mentalmente tudo que era dito.

__ Confio em Deus, para que nenhum de vós venha sentir a solidão do vazio; do distanciamento; da incapacidade; da incredubilidade; da ignorância e do medo. Que sejam felizes sem fazer triste quem está ao lado de vocês... – todos boquiabertos, se entretalhavam, na esperança de não serem os únicos a estarem com lágrimas nos olhos. Mas, era impossível esconder a emoção, a reflexão que aquele discurso proporcionara.

__ Pessoal! Vamos lá para fora que a cantoria vai começar e as violas estão à espera! – ordenou seu Cinézio em tom de disfarce.

Jobson sentado junto a cerca percebeu a aproximação de Mariana. Ele levantou-se e quis sair dali, todavia, não seria necessário. No momento em que lhe fitou os olhos, Mariana leu sua repulsa e pensou saber as razões. Embora tentasse negar a possibilidade, foi tomada por uma dor profunda, muito maior do que achava ser razoável. Teve vontade de gritar, uma voz que não reconhecia como a dela, disse:
__ Acho que não vai ser preciso sair daí. Entendi o que você disse-me, logo após dona Micaela retirar-se para o quarto. Não vou chantagea-lo nunca mais e peço desculpas à você Jobson. – atônito, ele não encontrou na voz, a sensualidade de antes, apenas sacudiu a cabeça. Não conseguiu entendera mudança operada em Mariana.
__ Eu estou disposta a mudar o meu terrível comportamento e minha opinião perversa. – deixou escapar um sorriso amargo. – Jobson arregalou os olhos e sem dar ouvidos ao bom senso, preparou-se para abraça-la como já havia feito uma vez. Porém antes de dar um passo em sua direção, ouviu-lhe o nome sendo pronunciado às suas costas. Virou-se e contemplou, Romilda que completamente estarrecida, observava a cena. Indo em direção dela, ele atirou-se nos braços da moça enquanto Mariana vislumbrava-a ao mesmo tempo que os braços de Jobson a envolviam. Sobre a cabeça de Romilda, Mariana percorreu os olhos pelos corpos dos dois abraçados e notou a feminidade solta na moça que sempre a omitiu.
__ O que aconteceu? – Romilda não perguntou a ninguém em especial.
__ Nada... nada! – murmurou Jobson.
__ Romilda, eu só gostaria de dar parabéns à vocês dois e desejar que sejam felizes. Estou sendo sincera, acredite-me!
__ Eu acredito! As pessoas devem ter uma Segunda chance...
__ Obrigada! Eu estou muito arrependida de tudo que fiz. Hoje eu entendi que não será assim que eu conseguirei ser feliz. Dona Micaela abriu os meus olhos... e sigo amanha de manha para Goiana, finalmente vou recomeçar o meu curso de Matemática, na faculdade e estarei aqui nas férias.
__ Fico feliz que ela tenha conseguido abrir os seus olhos...e que esteja retornando a faculdade... – Mariana levantou os olhos e sorriu, despediu e saiu com um ar alegre. Romilda ameaçou Jobson em voz baixa, bem no seu ouvido para não correr o risco de ter testemunhas.
__ Ela não fez nada, eu já disse...
__ Estou brincando! De qualquer forma, se seus olhos foram abertos mesmo, ela verá que a maldade dela era sem limites e ela acabaria vivendo uma realidade cruel, sendo mulher. Já começou a mudar para ela, até o buque caiu em suas mãos...
__ Agora vamos nos divertir com toda galera. Eu estou sentindo-me muito bem...
__ Vamos!
__ Antes deixe-me beija-la...
__ Ah, eu vou ficar bem paradinha... pode beijar-me...
__ Que estória é essa de buque?
__ Mariana pegou, uai!
__ E você não tentou?
__ O que você está insinuando
__ Que com um buque nas mãos seria um caminho mais rápido para nos casarmos...
__ Apenas se casaria se eu tivesse pego o buque, é isso que você quer dizer?
__ Claro que não! Eu me casarei com você com ou sem buque...








Dali adiante na mesma fazenda corria o ano de 1994, e todos os familiares presentes, e os amigos, esperavam numa agitada festa de aniversario. Mesas espalhadas pelo quintal, refletores nos cantos trazendo uma iluminação clara, que evitava notar o brilho intenso da lua lá no alto do céu. A sede da fazenda um pouco modificada, quase imperceptível.
E descendo a escada pela porta da frente, descia Adélia, linda e feliz, conduzindo pelos braços, uma menininha loira, alta para os seu dez anos, com os olhos azuis e um sorriso encantador. De pé, dona Louise e seu Cinézio olhavam orgulhosos e dona Micaela ainda lúcida fitava-as com alegria.

Marinaldo encaminhou-se até a elas e sorrindo pegou-a no colo:

__ Está é minha filha Micaela Fallenbach Tomaz Ferrero, que hoje completa dez anos de idade! – o vento soprou levemente os cabelos encaracolados e longos da menina.

Os filhos de Isoldinha, Romilda e Andresa, foram ao encontro da menina com presentes nas mãos.

FIM














































































Ao povo do Estado de Goiás















Se fomos criados a imagem e semelhança de Deus, então é fácil ver o rosto de Deus. Porque ele se encontra espalhado por cada canto desse mundo. Onde há uma pessoa, aí está seu rosto. E se quisermos ser bem vistos aos olhos de Deus, basta olhar com bondade, para cada pessoa que encontrarmos em nossos caminhos. Seja em cidades grandes ou pequenas. Em grandes metrópoles ou em pequenos vilarejos.
Há muito mais fora de nós para se aprender. Achamos que somos mais inteligentes, por saber operar um computador; usar um celular; programar uma máquina de lavar ou mesmo de falar corretamente. Mas, a vida que nos foi dada é a mesma para todos, e o que nos parece ser fundamental. Em outros lugares não há nenhuma serventia.
Existem pessoas hoje por esse mundo, que não sabe o que é luz elétrica ou mesmo eletricidade em si. Todavia, dentro dessas pessoas haja a mesma vida, que existe dentro de você. Que consegue decifrar esse código, que se traduz em palavras.
Fundamentalmente Deus pôs as pessoas para viverem em seus lugares, as cercaram de modernidade ou não. A mesma vida que nasce, é a mesma que morre em cada palmo desse chão. E vai continuar sedo assim. Você começará a ser mais feliz quando passar a olhar para outra pessoa com bondade no olhar.




Se ao menos uma única vez
Eu pudesse sentir o cerrado
Nos olhos e pés...
Seus Sapos Carurus e suas Emas
A minha vida não seria tão pequena,
E não passaria tão depressa demais
E eu seria mais corajoso e feliz...

E quando chegasse o momento
Num piscar de olhos... eu voaria com as Araras Canindés... ah, minhas amigas... tuas penas não tem preço...
A minha liberdade é que me prende ao chão
Ao não posso... ao não dá... ao não quero...

Quando tudo fica distante e o destino sussurra ao Seu ouvido vem e tens que ir... é chegado a hora,
Aí, sei que não verei chapadas e florestas desse cerrado... sem fim... Jequitiba e mato grosso goiano... como romance... só acontece uma vez....






Capitulo 01

C
orria o ano de mil novecentos e oitenta e quatro, e o vilarejo de Cajás encontrava-se no coração da América do Sul e no seio do Brasil. O vilarejo era conhecido por todos como “Vila do céu”, pela miragem que a distancia provoca em todos, o vilarejo parece suspenso no ar, parecendo flutuar como se emergisse no horizonte acima da águas cristalinas de um imenso lago azul.
Entre duas chapadas, nasceu Cajás e com a força da terra atraiu mais e mais famílias para a região do cerrado, vindas de todas as partes do país para trabalhar na agricultura. A cidade cercada por rios; serras; montanhas; florestas e lagos.
O cerrado estendia-se até perder de vista, os arbustos secos davam aquela paisagem a impressão de uma imagem congelada no tempo. No vilarejo as pessoas não acompanham o ritmo lento daquele lugar e apressadas puxam os carros de bóis e cruzam as carroças pelas ruas de terra roxa.
E nessa paisagem bucólica e poética, vive Adélia Fallenbach Tomaz, uma jovem de vinte anos, de pele clara e amanteigada, com seus cabelos longos, encaracolados e loiros, da cor da palha do milho e de olhos arredondados e tão azuis que pareciam um espelho, embora fossem tristes e seus lábios finos pausavam a voz macia e seu rosto pequeno sempre com um sorriso tímido, porém encantador. A cor e a altura fora herdada da mãe, Louise Fallenbach, uma cientista européia, bióloga e botânica, que veio ao Brasil para pesquisar sobre a vegetação do planalto e apaixonou-se por Cinézio e jamais retornou a Holanda onde vivia a vinte e um ano atrás. Apesar de nunca ter parado com as pesquisas que a trouxeram ao cerrado. Adélia era o resultado dessa união e paixão, em seus olhos azuis, podia-se ver a bondade alojada em cada um deles, recatada embora sempre linda em seus vestidos longos e largos, que ajudavam-lhe a disfarçar sua estatura de quase um metro e oitenta, em acima do padrão local.

Enquanto caminhava, Adélia tinha sempre a companhia do vento, que cercava-lhe de carinho e cuidados, sacolejando o seu vestido e acariciando-lhes os cabelos. Assim era sempre, o vento que acompanhava-lhe como se a protegesse.
Entretanto, ela não sentia-se feliz, já com seus vinte anos ainda não havia encontrado a cura do amor passado e com poucas oportunidades ao viver naquele vilarejo de tão poucas pessoas, cabia-lhe a certeza de ter que casar-se com o primeiro que propor-lhe, senão, continuar a viver sozinha.

Adélia no principio não entendia quando sua mãe, fazia questão de passar-lhe todo o conhecimento que aprendera sobre biologia, com tantos livros, recomendações, reproduções, plantios e preservações. Ainda criança, Adélia já entendia bastante sobre o nosso biosistema, suas fortalezas e suas fraquezas; onde deveria atuar para ajudar no fortalecimento e onde deveria preservar para continuar o crescimento.
Animais reproduzindo em cativeiros, plantas, flores em estufas, peixes em reservatórios. Tudo que sua mãe lhe ensinou. Adélia aprendera com disciplina e atenção e ela bem que poderia ter-se formado em biologia feito mãe, ma preferiu ficar ali aplicando tudo que aprendera.

Agora, assim cavalgando ao pé da Serra da Pedra, no Morro do Serrote, indo até a parte um pouco mais íngreme, podia-se ter uma visão do Parque do Tororó e do Parque dos Bichos Soltos e ela entendia perfeitamente o porquê de tudo que sua mãe lhe ensinara ao longo dos anos. O Parque do Tororó tem esse nome devido as duas corredeiras, que do alto pareciam lágrimas a rolar continuamente de alguma face; duas corredeiras que seguem uma ao lado da outra. Além de uma floresta ciliar com árvores frondosas e seus pássaros, flores e animais. O Parque dos Bichos Soltos, com seus rio mais calmo e suas cachoeiras com quedas superior a vinte metros de altura, a própria Serra da Pedra com sua formação rochosa e com paredões verticais. Tudo isso ali, bem guardado e bem aproveitado.

Adélia descera da sua égua, charmosinha e de junto ao pé de um Jequitiba, olhava tudo e era como se desejasse que tudo aquilo fosse como um brinquedo, que ela brincara por muitos anos e depois passasse-o para uma outra criança que também pudesse brincar por longos anos e também pudesse passar para outra criança e essa a outra e depois outra e outra e outra...

Dali do alto nada chegava em seus pensamentos de forma dura e sem piedade; nada a angustiava; nada a desassossegava e nada tirava sua paz. Com ambas as mãos, num gesto delicado, colocava os cabelos por trás das orelhas e sorria um sorriso com gosto de vitória e com os braços bem abertos, diante daquela imensa região do cerrado, Adélia não conseguia sentir-se pequena ao contrario sentia-se feito um gigante, forte e capaz.

As trilhas que ela fizera em diversos lugares e em outros lugares fechando-os com muros de pedras sobrepostas, que carregava nos carros de bóis, impedindo passagens para os rios, das matas, dos lagos. Desviando para atalhos com caminhos preparados, ajudaram a manter a beleza e sobrevivência do lugar.
Embora lhe faltasse respostas para o abandono que sofrera, e pela falta do amor e do carinho, Adélia mergulhara nos livros e na vida, nunca deixara de sorrir ou de omitir-se, ela estava sempre presente; nas modas de viola; nos balneários; nas festas e com amigos. Apenas alimentava uma tristeza particular e quando olhava para alguém, não saia de seus olhos, um olhar de tentativa; de busca ou de espera. E quando a olhavam com olhares cheios de paixão; de romance, Adélia mantinha o olhar vazio, distante e intocável. Com uma flor de cerrado nas mãos.
Ela sabia que não seria assim para sempre, não era para ser, seria um castigo, se não amasse novamente, se não fosse amada verdadeiramente. Teria que acontecer, mas não teria que ser esperado, viria inesperado e saberia quando chegasse, mas ainda não era hora e ainda não era daquela vez. Descia da serra montada em charmosinha, desviando-se do galhos e vagarosamente despedia-se da beleza e da plenitude e logo estava em seu galope em retorno a sua casa, exibindo aquelas testemunhas, a sua formosura ao saracotear-se no lombo da égua, ali estava uma imagem linda da mulher que tornara, porém solitária.

E em noites quentes quando rolava em sua cama sem conseguir dormir, Adélia fazia sempre a mesma prece enquanto o vento entrava por dentro de seu vestido e o erguia quase como se a despisse e depois retirava-se.
Movido pelo ciúme, o fogo não continha-se de inveja por não poder toca-la como o vento fazia e sem pena e sem compaixão e empurrado por esse egoísmo, naquela noite, o fogo ardeu na palha seca eu carregada na carroça próxima à casa, fez do incêndio o seu ato final, o seu último desejo de tocar na carne de Adélia.
O vento desesperado soprou forte tentando empurrar o fogo para o lado contrario, embora sem conseguir o seu intento, o seu esforço transformara-se em luta para que o fogo não chegasse até a casa e consumisse tudo que havia lá, inclusive Adélia.
Diante da impotência da situação e da maldade provocada pelo fogo, Deus deu a oportunidade ao vento para transformar-se num ser humano, tendo ele apenas que apagar o incêndio e jamais tocar em Adélia, com a condição de ser castigado e jamais retornar como vento.
E lá em meio a fumaça surgia um homem nu, de cor parda e de um corpo forte, com o peito largo e de olhos negros como a cor da escuridão e seus cabelos longos esvoaçantes e negros como a noite, extinguiu todo o fogo e dentro da casa enquanto a fumaça se dissipava, ele pode ver diante de si, pela porta entreaberta, Adélia ainda deitada, amedrontada com o que acontecia lá na sala. Olhou sem entender a imagem daquele homem nu; parado diante dela; sem pronunciar uma palavra, mas com profunda gentileza no olhar.
Sem ter como reagir aos encantos dela, ele tomou-a em seus braços e ela como hipnotizada pela beleza daquele homem, permitiu que ele a pegasse no colo. E com a mão direita numa de suas coxas, ele sentiu a maciez daquela pele de seda, e com a outra mão acariciou-lhe as costas quase nuas, pelo vestido já descomposto. Os dois mudos, sem palavras, sem som, entreolharam-se e toda retidão foi ficando para trás e ele desobedeceu ao mandamento e primeiro tocou-lhe os lábios e com sua boca percorreu-lhe o pescoço e ombros e desnudando-lhe os seios pousou sua língua, sentindo em sua narina o odor quase juvenil de Adélia.
Ele voltou sua boca e bebeu da saliva dela e num desejo violento, retirou-lhe o que restou do vestido, e antes que os outros os encontrassem, olhou-a dentro dos olhos e a deixou de pé, segurando o vestido, nua e feliz e foi-se em meio a fumaça.
Como paga pela desobediência, e por ser uma vontade de Deus, ele não pôde voltar e não foi permitido a ele, ser vento outra vez. Teria que aprender a viver como homem, teria um nome e chamaria Marinaldo Ferrero, vinte e um ano, e só isso caberia em suas lembranças.
Enquanto Adélia era encontrada por seus pais e pelos poucos vizinhos; já vestida e com alegria noz olhos e gentileza nas palavras; extasiada pela lembrança daquele homem, e com seu rosto gravado em sua mente.

Passado dois meses após o incidente, Adélia continuava com as lembranças em sua mente, e mesmo não tendo contado o que lhe aconteceu, nem a sua melhor amiga Mariana dos Anjos, por temer que pensassem que ela pudesse estar louca ou que ficasse com a reputação manchada. Sentia sozinha as sensações que nunca pensou que pudesse sentir e não tinha a menor intenção de dividir isso com ninguém.
Já era dia alto e Adélia encontrava-se pronta para mais um dia de trabalho, quando quase que mecanicamente, ela foi-se pondo de pé e com olhos de quem vê um sonho; um homem aproxima-se dela e sorri-lhe, um sorriso de menino:

__ Por favor, estou há dias na estrada a caminhar, e nem consigo lembrar da última vez que descansei... mas na verdade moça...eu estou precisando de um trabalho.....
__ Não está me reconhecendo? De onde vem?
__ Venho andando pela Belém-Brasília... e sinto muito, mas eu nunca lhe vi antes...moça...
__ Seu cabelo... você cortou-o recentemente?
__ Moça, você deve estar me confundindo. Desde de que me lembro, sempre tive o cabelo com esse corte e moça....
__ Pode me chamar de Adélia. E qual é o seu nome?
__ Marinaldo Ferrero. Você me parece triste...
__ Não há de ser nada. Deve ser porque estive sonhando nesses últimos dias. Mas, deixe-me apresenta-lo aos meus pais e minha avó.

Seu Cinézio com sua calma e gestos lentos, contratava com a cor de sua filha, com seus grandes e negros olhos e de um olhar profundo, que parecia enxergar a alma de quem o encarasse. Apesar da estatura mediana e seu porte franzino, os centímetros pareciam multiplicar quando falava. E ao seu lado, uma mulher alta, loira, de quem Adélia recebera toda beleza e elegância, em seus quase um metro e oitenta e um.

__ Pai. Este rapaz está procurando por emprego. Ele se chama Marinaldo.

Capitulo 02

__ Você não é daqui...porque nunca lhe vi por estas bandas – Seu Cinézio enquanto falava gesticulava bastante.
__ Pai... ele veio da Belém-Brasília e... Cinézio interrompeu-a com sutileza.
__ Minha filhinha, deixe-o falar, eu preciso saber quem está na minha casa, uai...
__ Eu me chamo Marinaldo, e estou sozinho nesse mundo há bastante tempo e não tenho me estabelecido em nenhum lugar. – a verdade e generosidade lhe saltavam os olhos. sem nenhum sotaque da região.
__ Cinézio. Pode empregar esse rapaz e deixe-o ficar no quarto lá noz fundo do quintal. – Louise falava carregada no sotaque, ma com segurança e convicção.
__ Nem vou mais argumentar, uai. Meu rapaz... o que você sabe fazer?
__ Sei laçar e consigo carregar sacos de setenta quilos, sei arar a terra, plantar e tudo que precisar que eu faça.

Louise Fallenbach tinha o Dom e o talento de reconhecer o bem nas pessoas, e o seu marido confiava nas análises que ela fazia. A noticia de que Marinaldo ficaria ali, deixou Adélia um pouco mais feliz.

Sem estar carregando nada além de uma sacola, ele se alojou no quarto onde havia uma cama de solteiro, uma cômoda, e uma janela. De banho tomado, ele foi convidado a tomar um café reforçado, com milho, curau e tudo mais, com seus novos patrões. E Adélia vestida numa blusa negra e uma microsaia negra, e de botas de cano longo, também negras, com seus longos cabelos loiro quase nunca alisados, sempre ondulados e soltos. Parada diante da porta de entrada da casa; exibia seu corpo alto e esbelto e aquela roupa deixava-a mais linda do que parecia ser possível. Sorria para Marinaldo, que sem jeito, retribuía um sorriso tímido, porém charmoso.

__ Até mais tarde, meu pai. Até mais tarde, minha mãe. Está quase na hora de dar a minha aula na escola.
__ Que aqueles marmanjos não lhe faltem com respeito...
__ Não ligue para o que seu pai diz. Você está linda demais para ser desrespeitada, minha filha. Vá com Deus.

No caminho até a escola, Adélia encontrou com sua amiga, Mariana, com sua pele branca quase neve, e seus cabelos castanhos claros longos e lisos, parecendo cair de sua cabeça e escorrer pelos seus ombros, atingindo suas costas e seus seios e quase escondendo os seus pequenos olhos castanhos; fazendo-a parecer menor que seus um metro e sessenta e oito. sempre provocante com seu andar sensual e sua voz rouca, que dava mais feminidade com seus lábio carnudos e nariz e bumbum arrebitados.

__ Mariana, hoje chegou um Deus grego para trabalhar com meu pai....
__ De onde viria um Deus grego?
__ Veio pela estrada com suas longas azas brancas e pousou na minha frente, e se meus pais não o contratassem, eu o faria...
__ Parece sério... nunca a vejo tão interessada assim...
__ Quando a aula terminar, eu a levarei até a ele e verás que é sério.
__ Você parece muito entusiasmada... vá com calma... minha amiga que você pode se decepcionar.
__ Ei, deixe-me sonhar. Você sempre fica assim quando fala do Antônio dos Reis...
__ Está louca. Aquele magrela... nem parece ter dezenove anos, com sua piadas sem graça, que ele insiste em fazer a toda hora.
__ Nossa... pensei que você gostasse dele. Ele está sempre tentando lhe agradar, coitado.
__ Às vezes ele me irrita com esse negocio, desculpe-me...
__ Tudo bem, não tocarei mais nesse assunto, Se lhe incomoda tanto.
__ Não é isso Adélia. Eu até acho ele meio legal, mas é meio grudento e criança demais e isso me deixa louca.

Adélia estranhou o comportamento de sua amiga, que era sempre calma, com gestos lentos e delicados. Acabara de perder o controle ao falar de alguém que ela sempre fez questão de manter por perto. Mas, preferiu deixar para lá e pensar que a amiga apenas estivesse nervosa ou chateada com alguma coisa.
Assim calada continuou caminhando, e em silêncio permaneceu até chegar a porta da escola, quando apenas disse: “chegamos”. Na saída, Adélia procurou e esperou por sua amiga, que recusou o convite de ir até a fazenda para conhecer o tal Deus grego.
__ Deixe para outra hora, hoje, eu não quero conhecer ninguém. Essa turma de pirralhos deixou-me cansada e ainda tenho que ir buscar leite de vaca...puxa não há nada para e fazer aqui, exceto serviço porqueira. Não é de se admirar que todo mundo por aqui nasce e morre agricultor.
__ Não se pode ter a perfeição. Ma, quem garante que teríamos sido sempre tão felizes se não vivêssemos aqui?
__ Adélia veja esse ano que passou, por exemplo. Como teria sido se eu fosse casada? - Adélia fizera esta pergunta várias vezes.
__ Podia dar um jeito se fosse realmente isso o que queria e se seu marido fosse um homem compreensivo. – não havia recriminação em sua voz, falava como se estivesse pensando em voz alta.
__ Está certa... está certa...desisto... é obvio que estou sendo uma boba, Adélia.

Beijou-a na face e despediu-se de Adélia e prometera ir à noite na casa dela. Adélia não olhou para triz se tivesse feito teria visto que sua amiga tomara um caminho diferente e parara diante da casa de Romilda Santin, uma maranhense de pele morena quase chocolate, no esplendor de sua meninice, aos dezessete anos agia como se tivesse treze, sempre mantinha os cabelos curtos e usava roupas largas como se quisesse esconder sua sensualidade, que lhe aflorava pelo corpo afora. Sempre tomava banho de rio ou lago, vestida. E nunca onde todos costumava ir. Parecia não querer crescer. Vivia fugindo do olhares que Jobson Melquíades lhe lançava.

__ Romilda, sabe aquele livro do Fernando Pessoa que você disse que me emprestaria? Vim cobrar-lhe. – Disse sorrindo marotamente.
__ Oi, Mariana. Aquele livro... que coincidência... hoje mesmo na escola eu comentei sobre ele. O livro está na casa da Andresa, vá até lá e apanhe-o, uai.
__ Fico sem jeito de ir lá sozinha...sabe... pensei que se você pudesse ir até lá comigo... sabe... eu não tenho tanta intimidade com ela, e ainda por cima tem aquele trem com Hilda, a irmã dela...
__ Trem... Mariana... você a fez fazer papel de idiota no casamento da Luana e Noberto.
__ Ela é que acreditou que az madrinhas usariam aquele laço azul enorme na cabeça, uai...
__ Não teria sido porque você falou?
__ Ah, deixe esse trem para lá... sabe...foi apenas uma brincadeira.
__ Ainda bem que eu sou sua amiga. Vamos lá ante que você me esgane.

Depois de apanhar o livro na casa de Andresa, az duas voltaram pelo mesmo caminho que foram. Até que Mariana sugerisse que usassem o atalho.
__ Mas, Mariana por aqui encurta o caminho, mas temos que passar por dentro da fazenda do Cinézio.
__ O que tem demais?
__ Nada. Então vamos é bom que eu vejo uns cavalos que eu vou pedir emprestado para montar a noite. – Romilda tinha o costume de cavalgar durante a noite pelas chapadas. Ao passarem por trás do estábulo próximo a cocheira, Mariana parou e ficou boquiaberta por alguns segundos.

__ O que foi, Mariana? – quis saber Romilda curiosa com o que a amiga tinha acabado de ver.
__ Nada. Vá até a cocheira e escolha logo o tal cavalo... vá...

Marinaldo banhava-se com um balde e uma bacia, e enquanto a água corria pelo seu corpo, Mariana fazia o mesmo caminho com os olhos. Desabotoou dois botões de seu vestido, deixando seus pequenos e redondos seios quase à amostra. E parecendo distraída quase deu um encontrão com aquele homem de aparência tão encantadora.

__ Ohm, desculpe-me. É que eu vinha distraída e com esse sol, eu quase não levantei a cabeça. – nem terminou de falar e fingiu desequilibrar-se, Marinaldo segurou-a pelo braço e puxou-a contra si, e desajeitada, um dos seios ficou exposto ao sol e aos olhos dele, que mal acabara de conhecer.
__ Menina, é melhor você abotoar esse vestido. Eu me chamo Marinaldo e você?. – Fitou-a no olhos deixando sem ar nos pulmões.
__ Sou Mariana dos Anjos. É melhor que vá agora... sabe...estou com uma amiga e sabe... não quero ser vista com alguém que acabei de conhecer. – Disse abotoando o vestido e depois apanhou o livro que caíra no chão e chamou Romilda e se retirou dali apressadamente, contudo com um sorriso preso no rosto e cara de quem havia enfiado o dedo no bolo da festa. Nem as ruas acidentadas e de terra batida tirava-lhe o bom humor. Enquanto Romilda suspeitava que algo tivesse acontecido em sua ausência, mas, temia perguntar qualquer coisa, para não levar bronca. Porém, no fundo sabia que Mariana havia aprontado alguma das suas.

Iluminada pelo sol, Adélia vagueia sem esquecer-se de suas emoções, ela alcança seu êxtase numa cavalgada para distanciar-se das coisas ruins da vida. Na velocidade ritmada de sua égua, charmosinha. Com os cabelos loiros dançando no ar e seu vestido negro a flutuar, Adélia se imaginava voando.
Disfarçando uma dor contida e pensamentos que a deixavam infeliz. Do dia em que ela viu sua vida ir embora na poeira, como não relembrar aquela emoção, embora já tenha se passado quase três anos. O sentimento de abandono e rejeição ainda lhe eram particular. Em dias que o céu fica tão claro ou mesmo quando escurecido pela noite, são em dias assim que ela se lança no lombo da égua e sai a cavalgar pelas distâncias das terras compridas. Esse é o jeito dela se aliviar da tristeza do seu coração em chamas.
Grandes vales abertos em sua frente, onde a égua vai deixando as marcas de suas patas pelo chão. No começo a vegetação arbustiva ainda consegue acompanhar as duas e depois vão ficando para trás. As pequenas montanhas cresciam e grandes vales se abriam no chão. Cavaleira e animal felizes se projetavam na paisagem como parte dela.
Marinaldo a viu passar adiante e de carroça foi ao seu alcance temendo que ela se machucasse. E ela cavalgando com os pensamentos bem acima da cabeça. Recebia os últimos raios de sol que lhe davam uma cor de prata. Logo adiante parada com sua égua, dando a ela uma folga para descansar. Amarrou-a bem firme à uma árvore e deitou-se à vontade na relva. Não imaginava que há poucos metros dali vinha Marinaldo de carroça.

__ Desculpe-me, Adélia! – disse com um sotaque irretocável do sudeste, fazendo com que Adélia ficasse com um grito preso na garganta e uma leve expressão de pavor. Parecendo ser pega fazendo algo de errado, embora apenas estivesse deitada na relva.
__ De onde você veio? – perguntou com o coração ainda disparado de medo e a menta confusa. Ela seguiu-o com o olhar e percebeu que ele não tinha mais a expressão implacável e sorria relaxado.
__ Vi quando você passou em disparada e pensei que da maneira em que você estava; ausente; distante, que pudesse lhe acontecer alguma coisa.

Alguma coisa no olhar dele a trouxe de volta a realidade e só então deu-se conta do significado do que acabara de acontecer.

__ Mais uma vez desculpe o meu atrevimento...
__ Apenas porque quis me proteger?
__ Você deve achar que eu a sigo por aí. Essa é a primeira vez que faço isso, não gostaria que pensasse que fiz de propósito. Mas, quando me vi, estava assim próximo à você.

Para insatisfação sua viu a alegria desaparecer dos olhos de Marinaldo. Por uma fração de segundos, pensou encontrar nele a mesma amargura que ela sentia. Devia ter se enganado, pois ele olhou para o lado e falou com displicência:

__ Bem, não tenho muita certeza, quanto a montaria, mas, você tem uma certa classe. Ausente em muitas que já vi montando. Mas, ainda sim, acho perigoso sair à cavalo em pêlo. Mas, quem sou eu para julga-la.
__ Cavalgo assim desde menina. Não gosto de selar a égua, adoro sentir as minhas pernas roçando em seus pêlos enquanto cavalgo. – depois de falar, ela o viu olhar direto em suas pernas e corou-se.
__ Ainda sim, eu acho perigoso. – instintivamente seus olhos foram parar nas coxas dela.
__ Você sabe andar à cavalo?
__ Não! Eu mal sei conduzir uma carroça, e quando preciso montar é apenas para colocar o cavalo no estábulo. – Adélia montou em sua égua com agilidade e leveza. Esticando-lhe a mão convidou-o para um passeio.
__ Não sei se devo...
__ Está com medo de cavalgar ou de min. – ela fez uma expressão de menina.
__ Teria que fazer um ato que demonstraria uma coragem rara... mas, acho que vou aceitar.

Aceitando a mão que Adélia lhe oferecia, ele desceu da carroça e foi em direção à ela. Endireitou os ombros e rezou para não cair ao tentar montar. Adélia curvou-se e ajudou-o a montar. E quando ele já montado encostou-se nela. Ela pode sentir o peito suado em suas costas nuas e as mãos tocar-lhes as coxas descobertas pelo vestido erguido. E ao dar inicio à cavalgada as pernas deles roçavam suavemente contra as dela.

__ Segure-se que vamos correr!

Agora as mãos dele pressionavam sua barriga e seu abdômen e às vezes tocavam em seus seios. Que pela respiração e pela cavalgada, subiam e desciam. As mãos fortes de Marinaldo a apertava gentilmente. E quando ele já começara a se acostumar com o perfume vindo dos cabelos de Adélia e com a maciez de seu corpo. A égua parava bruscamente. Fazendo com que ele encostasse os quadris contra as nádegas dela, que por uns instantes ficaram erguidas no ar. Como se esperasse por aquela colisão.

__ Acho que chegamos! - disse Adélia sem jeito e ofegante.

Os segundos que antecederam para que Marinaldo desencostasse dela, pareceram não ter fim. E era como se nenhum dos dois quisessem sair dali. Sabendo que não podia ficar ali por mais tempo, ele desceu da égua e desajeitado ao tentar dar a mão para que Adélia pudesse desmontar. Quase jogou-a no chão e ao ampara-la nos braços. O vestido foi se erguendo lentamente até cobrir-lhe o rosto.

__ Droga!
__ Não se preocupe! Não deu para você ver o meu coração...
__ Mas, eu pude ver sua alma! – disse encarando-a nos olhos e deixando-a sem jeito.
__ Vamos descansar um pouco aqui antes de voltar... – disfarçou.
__ Também estou exausto e esse silêncio é tentador.
__ também acho! – concordou Adélia deitada na relva a olhar para o céu alaranjado.
À noite na casa de Adélia quando todos se preparavam para jantar, eis que surge á porta, Mariana de calças jeans e com uma blusa de um rosa bem claro e com os cabelos sempre soltos, mas desta vez com um ar de ingenuidade que quase incomodava-a.

__ Oi, Mariana. Venha entre, nós estávamos a sua espera. A vovó fez um frango com pequi daquele que só ela sabe a receita, não é dona Micaela?
__ Sempre elogiosa, essa minha neta.
__ Boa noite seu Cinézio e dona Louise... e dona Micaela, o eu frango com pequi e de comer rezando...

Enquanto Adélia e Mariana conversavam e arrumavam a mesa, Louise observava-as em silêncio.
Capitulo 03

__ O que lhe incomoda, mulher? – perguntou Cinézio um pouco desconfiado.
__ Essa menina, Mariana... há algo nela que eu não sei... não consigo dizer se é bom ou se é ruim... ela diz uma coisa mas... eu não sei... eu não consigo ver...
__ Quando você fala é melhor ficar de olho. Porque a nossa filha tem essa menina como sua melhor amiga. Eu vou falar com Adélia depois...
__ Deve ser cisma minha... ela sempre noz tratou muito bem... vá buscar o rapaz para jantar, ele deve estar faminto.
__ Por falar nele... eu ainda não tinha conhecido ninguém que trabalhasse tanto e tão bem.. Com esse você acertou. Ele é honesto, trabalhador e generoso. Deixe que eu vou chama-lo.

Quando Marinaldo entrou na sala de jantar, todos já estavam à mesa, e ao reconhecer Mariana lançou-lhe um sorriso discreto. Adélia sentindo-se desconfortável, porém lucidamente educada, levantou-se e foi ao encontro dele.

__ Mariana este é o Marinaldo. Do qual lhe falei hoje cedo, e ...
__ Eu já sei minha amiga, hoje quando sai da escola, eu fui à casa da Andreza com a Romilda apanhar um livro e voltei pelo caminho do açougue e passei pelas terras de seu pai, e quase joguei-o no chão quando ele banhava-se.

Adélia fitou-a furiosa e estupefata, mas, encoberta pela fúria havia uma magoa incomensurável.

__ Algum problema, minha filha?. – quis saber a sua mãe.
__ Não mamãe, nenhum. – Adélia olhou-a com incredibilidade total
__ Então vamos jantar, já que todos se conhecem.

Após o silencioso jantar, seu Cinézio sentou-se em sua poltrona e chamou a todos para conversar um pouco. Louise sentou-se ao lado de Adélia e Mariana sentou-se na outra ponta do sofá e em frente delas, ficou Marinaldo e dona Micaela.

__ Você deve estar estranhando esse calor, não é rapaz? É que não sopra mais vento nessa região. Já faz mais de dois meses. E é estranho que aqui sempre havia vento. Desde de que a minha filha nasceu o vento sempre a acompanhava. Ela até ganhou o apelido de “Adélia dos Ventos”, mas depois do incêndio que teve aqui em casa. Desde de aquele dia, ninguém mais notou nenhuma brisa, eu não me lembro de nenhuma brisa por aqui.

O olhar de Marinaldo percorreu por toda a sala, como se procurasse pelo vestígio do incêndio ou que pudesse ver algo se movendo, uma cortina ou a chama de alguma vela ou se a fumaça que as lamparinas soltavam ao ar pudessem se movimentar, mas, nada se movia.

Para o coração de Adélia ainda restava uma esperança de após ouvir aquela estória, que ele pudesse dizer que fôra ele quem a salvara, mas, ela só conseguia lembrar de um rosto, que talvez fosse apenas um rosto criado por sua imaginação. Pois, não lá passado, só o presente e a ausência de onde renascem os mortos e então ela amuou-se como de costume.
Estava presente mas ao mesmo tempo ausente, olhava pela janela, sozinha, a olhar para a lua que distante lá no céu parecia lhe sorrir. Já Mariana nunca lhe pareceu mais expansiva, mais sem pudor e se atirava com olhares para Marinaldo, que comedido não ousava compartilhar da animação dela.

Ao levar a jarra de suco para cozinha, Marinaldo lançou-se sobre a bandeja de copos, e ajudou Adélia com a louça.

__ O jantar pareceu-lhe um suplício, Adélia!
__ Pegou-me de surpresa a revelação de que já havia conhecido minha amiga!
__ Ela surgiu nessa manha pela fazenda e quase chocou-se comigo, parecia aturdida pelo sol. Nada além disso...
__ Não precisa explicar-me! Eu apenas fiquei um pouco surpresa. Coisas de mulher!

O reflexo das lamparinas davam a ela um dourado em sua pele e mais brilho em seus olhos quase transparentes. Por um breve instante, ela pôde sentir seu peito arder quando ele tocou-lhe os ombros com ambas as mãos, maiúsculas, fortes e pesadas. Se não fosse pela penumbra em que a cozinha se encontrava. Ele poderia ver que o desejo foi descendo por seus ombros, chegando aos seios pontiagudos embora fartos, os bicos quase furavam-lhe o vestido e passando por sua barriga, causava-lhe arrepios e descia até seu ventre e coxas, deixando-a com as pernas enfraquecidas.

De volta à sala e depois de quase quatro horas de conversa, Mariana levantou-se para ir embora.

__ Deixe-me leva-la até sua casa. – ofereceu Marinaldo como já esperava Mariana.

Ao longo do caminho, Mariana falava e falava. Mostrava-se sem reservas. Contava-lhe em resumo toda sua vida, listava seus gostos; de cor; de fruta; de livro; de roupas e de pessoas. Sempre insinuava-se e mostrava-se disponível.
Marinaldo não mostrava-se entediado, mas limitava-se a ouvi-la, mesmo que aquele tipo de conversa não lhe interessasse muito. Ao parar diante do portão de sua casa, ela pediu para que ele a aguardasse enquanto apanharia lá dentro um livro. E quando retornou trocara de roupa e pusera um vestido curto e transparente, que sob a luz da lua podia-se ver claramente, que ela estava nua por baixo.

__ Meus pais já estão dormindo! Você não quer sentar-se comigo no banco que existe lá nos fundos() – ela parou a dois metros de distância dele, para que ele pudesse ver que ela nada usava além daquele tecido fino.
__ Não acho que devemos e você vestida assim! – ele falava pondo uma das mãos na cabeça demonstrando um certo nervosismo.
__ Não creio que haja em min nada que não lhe agrade. Melhor, que você não tenha visto ainda ou que não tenha querido ver...
__ Melhor não!
__ Por que resistir? Ninguém vai nos ver aqui! E nós podemos fazer o que quisermos, pois, nessa hora não passa ninguém nessa rua. – Mariana aproximou-se um pouco mais de Marinaldo e ergueu o vestido e lançou-lhe ao chão e com os olhos cerrados, pôs as mãos na camiseta dele e tentou retira-la. E baixando uma das mãos, segurou o short baixou-o até o chão. Num gesto rápido, ele ergueu-o de volta e fitou-a com força no olhar.
__ Eu não vou arrancar pedaços, calma! – ela falava com suavidade e com muita sensualidade.
__ Melhor que eu vá agora e que você vista-se...
Antes que ele pudesse perceber qual seria à atitude dela, Mariana puxou com força o short dele para baixo, e lançou-lhe a perna direita em volta de sua cintura e prendeu-o e agarrado a ele, beijou-o com sofreguidão.

__ Diga que não está gostando disso? Pois, seu amiguinho parece-me muito animado ai embaixo... não é melhor pô-lo dentro de min do que deixa-lo pulsando entre as minhas pernas?
__ Você não está entendendo nada! Não se trata de estar gostando ou não! Sei que não há ninguém e que podíamos nos deitar aqui mesmo. Mas, e depois, como vai ser? – disse-lhe empurrando-a quase jogando-a ao chão.
__ Pensa que pode rejeitar-me assim? Quem você pensa que é, hã? Acha que sou sonsa feito a Adélia? Eu sei o que eu quero!
__ Pare de se comportar feito louca! As coisas não são simples assim! Pela manha você me mostra o seio e a noite fazemos amor... não somos animais... pense o que quiser e seja quem você quiser ser... eu vou embora e obrigado pelo livro, ao termina-lo lhe devolverei...

Quando Marinaldo ia entrar no seu quarto, ele viu Adélia sentada no canto junto à cerca no quintal.

__ O que faz acordada?
__ Eu não conseguiria dormir enquanto você não chegasse. Não agüentaria esperar até amanha para saber o que aconteceu entre você e Mariana! – com o rosto voltado ao chão e com vergonha nas palavras, Adélia calou-se.
__ Nada aconteceu! Ela contou-me sobre tudo que acontece aqui. Disse onde vocês compram roupas; que não sei quem trás da capital; perfumes; esmaltes e jóias. E falou por longos dias e só. Você está apenas preocupada com ela... por que?
__ Ela é minha melhor amiga e você chegou hoje na cidade. Vindo de não sei onde e ela é muito ingênua...
__ Espere um pouco! Você pensou que eu pudesse fazer-lhe mal?
__ Não, não! Mas, você pode ser um conquistador...
__ Pareço-lhe um conquistador? Bem... olhe... tem que ser sincera!
__ Desculpe-me, não tive a intenção de ofende-lo e estou sendo estúpida com essa conversa sem sentido. Não tenho o direito de me meter em sua vida assim. Você já é grande demais para guia-la sem que alguém tenha que ensinar-lhe. – ela começou a soluçar.
__ Eu não fiquei ofendido! Você é diferente... não sei... e é bom saber que você se importa comigo assim...quanto a sua amiga, acho que não deva preocupar-se demais com ela, aquela lá sabe bastante e muito mais do que você imagina. – disse enigmático.
__ Boa noite e durma com Deus!
__ Espere, Adélia! Deixe-me enxugar-lhe essas lágrimas. – ao tocar-lhe a face, Adélia sentiu-se envergonhada demais para permanecer ali, ao tentar afastar-se dele, recebeu um beijo no rosto antes de entrar em casa.

Adélia caminhava sem pressa para chegar à escola quando Mariana aproximou-se.

__Está com ótima aparência! Parece que cresceu de ontem para hoje... há algo que queira me contar sobre ontem? além do que já me contou Marinaldo? – de repente, a despeito de todas as promessas que fizera a si mesma durante a noite. Fitou-a com um olhar perscrutador.
__ O que ele lhe contou? – torcia para que ela não soubesse o que fizera de verdade e sorriu para ela enquanto esperava que ela lhe dissesse logo.
__ Bem... que vocês conversaram e que você emprestou-lhe um livro de poesias de Fernando Pessoa. – Adélia sentiu vontade de lhe contar as suas preocupações, mas confiava na honestidade de Marinaldo e pensara no que dissera a respeito de Mariana.
__ Então foi só isso! – disse meia constrangida.
__ Existe algum interesse por ele?
__ Ele é interessante e parece ter muita certeza e jeito para morar aqui nessa roça. Às vezes penso que vou ficar doida aqui! – sorriu disfarçadamente.
__ E você? – Adélia teve vontade de lhe dizer que sentia algo novo, um sentimento bom, mas não lhe pareceu direito. Sentia como se ele estivesse morando lá há uma eternidade.
__ Não o conheço bem...mas acho difícil que venha ficar aqui por muito tempo... já esteve em vários lugares e nunca ficou. Mas, ele é um homem maravilhoso, um trem bão... às vezes tenho a impressão de já conhece-lo há anos. E com ele morando lá em casa e nos vendo todos os dias... não sei... vejo que ele me olha de forma carinhosa... e se?
__ Se o que?
__ Se nos apaixonássemos? Somos duas pessoas livres e não consigo pensar numa combinação melhor... nunca conheci alguém como ele e provavelmente conhecendo bem a minha sorte, nunca conhecerei. E penso em não deixar escapar essa oportunidade... cansei de tomar notas das exigências que faço de min mesma. No final, sei que vou acordar velha um dia e tudo estará acabado.
__ Isso não é verdade! Você é apenas devagar... já enfrentou dificuldades antes...

Adélia carregara sozinha um grande peso nos ombros, e por muito tempo. Mariana fôra a única pessoa que lhe aliviara ao menos alguns dos fardos, durante um longo período de sua vida.

Todas as recordações daquela tarde, a cavalgada à dois, inundavam-lhe a mente. Mais uma vez encontrava-se deitada sob as folhas, sentia o cheiro da lenha queimando ao longe e entregue as lembranças de estar nos braços de Marinaldo e de sentir-lhe o calor que lhe provocara dor física. Que importância tinha a promessa feita a si mesma diante do alvoroço do coração, do desejo ardente de ser beijada e acariciada. Tinha consciência de que dificilmente resistiria por mais tempo.
Capitulo 04

As mãos dele em suas coxas e os quadris contra sua nádegas , Adélia continuou a relembrar. Fôra apenas um contato rápido, pois, ele se afastara logo. Havia alcançado a linha, que uma vez atravessada, não ofereceria ponto de retorno. Ela marcava o limite da inocência de Adélia. Embora o sofrimento por qual passara já a houvesse quase destruído tudo nela.
Tudo que Adélia queria naquele momento era compartilhar as aflições e temores. Transferir o fardo pesado de seus ombros frágeis para outros mais resistentes! A oportunidade estava ali, ao seu alcance. E como adoraria sentir outra vez o amparo daqueles braços, o aconchego do peito onde poderia recostar o rosto e chorar à vontade! Adélia suspeitara de seus sentimentos e também notara os olhares que recebia de Marinaldo.

O tempo passava. Já lá iam três semanas da chegada de Marinaldo ao vilarejo. A euforia dos primeiros dias tinha dado lugar a um sentimento mais sólido. E ao revisitar os lugares que mais gostava encontrava-se feliz. Às vezes cavalgava percorrendo vastas áreas, todavia sempre passava pela trilha de seu primeiro passeio. Até então tinha tido sorte, pois, não encontrara mais a necessidade de se esconder em tristeza. Seus pensamentos entretanto, não eram tão obedientes quanto sua razão. Sem esperas, ela se apanhara refletindo sobre Marinaldo.
Essa era uma experiência nova. Jamais a imagem de um homem tinha ocupado sua mente de maneira tão persistente e desafiadora. Desde de que seu noivo a abandonara. Era como se ele fosse uma pessoa intima, e não uma pessoa com que se encontrara duas vezes. Contra sua vontade, reconheceu que gravara na memória, cada palavra e cada gesto que ele fizera.
De qualquer forma, ela sabia que não estava mais à beira do abismo. Com um único passo o havia cruzado e pretendia continuar na outra margem. Adélia sabia que não voltaria ao estado deprimente em que se encontrara. Nada mais poderia dete-la, tinha a sensação de ser invencível e capaz de fazer muito mais por si mesma, do que vinha fazendo ao próximo.
Desde de antes de sua horrorosa experiência pessoal, Adélia vinha lecionando para as pessoas do vilarejo. Reergueu a escola; formou outras professoras; fez multirões para que todos no vilarejo pudessem ter uma vida melhor. Assim era querida por todos, e todos a tinham como uma figura forte e amiga. Alguns a considerava uma heroína.

__ Posso lhe interromper esses pensamentos?
__ Claro, vózinha!
__ Não perca mais tempo. Vá atrás de sua felicidade.
__ Do que está falando, vó?
__ Daquele rapaz que está arando a terra para o plantio... lá na fazenda! Você o ama, não é?
__ Vó! Como soube?
__ Esse brilho nos seus olhos e esse ar feliz... não deixe que o medo lhe atrapalhe e não se esconda atrás do passado... vá em frente e sempre!
__ Às vezes, eu acho que a senhora não existe ou que é um anjo em minha vida.
__ Sou apenas uma velha cansada...
__ Para min, a senhora é a minha fada madrinha, que sempre sabe me alegrar.
__ Filha, você merece ser feliz e esse rapaz já mostrou ser alguém justo e honesto. Não tenha medo, e procure-o e diga o que sente. Ele também sente algo por você.
__ A senhora tem razão! Eu vou procura-lo após a aula!


Na volta da escola, ela decidiu ir até a fazenda com uma desculpa tola, no fundo queria mesmo era ver Marinaldo trabalhando. Parou diante da cerca de madeira e sentiu uma onde de choque percorrê-la e ao mesmo tempo, uma ânsia havia muito esquecida no estômago. Diante dela ao longe, Marinaldo e Mariana conversavam e mesmo sem poder ouvi-los, Adélia não conseguia imaginar qual seria o assunto que teriam, pois, acabara de conversar com a amiga e ela nada disse que o veria tão depressa.

__ Marinaldo! Gostaria de pedir-lhe desculpas pelo meu comportamento de ontem à noite! Eu enlouqueci desde daquela hora em que lhe vi tomando banho e só pensava em me deitar com você e acabei sendo vulgar...
__ Você pareceu-me bem acostumada nesse papel... apesar de ser uma mulher bela e desejável... acho que gosta de fazer esse tipo... mas, é preciso um pouco de cautela, não sou todos que gostam desse tipo de relação...
__ Bem, eu gostaria de saber se podemos começar de novo... – o rosto delicado e jovial dela brilhava no contato com o sol.
__ Apenas amigos! – a resposta seca e sem emoção a fez corar, para logo em seguida jogar-se contra ele e o beijar no rosto.

Adélia de longe não pôde ver onde ela o havia beijado, por Mariana estar na sua frente e assim mal conseguiu mover-se e sem direção saiu correndo, pelo mesmo caminho que veio e deu de cara com Andresa.

__ Andresa! Desculpe-me... é que estou meio que com presa...
__ Adélia! Você está chorando... o que houve?
__ Nada! É que... – Andresa olhou por cima dos arbustos e viu ao longe, Mariana conversando com Marinaldo e não precisou muito para entender o que acontecera.
__ Então era esse o plano de Mariana?
__ Plano? Do que você está falando?
__ Ontem, ela foi até minha casa com a Romilda após a aula para apanhar um livro do Fernando Pessoa.
__ Você acha que...ela não gosta de Fernando Pessoa... e ela disse que veio aqui com Romilda acompanha-la para ver um cavalo e esbarrou nele e ele se interessou pelo livro e a pediu emprestado...
__ Sabe de uma coisa... eu não acho... eu tenho certeza... esse trem está cheirando mal... acidentes e coincidências...
__ Mas, ontem ela foi jantar lá em casa e me contou que já o havia conhecido. Só que quando eu a convidei para apresenta-lo, ela disse-me que não estava querendo conhecer ninguém ontem...
__ Ela deve ter mudado de idéia... à que horas você a convidou ontem?
__ Às sete e meia da manha!
__ Sei que ela é sua amiga, mas, Adélia tome cuidado. Eu sempre achei-a falsa, armadora e maldosa. Depois do que ela fez com a minha irmã, principalmente.
__ Hoje pela manha, ela perguntou-me se eu estava interessada nele e eu disse que sim, e ...
__ E ela adiantou-se e veio conferir primeiro... o que você fará?
__ Nada! E você não dirá que estivemos aqui, afinal, ela não está fazendo nada de errado. Eu não tenho nada com ele e eles são livres e desimpedidos. Tem o direito de fazer o que quiserem...
__ Mas, você não acha estranho o que ela fez para conseguir essa oportunidade?
__ Confio que ela deva ter os seus motivos! Vamos esquecer tudo isso e voltar para casa.

Desta vez, Adélia conduzia sua égua para um lugar onde era exatamente onde queria estar. Montada sempre com a montaria em pêlo. Ela segurava as rédeas como se segurasse sua vida e direcionava ao lugar certo. Ela sabia o que queria fazer e onde queria ir.
Ao longe dali, ela podia ouvir o costumeiro som estridente, choroso e solitário do berrante, sendo tocado por algum tocador de gado. E cavalgando sempre em frente, Adélia levava a marcha até o Poço das Capivaras. Uma volta fechada do Rio Jururu, onde além das capivaras, encontra-se com tamanha facilidade: Cachorro do mato, Antas e Tamanduás Bandeiras. Nesta pare fechada do rio, nessa reserva, os animais vivem protegidos e livres e esse era o motivo de Adélia querer cavalgar por ali. Porque ela estava sentindo-se como eles, livres e protegidos, dentro daquela vegetação de mato grosso goiano.
Arvoredo basto e extenso cercado de vegetação nativa produzindo uma selva espessa e longa, com parte da mata fechada, onde horas, anos e minutos não fazem diferença para quem se encontre ali.
Adélia livre, bela, menina de corpo crescido. Corria por entre árvores, feliz, sonhadora e mulher. Descansava nos lençóis do rio, mergulhava nas águas cristalinas, e deitava em sua margem. Satisfeita, esperançosa e segura.
Ao chegar em casa depois da aula na escola, encontrou em cima de sua cama uma flor do cerrado, que certamente fôra deixada lá, por Marinaldo, que no dia anterior, Adélia revelou que essa era sua flor predileta. Com sua cor lilás manchada ao centro de brancura serena, parecendo ter sido cortada de uma folha de papel. E Adélia tinha certeza de quem colhera aquela flor fôra Marinaldo, já que ela estava conversando na varanda com sua vó, Micaela e só ele é quem estava por perto.
Era evidente a tentativa de agrada-la ao deixar a flor ali em sua cama, tudo era evidente, as aproximações, os olhares, os sorrisos e a vontade. Adélia percebia que os sentimentos nasciam apesar de não encoraja-los, mas, as batidas do seu coração a impulsionavam para um caminho já não mais pisado por seus pés. Ela não pensava mais no que perdera e se afastava das marcas que foram deixadas no seu caminho. Ali correndo atrás das capivaras com risos que afugentava todos os macaquinhos saguis, nas árvores próximas e ela assim, era feliz.
Os olhos azuis tristes e sem vida, brilhavam com alegria, de aparência indiscutivelmente clara. Adélia como todos já haviam esquecido de como era, inclusive, ela mesma. Retornava ali, correndo, erguendo a barra do vestido com as mãos, deixando os cabelos ondulados irem de um lado para o outro como ondas de um mar nunca visto por ela. Retornava ali, a vida que se desprendia de dentro daquele coração. Com os pés molhados e soltos, com o som do riso e da água pisada com os pés velozes, assim renascia a menina, a mulher, a força e a vida, assim ressurgia Adélia.
Com a flor do cerrado na mão, ora levando-a aos lábios ora levando-a contra o peito, Adélia transferia todo amor contido para a frágil flor e ficara horas a olha-la com olhar de ternura, de procura, de encontro e de amor.
Sentia-se uma boba, por beijar uma flor, mas, queria sim, beija-la, abraça-la e dormir ao lado dela. Coloca-la em sua cama sob seu travesseiro e adormecer com seu odor. E na sua mente, a imagem de Marinaldo, até que o dia chegue e traga-lhe o sol como luz em sua vida.

Adélia sabia que estava tudo errado, mas, o que poderia fazer, pensava, sozinha, e se ela não contara nada do que aconteceu pela manha... é que isso é da intimidade dela.
Voltara a fitar o céu com uma expressão triste e um olhar longínquo e mergulhara em sua tristeza e perguntas sem respostas. As mesmas que voltavam sempre e sempre. Sentada no banco da varanda perdia-se em pensamentos longos e ficava vendo as estrelas que nasciam no céu. E nem percebeu a chegada de Marinaldo.

__ Que susto! Quer me matar?
__ Claro que não! Mas, gostaria de convida-la para dar um passeio... o que você me diz?
__ Espere que eu vou avisar a minha mãe.

Logo os dois se distanciaram das poucas casas que haviam no vilarejo, e depararam com uma chapada linda e de vegetação verdíssima. Que parecia haver passado um grande rio, em tempos anteriores, mas, era apenas a erosão e ali nunca havia sido nada além de um grande terreno acidentado.

__ Por que me chamou para vir aqui?
__ Porque a sua companhia é agradável e adoro conversar com você.

Adélia sentada na grama com suas coxas esguias, uma por cima da outra com os braços e cabelos jogados para trás, era uma bela visão.

__ Tenho medo de ser atrevido, mas, você assim... sentada ao meu lado... linda... possível... perto...alcançável... faz-me ser imprudente e sonhador... além de cultivar uma enorme vontade de... de beija-la...

Adélia lançou-lhe um olhar vazio e ele sem entender jogou-lhe os braços em volta dos ombros e pôs sua boca contra a dela e forçando jogou-lhe a língua dentro da boca de Adélia que levantou os olhos e embaraçada fitou-o com uma expressão decepcionada, e de repente percebeu que seu coração se despedaçara. Ela enrubesceu, era embaraçoso admitir que estava ali, e parecia tão irreal. Inspirou longa, lenta e profundamente. Nem pensara numa coisa dessa, supusera que ele fosse um mortal comum, não o Deus grego que havia dito a sua amiga, o homem dos sonhos de qualquer mulher, porém um cafajeste. Adélia ficou olhando para o rosto dele como se ele estivesse a dois dias dali.

__ Desculpe-me, Adélia... não tive a intenção...
__ Como pôde?
__ Isso nunca mais vai acontecer, eu prometo... – Marinaldo virou-a gentilmente para si e passou sua mão pelos cabelos dela e olhando-a nos olhos, e sentindo-se com dez mil anos de idade.
__ Você acha que poderá enganar a min e a Mariana ao mesmo tempo?
__ Espere! O que tem a Mariana a ver com isso?
__ Primeiro você conquista uma e depois a outra...
__ Como conquista uma e depois a outra, do que você está falando?
__ Espera ficar enrolando e enganando as duas por quanto tempo?
__ Do que está falando? Eu não tenho nada e nem quero ter com a Mariana...
__ Então por que se encontrou duas vezes com ela na fazenda, como fez hoje?
__ Ela é quem esteve lá e foi apenas isso...
__ Chega de mentiras! Eu os vi se beijando, hoje de manha... – não conseguia mais falar, deitou-se de bruços na grama enquanto soluçava, e ele começou a lhe alisar suavemente as costas e os cabelos. Ela queria manda-lo embora, mas, não tinha forças. Não conseguia acreditar no que ele tinha feito e o que isso revelava a respeito dele era muito doloroso.
__ Gostaria que acreditasse em min... – ele deitou a cabeça em suas costas e com um ar infeliz soluçou.
__ Por favor! – ela estava magoada demais para sentir raiva, apenas sentia uma grande dor.
__ Oh... Deus... meu bem... por favor! Se eu pudesse eu arrancaria essas lágrimas desses olhos tão bondosos e lhe colocaria um sorriso, para que sempre venha a sentir-se feliz... não quero perde-la...
__ Devia ter pensado nisso antes de tê-la beijado. – sua voz era de derrota. Adélia sentou-se enquanto ele aninhou-se em suas coxas.

Adélia não sentia-se tensa ou cansada de tanto trabalhar. Sentia-se apenas abatida e infeliz. Sentada com ele ao pé da chapada. Pensava no que havia naquele homem que a envolvia, com uma sensação de bem-estar e conforto, uma espécie de calor que a acalentava. E ali estava ele indefeso, ingênuo, feito uma criança amedrontada. E ele beijava delicadamente ora uma coxa ora a outra. E ela ali inerte feito uma menininha, de bermuda jeans e camiseta velha, com os longos cabelos loiros espalhados nas costas. A preocupação aos poucos foi desaparecendo e seu rosto e de seus olhos. Ela se encontrava relaxada e serena.


Capitulo 05

__ Você precisa confiar em min... não houve beijo... apenas no rosto... acredite... – suplicava baixinho.

Adélia fitou-o bem nos olhos e sentiu algo agitar-se dentro de si, bem no intimo. Ainda não sabia bem o que sentia por ele ou se quer devia permitir-se pensar no assunto. Era tão desagradável do jeito que as coisas estavam! Mas, era estranho como ele se tornara importante para ela, o quanto necessitava saber que estava ao seu alcance, de alguma forma e que poderia conversar com ele, se fosse preciso. Não conseguia mais imaginar a vida sem ele.

__ Você significa muito para min... não sei se faz muito sentido, não é? Nunca chegamos a passar um tempo junto, na verdade... – a voz dela foi sumindo.
__ Talvez isso seja o bastante... sinto como se a conhecesse melhor do que qualquer outra pessoa.

Era isso o mais espantoso nele. Ela o conhecia e sabia que ele também a conhecia como realmente era. Com suas cicatrizes, temores e pavores particulares. Assim com toda as suas forças. Permitiria que ele a conhecesse mais de si mesma do que qualquer outra pessoa. o lado engraçado; vivo; a parte forte e sólida de seu ser. Mas, por enquanto não tinha certeza se confiaria nele o bastante para isso.

__ Você também significa muito para min! Eu vou provar que nada aconteceu entre min e Mariana. Não tenha medo de acreditar em min. – era uma coisa segura a ser dita, porém nada parecia ser seguro no momento. Ambos estavam pisando em terreno delicado. Ela o pressentia. Ficou olhando para ele, que se inclinou e beijou-lhe a face com ternura.

Adélia assentiu e a coisa ficou mais fácil para ela depois que ele disse aquilo, e de repente parecia espantoso que o tivesse conhecido apenas por duas semanas e que já estivesse confiando no que dissera e entregando-lhe os sentimentos assim.

__ Adélia! Eu sempre lhe direi a verdade, sobre o que eu sinto e o que eu quero. Lembre-se sempre disso! – ficaram em silêncio por um momento, cada um imerso em seus pensamentos. Ele lhe dera muito em que pensar.


__ Na vida há muitas coisas que dão medo. Geralmente, tudo que é bom. Pense em quantas coisas boas que já fez. Quantas foram fácies? – ela teve vontade de dizer que formidável era ele, mas, não teve coragem.
__ Marinaldo... é difícil para min deixa-lo... tudo que eu sei que... sinto... como é difícil...

A idéia da solidão dela o deprimia. Merecia mais do que isso, muito mais, merecia alguém maravilhoso que a amasse. Era boa; forte; jovem e sensata o bastante para passar o resto da vida sozinha. Sem dizer uma palavra sequer, passou a mão pelo ombro dela e espalmou a mão em sua nuca e puxou-a levemente e beijou-lhe os lábios tão carinhosamente quanto adorável.
Marinaldo não deixaria que essa estória de Mariana tivesse mais importância do que já tivera. Era suficientemente maravilhoso tê-la beijado. Não tinha nenhuma vontade de não sentir-se de novo daquele jeito e sabia que só se sentiria assim com Adélia. Era fácil imaginar-se amando-a ela era uma mulher formidável e admirável. E por esse motivo tinha que ficar ainda mais na defensiva com Mariana. Só assim daria a confiança de que estaria seguro na sua decisão. Agora, era sobre Adélia que derramava todo seu amor; cada sentimento; cada pensamento; cada segundo em silêncio. E dali a pouco Adélia resolveu que estava na hora de ir embora:


__ Amanha vai ser um belo dia para ambos!
__ Quem me dera ter certeza! – disse ela soltando um suspiro baixo – Às vezes eu gostaria de acreditar e ficaria aqui para que tudo isso pudesse durar para sempre.

Os olhos de Adélia encheram-se de lembranças distantes, ao pensar nos anos em que estivera sozinha. Mas, segura e protegida, ele pegou em sua mão delicada e prendeu-a por um momento.

__ Eu vou estar para sempre aqui com você. – os olhos dele eram meigos e se a luz da lua tivesse mais forte, ele a teria visto enrubescer.
__ Obrigada!
__ Será bom amar alguém como você! – disse isso ao acompanha-la até a porta da frente e foi tão inesperado que deixou ambos espantados.
__ Quero acreditar que será possível ama-lo também...
__ Já está sendo possível...
__ Digo, sem ninguém entre nós dois...
__ Não há ninguém e nunca haverá... só existe você aqui dentro do meu peito e será assim para sempre!
__ Eu cheguei a pensar que tudo seria apenas um sonho meu e que não se tornaria real...
__ Nós somos reais e viveremos o que temos para viver em amor!
Adélia sabia que não passaria muito do seu atarefado dia ao seu lado. Punha o despertador para às cinco e meia como em todas as manhas. Para certificar-se de que já estaria acordada antes que o galo cantasse em sua janela. Estaria pronta para que o dia lhe traria. Adélia acordou ante do alvorecer, na manhã seguinte, e a cama pareceu-lhe subitamente muito grande, porque dormia nela sozinha. Ficou ali, pensando em Marinaldo, deitado aos seus pés, em que freqüentemente seus corpos se uniram, tudo isso antes do alvorecer. Continuou ali enquanto o sol começava a entrar lentamente pela janela, sentindo-se pesada como chumbo, querendo nunca mais ter que levantar. Não sentia o horror e o pânico que experimentara quando eu noivo se foi, apenas vazio e perda, um tipo de tristeza abismal que pesava sobre ela como a lápide de uma sepultura. Voltava a pensar naquela perda repetidas vezes, e az palavras ecoavam em sua cabeça. < Fausto se foi... nunca mais o verei de novo...>. era quase meio dia, finalmente, forçou-se a sair da cama, e ficou tonta por um momento, ao por-se de pé. Estava com uma sensação de mal-estar e de vazio, pois não comera nada desde a manhã e nem conseguiria faze-lo agora. Az mesma palavras continuavam ecoando em sua cabeça... < Fausto e foi... nunca mais o verei...>. ficou meia hora no chuveiro, fitando o vazio, enquanto a água caía em seu corpo como chuva forte, depois levou quase uma hora para vestir os jeans, uma camiseta e um par de sandálias. Ficou olhando para o armário, como se com ele vivesse uma vida inteira de preciosos segredos, mas já passara por tal experiência uma vez e não podia permitir que aquilo a derrubasse de novo.
A principio, vivia obcecada com a pasmaceira daquele lugar, com o tempo, ela acostumou-se a prever os dias comuns.
Na hora do jantar, exausta, fez a oração antes da refeição e sorriu em direção ao pai. Após o jantar, saiu e foi sentar-se lã fora, para ver a lua, acostumara-se à sua solidão, aos próprios pensamentos, ao consolo de abrir a alma para o céu.

Os dias começaram a passar ligeiros. Na verdade era uma linda época do ano, a melhor possível, ma até mesmo o tempo fresco, dourado e ensolarado não a animava tanto. Estava pouco ligando para isso, e havia algo de morto em Zeus olhos ao se levantar todas az manhãs e se perguntar o que faria consigo mesma. Sabia que devia procurar esquecer sobre Mariana, mas não tinha vontade E Adélia também sentia como e estivesse superado a fase de morar sozinha, e as trocas de olhares e os leves toques nas mãos cresciam entre eles e o afastamento de Mariana, davam-lhe a confiança de que precisara para confiar nele. Em casa os dois só se encontravam na hora do jantar, ela quase nunca o encontrava na fazenda. Às vezes de longe e em outras bem próximo, quando tinha que levar alguma vaca à leiteria. Marinaldo sempre se oferecia para ajuda-la, embora tudo não passasse de uns poucos minutos, sempre acompanhado dos olhos de seu Cinézio e de dona Louise.

__ O que você está achando desses dois? – seu Cinézio começara a notar o brilho que se alojara nos olhos da filha.
__ São jovens e livres...
__ Acha possível que eles estejam de namoro?
__ Se você confia em sua filha, sabe que se ela tiver certa de vai namora-lo, ela contará para nós dois. Devem estar se conhecendo...
__ Eu faria muito gosto dessa união! Esse rapaz é muito trabalhador...
__ Nossa filha é quem sabe o que quer. E se for o desejo dela, nós dois a apoiaremos. Ela merece ser feliz! Mas, por enquanto eles estão apenas se entendendo e se conhecendo. Vamos deixa-los em paz!

Louise Fallenbach sempre foi muito centrada e observadora, sentia que a filha estava apaixonada, mas, lhe dava a privacidade necessária para que não sentisse nenhuma pressão. Pensava em como foi difícil para o amigo de Adélia: Peixoto Santin, quando foi trabalhar para os Andrades: Maciel e Cássia. O rapaz se apaixonou pela filha deles, Micheline e os dois sofreram o inferno, passaram tanta humilhação, que tiveram que sair de Cajás e foram para Goiana, para começar a vida por lá. Uma estória de amor que poderia ter sido linda, e acabara num escândalo. Só depois de um longo período é que eles aceitaram a união deles e arrependidos, imploraram para que a filha voltasse a viver perto deles. Os pais de Peixoto: Augusto do Maranhão e Luzia, como é conhecido por ter sido um dos primeiros que migraram do Maranhão para aqui. Mineradores de Cristal de Rocha, na época pobres, não tiveram tanta escolha e permitira a saída do filho e venderam quase toda parte de suas terras, e hoje sobrevivem com os cristais que retiram da pequena mineração que lhes sobrou.
Hoje, do outro lado do vilarejo, vivem Peixoto e Micheline, que cultivam umas cabeças de gado e esperam ansiosos a chegada de seu primeiro filho.

O dia seguinte foi um pouco melhor. Até que finalmente às 10:40, Mariana procurou por Adélia e lhe parecera aflita.

__ Calma, minha amiga! O que foi?
__ Adélia! Eu não sei como lhe contar... estou tão nervosa e envergonhada...
__ Se você não começar a falar, eu não poderei ajuda-la.
__ Fiz algo vergonhoso... uma loucura... eu tive um caso... eu me entreguei ao Marinaldo...
__ Como? Quando? – Adélia sentiu-lhe faltar ar no pulmões.
__ Aconteceu no dia em que ele me levou em casa... ele foi gentil e carinhoso comigo o tempo todo e retirou a minha roupa e deitou-se por cima de min e quando acabou levantou-se e eu tola deixei-me levar e acabei envolvendo-me e agora, ele nem me procura mais e o pior... acho que estou grávida...
__ Gravida?
__ Sim, a minha menstruação está atrasada há dois dias e já deveria ter chegado e nada... eu não sei o que devo fazer...

Adélia quisera não acreditar numa só palavra que Mariana estava dizendo e sentindo-se perdida, ela não sabia o que dizer ou o que pensar. Sentia sua vida ficar resumida; pequena; pouca e confusa.

__ E se meu pai descobrir? Ele vai me matar e depois matar o Marinaldo...
__ Ninguém vai matar ninguém! É preciso reparar o que foi feito!
__ E se ele fugir? Ele sabe o que fez e...
__ Devia ter pensado nisso antes!
__ Deus como fui ingênua, em acreditar nas promessas que ele fizera. – Mariana chorava copiosamente e Adélia tentava consola-la sem pensar em seus sentimentos. Cuidava para que a amiga acalmasse.
__ Vamos resolver tudo... conversarei com ele...
__ E se ele negar? – perguntou em desespero.
__ Contra os fatos não haverá como negar! E depois que eu conversar com ele, e espero que ele se porte como homem, que penso que ele seja.

Enquanto Adélia ia se afastando, cambaleante e lenta. Ela não percebera o sorriso que ficara estampado no rosto de sua amiga.

__ O que foi Mariana?

Essa era Isoldinha, negra de traços finos, de cabelos cacheados caindo em seus ombros, de olhos grandes e negros, sorriso charmoso, com seus dezenove anos e de uma feminidade notável, sua sensualidade no andar devido sua estatura mediana e seu evidente e lindo traseiro. Provocava elogios até das outras meninas, com sua voz rouca e pausada e sua pele lisa e jovial.

__ Nada, Isoldinha, Nada! Era só Adélia com os seus costumeiros lamentos. Mas, para que servem as amigas, não é mesmo? Como é Adélia para você?
__ Ninguém é mais meiga e gentil do que ela. Ela é carinhosa e aplicada, porém compassiva e triste...
__ Deve ser... levou pancadas que dariam para matar dez pessoas.
__ Mas não a mataram. Isso é que é mais espantoso nela. É mais meiga e gentil e franca do que qualquer pessoas que conheço...
__ Não acredito. – disse Mariana, sacudindo a cabeça.
__ Por que não? É verdade... ela...
__ Vamos até o rio nadar? – não a deixou continuar
__ Vamos! Mas, terá que ser rápidinho. Eu tenho que ir para colheita com o meu irmão...
__ Me conte se ele já conseguiu alguma coisa com a Romilda...
__ Ih, esse negocio não vai dar em nada! Esse meu irmão, o Jobson é muito devagar e romântico. Eu não acho que esse trem vai dar em nada. Ainda mais com aquela moleca!
__ Venha, Isoldinha! Apresse-se e desça aqui...
__ Você vai tomar banho nua?
__ E você também! Deixe-me ajuda-la a desabotoar esse vestido...
__ Espere e se aparecer alguém?
__ Logo estaremos dentro d’água e ninguém verá nada! Vamos tire logo essa roupa e deixe-me vê-la nua! Nossa! É por isso que os garotos ficam loucos quando você passa... essa sua bunda é perfeita e que corpanzil, e esses seios fortes e redondos... humn, dá até vontade de toca-los e beija-los...
__ Pare com isso... aqui não é lugar... tire suas mãos... pare... O que pensa que eu sou?... – como se o dia fosse a única testemunha, as duas brigaram, correram e nadaram sem parar.
__ Você não quer?
__ Eu não acho certo...
__ Bem, agora deixe-me tocar nesses seios! - com as duas mãos Mariana agarrou-os e começou a massagea-los com experiência levando-a à loucura.
__ Acho melhor parar que eu já estou fervendo de raiva... e não tem ninguém, aqui para me apartar de você e esse fogo!
__ Parar!! Ainda nem passei a minha língua nesses bicos. – ao pôr a boca e sugar-lhe um dos seios de Isoldinha, a menina soltou um gemido baixinho, porém interminável.
__ Assim não eu nunca fiz isso ... assim não para... assim não para...
__ Deixe-me beijar essa boca! Quero sentir esses lábios carnudos no meu pescoço. Você acha que eu não sabia que você topava de tudo... eu já tinha visto você olhando para os meus seios e eu sempre quis fazer isso com você...
__ O que você quer fazer? Eu sempre gostei do Antônio e ele nunca me olhou... dizem que sou estranha...
__ Tudo! Abra as pernas e coloque uma dessas coxas grossas entre as minhas. Quero me esfregar em você enquanto beijo essa boca linda. Assim... esfregue na minha coxa e vamos aproveitar juntas essa gostosura, esse trem bão...

depois de horas em êxtases, as duas deitadas as margens do rio, exaustas, caladas e abraçadas. Trocavam olhares de arrependimento.

Capitulo 06

__ Como você descobriu que tenho um problema? Eu nunca disse nada à ninguém.
__ Fácil! Linda como você é e nunca lhe vejo com os garotos. Está sempre com um ou com outro e sempre escondido e com algumas meninas estranhas...
__ Você não vai contar nada à ninguém, vai?
__ Claro que não! Descobrirem que você é uma putinha, que gosta de mulher! Esse será o nosso segredo e você me fará um favorzinho...
__ O que você quer que eu faça e será algo que eu vá me arrepender?
__ Arrependerá é se não fizer esse favor! É só um idiota que me enganou, me iludiu e me possuiu e agora está me desprezando. Farei com que ele case-se comigo e depois vou joga-lo fora. Para que ele sinta exatamente o que eu senti. quero acabar com
ele.
__ O que tenho que fazer?
__ Bem simples! Vai dizer para Adélia que a umas três semanas atrás, você foi a noite em minha casa apanhar um livro de português e viu o Marinaldo e eu fazendo amor...
__ O que? Você fez amor com aquele rapaz que está trabalhando na fazenda do seu Cinézio?
__ Meu bem, você não está entendendo! Ele me enganou e eu quero me vingar. Você só precisa dizer que esteve na minha casa naquela noite, para me pedir o livro de português e nos viu no quintal, na frente da casa... fazendo... você sabe...
__ Contar isso para Adélia. Eu não estou entendendo porque dizer isso para ela...
__ Você não tem que entender nada! Vai contar para ela hoje, antes das cinco da tarde.
__ É minha impressão ou está me chantageando?
__ Só precisando de um favor!
__ Tudo bem! Não sei o que isso pode ser! – Isoldinha ficou pensativa.
__ Não faça essa carinha, vai!
__ E se o seu plano der certo. O que será depois?
__ Eu me casarei com ele e se quiser poderemos ser amantes. E quem sabe até dividir a cama os três!
__ E o Antônio?
__ Todos pensam que eu gosto daquele bobão... espere ai! Não me diga que gosta daquele idiota?
__ Ele não é um idiota! Acontece que sempre fui louca por ele, mas, ele nunca teve olhos para min. Talvez por isso tenha feito tanta besteira por aí!
__ Acho que posso lhe pagar pelo favor!
__ O que vai fazer? Dizer a ele que gosto dele?
__ Sei como fazer isso! Confie em min! E faça a sua parte direito!
__ Vendo dessa forma!
__ Parece que está aprendendo! Agora, vista-se e vá fazer o que deve ser feito, que eu vou falar com ele.
__ Tenho medo do que falará para ele!
__ Como você é medrosa!
__ É que ele pensará que sou fácil!
Mariana marcara um a um dos seus passos, e agora entrara num ponto em que seu jogo entrara na reta final.

__ Antônio!
__ O que foi, minha irmã?
__ Mariana está lá fora querendo falar com você.
__ Obrigado, minha irmãzinha! Já estou indo!

Mariana vestira uma saia azul curta e uma blusa fechada de cor amarela e antes que ele chegasse ela retirou o sutiã para que os seios pudessem ficar visíveis e sedutores. Fez um ar de entediada e desprotegida. Sentou-se no muro e deixou às coxas à amostra. Para que Antônio tivesse uma visão total delas.

__ Mariana, que boa surpresa, uai! – seus olhos foram diretos até as pernas dela.
__ Meu amigo! Eu preciso falar com você.
__ Conversar comigo! Sempre é um prazer conversar com você!
__ Sabe o motivo que me trouxe até aqui? Nem tente pensar, você jamais saberia. Venho falar de uma amiga e ela nem pode desconfiar que falei contigo. A Isoldinha! Ela vem há dias dizendo-se apaixonada por você. Escreveu seu nome no diário e sabe tudo sobre você. Por isso, eu sempre evitei me interessar por você. Por saber o que ela sente...
__ A Isoldinha! Ela nunca olhou para min...
__ Homens são todos uns cegos! Ela sempre sonha com você!
__ Sonha comigo?
__ Sim! Ontem mesmo ela me contou que sonhou contigo lá pelado no rio e depois...vocês... sabe... ela disse que passou o dia todo sentindo as suas mãos no corpo dela...
__ Ela é tão distante!
__ Deve ser por você ser virgem. Ela disse que isso a afastaria de você. Por pensar que você não passa de um virgem. E ela disse que se você quiser ela o espera amanha de manha na margem do Rio Jururu ...
__ Amanha de manha?
__ O que está acontecendo com todos? Ficam fazendo perguntas o tempo todo! Se você deixar de ser virgem quem sabe eu também não me interesso em você. Ela disse que se você não quisesse depois que ela aceitaria. A não ser que você esteja com medo de uma mulher...
__ Se você não quiser se arrepender... não repita isso novamente!
__ E o que fará? Arrancará a minha saia e vai me provar que és macho? Deixe de ser virgem e depois a gente conversa, verei se é macho mesmo.
__ Eu não sou virgem!
__ Prove-me! Vá à esse encontro e mostre o que sabe fazer. Depois se for bom mesmo, eu vou querer comigo também ou não passa de um maricas...
__ Diga a Isoldinha que estarei lá amanha e depois pergunte a ela se sou maricas...
__ Vamos ver! Cachorro que muito late não morde, meu bem... se você fizer direitinho, eu deixarei que faça comigo.

Mariana levantou a saia e mostrou-lhe a calcinha e saiu correndo e deixando-o de boca aberta, nada disse, ficou apenas com os olhos de sonhador.

Ela ainda precisava fechar o círculo de seu plano e foi procurar a irmã de Antônio, Janeth, a adolescente de 16 anos, morena de pele acetinada, de cabelos castanhos curtos, pequenina feito um bibelô.

__ Oi Mariana! Você veio falar com meu irmão e voltou. Vai dar trela à ele?
__ Quem me dera... o seu irmão agora só tem olhos para Isoldinha...
__ Ele nunca me disse nada sobre ela. Ele sempre fala de você, que estranho!
__ Eu fiquei marcando touca e quando pensei que ele estivesse mesmo querendo um negocio sério comigo. Ele só queria é o que está tendo com a Isoldinha... fazer sexo... sabe... eu não devia lhe contar nada... sabe... eu estive aqui aquela hora para marcar um encontro entre ele e ela... sabe... queria ver se ele teria coagem de ir... sabe... e ele me humilhou... dizendo que eu só sirvo para fazer sacanagens e isso ele faz com qualquer uma.
__ Essa só vendo para acreditar, uai!
__ Não conte à ninguém... amanha... eu a levo lá no rio... depois da aula... me espere... sabe... agora eu tenho que ir.

Sentindo-se com a missão quase cumprida, Mariana chegou em casa radiante. Enquanto Adélia nem conseguia levantar-se da cadeira e quase não viu quando Isoldinha passou pelo portão e a chamou:

__ Oi, Adélia! Desculpe-me vir aqui em sua casa, mas é que eu estou preocupada com sua amiga, Mariana.
__ Diga o que foi?
__ Eu não quero estar parecendo fazer fofoca, mas, à uns dias atrás eu fui até a casa dela para pegar um livro de português e...e vi esse rapaz, o tal Marinaldo... que mora aqui, uai!
__ Diga de uma vez!
__ Eles estavam deitados... nus... na entrada da casa dela... e eu tenho a visto muito abatida e preocupada... deve ser... esse negocio...
__ Ela me disse algo sobre isso e agradeço por ter se lembrado de min. Mariana foi muito ingênua e agora temos que apoia-la e você não fez fofoca nenhuma. É nessas horas que precisamos ficar juntas. Obrigada!
__ É bom ter uma amiga como você! Mas, você parece muito triste... você e ele... não sabia... sinto muito!
__ Você é legal, Isoldinha! Agora quem está precisando de ajuda é nossa amiga Mariana. Deixe-me ver o que eu posso fazer pela nossa amiga.

Com a cabeça toda bagunçada, Adélia ficara mais intrigada e só conseguia pensar no que Marinaldo lhe falou. Entrou e foi tomar seu banho, para não se perder no que teria que falar com ele assim que ele chegasse.

A pressa em acabar o jantar e sair logo dali e ouvir as explicações que ele supostamente teria a dar.

__ Marinaldo, vamos dar uma volta?
__ Sim!
__ Até logo mãe! Até logo pai! Até logo vó!

Pela expressão séria em que se encontrava Adélia. Marinaldo mostrara-se preocupado.

__ Você me parece chateada. O que está lhe incomodando, que até agora você não me deu um sorriso?
__ Acho que não terei motivos para sorrir... é sobre Mariana e... desta vez não será fácil fugir... não depois do que eu soube... acho que ela está gravida!
__ Eu não estou entendendo! O que nós temos com isso?
__ Vai me dizer que você não sabe do que eu estou falando?
__ Como eu poderei saber de uma coisa dessa?
__ Não seja cínico! Você o que fez com ela na porta da casa dela quando a levou em casa naquela noite ou vai continuar fingindo que não sabe ainda?
__ Por Cristo! Já lhe disse que nada aconteceu...
__ Nem que vocês ficaram pelados?
__ É verdade... é verdade... isso aconteceu... mas, foi só isso... e não houve nada mais além disso... ela entrou em casa e veio vestida numa espécie de camisola, e retirou-a e tudo foi muito rápido... ela aproximou-se de min e tentou abaixar o meu short e prendeu-me com uma das pernas... eu lhe empurrei tão forte que ela chegou a cair chão... e disse a ela algumas palavras e fui embora de lá imediatamente.
__ Uma menina estava lá e disse tê-los vistos como dois animais se amando no chão. E só agora você vem me contar essa estória... por que não me contou antes?
__ Porque eu achei melhor não lhe contar essa coisa suja... e essa menina, só pode estar mentindo...
__ Se você tivesse me contado isso antes... mas, agora... é tarde demais... – os olhos dela encheram-se de lágrimas e sem levanta-los com eles fixos na chão, ela foi ficando cada vez mais pálida.
__ Está é a Segunda vez que você não acredita em min...
__ Acho que você não foi totalmente honesto e omitiu certos negócios...
__ Para que lhe contar o que ela tinha feito? Ela é sua amiga e não quis mancha-la aos seus olhos e achei que depois do fora que lhe dei, ela sossegaria e me deixaria em paz.
__ Para que agora eu pudesse ficar do seu lado. Essa menina que os viu no chão?
__ Não sei que menina é essa... mas, provavelmente ela está mentindo... ou pensa que viu mais do houve lá... – parecia haver mais muita coisa para se dizer.
__ Chega! Chega!
__ Sinto por toda essa situação... nada disso era para estar acontecendo...
__ Mas está acontecendo e tem que ser resolvido, antes de tudo isso se tornar um escândalo.
__ Depois de ver nos seus olhos essa desconfiança e gente dizendo o que eu não fiz... temos que resolver isso... isso é um terreno minada... uma armadilha...
__ Você precisa falar com Mariana...
__ Ela foi me procurar no outro dia e até me pediu desculpas pelo que havia feito...
__ Disso eu sei... eu os vi lá na fazenda se...
__ Por favor!!
__ Chega! Não sei porque ela inventaria um negocio desse! Diga-me o que fará?
__ Quer me jogar nos braços dessa mentirosa? Tudo bem, diga a essa peste que faço tudo que ela quiser que eu faça e até que me caso com ela...

Adélia sabia que não era isso que ela estava querendo ouvir, mas, não havia outra direção a tomar.

__ Se você não quiser... é direito seu... mas, eu não vou estar ao seu lado...
__ Estou vendo... já sei disso... – ele hesitou por um momento, sempre inseguro quanto ao que dizer exatamente.
__ Na verdade eu não gostaria de estar aqui... mas, o que devo fazer?
__ Acreditar em min e ajudar-me a saber o que está havendo... a verdade tem que aparecer... sempre aparece... – ele ainda a viu se afastar e ir embora em prantos.

Quase no meio da manha do outro dia, Mariana acompanhava Janeth até um local escondido de onde poderiam ver Isoldinha e Antônio em seu encontro secreto à beira do rio Jururu. Antônio foi o primeiro a chegar e foi logo tirando a roupa e Isoldinha chegou logo em seguida. Parada na margem do rio, usando um vestido verde-claro de alcinhas que mostrava toda sua exuberância. Antônio saiu nu da água e causou espanto nela que nunca havia percebido essa virilidade nele e pelo sorriso pareceu ter gostado.

__ Que sorriso lindo!
__ Obrigada!
__ Tire esse vestido e deixe-me admira-la também... – Isoldinha pôs o dedo numa das alças e depois na outra e deixou o vestido deslizar pelo seu corpo, mostrando lentamente a beleza de seu corpo nu por baixo do vestido.
__ Você sai sempre de casa assim? Nossa você é linda!
__ Estou assim para você... eu sempre quis você... – Antônio tocou-a de leve no rosto e cheio de desejo, beijou-a na boca e depois no pescoço; nos ombros; nos seios. Isoldinha não pensara que pudesse ficar tão à vontade diante dele, mas seus sentimentos lhe confundiam a mente. Ela o acariciava e beijava-o no peito e mostrava toda a paixão que ela guardara por ele por todo aquele tempo.

__ Beije a minha boca, Antônio!
__ Sim! – Antônio deitou-a no chão e pôs-se por cima dela, abriu-lhes as pernas e as ergueu em volta de sua cintura e delicadamente beijou-a na boca. Ambos começaram a descobrir o amor.
__ Isoldinha... eu vou querer sempre estar com você... cada minuto da minha vida...
__ Jamais pensei que pudesse sentir esse negocio... com você... tão envolvida e tão bom...
__ Você permite que eu comece a vê-la em sua casa? Eu posso ir agora mesmo pedir a permissão dos seus pais. Seu Agnaldo e dona Isolda... se você quiser que eu faça isso...
__ Amanha... venha me encontrar aqui outra vez... e depois vamos juntos falar com os meus pais...

Capitulo 07

Mariana e Janeth saíram antes que eles acabassem e com um ar de felicidade estampado no rosto. Um misto de vitória e satisfação. Mariana caminhava segurando a mão da pequena Janeth.

__ Janeth você não há de contar esse trem para ninguém. O que você viu pode prejudicar seu irmão e Isoldinha vai ficar mal falada... sabe como são os fofoqueiros... esses roceiros daqui?
__ Todos os namorados fazem isso? Quer dizer ficam com o negocio daquele jeito?
__ Você nunca tinha visto um... depois a gente conversa sobre isso... agora vá e calada! – Mariana avistou Marinaldo vindo pela rua cabisbaixo e tratou de despachar a menina e foi ao encontro dele.

__ Mariana não sei como você fez mas, você conseguiu...
__ Do que você está falando? – disse cínica.
__ Das suas armações... desde do livro até me levar à porta da sua casa e colocar alguém lá para inventar essa estória sórdida de que está grávida... e se estiver mesmo... sabe que não pode ser de min... quer saber... tenho pena de quem você usou para conseguir isso...
__ Por que está me tratando assim, uai?
__ Em geral não uso tratar ninguém assim. Mas, você é baixa e vulgar. E fico assim quando alguém me encosta na parede...
__ Desculpe, não foi minha intenção...
__ O que a levou pensar nisso tudo? E agora?
__ Nunca fez loucura para ficar com alguém que estivesse apaixonado?
__ Nunca passei por cima de sentimentos alheios... que não me pertencem e nem nunca me pertencerá...
__ Nunca se sabe! – ela deu os ombros e abriu um sorriso.

Era estranho estar interrogando-a daquele jeito, pareciam velhos namorados tendo uma discussão, mas, Marinaldo estava muito nervoso e era bastante difícil para ele conversar com ela depois do que ela havia aprontado com ele. Sentia como se a fuzilasse com os olhos. Era como se estivesse numa ilha deserta e o resto do mundo não tivesse nenhuma importância. Estava ali parado, sozinho. E ele bem curioso à respeito da personalidade cruel e mesquinha de Mariana.

__ Adélia não acreditou em min e disse-me que eu tenho que reparar o que fiz e sabemos que nada fiz... mas, só há uma maneira de reparar o que fiz. E se ela acredita mais em você do que em min e se você está grávida. Então devo assumir o meu papel e vou até a sua casa à noite e falarei com seus pais...
__ Com meus pais?
__ Sim!
__ Mas, se você disser que eu estou grávida... sabe... ele vai nos matar...
__ Não direi que está grávida e cá entre nós... sabemos que não está... eu vou apenas pedir permissão para namora-la em casa. Bem, não pense que você terá mais do que isso de min...
__ E depois, o futuro?
__ Levarei essa mentira até o fim. E saiba que nunca tocarei num fio do seu cabelo e mesmo se pudéssemos viver duzentos anos. Se você me queria tanto assim contente-se com o que terá e só...
__ Será o suficiente! Com o tempo você verá que eu sou melhor para você do que a Adélia... sabe... eu amarei pelos dois... sabe... lhe conquistarei... você verá...
__ Não crie ilusões... o meu coração nunca deixará que se aloje nele... nunca lhe pertencerá... por você só tenho desprezo e nojo!

Desiludido, Marinaldo tomou o caminho de volta e havia nele o desapego e desespero. Sentia-se muito infeliz por estar fazendo tudo aquilo. Não suportara a indiferença de Adélia. Se não tomasse aquela atitude não poderia viver em paz, sabendo que ela jamais o perdoaria e se ele deixasse Mariana de lado e só agindo assim é que teria como provar sua inocência.

Mariana saíra dali feliz e fora direto à casa de Adélia contar-lhe a novidade que acabara de saber. Embora acreditasse que ela já estivesse à par de tudo. O contraste entre as duas jovens, tanto na aparência quanto na personalidade, não poderia ser maior. Conheceram-se na infância e apesar das diferenças profundas, alimentaram uma grande amizade. Mariana sempre fútil; egocêntrica; irritante e incapaz de um raciocínio sensato. Porém, não perdia tempo com rodeios e ia direto ao que lhe interessava.

Adélia estava pronta para sair à cavalo, mas, ao vê-la ali, parada e altiva. Sabia o que ela lhe diria:

__ Adélia! Marinaldo procurou-me e pediu-me em namoro... sabe... e disse que logo mais, ao anoitecer falará com os meus pais. – por uma pequena fração de segundos, Adélia permaneceu muda, de olhos arregalados e respiração entrecortada pela raiva.
__ Essa era a única atitude decente que ele poderia tomar depois do que fez à você. Fico feliz por você...
__ Bem, eu vou para casa e depois a gente conversa, eu não quero atrapalha-la, já que está pronta para cavalgar... depois nos falamos.
__ Ótimo! – disse tentando esconder sua emoção.

Mariana virou-se e Adélia entrou correndo em casa e foi até o quarto e mergulhou na cama e pôs-se a chorar copiosamente e passando as mãos no rosto, abriu o armário e apanhou um vestido preto cumprido de pano muito fino e com oito botões frontais, retirou a bermuda de jeans e a camiseta e ficando nua em pêlo, vestiu-se apenas com o vestido e saiu.


A idéia de cavalgar nua fez um sorriso alojar-se no rosto de Adélia. Entretanto, no momento seguinte desaparecera. Lembrava da cena confusa em sua mente. Aproximando-se de sua égua que estava praticamente pronta. Adélia retirou a sela, desejava sentir o contato de seu corpo como pêlos do animal e deixou-lhe apenas as rédeas.
Com a certeza de que dali por diante seria impossível pensar na possibilidade de ser feliz ao lado de Marinaldo. Ela se esforçava para continuar forte, mas, sendo humana e possuindo um coração. Preferia não mostrar aos outros a sua dor e montar e fugir tornaram-se sinônimos em sua vida.
Linda, com o sol fraco em meio a tantas nuvens negras, mas, ainda refletindo raios em seu corpo e sentindo-se a única habitante do mundo, Adélia montou com certa elegância e postura e foi-se afastando do vilarejo. Com o sol refletido em seus longos cabelos loiros, ela parecia uma pintura em movimento e como se estivesse sem pressa, ela ia se afastando dali lentamente.
Sem olhar para trás ou para os lados, Adélia perdia-se em seus pensamentos e em profunda tristeza. Tentava se conformar, mas, seu coração disparava ao pensar que perdera seu tão sonhado grande amor. Tudo voltaria a ficar como no passado, apenas lembranças, que certamente nunca se apagarão de sua mente.
Adélia tinha começado a cavalgar pouco depois de aprender a andar. Não muitos anos mais tarde, já decifrava os primeiros livros, com auxilio de sua mãe. Enquanto seu pai se entretinha com a agricultura e pecuária. Adélia apanhava qualquer livro das estantes e o devorava. Entretanto, mal uma réstia de tristeza chegasse em seu coração, ou ela saía a cavalgar pelos vales do cerrado ou passava pela fazenda para ver como o trabalho era executado. Poderia ter crescido mimada e egoísta, caso seu interesse fosse em si própria e não nas pessoas que lhe cercava. E sem duvida seria uma pessoa indisciplinada se a severidade do pai não tivesse moldado seu comportamento. Alias, graças a presença dele e a influencia literária da mãe, Adélia crescera e tornara-se uma mulher forte e inteligente.
Os cabelos esvoaçando em completo desalinho e o coração pesado feito chumbo e os olhos turvados em lágrimas, ela cavalgava. Ressentimentos e mágoas davam lugar a um desejo louco de perder-se na felicidade de um amor, ansiava em correr pelas chapadas ao entardecer e depois atirar-se na relva enquanto os pássaros revoavam pelo céu a procura de seus ninhos. Havia sido criada nessas paragens e o amor à terra corria-lhe nas veias.
Adélia havia aprendido a se comportar com certa moderação, mas, agora, quanto tudo que mais amava encontrava-se tão distante. Achava difícil manter uma atitude comedida. Sentia-se como as múmias egípcias dos livros que lera; envolta em dedos; rendas; uma prisioneira de seus vestidos. Livrou-se do vestido e deu liberdade à montaria. O galope se acelerou. Égua e amazona comemorando a velocidade.
O vento unicamente provocado pela corrida, fustigava a crina da égua e os cabelos de Adélia, que elegantes se desfizera. Eufórica, ela ria e chorava ao mesmo tempo. Espirito impetuoso, já lhe dissera a mãe, que momentos como esse e com toda razão, tinha algum valor.
Ansiava por encontrar-se livre... manhas, tardes inteiras eram passadas numa imobilidade enervante. Tinha certeza de que os ossos acabariam se desfazendo com tanta inércia. Assim, nua e cavalgando, não tinha que exercitar os lábios e a língua para expressar palavras quando não se levava em consideração à mente e o resto do corpo.
Jamais se uniria a um homem que lhe negasse prazeres, de ser livre e verdadeira, sem transparência. Preferiria ficar solteira. Ah, mas, Adélia soubera que havia encontrado um que a entendera e que ao menos uma única vez, a viu por inteira. Então, de repente, sentiu a realidade esmagada sob as patas da montaria.
Adélia tinha sentido falta desse galope que a exercitava. Satisfeita, apreciava a paisagem enquanto as patas ecoavam um ritmo constante na terra. Todavia, como se não corresse mais do que duas ou três vezes por semana. Desacostumara-se à velocidade desenfreada. Logo, Adélia percebeu o cansaço da égua.

__ Vamos lá moça bonita, devagar! – disse ao puxar as rédeas e leva-la de volta ao trote moderado.

Os cabelos alvoraçados caiam-lhe no rosto atrapalhando-lhe a visão, e prendendo-os delicadamente como sempre fazia, ao lado das faces, o que lhe permitiu voltar a ver melhor. Entregue ao entusiasmo, a cavalgada tinha lhe parecido muito curta, entretanto, ao olhar à sua volta, percebia ter-se afastado mais do que planejara. Para trás tinham ficado as colinas entre as quais viam-se luzes bruxelantes de fazendas esparsas. À frente, a terra que anunciavam o inicio das enormes chapadas que se estendiam por quilômetros sem fim. E o estrondo de um trovão que prestes a cair a obrigou a sair novamente em disparada e nem percebera a tempestade que se aproximara rápida e perigosa.

O canto de um passarinho. Um cardeal esvoaçando de galho em galho numa árvore. E o outro único som vindo das gotas de chuva caindo incessantes. O cheiro de vegetação e terra molhada misturando com o de fumaça e de lá úmida. Um cavalo relinchou e bateu com as patas no chão. Um cavalo, pensou Adélia vagamente. Poderia montar outra vez. Mas, não tinha certeza de onde queria ir. O pássaro novamente cantou e o cavalo relinchou mais uma vez e com esforço, ela abriu os olhos. Estranho! Uma flor do cerrado, ao seu lado. Sua flor predileta.
Árvores com suas folhas pingando água da chuva, brilhantes como pedras preciosas sob os raios inclinados do sol da manha. Sol e chuva. Entre o lugar onde se encontrava deitada e as árvores, havia uma meia parede de pedras. Um vapor tênue emanava de onde o sol batia, como nuvens de poeira tinham se levantado com o impacto inicial da chuva. Uma tempestade. Agora sim, conseguia solucionar o mistério. Ela tinha saído à cavalo sozinha. A avó dissera alguma coisa sobre uma tempestade, porém, não havia lhe dado ouvidos. Lembrava-se agora da chuva torrencial e do medo. Mas, como teria vindo parar nesse lugar?
Chamas crepitavam alegres numa fogueira a poucos passos de distância. Roupas estavam penduradas num varal, um vestido preto. A água numa chaleira, no chão da fogueira, fervia. Não havia telhado nem paredes dos outros dois lados, apenas o céu de nuvens esgarçadas e as árvores de pequi.
De repente, sabia onde se encontrava e por quê. Num lampejo rápido de consciência, lembrou-se de tudo: Estava cavalgando quando a tempestade eclodira, forçando-a a abandonar a trilha e atravessar a mata, depois disso sua memória não registrava mais nada.
O sol batia nas paredes velhas e nas roupas penduradas. Curioso, era seu vestido. Deviam estar ensopados quando chegara ali e ela o tinha tirado e pendurado para secar. Havia, então, acendido o fogo e adormecido enquanto olhava a tempestade? Po quanto tempo dormira? Imaginou. Nesse instante, lembrou-se do pai. Tinha que avisar-lhe que estava bem.
Num movimento brusco, tentou sentar-se, porém algo mantinha seu braço direito preso ao lado do corpo. Além de uma dor horrível latejar na cabeça, no ombro e no peito. Afastou o cobertor para o lado e viu ataduras enroladas no braço direito. Quem lhe havia feito isso? Lembrou-se novamente do pai e deixou a pergunta de lado.
Com o braço livre, descobriu o resto do corpo. E viu que vestia uma camisa masculina e esta lhe cobria o corpo por inteiro e chegara até os joelhos. Fitou-a perplexa tentando descobrir a quem ela pertencia, embora isso não a ajudasse em nada. Com a respiração presa, virou-se bem devagar para o lado. Mesmo assim, a dor a atordoava. Prosseguiu, entretanto, e conseguiu ficar de joelhos primeiro, e depois, em pé. A vista escureceu e ela transpirava com o esforço e com as pontadas lancinantes.
Adélia esperou que passassem um pouco e levantou a cabeça. Presa à uma árvore do outro lado da clareira, estava sua égua. A aparição repentina de Adélia fez a égua relinchar. Ela tentou gritar-lhe palavras de encorajamento, porém apenas um gemido rouco escapou-lhe dos lábios.
A roupa na corda adquiriu um aspecto estranho, brilhante demais, e a fogueira parecia retroceder a uma distância intransponível. Cambaleando, Adélia forçou-se a caminhar em sua direção. Passo a passo, mal suportando a dor, chegou bem perto da corda com a roupa. Ouviu, então, o ruído de aproximação de alguém e viu Marinaldo, com o peito nu, sair da mata. Entre perplexa e confusa, fitou-o e viu que ele também a encarava, porém com apreensão. No instante seguinte, ele atirou a lenha para o lado e correu até a ela e conseguiu ampara-la antes que as pernas cedessem completamente e caísse. Ergueu-a nos braços como se pesasse menos do que a lenha que trouxera.
__ Já ia embora? – gracejou ele, e sem outra palavra, carregou-a de volta pelo espaço transposto com tanta dificuldade um pouco antes.

Ela gemeu de dor ao ser deitada na cama improvisada no chão e Marinaldo franziu a testa preocupado, embora falasse em tom displicente ao comentar:

__ Não imaginava que as meninas da região fossem tão mal educadas e fossem embora antes de tomarem um chá! – a menção da xícara de chá deixou-a ávida por uma bebida quente. A boca e a garganta estavam secas e irritadas.
__ Ah, seria uma delicia tomar um pouco! – murmurou.

De seu canto observou-o servir o chá da chaleira numa caneca de folha. Assoprando o liquido quente, recomendou:

__ Deixe esfriar um pouco, está fervendo!
__ O que aconteceu comigo? – ela quis saber.
__ Um galho de árvore arrancado pela chuva atingiu-lhe o ombro e eu encontrei-a desmaiada na mata. Não se lembra de nada? – Adélia fez um esforço com a memória, mas negou com um gesto de cabeça.
__ A pancada quebrou o meu braço?
__ Não, mas foi por pouco! Por isso está mais dolorido. Eu estava esperando que a tempestade passasse para ir buscar ajuda. Olhe, tome o chá que já esfriou bastante.

Marinaldo levou-lhe a caneca até os lábios, porém, Adélia não conseguiu levantar a cabeça. Ele teve que coloca-la sentada e com as costas apoiadas nele. A sede era tanta que ela poderia ter tomado a caneca de uma vez só. Contudo, ele a fez beber, gole por gole, bem devagar. Ao terminar, ela fechou os olhos e suspirou satisfeita. O calor da bebida espalhava-se pelo peito feito um tônico e o calor do corpo de Marinaldo, lhe produzia uma sensação de bem-estar nas costas. Naturalmente, podia pedir-lhe para deita-la outra vez, todavia, não era o que desejava. Havia decidido evitar vê-lo e no entanto, ali se encontrava amparada por ele.

__ Você parece ter uma queda por cavalgadas estranhas. O que a fez sair com essa ameaça de tempestade?
__ Eu poderia lhe perguntar a mesma coisa?
__ Vim atrás de você. – disse ele de olhos fechados e inalando o perfume de seus cabelos ainda úmidos. Adélia manteve-se calada por uns instantes, sentindo a respiração quente em sua nuca. E depois, perguntou num ímpeto:
__ E a minha roupa, por que a tirou?
__ Você estava nua quando a peguei no chão e seu vestido estava ensopado e podia adoecer. Não pense que me aproveitei da situação, fique tranqüila, eu fiquei de olhos fechados.
__ Ah, sei com que propósito eu confiaria em você?
__ Não considera errado continuar me julgando mal? Você estava desmaiada e nua numa mata e apenas cuidei de você...
__ E por que ficou nu?
__ A minha camisa está com você...
__ Você está apenas com esse short...
__ Eu a enrolei nesse cobertor velho, e sequei a minha camisa ao fogo e depois a vesti em você e foi só!

Com um gesto delicado, ele tocou em seus cabelos afastando-os das costas, e trazendo-a mais junto a si. deixando que ela sentisse um pouco mais de seu calor, como se a esquentasse e a protegesse.

__ Bem, agora, eu irei até a fazenda buscar ajuda e...
__ Espere! Fique um pouco mais. – disse encostando-se mais em seu peito. Adélia suspirava e aconchegava-se nele, e fechava os olhos e mordia os lábios inferiores e procurava as mãos para abraça-lo.



Capitulo 08


Num gesto suave, ele a acariciou os ombros com o intuito de acalma-la. Conseguiu o desejado. Após um suspiro profundo, ela aquietou-se novamente. Depois de puxar o cobertor até o queixo, Marinaldo apertou-a e ficou calado, profundamente mudo.

A sua camisa fina e ainda levemente úmida, no corpo de Adélia, grudada como uma membrana, revelando os seios arredondados e firmes. Arfava ligeiramente. Por um momento, as mãos dele hesitaram. Ele fechou os olhos, respirou fundo e reabriu-os e em seguida, suspirou novamente.

__ Ainda não disse obrigada!
__ Não precisa... eu não sei o que faria se não a tivesse encontrado... seu pai e eu saímos quando a tempestade começou e eu vim pelo caminho que já a tinha visto cavalgando antes e dei sorte de encontra-la... sabia que sairia da trilha e cortaria pela mata... pena não tê-la achado antes de machucar-se...
__ Não se preocupe! Não foi nada, já estou bem, quase sem dor..
__ Que bom!
__ Acho que já podemos ir para casa. Você me leva?
__ Seria um perigo deixa-la ir sozinha, moça. Você é uma ameaça as árvores da região...
__ Se eu pudesse eu lhe esbofetearia... é melhor irmos todos devem estar muitos preocupados.

Marinaldo apanhou o vestido no varal e entregou-a Adélia levou a mão até os cabelos desalinhados. Deviam estar horríveis, pensou. Ao vê-lo sorrir, seguiu-lhe o olhar, que não se dirigia à sua cabeça. Atônita, percebeu a atração oferecida por sua falta de roupa. No momento, esqueceu que não havia posto o vestido no lugar, e ao levantar as mãos, desnudou-lhe por completo e arfava em respiração irregular.
Baixou a mão depressa e deixou escapar uma exclamação de constrangimento, puxou o vestido contra o corpo, porém com a mão trêmula não conseguia se enfiar dentro dele e desequilibrada quase caiu. Desesperada e sentindo-se incapaz de vestir-se e querendo não revelar a intimidade. Marinaldo encontrava-se tão perto que ela podia sentir-lhe a respiração. Pensava no escândalo que seria se fosse pegos daquele jeito. Morta de vergonha. Diante da própria ingenuidade, corou até a raiz dos cabelos, ao lembrar que ele a vira nua antes. E a tentativa de pôr o vestido continuava sem sucesso.

__ Com licença! – disse Marinaldo ajudando-lhe a passar o vestido por sua cabeça.

Sem falar nada, Adélia o viu juntar palavra à ação. Ele mexia os dedos depressa, quase de maneira brusca, sem contudo tocar-lhe a pele. Mesmo assim, Adélia sentia-lhes o calor como se uma língua de fogo penetrasse sua carne. Incrédula, ela abria mais e mais os olhos duvidando da realidade. Uma sensação desconhecida, jamais provocara tanta dominação. Deixando-a sem ação.
Marinaldo alcançou o último botão e fechou-o, porém, não afastou logo as mãos. Ambos mantinham-se imóveis e mal respiravam. Os dedos demonstravam uma certa hesitação, então, ele as ergueu e percorreu-lhe a linha do queixo num gesto delicado. Adélia estremeceu violentamente e ele puxou a mão como se a houvesse queimado. Fitou-a com uma expressão vaga e sacudiu a cabeça dando a impressão de que acordara de um sono profundo.
De repente, deu-se conta do que pretendera fazer. Com o coração acelerado, deixou as rédeas caírem, e voltou a apanha-las e passou-a pela cabeça da égua e amarrou-a a carroça. Ergueu um pouco o vestido de Adélia e colocou-a na carroça.
Embora nessa época do ano levasse uma eternidade para escurecer, a claridade do dia se confundia em sua mente. Adélia já havia se deitado na carroça quando criança.

__ Adélia, você será a única que minha mão fará um carinho... – não havia respostas para essa indagação e ela apenas ansiava em sair dali o mais rápido possível. Desejara encontrar-se na segurança de sua cama em sua casa.
__ Lamento muito, tudo isso! – murmurou ele baixinho.
__ Tudo bem! – tomada pela surpresa de ter sido vista chorando, Adélia baixou os olhos rapidamente.

Adélia não conseguia continuar. Um nó formara-se na garganta. Respirou fundo, mas de nada adiantou. Lágrimas copiosas começaram a rolar por suas faces. A tristeza lhe pertencia outra vez e a dor que vivia em seu íntimo, surgia agora inesperadamente pelo pranto. Chorou como uma criancinha e Marinaldo subiu na carroça e cedeu-lhe o conforto de seus braços. Embalou-a com carinho, devagar e com cuidado e a fez virar de frente até poder aconchegar-lhe o rosto de encontro ao peito.

__ Por que precisa ser assim? Aquela menina está mentindo e sabemos disso... eu a amo! – com essas palavras tenras, ele encorajou o desabafo. Afastou-a de si para que ela pudesse vê-la fita-lo nos olhos e ela se lançou nos braços dele e emitiu um grasnido que era o seu . Ela tocou-lhe a face com um sorriso carinhoso. Marinaldo lançou-lhe um olhar, e seus olhos se encontraram e não se desfitaram. Um elo possante estava se formando entre eles. Adélia acabara de dividir uma parte importante com ele, que se sentiu emocionado e satisfeito por ela ter permitido que conhecesse um pouco mais dela. Esperando que a angustia passasse.

Adélia aliviada desejava não se soltar mais dos braços acolhedores de Marinaldo. Apenas quando ele teve certeza de que as lágrimas haviam cessado, a fez deitar-se novamente. Algumas mechas de cabelo grudavam-lhe nas faces úmidas e ele com a mesma suavidade do último toque em seu rosto, afastou- as. O resultado foi imediato, e desta vez, ele não retirou a mão de seu rosto.
Com a respiração presa e os olhos bem abertos, ela observou-o. Viu-o curvar a cabeça e esperou uma eternidade até sentir-lhe a boca na sua. Soltou a respiração num longo suspiro e entreabriu aos lábios para receber o beijo.

__ Ah! – ouviu-a gemer enquanto as mãos dele afagavam-lhes os cabelos. Sempre com a mesma meiguice.
Sob a delicadeza do gesto, Adélia percebia a paixão controlada, também no beijo. Como um campo seco atingido por um raio, o calor espalhava-se por seu corpo. Ergueu a mão esquerda e puxou-a a seu encontro ao mesmo tempo que a acariciava na nuca.
Adélia sentiu-lhe não só os dedos como também o corpo arqueado de encontro ao dela. Uma onda de desejo ofuscou-lhe o raciocínio. Através do vestido fino que ela usava, notava-se a elevação dos seios, que pulava para fora. Os lábios dele, abandonando os seus. Procuravam a maciez arredondada, as encontrar o que buscava, Adélia estremeceu.
O contato dos lábios dele em sua pele, produzia fortes ondas de prazer em seu corpo. As mãos dele, percorriam-lhe as costas nuas enquanto ambos, mais e mais elevavam-se com a paixão compartilhada. A respiração de Adélia tornara-se ofegante e Marinaldo desceu a mão por sua coxa e erguendo o seu vestido. Deixou-a de pernas entreabertas, e em seguida, Adélia soltou um gemido abafado, que escapou-lhe da garganta. Marinaldo num gesto repentino, saiu de cima dela.

__ O que foi? – perguntou com a voz mais rouca do que o normal.
__ Eu disse a você que não sou um aproveitador e que nada fiz com Mariana, e se eu fosse quem você achava que eu fosse... agora... eu teria conseguido o que queria com você... mas. Adélia... eu a amo de verdade.
__ Você me ama?
__ Sim e muito! Eu só quis mostrar a você que não foi por sexo que me aproximei de você, foi por sentir um sentimento lindo, que descobri em min. Algo que parecia já viver no peito, mesmo, sem ter lembrança de já ter sentido isso em minha vida. Posso ter me sentido vazio por tanto tempo. Mas, de alguma forma esse sentimento por você, parece estar aqui no peito. Como se eu fosse descobri-la em algum lugar, em algum dia. E quando a encontra-se, ai sim, a minha vida teria valor e eu poderia ser feliz.
Depois que eu a vi sentada no portão naquele dia. Percebi que havia lhe encontrado e que eu estava a todo tempo lhe procurando...
__ Por favor... – suplicava para que ele parasse de falar, embora seu coração gravasse cada palavra que ele dizia.
__ Adélia... é você e sempre será...
__ E Mariana?
__ Se você confiar em min, eu vou descobrir o que essa menina fez. Mas, eu vou precisar que você fique do meu lado, para desmascara-la...
__ Acredito em você! – disse sentando-se na carroça.
__ Graças a Deus! – Desabafou com seu sotaque diferente parecia um menino.

Marinaldo ajoelhou-se na carroça e deitou a cabeça no colo de Adélia, como se procurasse por um afago, após pesados dias de intensos conflitos. Ela pousou-lhe as mãos em sua cabeça e debruçou-se para frente e afagou-lhe os cabelos enquanto as lágrimas caiam de seu rosto e corria pelas costas dele e as lágrimas dele molhavam as coxas dela.
Adélia sentira que aquele amor chegara para ficar e ser verdadeiro, honesto e puro. Não poderia estar errada e tudo que sonhara era perfeitamente igual ao que vinha vivendo e sentindo. Os olhares que trocavam; as lembranças ao longo do dia; do cheiro; do querer bem; e dos sorrisos que trocavam ao se encontrarem. Tudo verdade.
Ela ergueu-o e abraçou-o e num impulso carinhoso beijou-lhe a boca. Primeiro tenramente e em seguida sofregamente. Retornando ao desejo inicial.

__ Como espera desmascara-la?
__ Adélia, eu vou dar corda a ela e ela vai se enforcar... existe mesmo essa menina?
__ A Isoldinha...
__ Essa menina está mentindo e é cúmplice de Mariana. Preciso pensar numa maneira de chegar até a ela e faze-la dizer a verdade...
__ Ela não é ruim... tem que haver algo de errado nesse negocio. Ela não falará com você e ela não é muito amistosa com homens. Quase não tem amigos homens. Deixa que eu vou descobrir com ela...
__ Então vai me ajudar?
__ Está na hora de lutar pelo o que eu quero e não vou abrir mão de você. E se diz que não fez nada, eu acredito...
__ Obrigado!
__ Finja estar do lado dela e não deixe que ela desconfie de nada... e ela não sabe de nós dois...
__ Claro! Eu vou deixa-la despreocupada.
__ Agora vamos para casa que temos que avisar a todos. E tentar esconder que foi você que me achou será um erro. Acho que passamos a noite juntos e temos que arrumar um jeito de pensarem que só me encontrou pela manha...
__ Fique tranqüila! Mariana acha que ganhou o jogo, e está confiante de que tudo acabou como ela planejara.

Dois dias se passara após o acidente e já recuperada Adélia retomava os seus afazeres. Seu ombro e seu braço já não doíam mais.

Adélia apanhou os livros e despediu-se de todos, saindo apressada. Com os pensamento longe e feliz. Caminhava com uma satisfação, e com passos largos e firmes se distanciava da casa. Já sem o peso da tristeza que pairava em seus ombros.
Ao chegar próximo a escola, Adélia avistou Mariana conversando com Isoldinha e pôs-se atrás de uma carroça para que não pudesse ser vista. Mesmo sem ouvi-las ficou lá vendo-as conversando animadamente.

__ E hoje! Mariana! O Antônio vai lá casa para pedir-me em namoro para os meus pais...
__ Parece que ele gostou do que fez com você...
__ Nossa, foi maravilhoso e ele foi tão carinhoso comigo. Envolveu-me. Estou sentindo-me meia boba. Sinto o cheiro dele, a boca, as mãos...
__ Chega! Acha que ele vai amar você?
__ Eu gostaria que você entendesse que eu sempre o amei e por ele me afastei dos garotos. Eu sempre fui confusa em relação a isso e você veio carinhosa e gentil. E sei que era só para me usar para chantagear o Marinaldo. Você não tem nenhum sentimento por min e gostaria que não me procurasse mais...
__ Tá bom! Julieta do cerrado! Mas, nem pense em abrir essa boca, senão eu abro a minha e ai eu quero ver se o Antônio vai continuar babando por você! – Mariana vibrava por dentro apesar de estar agarrando e sacudindo Isoldinha pelo braço.

Adélia de longe pode ver Isoldinha chorando, com um ar triste e abafado. chegando a ficar com os olhos emaranhados e ela preocupava-se com a tristeza da amiga e não suportando ficar ali e aproveitando que Mariana não estava mais presente. Se aproximou dela:

__ O que foi?
__ Oh, Adélia! Eu fiz algo terrível. E logo agora que eu estava tão feliz... é que eu e o Antônio estamos namorando...
A noticia deixou Adélia suspensa e não conseguia ver nenhuma relação as suspeitas contra Mariana.

__ O Antônio! Mas, ele não vivia atrás de Mariana?
__ Pelo jeito desistiu, uai!
__ E a Mariana ficou chateada com você, e por isso ela estava brigando com você?
__ Não! Foi ela mesma que o convenceu a me encontrar. Ela soube que eu o amava... e me ajudou... infelizmente...
__ Infelizmente! – sua pele negra avermelhava-se de raiva.
__ Ela me pediu para que eu mentisse à você e eu menti... ela não pode saber que eu lhe contei se não ela vai espalhar coisas sobre min. Eu não queria prejudicar o Marinaldo e acho que não vou suportar e eu vou acabar contando tudo. Apesar das ameaças dele...
__ Não será preciso!
__ Ela vai continuar com essa sujeira e só eu posso contar a verdade...
__ Só você e ela! E será ela mesma que falará!
__ Como? Ela nunca vai dizer que fez isso a ninguém...
__ Dirá ao Marinaldo e será em breve...
__ Tomara que ela diga e que me deixe em paz. Adélia... você gosta do Marinaldo? Eu disse a ela que não queria prejudicar ninguém, especialmente você que sempre foi minha amiga e que sempre me tratou muito bem. Se você não o fizer, eu o farei!
__ Acabará tudo bem e ela terá o que merece. Obrigada!


Adélia continuava o trabalho que sua mãe começara na escola, e que apesar da falta de recursos, montou uma escola no vilarejo, para que as pessoas não tivessem que ir para outro lugar para estudar. E assim mantinham as crianças e os adultos, todos sendo alfabetizados. Desde os pais até os filhos, do primário ao ginásio. A luta da sua mãe para dar estudo e cultura à aquele povo. Havia gerado frutos, como sua filha que lecionava e mais três professoras: Luana Vieira, Giovana Castro e Hilda Castro. Além da escola, Louise Fallenbach construiu uma biblioteca e um centro de saúde.
A falta de energia elétrica era uma outra luta dela, mas, essa era mais difícil de ganhar, não dependia de seus esforços. Apesar de Goiana estar tão próxima, apenas a quatrocentos quilômetros de Cajás. Mas, a cidade ficava situada entre duas chapadas que a isolava e a mantinha escondida no centro do país. E com o desenvolvimento pecuário da região, os governantes esqueceram-se de Cajás ou preferiam ignora-la.

O sol já atingia o alto do céu quando Adélia deixou a escola. Apressada. Precisava contar a Marinaldo o que acabara de descobrir, e só teria chance se o pegasse em casa, na hora do almoço. Caso contrário, ela só estaria com ele depois que ele já tivesse pedido aos pais de Mariana para namora-la.

Capitulo 09

__ Marinaldo, que bom que lhe peguei aqui. Conversei com Isoldinha e ela acabou confessando tudo...
__ Então vamos acabar com essa Mariana...
__ Mariana está chantageando a Isoldinha e prometi não prejudica-la. Você não deve ir à casa dela hoje à noite. É preciso faze-la falar... depois que vocês começarem a namorar e mesmo terminando por causa das mentiras dela. O pai dela exigira que você se case assim mesmo.
__ Bem, eu posso dizer que tenho duvida se ela me quer e pedir uns dias para pensar enquanto nós namoramos escondidos.
__ Pode ser...
__ Logo mais, antes do anoitecer vou leva-la ao parque dos Bichos Soltos, esteja lá antes de nós. Acho que sei como faze-la falar.
__ Como?
__ Esteja lá e confie em min! Fique perto do muro da nascente do rio, do lado esquerdo.

O sol já fraco manchava o céu de um alaranjado intenso e atrás do muro bem próximo da única trilha que dava acesso ao parque. Adélia esperava pelo casal e quando eles chegaram. Ela fez um leve sinal para que Marinaldo pudesse vê-la.

__ Mariana, eu lhe pedi para que nós viéssemos aqui antes de ir na sua casa, porque eu pensei melhor e achei que fui muito duro com você, afinal, tudo que você fez foi para ficar comigo, não foi?
__ Não estou entendendo...
__ Se vamos ficar juntos, eu quero que sejamos honestos um com o outro. E quero saber se me ama mesmo ou se é só um capricho. – ele alisava os cabelos de Mariana enquanto falava e emitia um sorriso meigo e envolvente.
__ Claro que te amo! Desde que eu lhe vi na fazenda naquele dia tomando banho...
__ Que bom! – falava alisando os longos cabelos dela.
__ Pensei que estivesse com raiva de min!
__ Fiquei na hora! Depois pensei melhor e pensei que você é linda e que eu jamais poderia querer alguém melhor do que você. Linda; sensual; inteligente e tão decidida do que quer...
__ Você disse que eu não teria o prazer de toca-lo...
__ Pode fazer o que quiser comigo...
__ Eu o quero aqui e agora... – ela levantou o vestido e o tirou e colocando ele no chão deitou-se. Marinaldo ficou inerte sem saber o que fazer. Não contava com essa atitude.
__ Tire essa roupa e deite-se aqui do meu lado.
__ Sim, claro! – Mariana tocou em seu peito e beijou-o no pescoço e pegando uma de suas mãos e pondo sobre um de seus seios.
__ Gosta?
__ Sim! São lindos e macios... sabe... eu até agora não sei como aquela menina nos viu lá na sua casa. – enquanto falava massageava-lhe os bicos e passava a língua em seu pescoço.
__ Que menina.. – ela se contorcia toda e gemia abafado.
__ A que nos viu em sua casa! – desceu uma das mãos e tocou-lhe entre as pernas. Levando-a a se estremecer da cabeça aos pés.
__ Meu Deus que gostoso... eu preciso disso... senão eu vou enlouquecer... não posso continuar esperando... – ela pegou no sexo dele e o massageou rapidamente enquanto ele continuava a lhe apertar os seios.
__ humn, você me quer mesmo, hein!
__ Sim, Mariana se aquela menina tivesse nos visto assim...
__ Aquela idiota não viu nada... eu é que pedi para que ela mentisse... imagine o que aquela babaca que tinha medo de homem faria se lhe visse assim...

Saindo rapidamente detrás do muro, Adélia surgiu diante deles com um olhar furioso:

__ Aquela boba eu não sei, Mariana! Mas, eu sei o que eu farei!
__O que significa isso? – disse assustada enquanto Marinaldo colocava a roupa.
__ Graças a Deus! Eu pensei que teria que continuar com essa tortura!
__ Vista sua roupa, Mariana! Que eu quero conversar com você.
__ Oh, que vergonha!
Depois de avaliar rapidamente a situação, Mariana resolveu revelar parte da verdade. E contou o que havia feito. A indignação da amiga fiel não conheceu limites e ela não exigiu mais justificativa, ao contrário. Pediu que Mariana se calasse.

__ Tudo o que você fez ficará entre nós e ninguém mais saberá...
__ O que isso pode significar?
__ Que não ficará mal falada! Não se aflija! Logo tudo estará esquecido. – num gesto leve, Adélia passou a ponta dos dedos na testa dela desfazendo as rugas de preocupação.
__ Eu lhe dou a minha palavra também. – disse Marinaldo com seu irresistível sotaque.
__ Em nome da nossa amizade. Eu não a prejudicaria. Entendo que tenha agido errado por ser inconseqüente. Mas, não deve ser mais punida por isso. Acontece que Marinaldo estava aflito por causa da sua chantagem e que pobre são os seus sentimentos, obrigando alguém a ficar com você. E eu cheguei a brigar com ele porque acreditei em você... e ele tentaria aqui a sua última cartada e se não desse certo. Eu não sei o que aconteceria com nossas vidas... agora, vamos embora... levante-se e enxugue essas lágrimas!
__ Obrigada, Adélia! Você é realmente minha melhor amiga. E quanto à você Marinaldo...sabe... gostaria que me perdoasse... eu enlouqueci... e fiz essa bobagem... sabe... ainda bem que não durou muito... desculpe-me...
__ Tudo bem! Vamos sair daqui e esquecer essa coisa toda de uma vez.

Por causa da pressão que o dia lhes proporcionara. Adélia sabia que seria impossível conciliar o sono com a expectativa da qual vivera na últimas horas.

__ Adélia, agora que tudo terminou bem, diga-me, você acha que agiu certa em relação a Mariana?
__ Sim, ela não poderá nos prejudicar mais e eu não quero acabar com a vida dela. Ela errou e já está pagando pelo que fez... – a voz meiga era tamanha.
__ E se falhasse?
__ Eu fugiria com você daqui. Pois, eu não suportaria saber que você estaria ao lado dela, como hoje... lá no parque... foi horrível vê-los daquele jeito... e seria assim todos os dias e...
__ Você é incrível! Agora vamos até sua casa que eu quero lhe fazer uma surpresa...
__ Outra surpresa? Duas no mesmo dia, eu não vou suportar, hein?

Chegando em casa Marinaldo reuniu os pais de Adélia na sala e pediu consentimento a eles para namora-la.

__ Rapaz, eu faço muito gosto e mesmo apesar de estar aqui há pouco tempo... você já se mostrou de confiança e tem a minha benção, sim!
__ Tem a minha benção também, meu filho. – Louise estava emocionada ao falar.
__ Dessa velha também! – a avó de Adélia a abraçou gentilmente.

Adélia parecia flutuar. A luz fraca dos lampiões refletia uma certa luminosidade em seus olhos azuis e seu semblante era de total alegria. Após os abraços e palavras comemorativas, Marinaldo tomou-a pelos braços e saiu abraçado a ela pela porta da frente.

__ Ainda lembro-me daquele dia em que cheguei aqui e você estava assim sentada junto a esse portão. E todos os meus medos foram levados embora. Tanto foi o cuidado que vi em seus olhos, que me senti protegido de min mesmo. Sem as lembranças ruins de quando eu estava sozinho, ou da agonia de pensar que nunca seria amado por alguém especial como você. Assim eu vivia antes de chegar aqui. Dividia com a dor, as mesmas horas e o mesmo coração.
__ Eu sempre soube que você chegaria e entraria na minha vida.
__ E pensar que esses belos olhos estiverem tristes, por minha causa. Tudo que eu mais desejava era poder retirar toda a tristeza que lhe machucava e colocar nos seus olhos a felicidade que jamais deveria ter saído deles.
__ Quando você chegou. Você me encontrou feito uma cidade destruída pela guerra, mas, bastou me olhar nos olhos, para vir a reconstrução.
__ Era em dias assim que eu escutava o seu coração e tinha certeza, e não sei como, que você também escutava o meu. E Adélia saiba, que apesar de todo o barulho que estava fazendo, era o seu nome que se repetia aqui dentro de min.
__ Eu também sempre me senti assim...

Adélia jogou-se nos braços de Marinaldo e ele a apertou junto ao corpo, lutando contra as lágrimas que brotavam com grande facilidade. Agora estavam felizes, e os dias de solidão pareciam um sonho distante. Ela só queria ficar ali sentindo-o apertar seu corpo quente de encontro ao dele.

A noite foi longa para Adélia que sentindo-se realizada e amada, não conseguia fechar os olhos. E deitada, brincava com as imagens que a claridade da lua formava nas paredes e no teto do quarto. Jamais sentira tanta felicidade, e agradecia a Deus por Ter-lhe enviado o amor que sempre pediu e agradeceu pelo momento feliz que estava vivendo.
Lá fora um vento tímido sacudiu as folhas das árvores do quintal. Até entrar por sua janela e tocar-lhe o rosto, como se lhes acariciasse as faces e os cabelos. Adélia levantou-se e pôs-se diante da janela aberta, a olhar as orquídeas e rosas balançando ao dançar com o vento que voltara a região. Aumentando o brilho nos olhos da menina. E os cabelos esvoaçados por aquela corrente de ar e felicidade.

Adélia foi até o quarto de seus pais e os acordou para mostrar-lhes que o vento voltara naquela noite, após tantos dias, o vento estava de volta.

__ Adélia minha filha, vá chamar o Marinaldo. – pediu dona Louise.

Ela atravessou a porta dos fundos e todo o quintal e esticando-se pela janela tentava alcançar com a vista a cama, mas, percebeu que o quarto estava vazio. Franziu a testa e fez ponderações consigo mesma enquanto entrava em casa.

__ Aonde esta o rapaz? – perguntou seu pai.
__ Ele não está lá. Deve ter saído para espairecer um pouco...
__ Bem, eu vou deixa-las aqui admirando o vento e vou para cama, pois, amanha será o dia da colheita dos tomates e teremos que carregar os caminhões para levar até Goiana.
__ Vão dormir e durmam com Deus! Eu também vou me deitar! E já estou indo...
__ Durma com Deus, minha filha!

Adélia voltou ao seu quarto e permanecera com a janela aberta e como o cansaço do dia pesou em seus ombros, ela deitou-se e deixou que o vento brincasse em seu corpo, como fazia antigamente. Suavemente o vento erguia sua camisola e tocava em seu corpo como mãos que a acariciassem. Até que ela pegasse no sono de vez. Dali a meia hora estava novamente a mil quilômetros de distancia, entretida com seus pensamentos.

Com o sol tocando em seu rosto e despertando-a de um sono profundo, Adélia abriu os olhos e espreguiçando soltou um sorriso leve e gostoso. Como seu pai e sua mãe já haviam ido para colheita e ela não teria que ir à escola naquele Sábado. Ela percorreu todo quarto e observou tudo. Desde a cortina até as toalhinhas de rendas nos criados-mudos e penteadeira e até mesmo para sua fina e larga camisola e tudo se mexia. E lá fora as árvores e roseiras dançavam ao vento. Adélia soltou um ruído estranho, uma espécie de gemido e com satisfação no olhar. Logo se apavorou com Marinaldo passando diante da janela:

__ O que faz aqui? – ela ficara pálida e intrigada com a presença dele. Já que ele deveria estar na colheita.
__ Desculpe-me por assusta-la! Mas, tive que vir buscar o carro de boi com o restante dos caixotes. Voltando com sua cor normal e já sem o espanto nos olhos, ela sorriu envergonhada.
__ Na próxima vez faça um barulho ou poderá matar-me...
__ Lembrarei de ser barulhento, mas, eu não pensei que estivesse aqui. Pensei que estivesse na escola.
__ Estamos no Sábado...
__ E hoje é dia de entrar pela janela e beija-la. – disse subindo pela janela.
__ Se você chegar perto de min, eu grito por meu pai...
__ Terá que gritar bem alto, porque ele não a escutará nessa distância...
__ Eu sou perita em artes marciais... melhor tomar cuidado comigo... eu posso me tornar uma arma mortal... melhor afastar-se... – Marinaldo passou por detrás dela e a abraçou e ergueu-a dando uma sonora gargalhada.
__ Assim que és perigosa? Diga-me como saíra daqui? – disse apertando-lhe um pouco mais.
__ Bem, quem disse que eu quero sair daqui!
__ Pensei que eu fosse uma ameaça.
__ Uma ameaça dessas até que me cai bem... – Adélia virou a cabeça para beija-lo e ela afrouxou os braços e deixou que ela deslizasse um pouco em seus braços roçando seu corpo contra o corpo suado dele.
__ humn!
__ Agora verás o quanto sou perigosa!
__ Estou tremendo de medo... – enquanto ele falava, Adélia se dava conta de como tinha sorte. Na verdade, mais sorte do que Mariana. Ficou calada por um momento enquanto Marinaldo a observava, depois, ele se inclinou e beijou-a com ternura. Marinaldo nunca se sentira tão feliz na vida, pois tinha visto Adélia se desabrochar ante seus olhos como uma flor de verão, nas duas últimas dez horas . Adélia estava sorridente e feliz e seus olhos tinham mais vida do que na época em que ele a conhecera.
__ Serei breve para que não sinta dor e para que não possa reagir aos meus beijos e encantos. Apenas fique quieto enquanto eu lhe torturo com minha boca. – agora foi a vez de Adélia soltar uma gargalhada. Sob o olhar tenro e doce de Marinaldo. Os dois ali feito crianças.
__ Que bom eu ter vindo aqui!
__ Veja você amor. Também estava sofrendo.
__ Ninguém pode ser tão só e ser feliz...
__ Eu não estava só, e estava muito infeliz com a idéia de que perderia você. – mas Adélia sabia agora que ele permanecera terrivelmente só nesses últimos dias, enquanto estivera separados. Foi quando ele lhe contou tudo que ela abriu o coração e se permitiu confiar nele. Fora profundamente magoado, mais do que ela pela mentira de que engravidara Mariana. E agora ele ali a tomara nos braços enquanto ela chorava, pondo para fora toda a culpa e a tristeza que sentia e guardava dentro de si, havia mil anos. - Nossa, você precisa ir trabalhar! Vamos ande e vá depressa. Ah, ontem eu fui lhe chamar para mostrar-lhe que o vento voltou e você havia saído, onde é que você foi?
__ Fui trazer o vento de volta para você!
__ Tá bom! Logo mais vamos encontrar o pessoal lá na beira do rio Jururu, haverá uma moda de viola e será divertido.
__ Sim, tudo bem! Então até mais tarde, minha arma mortífera!

Adélia recolheu uma calça jeans e uma camiseta e foi tomar café com sua vó. Para depois ir ajudar na colheita. E seus olhos faiscavam de tanto brilhar, aquele tempo triste realmente ficara para trás e isso já era suficiente para alegra-la.

A noite na beira da fogueira sentada com um vestido de renda azul-bêbe e sandálias branca transformara-se numa linda mulher. Com o fogo refletido em seus olhos, a sua beleza espalhava-se por entre as pessoas em sua volta.
Antônio e Isoldinha chegaram de mãos dadas anunciando a todos que estavam juntos. Até que Marinaldo chegou e foi direto até a Adélia e a beijou. Deixando a todos perplexos: Andresa; Hilda; Romilda; Isoldinha; Jobson; Antônio; Noberto; Janeth e principalmente Mariana que emitia no olhar não apenas surpresa mas uma fúria dilaceradora.

__ Bem, em razão dos novos casais aqui presente, eu, Noberto vou dedicar essa musica à felicidade de Antônio e Isoldinha e Marinaldo e Adélia. – disse dando os primeiros acordes na viola. Uma musica de Roberto Carlos que ele sabia que era a preferida de Adélia: “Cavalgada”.

Embalados pelo som do violão, todos cantavam em voz alta os versos da canção, exceto Mariana que se remoía de ódio.

__ Todos sabem que eu adoro essa musica e agora você também!
__ Então deixe-me canta-la nos seus ouvidos... – a cada abraço ou que trocavam e a cada caricia. Eles não percebiam a expressão dura que Mariana fazia.
__ Que voz linda!
__ Adélia essa noite eu guardarei para sempre sua imagem na minha mente.
__ Para sempre?
__ Sim, você e essa lembrança ficarão sempre comigo. – com a mão no rosto dela, ele fazia um carinho demorado e apaixonado. E todos testemunhavam aquele amor, sincero e bonito entre os dois. Adélia de mãos dada a Marinaldo o tempo todo. Envolvida pelas musicas que ecoavam no ar. Permanecia alegre, jovial, festiva e feliz.
__ Deixe-me olha-lo assim contra o fogo.
__ O Que foi?
__ Nada! É que você fica mais lindo com esse brilho.
Com o rosto virado em direção ao fogo, satisfeito por terminar as obrigações rotineiras. Adélia segurava as mãos de Marinaldo. Estava contente por estar ali entre amigos.

__ Adélia, eu lamento o que fiz, especialmente depois dos acontecimentos anteriores. Eu lhe peço, aliás, suplico para que me perdoe... é só o que posso pedir. – sufocada pela tristeza e impotência, Isoldinha não se deu conta do desprezo que Mariana do outro lado lhe lançava com os olhos, ao vê-la com Adélia.
__ Por favor, não se atormente por causa do que aconteceu. Esqueça já é passado... aproveite o namoro...
__ Obrigada, amiga! Eu vou torcer para que vocês sejam felizes. Assim como eu espero ser ao lado do Antônio. – Isoldinha sentiu um peso no coração.
__ Ah, Deus, eu sabia. Você está apaixonada. – apontou um dedo para ela. Adélia abriu um sorriso e Isoldinha enrubesceu intensamente. E Adélia deu-lhe um forte abraço. - Vocês serão felizes e saiba que formam um lindo casal.
__ Estou feliz por você, Adélia.

No momento seguinte, a expressão de derrota voltava ao rosto de Mariana que a tudo assistia, prestando atenção em tudo e nada deixa-a satisfeita. Podia ser que eles a tivessem vencido mas ela não parecia estar derrotada totalmente.
Adélia mal pensara nessa possibilidade, e esqueceu os últimos dias e todo o aborrecimento causado pela amiga. Até o ressentimento doloroso contra ela havia desaparecido. Seu prazer era tanto que ela ergueu o nariz e respirou fundo. Marinaldo notou e sorriu:

__ Adélia, você não passa de uma criança bem-humorada.
Adélia apenas sorriu. Talvez porque nunca tivera um amigo assim antes ou talvez nunca tivera sido a mulher que era agora. Fortalecera ao longo dos anos e estava mais forte do que jamais sonhara estar.
Ficaram sentados fitando o fogo, por algum tempo. Era extraordinário como ela se sentia à vontade ao lado dele. Havia em Marinaldo algo tranqüilo e sem pressa. Como se tivesse a vida inteira à sua frente e tempo o bastante para saborear cada momento precioso. E seu rosto perfeitamente esculpido era lindo à luz do fogo.

__ Marinaldo! – não sabia o que exatamente estava sentindo, quem sabe mais tarde, ela conseguisse dize-lo.
__ Sim, garotinha? – mas ela não conseguia encontrar as palavras certas. Finalmente com a voz macia e rouca disse o que lhe cabia.
__ Que bom ter conhecido você! – ele assentiu com a cabeça devagar e com um aceno. Sentindo exatamente como ele se sentia. A paz e a compreensão que fluíam entre eles. Rodeou-lhes os ombros com o braço e Adélia sentiu a mesma força serena que lhe parecera tão gostosa no começo da noite. Gostava do peso do braço dele, do toque de sua mão e do seu cheiro. Ele cheirava uma mistura de desodorante e loção pós-barba. Tinha um cheiro que combinava com sua aparência, a de um homem forte e atraente que vivera toda vida entre morros e florestas. Olhou-a naquele momento e notou que uma lágrima deslizava por sua face. Aquilo deixou-o emocionado, e puxou-a mais para perto junto a si.

__ Está triste, amor? – a voz dele era profunda e meiga, mas, ela meneou a cabeça negativamente.
__ Não! Eu estou muito feliz... aqui... desse jeito... não pense que eu seja maluca... mas, eu estou me sentindo viva novamente. É como se eu estivesse morta. – era difícil dizer as palavras mas, tinha que dize-las. Ficou lutando contra as lágrimas, enquanto toda a sua alma ansiava para suavizar sua dor. Marinaldo ficou em silêncio por um tempo que parecia interminável, com o rosto muito próximo do dela, observando-a, depois falou:
__ Tem direito a uma vida própria agora. – beijou-a nos lábios e foi como se uma flecha a tivesse varado. O toque dele a atingiu no âmago e ela ficou sem fôlego quando ele tomou o seu rosto entre as mãos e ficou olhando-a tão suavemente.
__ Onde esteve a minha vida toda, Marinaldo Ferrero?
__ Dentro do seu peito! – ele beijou-a de novo e desta vez, Adélia passou os braços pelo pescoço e o trouxe bem junto a si. Gostaria de agarrar-se a ele à vida toda. Dali a pouco, as mãos dele começaram a percorrer-lhes os ombros e depois os seios, finalmente entraram sob o vestido. Ela soltou um gemido baixinho. Sentindo a paixão crescente, parou e afastou-se, dali algum tempo, fitando-a nos olhos.
__ Venha comigo!
__ Para onde?
__ Não faça perguntas!
Adélia levantou-se e o tomou pela mão e despedindo-se alegremente de todos, foi-se em direção a sua casa, mas, no meio do caminho parou e sentou-se numa árvore puxando-o pelo pescoço e beijou-o. enquanto ele brincava com seus cabelos deixando que eles cascateassem pelos ombros e costas abaixo. Correu os dedos por ela e tocou de novo o rosto, os seios e depois as imensas mãos voltaram-se com suavidade para as pernas e ela não pode deixar de se contorcer de prazer, quando ele a tocou.

__ Adélia! – sussurrou seu nome deitados no tronco da árvore e com os corpos latejando de prazer.

Adélia então levantou-se e tomou-lhe as mãos, conduzindo-o para o chão. Ela sabia que tudo acontecera muito depressa entre eles e ela queria ficar com ele para sempre e não por uma noite apenas ou por um momento.

__ Ama-me! – murmurou ela bem baixinho enquanto ele a despia devagar. Até que ficou parada à sua frente. O corpo perfeito, a pele brilhando ao luar, o cabelo louro quase cor de prata. Ele pegou-a no colo e ergueu-a no ar e depois despiu-se lentamente. Largou as roupas no chão e deitou-se junto dela.

O toque de sua pele de cetim quase desnorteou-o e a ânsia que sentia por ela não podia ser controlada. Mas, foi Adélia quem tomou o rosto dele entre as mãos, que o abraçou enquanto arqueava o corpo para ele. Quando lentamente. Como uma lembrança esquecida renascida com força total e deliciosa. Sentiu que ele a penetrava. Alcançou ápices que jamais atingira, nem mesmo antes. Finalmente saciados, ficaram deitados lado a lado. O corpo dela entrelaçado no dele e Adélia murmurou-lhe junto ao pescoço que o amava.

__ Eu também a amo! Ah, Deus, como a amo! – enquanto falava ergueu os olhos aos céus e com um sorriso sonolento encostou-se mais e depois fechou os olhos e adormeceu nos braços de Adélia.
__ Rapaz! Acorde! Acorde!
__ Que loucura, eu peguei no sono e...
__ Calma! Acho que apenas cochilamos... ainda é noite...
__ Ainda bem! Imagine se acordássemos de dia...
__ Não precisamos justificar nada...
__ O que sentimos não! Mas, o que fazemos sim... nós ainda devemos satisfação e respeito aos seus pais.
__ E vamos que logo mais iremos tomar banho no balneário do Jururu com a galera...
__ Que ótima idéia!
__ Ainda bem que gostou!
__ Nós estamos mesmo precisando de descanso e você está um bagaço...
__ Olha quem está falando? Acabou de dormir e se eu não o acordo ficaria aqui babando no meio da mato... – ela saiu em disparada com ele em seu encalço dando gargalhadas.
__ Como é super-homem, não consegue me alcançar?
__ Espere e verá...
__ Acho que esse super-herói precisa se aposentar...
__ Cuidado! Tem uma cobra no caminho!
__ Cobra! Onde? – ela parou de correr imediatamente e foi agarrada por Marinaldo. Ele pegou-a no colo e começou a correr com ela nos braços.
__ Ponha-me no chão seu mentiroso...
__ Vou leva-la até em casa. Minha assustada e medrosa princesa... senão a cobra lhe pega...
__ Assim não vale... você me enganou... seu trapaceiro de meia-tigela...
__ A corajosa e durona, ficou medo...
__ Ponha-me no chão e enfrente-me...
__ Claro. Mas, existe uma formiga aqui e ela pode ameaça-la.
__ Seu bobo! – Adélia beijou-o com tanto carinho e cuidado.
__ Acho que vou assusta-la mais vezes... se essa sempre for a recompensa.
__ Poderia ser mais do que isso. Se me pusesse no chão. – disse maliciosa e provocativa. Sendo atendida imediatamente. Adélia o fez fechar os olhos e quando ele a escutou, ela já se distanciava numa carreira inalcançável.
__ Venha e veja se consegue me pegar...
__ Ah, sua mentirosa...
__ Estou aprendendo com o mestre...
__ Eu vou lhe ensinar outras coisas...
__ Nessa moleza! – chegaram em casa, cansados, suados e bastantes desalinhados.
__ Os dois vieram correndo ou é impressão minha? – perguntou dona Louise que estava sentada na varanda.
__ Sim, mamãe! Apostamos uma corrida até aqui – disse ofegante.
__ Sua filha é uma excelente corredora, dona Louise! – disse Marinaldo jogando-se no chão.
__ Na próxima vez não aposte corrida com ela. Por aqui não há ninguém capaz de vence-la.
__ Só agora é que fui saber disso...
__ Vá tomar um banho, meu filho...
__ Sim. Até amanha para vocês duas. Será mais fácil pegar sagui.
__ Minha filha, agora que ele entrou. Venha até aqui e conte-me... – ela sentou-se no colo da mãe e se aninhou toda.
__ O que quer saber, mamãe?
__ Você ama esse rapaz?
__ Sim, eu o amo muito!
__ Há tempo não a vejo tão feliz e realizada. Ainda bem que ele chegou em sua vida e levou embora aquele ar de tristeza que pairava sobre você.
__ É verdade, mamãe. Ele está me fazendo muito feliz.
__ Que bom, minha filha. Fico feliz que tenha encontrado o amor que tanto merecia.
__ Pensei que não fosse encontra-lo nunca mais...
__ Nunca é tempo demais!
__ Eu não tinha mais nenhuma expectativa.
__ Aproveite para ser feliz, então. E viva o melhor que esse amor pode lhe dar.
__ Obrigada, mamãe! – disse com lágrimas nos olhos.
__ Agora entre e vá tomar um banho e procure dormir um pouco.
__ Sim. Amanha nós vamos ao balneário tomar banho, quer ir conosco?
__ Amanha!! Não, obrigada! Eu vou cuidar do nosso jardim.

Adélia foi direto para o banheiro e aproveitou a água na banheira e sumiu dentro dela. Pensando nas palavras de sua mãe. Ela assim o estava fazendo, aproveitando o que o amor havia lhe reservado. Da melhor forma e maneira possível e cada vez mais profundamente e melhor seria impossível. A felicidade não cabia em si. Saiu do banheiro e mergulhou exausta na cama e nem viu o dia amanhecer.


Capitulo 10

__ Ei, menina, acorde! – sua mãe soprava-lhe as palavras no ouvido.
__ Bom dia, mamãe!
__ Bom dia, minha filhinha! Vamos tomar um bom café antes de vocês saírem.
__ Humn! Café!
__ Sim. Sua vó fez daquele bolo de fubá que você adora. E ovos com bacon, também.
__ Essa minha vó quer me engordar uns dois quilos logo de manha...
__ Depois da corrida de ontem, acho que vai precisar mesmo.
__ Mãe, a senhora acha que dará certo... que vamos ficar juntos?
__ Filhinha! Quando eu vim para o Brasil em 1964, em Janeiro. Para fazer estudos da vegetação do cerrado. Eu dizia umas poucas palavras em português e o nosso grupo de pesquisadores estavam muito apreensivos e não sabíamos bem como seria estar aqui. Tínhamos recebido amostras de um liquido encontrado dentro de algumas árvores da mata atlântica e de algumas espécies de plantas que o laboratório queria transformar em vários remédios. E quando estávamos descendo o Rio Tocantins. Os meus olhos cruzaram com a luz dos olhos de seu pai e naquele momento, eu soube que seria para sempre. Fiquei admirada com a cor da pele dele, moreno e com um físico de atleta. E lá estava ele, numa outra balsa de pé e quando as balsas se cruzaram, eu quis mergulhar nas águas daquele rio e ir atrás dele.- os olhos de Louise faiscavam.
__ E o que a senhora fez?
__ Eu era jovem que sonhava em salvar o mundo. Estava com vinte e seis anos e não sabia como perguntar de onde viera aquela balsa. E então resolvi ficar na margem de onde as balsas saiam, para esperar que ele pudesse voltar. E horas depois, seu pai retornou e ao passar por min. Ele me sorriu e eu sorri de volta e foi o suficiente para que eu me despedisse do grupo e ficasse em terra.
__ Mas, e o papai?
__ Ele percebeu que alguma coisa acontecia. Ele ficou ali sorrindo em minha direção. E eu feliz, parada, gelada e muda. Até que o nosso guia, percebendo a situação aproximou dele e disse algumas palavras. E voltando-se a min, perguntou-me se eu gostaria de almoçar com seu pai, que acabara de me convidar. Assim começou a nossa estória e não precisou de tempo para saber se daria certo ou não!
__ Mamãe, que estória maravilhosa e que amor lindo...
__ O seu amor também pode ser lindo. Vá e lute para que assim o seja. – Adélia abriu um sorriso e abraçou-a risonha e faceira, levantou-se e puxou-a pela mão e começou a dançar com sua mãe pelo quarto.
__ Vamos pare com isso...
__ Sinto-me leve e feliz... – a porta se abriu e era seu Cinézio.
__ Posso participar dessa dança?
__ Claro, papai! Venha vamos dançar à três...
__ O que deu nessa menina, para estar assim tão feliz?
__ Contei-lhe como nós nos conhecemos...
__ Mas, espero que tenha sido só até a parte das balsas...
__ Lógico! O que aconteceu depois eu a contarei.
__ Ah, bom! Senão ela estaria chorando de rir com as confusões que eu arrumei.
__ Quais confusões?
__ Por causa da língua... não conseguia faze-la me entender e só...
Nessa época em que as cheias dos rios que compõem o cerrado quase se extinguem. Surgem lençóis de areia por toda região onde as margens dos rios se transformam em verdadeiras praias.
Durante a estação seca as árvores pequenas com suas poucas folhagens e longas raízes. Vão assim surgindo, espalhadas, dando a paisagem, uma visão seca e solida. Na parte do rio Jururu em que se transformara numa imensa praia, as pessoas vão chegando e logo tudo vira uma festa. Uns se aglomeram em volta de uma viola e outras vão se espalhando pela areia.

__ Oi, Adélia. Como vai?
__ Oi, Jobson. Tudo bem.? – ele a abraçou gentilmente.

Marinaldo estava a uns metros de distancia e subitamente os olhares dos dois se encontraram e mantiveram-se presos e Adélia sentiu uma estranha sensação, que não entendeu direito. Jobson era seu amigo desde a infância. Mas, ela se deu conta, de repente de como ele ficara feliz ao vê-la. Um sorriso caloroso iluminou os olhos escuros dele enquanto Marinaldo dirigia-se lentamente até os dois. Houve um momento de constrangimento entre ambos ao ficar evidente a excitação de Jobson.

__ Você está ótima, Adélia! – reparou que ela estava muito mais esbelta. Andava trabalhando demais, isso era evidente, mas, estava muito feliz. Havia um sorriso no olhar e algo mais, que o perturbava. Percebera nela algo diferente, que não notara antes. Estava mais feminina, talvez mais abertamente sensual. E os pensamentos dele voltaram-se imediatamente para a voz masculina de Marinaldo, que aproximava-se. Tentou afastar à força tais pensamentos, mas, não conseguiu. Adélia parecia mais linda do que nunca, e ele queria muito não estar pensando tanta besteira sobre ele, sabia que não tinha esse direito. Enquanto Marinaldo que já chegara próximo demais, o olhava curioso:

__ O que foi, Jobson?
__ Só estou feliz por vê-la, Adélia... não sei o que aconteceu... – os olhos dela pousaram com meiguice em seu rosto.
__ Ainda somos amigos. Lembre-se disso... e agora deixe-me apresenta-lo ao Marinaldo.
__ Ah, sim!

Adélia sabia que Jobson não estava bancando o engraçado.

__ Você está com uma cara muito séria, Adélia! – Marinaldo deixou para falar depois que Jobson se afastou.
__ Não é nada. Acho que é só cansaço e uma enorme vontade de nadar, vamos?
__ Claro!

Adélia franziu a testa desejando que não tivesse nenhum problema com Jobson. Ainda que o conhecia desde pequeno e ele sempre fora muito seu amigo.

__ Não será assim que vai conquista-la...
__ Mariana! Eu não sei do que você está falando...
__ Desse negocio duro dentro do seu short! É disso que eu estou falando...
__ Isso... isso... foi um acidente...
__ Acidente! Mudou de nome agora, é?
__ Mariana, eu não estou a fim dela... foi só...
__ Vocês sempre foram muito ligados desde pequenos. Mas, daí, ter essa reação... se você quiser eu posso dar um jeito nisso aí em baixo...posso deixa-lo bem louco... mas, não aqui...agora veja se entra nessa água para esconder esse tubarão...
__ Vai entrar comigo?
__ Deixo você fazer tudo que você quiser comigo, mas, terá que me fazer um favorzinho antes...
__ Que favor?
__ Vá para água e depois eu lhe falo...

Mariana da margem do rio olhava para Adélia maldosamente pensando em como separa-los. Quando de repente fez uma expressão de quem acabara de ter uma idéia.


__ Romilda, eu estive conversando com o Jobson e ele quer encontra-la hoje à tarde na “Gruta dos Morcegos”.
__ Mas, porque ele não fala comigo aqui e agora?
__ Deve estar querendo ficar à sós com você. Acho que você conseguiu o que queria...
__ Obrigada, Mariana. Diga a ele que estarei lá às quatro da tarde!
__ Direi agora mesmo.

Mariana entrou na água e falou rapidamente com Jobson sobre Romilda e o encontro e que seria às três da tarde.

__ Antes eu vou aparecer lá e te deixar com gostinho de quero mais e só depois farei o que você quiser...
__ Romilda a fim de min! Nunca pensei! Legal, eu estarei lá...
__ Deixe-me ir falar com Janeth. Depois você me diz o que vai querer que eu faça com você...
__ Tá bom... sei... sei... – afastando-se dele, ela nadou até Janeth.
__ Janeth! Você me fará um enorme favor...
__ Que favor?
__ Lembre-se que eu não contei nada sobre o seu irmão e a Isoldinha, não foi?
__ É você foi muito legal! O que quer que eu faça?
__ Simples! Basta levar Adélia até a gruta dos morcegos e depois volte e leve o Marinaldo também. Às três e em ponto.
__ Para quê?
__ Saiba apenas isso e esse será o nosso segredo. É só um trote!

Mariana em poucos minutos já tinha em sua cabeça um plano terrível para acabar com a felicidade de Adélia, ao perceber que Marinaldo ficou tenso ao vê-la abraçada a Jobson. Um lapso de ciúme bem orientado poderia se transformar num imenso barril de pólvora.

Domingo à tarde com tudo montado. A gruta dos morcegos, onde um rio subterrâneo passava pela caverna e formava uma bacia de águas turvas dentro da montanha. Mariana que a espreita no meio do caminho observava o seu plano iniciar. Viu assustada, Romilda passar correndo com Adélia e o plano que ela tinha de fazer com que Marinaldo encontrasse com ela e Jobson, mudou. Algo aconteceu e era real. E não fazia parte de seu plano. Foi atrás das duas em escondido.

__ Adélia, graças a Deus! Por favor venha depressa. Eu estava com o Jobson e ele desapareceu na água... ele estava meio febril..
__ Calma! Onde vocês estavam?
__ Na gruta dos morcegos... era para encontra-lo às quatro, mas, ele foi lá em casa e me levou para lá... eu vou buscar mais ajuda...
__ Vá lá no poço das capivaras, que Marinaldo está lá...

Adélia saiu em disparada, com menos de dois minutos já estava atravessando as árvores que ficavam próximas a margem do rio. Vasculhando por todos os lados do rio. Mergulhando em todas as direções e o avistou boiando. Adélia nadou em direção ao amigo inconsciente e arrastou-o até a margem. E o pôs de lado e depois de barriga para cima. Sem se importar que ele estivesse nu. Levantou o vestido e passou-lhe as coxas em volta de sua cintura e sentou-se nela. Não havia tempo para pudor precisava salva-lo. Com um braço por baixo de sua cabeça erguendo-a um pouco, começou a fazer-lhe respiração boca a boca, sentiu que não havia resposta, aplicou uma massagem cardíaca e repetiu mais uma vez a respiração boca a boca. Até que a resposta surgiu num gemido baixinho.

__ Graças a Deus! Respire devagar...
__ Devo estar morto e você deve ser um anjo...
__ Fique quieto... – Adélia sentiu entre suas pernas o sexo duro de Jobson que quase inconsciente não tinha nenhuma noção do que acontecia. Ela sentia a rigidez dele pulsar entre suas pernas e em sua pele. E ele jovem, com seus um metro e setenta e dois de morenice e de um porte físico espetacular e de olhos tão escuros quanto seus cabelos longos. Ali, em delírios. Sentou-se e abraçado a Adélia delirava em febre. E com a mão apertava suas costas e tresloucadamente movimentava-as pelo corpo de Adélia que não conseguia reagir e sair de cima dele, que se mexia sem parar como se quisesse penetra-la.
__ Sua boca...você disse que... fará o que eu quiser...
__ Jobson... pare.. eu não quero...por favor... – Adélia tentava sair mas, a cada vez que tentava levantar-se sentia as estocadas violentas e forçando para penetra-la. Se continuasse tentando se erguer fatalmente seria invadida por aquele membro.
__ Jobson ... sou eu Adélia...por favor... sou eu... – Jobson pôs a mão entre as pernas de Adélia e conduziu seu sexo ao encontro do dela e forçando, tentando entrar.

Até que Romilda chegara com Marinaldo e de longe, os dois não conseguiam acreditar no que seus olhos lhes mostravam. Viam Jobson nu e Adélia sentada em seu colo. Marinaldo virou e saiu correndo na direção oposta e Romilda caminhou lentamente em direção aos dois.

__ Jobson... abra os olhos... veja... sou eu...você está me machucando... – num instante de lucidez ele abriu os olhos e soltou um grito de pavor.
__ Meu Deus! – acabou de falar e cair para trás desmaiado.

Adélia recompôs-se e colocou-o lentamente no chão, ela sabia que aquilo fôra um delírio e ninguém tinha culpa e também precisava leva-lo para casa. Teria que ser cuidado. Não o abandonaria ali em meio ao nada. Tinha que chegar ajuda.

Romilda aproximou-se em soluços, apenas olhava tudo.


__ Adélia... vocês...
__ Claro que não! Ele estava delirando! Está queimando de febre. Não sei o que houve. Encontrei-o boiando e trouxe-o aqui e fiz respiração boca a boca e de repente, ele começou a delirar...
__ Vamos tira-lo daqui! Deixe-me ir lá atrás pegar a roupa dele... nós estávamos para entrar na água e ele tirou a roupa e mergulhou e eu nem cheguei a entrar na água. Disse que só entraria se ele colocasse a roupa e de repente, ele desapareceu e sai correndo... Adélia... o Marinaldo...
__ O que tem ele?
__ Ele os viu... e ... acho que pensou que vocês...
__ Ah, não!
__ Desculpa, Adélia... mas de longe parecia que...
__ Vamos leva-lo daqui e depois eu tentarei explicar a ele...
__ Eu vou com você...
__ Obrigada!

Chegando em casa com a respiração entrecortada, Adélia e Romilda chegaram e encontraram Marinaldo com um ar triste sentado junto ao jardim.

__ Marinaldo! Marinaldo! – ao ver o desespero nos olhos de Adélia e sem entender, ele nunca a vira tão nervosa.



__ Calma! – apanhou-a pela mão. Aquilo pareceu acalma-la, mas, quando entraram para almoçar, Adélia ainda pensando, com espanto, no que ele dissera. Ele já começava a vê-la como ela era, com seus temores e falhas, além das virtudes. Mas nenhum dos dois estava pensando nisso, quando percebera que sentiam a parte mais vital de seus seres sendo arrancada de novo. Adélia já sentira essa dor muitas vezes, e no entanto, cada vez, era sempre como se fosse a primeira.
Marinaldo, que ficara calado enquanto Adélia chorava, fitando cegamente o chão, simplesmente lhe rodeou os ombros e puxou-a para junto de si.

__ Marinaldo, você precisa confiar em min... escute... eu estava indo ao poço das capivaras para encontra-lo... e Romilda veio correndo até a min... dizendo que o Jobson havia desaparecido... lá na gruta dos morcegos... eu fui para lá e pedi que ela fosse lhe chamar... e quando eu cheguei lá... mergulhei e encontrei-o boiando...nu e desacordado... tire-o da água... e fiz respiração boca a boca nele... e ele começou a delirar de febre... e ficou descontrolado...
__ Eu é que sou um idiota e não suportei vê-la em seu colo... sentada... ele nu... fique calma... já passou... e ele?
__ Eu e Romilda conseguimos leva-lo para casa e os pais dele estão cuidando dele. O médico deve chegar logo, mas, ele já está melhor...
__ Quando for bancar a heroína novamente me chame antes!
Capitulo 11

__ Oh!
__ Se não fosse a Adélia, ele teria morrido afogado...
__ Romilda! Se não fosse você... eu o teria matado por agarrar minha heroína daquele jeito... que nem parecia um salvamento...
__ Eu quase não consegui me mexer, mas, desci, e fui lá para ver o que acontecia. Não acreditava que esses dois estivessem de sem-vergonhice.
__ Eu nem sei o que eu pensei... depois do que vi...
__ Vocês estão me ajudando muito, obrigada! Na próxima vez, se alguém estiver precisando da minha ajuda, vai esperar e esperar... que eu não vou sair do lugar onde estiver. Depois desse susto...
Adélia mais uma vez cavalgava à céu aberto e nesses momentos nada a segurava nem sua tristeza e nem suas velhas lembranças. Apenas flutuava levada por sua égua, charmosinha. Com sua cor negra e postura de campeã. Uma bela espécie da raça mangalarga marchador. Nascida e criada na fazenda. Como uma verdadeira rainha.
Entre as duas existia uma espécie de cumplicidade quase humana. Toda vez que Adélia aproximava-se de charmosinha sentindo-se triste, a égua compadecia-se e relinchava alegremente e abaixava-se para que Adélia pudesse monta-la.
Adélia mergulhava em seus pensamentos e deixava que a égua a conduzisse sempre a lugares onde as duas pudessem ficar sossegadas e quietas. Desta vez o rumo tomado foi do Salto do rio Jururu, batizado pelos antigos moradores de Cachoeira Celestial, pela visão de sua altura e a formação de nuvens d’água. A impressão de quem a olhava de longe, parecia que sua queda d’água iniciava-se no céu. Os antigos moradores acreditavam que Deus mandava aquelas águas do céu, para que quem se banhassem nelas, pudessem lavar todas as impurezas do corpo e d’alma.
Vários poços espalhados ao longo do rio. Eram como bacias que guardavam a água a espera de alguém para usa-los. E do mirante improvisado podia-se ter uma visão de tudo o vale e bastava virar a cabeça e lá estava a exuberante e formosa floresta com pequenas cascatas em regatos próximo.
Diante dessa belíssima paisagem. Sentada junto ao regato com o olhar perdido em meio ao nada, Adélia tentava livrar-se da tristeza que lhe pesava os ombros. Ela queria deixar que aquela fosse simplesmente embora. Mas, assim como aquele remanso do rio, onde ela se encontrava com o movimento do curso d’água quase nulo. Os seus sentimentos também pareciam estacionados em seu ser.
Chegavam rápidos e vagarosamente iam cessando, sempre lentos, presos em sua mente, como se essa cessação de resoluções caíssem bem em Adélia, que parecia já estar acostumada com a tristeza e a solidão. E agora com a paixão por Marinaldo, que com seus olhares que pareciam desfigura-la. Ela acreditava que nele estava a chance de voltar a viver, de esquecer das coisas que sofreu depois do abandono de seu noivo. E que podia ser feliz, embora ela não quisesse dar atenção além de suas forças. Ela sabia que os olhares dele eram sinceros e honestos e no fundo daqueles olhos negros havia algo que a fascinava.
Diferentes das outras vezes, naquele instante, ali, sentada, inerte, hipnotizada. A dor já não parecia insuportável. Era contida, pequena, quase uma lembrança de algo que lhe acontecera, uma vez no passado. Os seus sentimentos misturavam-se entre o que passou e o que estava porvir. Assim, como as águas daquele remanso, mesmo quase sem perceber, elas iam passando lentamente e mudando como a sua vida que lentamente apresentava uma mudança.
Um leve sorriso surgiu em seu rosto, primeiro timidamente e logo após, mais livremente, e as lágrimas que se ajuntavam nos cantos dos olhos iam secando. A cada lembrança e pensamento. Podia fechar os olhos e ver Marinaldo lhe olhando. Até o som peculiar da arara vermelha, que tinha uma nota triste aos ouvidos de Adélia. Agora, tinha algo diferente, de esperança, de alegria e de sonhos. Assim, como a arara livre nas árvores, ela pela primeira vez, sentia que também podia ser livre, e soltar o que antes lhe fizera prisioneira de si mesma.
Montada novamente e tendo a certeza de que deixara o episódio triste da gruta para trás. Adélia voltava mais confiante e queria chegar antes que Marinaldo pudesse estar dormindo. Queria vê-lo, estar com ele mais uma vez. Ela sabia que ele estaria na cama. Foi só dali a algum tempo que reparou que podia perder-lhe. E uma menininha dentro dela teve vontade de chorar, mas, nada transpareceu-lhe nos olhos, exceto o amor que sentia por ele. Sorriu ao vê-lo deitado e inclinando-se para beija-lo na face, viu-o se mexer, mas, não o acordou.

Novamente pela manha, Adélia foi até o quarto dele. Desta vez, ela fez um barulho na cadeira.

__ Está dormindo, meu rapaz?
__ Não, eu estou acordadíssimo! – olhou para o relógio na parede com um sorriso.
__ Tem tempo para uma xícara de chá ou quer que eu leve esta bandeja embora?
__ Gostaria muito de tomar café com você. Que gostoso acordar e vê-la do meu lado, assim linda. – Adélia sorriu para ele enquanto lhe servia uma xícara de café quente e deixava transparecer uma beleza íntima e cúmplice.
__ Eu acho difícil acreditar que você já parte de min. – falou com um sorriso lento e sereno e com as pernas cumpridas estendidas para a janela.
__ Às vezes parece –me que sempre você sempre fez parte de min e que sempre estive ao seu lado. Como esse vento... – Adélia sorriu e desde então, era mais difícil acreditar em todas as coisas que tinham acontecido na vida dela.
__ É assim que eu me sinto sendo sua há bastante tempo. Toda minha vida... – o coração dele tremeu ante tais palavras, embora estivessem juntos há pouco tempo. Sentia que esse sentimento lhe pertencia a vida toda.

Adélia notou então que os olhos dele estavam mais apaixonados do que quando falara. E havia neles um brilho que não existia antes. Parecia moço, mas, era responsável e maduro. Era o que lhe agradava nele. Não tinha beleza suave, mas, olhar constantemente para aquele rosto fabuloso era algo maravilhoso e ao mesmo tempo era desconcertante se dar conta de que Marinaldo era lindíssimo. Dia após dia. Sua aparência física era como uma região sem chuva ou nuvens, apenas sol radioso o tempo todo.
Adélia inspirou longa, lenta e profundamente. Ela enrubesceu. Era embaraçoso admitir que já não sentia pesar em seus ombros. As lembranças terríveis, todo o sofrimento e solidão com que viveu cercada por tanto tempo.

__ Não pode ser muito difícil conviver com isso! – ele voltou os olhos para o rosto dela.
__ Sim, realmente não é! – teve que concordar e depois ela sorriu sonhadoramente.
__ Então, talvez valha a pena!
__ No momento é só o que vale...e gostaria de agradecer-lhe por não ter duvidado de min. No que aconteceu lá na gruta...
__ Deixe de pensar nisso... - a voz dele estava acalentadora e ao passar a mão nos cabelos dela. Adélia sentiu-se protegida.

Marinaldo beijou-a com força e longamente e pousando-lhe as mãos em suas costas deixou que ela a envolvesse em seus braços. Por alguns minutos, calado, sereno e seguro. Ele permaneceu sentado na cama, admirando-a e com uma serenidade e em profundo silêncio observava o vento em seus cabelos e em sua face.



A noite caiu pesadamente no cerrado e sob as colinas verdejantes. Ao chegar em casa, Adélia o aguardava no portão, nessa noite, eles estavam iluminados não só pela luz da lua, mas, também por uma luz interna.

__ Ah, minha menina você está adorável! – ele tomou-a pelas mãos e afastou-se um pouco a fim de admirar o vestido de seda azul-turquesa que reluzia sob a iluminação das estrelas. Decotado até a entrada dos seios se ajustava logo abaixo.

De fato o tempo mostrava-se esplêndido. O ar vibrava, a aragem fresca vindo do rio abrandava o calor. O orvalho, as pastagens, faiscava com a luminosidade e as roseiras silvestres no jardim, carregadas de flores, espalhavam um perfume delicado no ar. O cenário, os odores e as sensações despertavam-lhes uma alegria profunda.
Adélia recordava-se de outros meses no passado e que, certamente não se repetiriam no futuro. Seria felicíssima se passasse o resto da vida ali, congelada. Suspirou, satisfeita por haver encontrado Marinaldo e estar sendo uma mulher mais alegre e feliz. E ainda por cima, tinha uma fazenda e região para ser cuidada e preservada.
Mas então, lembrou-se das cenas estranhas que vivera no dia anterior. Voltou a sentir o toque dos dedos de Marinaldo em seu rosto e ouviu-lhe a respiração e deu-se conta da própria receptividade. Encontrava-se imersa em reflexões, cada um entregue aos próprios pensamentos. Sorrindo Marinaldo explicou:

__ Estamos livres do pesadelo! Vamos até o lago quero aproveitar essa alegria...

Adélia desconfiada feito um cachorro que apanhou muito quando pequenino que ficou medroso para o resto da vida. Ao alcançarem a estrada do lago, ela virou-se pata trás sorrindo, a menininha tinha reaparecido. Seu rostinho iluminou-se sorridente quando Marinaldo a apertou-lhe contra si.
Caminhavam ao luar no fim da estrada, o lago cintilante. logo adiante à esquerda do lago e a estrada, havia uma cabana onde todos se trocavam para nadar. Tudo maravilhoso e magico. Mas, precisavam retornarem para o jantar.

Ambos encontravam-se à mesa. Quando dona Louise anunciou o noivado. Os olhos do pai brilhavam de orgulho. Adélia surpresa, não se continha em lágrimas e a avó, pela centésima vez indagou-se como era feliz por ter uma neta tão linda e determinada.
Por estar de costas para a avó. A quem demonstrava tanto carinho e afeição. Virou-se e abraçou-a e sentou-se à mesa e aspirou o vapor que subia do frango com pequi, dos ovos mexidos e feijão recém saídos do fogão à lenha. Sentia uma apetite enorme.
Arrumado o prato, ajeitou-se à mesa em frente à avó, feliz não sabia se mastigava ou se admirava o anel em seu dedo da mão direita, que segundos antes fôra posto por Marinaldo. E era o mesmo anel que estava na família há anos e anos atrás.
Quando todos terminaram retiraram-se para a sala e como de costume, a avó contava estórias de seu passado. Adélia as escutava com atenção e prazer. A mulher franzina curvou a cabeça e enxugou as mãos no avental desbotado. Ali, tudo nela tinha uma aparência apagada, as roupas, os cabelos e as feições envelhecidas.

__ Esse anel foi-me dado pelo seu avô, Teodoro Lins. Lá na cidade santa, Belo Monte quando nós aos vinte anos de idade largamos tudo aqui em Goiás e fomos para Bahia lutar ao lado de Antônio Conselheiro e seus jagunços. Nós acreditávamos que se lutássemos ao lado do beato, nós ganharíamos os reinos dos céus. Então, largamos a nossa pequena terra e nos juntamos ao seu exercito e vivemos uns meses em canudos, como era conhecida aquela região. Seu avô e eu descobrimos que eu estava grávida de seu pai. E ele decidiu que nós tínhamos que sair de lá. Eu relutei muito, mas, ele me convenceu a deixar a fazenda.
Dois dias depois de chegarmos novamente aqui, no dia cinco de Outubro de mil oitocentos e noventa e sete, espalhou-se a noticia que todos os mais de trinta mil jagunços, foram mortos, pelo exercito montado pelo Presidente. Homens que saíram do Rio de Janeiro e outros formados pela Igreja Católica, que era contra outras religiosidades populares.
Na verdade eu fui salva pelo seu pai que em minha barriga, salvou-nos da ira do General Artur Oscar, que cumpriu sua missão e não fez nenhum prisioneiro.
__ Vovó, por que a igreja ficou contra?
__ Porque muitos preferiam ouvir os sermões de Antônio Conselheiro, figura messiânica inaceitável ao clero, e ele prometia ao povo de Canudos, além de sobrevivência, a salvação de suas almas. Acreditando que seria aquela uma guerra santa e que herdaríamos o reino dos céus, se morrêssemos na luta.
Apesar da tristeza de saber que milhares de camponeses e mesmo os soldados que morreram as margens do Rio Vaza Barris. Dois dias antes, seu avô, deu-me este anel, que pertenceu a família dele por gerações, e naquele dia, eu senti-me a mulher mais feliz do mundo. E sempre que eu olhava para esse anel, eu não conseguia lembrar-me da tristeza, eu só sentia a vida e a alegria. E em mil novecentos e cinqüenta e sete, perdi seu avô para um enfarto.
__ Oh, vovó! Pode deixar que de agora em diante, eu vou me lembrar sempre dessa estória linda e jamais esquecerei disso. – com a voz embargada pela emoção, Adélia não segurou as lágrimas.
__ Venha mamãe! Eu vou leva-la para cama. – disse seu Cinézio emocionado como todos os outros presentes.
__ Vê! Esse é o meu orgulho!
__ Venha mamãe, já foi muita emoção por hoje.
__ Bença. Minha vó!
__ Deus a abençoe, minha filha! – Adélia ergueu a mão direita e contemplou o anel emocionada e feliz – Nós não temos mortes para lembrar, apenas as tristes armações de Mariana. Mas, eu vou me lembrar do meu avô e da minha avó, cada vez que eu me sentir triste. Olharei para esse anel e lembrarei da felicidade deles dois e da nossa.

E longe dali ao pé da Serra da Pedra, Romilda vinha de sua cavalgada noturna, e ao perceber que Jobson estava parado com os olhos fixos aos abismos que se encontravam à sua frente, o rosto da moça iluminou-se de prazer.

__ Deixe-me ajuda-la a descer – disse ele sorrindo ao vê-la.
__ Obrigada!
__ De onde vem vindo? – Quis saber curioso.
__ Ah! – suspirou ela. – Nós estávamos cavalgando a horas.
__ Então, divertiu-se bastante. Imagino!
__ Nem queira saber! – garantiu ela com um outro suspiro. Jobson entretanto já tinha lhe virado às costas, para segurar a montaria.
__ Não gostaria de ir ao topo da serra e ver o nascer do sol? Vai ser lindo, e não teremos que esperar por muito tempo.
__ Ah, não vai dar. Eu estou muito cansada.
__ Calculo! Ainda mais depois dessa cavalgada...
__ Seria capaz de dormir e não ver nada e ainda mais como justificaria minha ausência em casa ela manha?
__ E também teria que explicar minha presença ao seu lado – ele comentou num tom estranho que a fez virar-se surpresa. Jobson mostrava-se tenso, porém continuava a sorrir. Seria tão bom manter a companhia de Romilda, nesse momento: pensava ele.

Romilda feliz por estar ali naquele lugar com ele, antes desejava chegar em casa e ficar sozinha no quarto a fim de refletir sobre tudo o que acontecera. Mas, sentia-se alegre por ele ter aparecido ou por eles terem se encontrado ali. Depois do breve afastamento dele após o incidente da gruta.
Porém, Jobson estava ali, e pelo jeito sem a mínima pressa de ir embora. Ele havia tomado as rédeas em suas mãos e conduzia o cavalo. Romilda não se apercebia de nada, exceto da atração exercida pela adorável criatura ao seu lado. Ela erguendo os ombros para os pensamentos distantes.

__ O que você acha de Mariana? – perguntou ele cabisbaixo.

A pergunta foi inesperada e Romilda não se atreveria responder o que sentia. Fitando-o com certa moderação e torcendo para que ele não percebesse o conflito em que se encontrava, a menina disfarçou a voz e firme respondeu:

__Por que me pergunta sobre ela? o que acha que eu posso saber?
__ Acho que eu descobri que ela não era como eu pensava que fosse...
__ E como você pensava que ela fosse? – falou nervosa.
__Que fosse amiga, leal e generosa. Essas qualidades que eu sei que tens e que admiro muito.
__ Obrigada! – Romilda sabia que Mariana não tinha esses sentimentos para afetar-lhe os sentidos dessa forma. Apesar de saber que fisicamente não seria páreo para a beleza física de Mariana. Ela sabia que o caminho que escolhera era o mais seguro para se conquistar um homem.
__ Mariana, mentiu e me enganou. E ainda por cima me usou querendo que fizesse algo contra Adélia, marcou aquele encontro com você na gruta e disse que antes ela apareceria lá que me daria uma amostra do que me daria se eu a ajudasse. Por isso fui mais cedo à sua casa e a levei para a gruta, caso ela aparecesse eu estaria lá com você...
__ Ela havia dito que era para estar lá às quatro da tarde...
Capitulo 12

__ E para min, ela disse às três da tarde. Seja o que for que ela queria fazer não deu certo.
__ Por isso, você estava feito louco e parecia estar com febre...
__ Era de nervoso...Mariana sabia que eu não fiquei com nenhuma mulher até hoje e que eu... estou ... sem controle. Por isso ela me seduziu no balneário e disse-me uns negócios sujos...
__ Sinto muito, não poder ajuda-lo...
__ Claro que pode! Romilda se você permitir que nos vejamos e que venhamos a ser mais do que amigos... – Romilda tinha a sensação que os pulmões não conseguiam se encher de ar completamente. A mente se esvaziava diante da necessidade de estar na presença dele. Não só por aquela noite. Algumas horas antes nessa mesma tarde tentara se convencer de que tudo que sonhara não passaria de ilusão. E agora com Jobson ao seu lado, lutava para impedir uma inundação de águas revoltas com uma barragem de gravetos.

O perfume suave da grama, a respiração densa, os suspiros lhe exerciam um efeito devastador. Como mulher alguma jamais conseguira sentir. As mãos estavam trêmulas e suadas. Não convinha que Jobson descobrisse seu pânico. Sua meninice que tanto fez para demonstrar, escondia-se, e surgia uma mulher linda, morena, sensual, com olhos negros capaz de enxergar os sonhos e desejos de quem olhasse dentro deles. Controlou-se a fim de falar com naturalidade.

__ Estou contente por haver pensado em min e havia desistido desse trem e até de ser sua amiga...
__ Você aceita ficar do meu lado?
__ Sim, aceito! É isso que você quer?
__ É o que eu mais quero nessa vida, uai!
__ Eu nem acredito...
__ Pode acreditar... uai!
Romilda fez uma expressão de quem esperava algo mais, um aperto de mão, um abraço talvez. Enquanto ele percorria com o olhar por seu rosto, detendo-se finalmente em seus lábios. Ela sentiu o coração disparar ante a possibilidade de uma investida neles, depressa desviou o olhar.

__ Então, prometa-me que vai ficar bem... – o rosto da menina sombreou e o ouviu suspirar baixinho e virando-se, ela sentiu a mão dele tocar-lhe o ombro, e a outra segurar-lhe a mão.
__ Acho que nunca sentiria isso com outra pessoa e estar aqui. Sentado, olhando para aquelas árvores à distancia e de mãos dadas à você. Tenho certeza de que nunca me senti tão bem e feliz.

Pela primeira vez, Romilda quis livrar-se das roupas nada feminina que usava e mostrar a ele que era uma mulher linda e capaz de chamar à atenção para suas curvas arredondadas e perfeita. No instante seguinte, virando-se para ficar frente-a-frente com ele. Num movimento brusco, fez com que sua mão caísse de seu ombro e encontrasse seu seio. Esquivando-se para o lado, ela colocou o rosto para trás e os lábios dele tocaram em seu pescoço. E sem forças para empurra-lo, ela se viu diante dos lábios dele, e em seguida ele a estava beijando na boca.
Apesar do desejo intenso, ela recuou e ficou balançando a cabeça no ar e reconheceu que o esforço que fizera fôra inútil, sentia-se nua, exposta diante dele. Dominada por um amor irrefreável revelou algo que, em outras circunstancias teria tomado cuidado de omitir.
Romilda ainda tentou resistir, quando ele voltou a abraça-la e descobrir a maciez do corpo de uma mulher feita. Ao se tocarem pouco depois, o rosto dela ainda se mostrava rubro e os olhos brilhavam. Ela não se atreveu protestar, quando ele a beijou no ombro e no pescoço. Levou-a para trás delicadamente e deitou-a na relva enquanto ele deitava sob seu corpo macio, e com as mãos esfregou-a em seus cabelos, como se com esse gesto pudesse apagar as lembranças de suas angústias e das palavras que ainda não foram ditas.

__ Romilda, não pense que eu quero apenas aproveitar-me de você, ao contrario disso, eu gostaria muito de saber todas as coisas sobre você e conhece-la bem mais do que já conheço. Saber dos seus gostos, dos seus sonhos e enfim, participar da sua vida e se possível, ser seu namorado...
__ Namorado?
__ Sim, uai!
__ Mas, eu pensei que você fosse namorar a Mariana...
__ Mariana não será nunca nada para min. Ela usava o corpo para me confundir e eu tolo quase cai na dela. E você me mostrou que isso não é o mais importante e que eu não preciso disso para min. E saber que ela usou da sedução para que pudesse fazer algo contra uma pessoa tão generosa quanto Adélia.

Recostada com a cabeça em seus ombros, Romilda colocou uma das mãos em sua boca, a fim de protege-lo e contemplou os campos.


__ Você é bom e Adélia sabe disso... – falou com voz chorosa.
__ Ninguém lembrou-me disso. – comentou ficando de joelhos como se pedisse perdão.
__ Está estória tem que terminar... além do mais... você estava em choque... não podia evitar...
__ Ainda sim, eu sinto-me mal pelo que fiz, por ter ferido os sentimentos de Adélia, os seus e de Marinaldo. – relutou ele.
__ Eu o ajudarei a acabar com essa culpa. – Romilda apoiada nos joelhos e olhando para a claridade refletida em seus pés. Vasculhava a mente à procura de solução e correu o olhar em sua volta e o surpreendeu com um beijo tenro e gentil.
__ Romilda, amanha eu irei à sua casa pedir aos seus pais para namora-la...
__ Então, poderemos ir a festa de noivado de Adélia e Marinaldo. Como namorados de verdade?
__ Noivado?
__ Marinaldo me contou hoje cedo...
__ Então, nós vamos lá como namorados... – os dois se abraçaram felizes e por algum tempo ficaram abraçados e reunindo os sentimentos espalhados em seus corações e mentes.

O dia amanheceu com o mesmo calor do dia anterior. Jobson saiu apressado e feliz por não ter compactuado com qualquer que fosse a armação que Mariana tivesse em mente.

Mariana ao vê-lo sair de casa nem esperou que ele se distanciasse, pegou-o pelo braço e o conduziu até o estábulo nos fundos de sua casa. Ali, no estábulo, não haveria a menor possibilidade de serem vistos. Mariana o fez sentar-se num monte de feno.

__ Preciso que me ajude! – disse ela erguendo o vestido ao encostar-se na escada de madeira.
__ Eu não vou ajuda-la em nada...
__ Ainda nem disse que tipo de ajuda estou precisando. – disse ela erguendo um pouco mais o vestido para que ele pudesse ver que nada usava além daquele vestido verde –claro, curto e bem decotado e das sandálias branca.

O estábulo mergulhava na penumbra e no silêncio. As baias estavam vazias. Concentrando toda atenção, Mariana caminhou devagar até a porta no fundo da última baia à esquerda de onde entraram, abaixou a tranca. A única réstia de luz que passava pelo vão aberto, ficou do lado de fora. Levantando um pouco mais o vestido, foi andando para o meio do estábulo, sem correr em direção a Jobson. Com o pé juntou um pouco de feno na chão e depois curvou-se para observar melhor. No instante seguinte, encontrava-se de joelhos e juntava a palha à braçadas. Bem devagar, percorreu com a mão por seu corpo e enfiou a mão nos seios e a outra mão afastou os cabelos para o lado e soltou o nó que prendia a alça em seu pescoço. Sentiu estar com os seios livres. Apoiada nos joelhos curvou-se até ficar de quatro, quando enfim abriu-se completamente o vestido aos olhos nervosos de Jobson. Que tremia descompassado pelo medo e pela excitação.

__ Venha e esqueça essa bobagem. Pense que nós dois poderemos sempre fazer isso... sempre... – com a voz ofegante Mariana o hipnotizara.

A bela Mariana ali, exposta. Era irrecusável a qualquer homem. E Jobson, um menino sem controle em sua virilidade e energia. Embora sua boca negasse, o seu corpo implorava para toca-la e desfrutar daquele corpo sensual. percebendo que as mãos dele tremiam e que ele as esfregava sem parar. Mariana jogara a cabeça para trás e lançava ao ar os longos cabelos, fazendo uma imagem ainda mais sensual e provocativa.
E lentamente engatinhou até ele e colocou uma das mãos à entrada da cavidade de seu short. Desta vez, seu esforço surtiu mais efeito e sua mão o acariciou num ritmo frenético. Foram precisos alguns minutos para Jobson avaliar as dimensões do que estava prestes à acontecer.
Mariana deitou-se de bruços diante dos olhos aguçados de Jobson. Ela ergueu a cabeça de lado como se revelasse um segredo indagou:

__ Não vai querer provar? Eu sempre notei como você olhava para minha bunda de forma gulosa. – Jobson quase esqueceu-se do mundo. Completamente seduzido e entorpecido pelo desejo. Mariana sentindo uma hesitação nele. Pegou as mãos dele e colocou sob seu traseiro lindo e volumoso.

Jobson como se saísse de um transe. Levantou e agarrou-a pela cintura e a ergueu bruscamente.

__ Não será assim que vai conseguir me convencer a tomar parte de suas maldade... – enquanto falava prendia-lhe pela cintura para que ela permanecesse ali, indefesa.
__ Assim... você está me machucando...
__ Eu sou um cavalo, uai! E você nunca mais tocará em min...
__ Seu monstro...você está me arranhado toda...
__ Veja se entenda de uma vez! Eu não a quero mais perto de min! Talvez tivesse planos para me usar depois daqui, mas, sua sedução não vai funcionar comigo, não mais. Ou acha que não posso resistir a sua beleza e charme?
__ E você acha que consegue? Quem é que vai deixar você fazer amor com você, com esse negocio enorme que você tem, hein? Pensou nisso? você vai espantar qualquer garota com esse negocio de cavalo...
__ Você não se dá por vencida, né?
__ Claro que não! Depois, só eu posso agüentar tudo isso dentro de min...
__ Pois, então, eu morrerei virgem... será melhor o celibato do que alguém egoísta e mesquinha igual à você.
__ Jobson, você vai me procurar... ou você pensa que isso você terá com outra? Você vai ficar passando mal e ficar tendo delírios sempre, como da última vez lá na gruta...
__ Chega! Quero encontrar com outra o amor... que você nunca saberá o que é... só sabe ser suja...
__ Amor! Que bobagem! Sexo é melhor do que amor!
__ Não é não! Um dia eu espero que você descubra que não é. E eu quero mais do que ser esse animal que você usa para satisfazer seus caprichos e seus desejos de puta. Quero alguém para sorrir; chorar; conversar; brincar e amar. Alguém que eu possa ser mais do isso... vá embora daqui! – disse jogando-a longe.
__ Lembre-se que eu sempre vou estar aqui e que só eu posso lhe dar prazer de mulher...
__ Só isso é muito pouco... adeus...
__ Eu sei que eu errei, mas, acredite que eu cheguei a gostar de você e não seria só para usa-lo que eu vim aqui hoje. Eu queria você... só queria que soubesse disso. – recomposta ela se dirigia à porta para ir embora.
__ Muito tarde para isso... vá agora... por favor...

Antônio e Isoldinha era mais um casal unido pela maldade de Mariana. Livres do laço da moça. Passavam os dias felizes com a possibilidade de levarem adiante a promessa de ficarem juntos.

__ Antônio ainda bem que você chegou. Eu e minha mãe precisamos de sua ajuda.
__ Boa tarde, dona Isolda!
__ Boa tarde, filho!
__ Nós estamos querendo arrumar um quarto que foi transformado em depósito, você nos ajuda?
__ Claro! – disse tirando a camiseta.
Capitulo 13


Devagar, Antônio empurrou a porta e deparou-se com um quarto que até então, devia ser o tal depósito devido ao grande números de caixas e cestas empilhadas de encontro a uma das paredes. Encostada a outra parede havia uma cama larga e ainda não arrumada. Pois, os lençóis e a coberta ainda estavam lá.

__ Bem, para onde essas caixas vão?
__ Lá para o quintal. Este quarto está assim desde que a outra família mudou-se daqui. E agora, minha mãe decidiu arruma-lo...
__ Mudando de assunto! Antes de chegar aqui encontrei com Mariana que passou por min com uma cara de ódio...
__ Não deve ter conseguido aprontar com meu irmão. Ele antes de sair disse-me que havia se livrado dela...
__ Essa menina tem que aprender uma lição.
__ Deus sabe o que tem guardado para todos nós.
__ Vamos trabalhar, Isoldinha.

Isoldinha estava de costas para a porta e inclinada sobre uma caixa. Quando se virou, ela pode ver toda a beleza física de Antônio, que um pouco mais velho do que ela não escondia a apreensão, os cabelos castanhos e o olhos amendoados, davam encanto ao rosto oval. O sangue mestiço revelava-se na tonalidade da pele e nos traços herdados da mãe, Joana rendeira, como era conhecida. Ao vê-la olhando para ele, sorriu um tanto acanhado, mas, sem perder o ar jovial que lhe era muito peculiar e nem seu lindo e charmoso sorriso.

__ Tenha cuidado com essa caixa. Não vá se machucar! – alertou.
__Tomarei! – ele estava alerta.
__ D. Isolda, essas cestas devo coloca-las no quintal?
__ Melhor não! Deixe-as na sala por favor...
__ Pode deixar comigo...
__ Mamãe, acho que vamos terminar bem antes do que pensamos com esse nosso ajudante cheio de disposição.
__ Ah, minha filha. Nem me diga. O seu irmão tendo que repousar e apenas nós duas, acho que levaríamos o mês inteiro.

A uns passos atrás foi a vez dele observar dono Isolda carinhosamente cuidando da filha. Retirando do rosto o suor com um toalha. A cama era muito larga e a mãe afastou-se um pouco para dar lugar a filha. Sem perceber enquanto usava a mão livre em movimentos seguros nas costas da filha.
D. Isolda começou a cantar uma canção de ninar que aprendera na infância. Antônio sentia-se tão à vontade como se estivesse na própria casa.

__ Pronto! Essa foi a última caixa. Agora, basta trazer um balde com água e sabão, uma vassoura e pano...
__ Muitíssimo obrigado pela sua ajuda, Antônio. Mas, daqui para frente, eu e Isoldinha damos um jeito.
__ A senhora acha que eu vou ficar parado, apenas olhando?
__ Vá descansar um pouco, que depois eu lhe chamo. E obrigada!
__ Ora, não foi nada, uai!

Antônio agora recebia de dona Isolda o mesmo tratamento carinhoso que ela dera a filha. Com uma toalha úmida, ela limpava o suor de seu rosto.

__ Assim eu vou trabalhar para senhora o tempo todo! – disse sorrindo.
__ Diga isso perto do papai que ele faz com que trabalhe mesmo...
__ Seu pai não é um comprador de escravos. – todos riram.

Iniciava a festa de noivado de Adélia. A sala de sua casa encontrava-se repleta de convidados. Cansada, Adélia não sabia como conseguia manter-se de pé. O dia fôra longo e agitado e agora ainda precisava dançar e dançar. A cena a seus olhos assemelhava-se à um caleidoscópio, os dançarinos em sua volta, não passavam de pedrinhas de vidro colorido. Parecia que dançava nua em praça pública. Naturalmente, ela achava que todos a estavam olhando com recriminação e por instantes, esqueceu-se de que estava entre uma família simpática e amigos que torciam por sua felicidade.
Passara toda a tarde atarefada com detalhes da festa e o noivado. Adélia já tinha o respeito de Marinaldo e o consentimento total do pai. As amigas Romilda e Isoldinha estava radiantes com a festa do noivado. As duas falaram por horas com Adélia, sobre festas, vestidos e até de enxoval. Isso sem mencionar o casamento em si. Numa calma entorpecente que nada podia atravessar, Adélia ouvia-as falar ininterruptamente. Seus pensamentos giravam sem cessar como a roda de um moinho.
Haviam várias mesas no quintal nas quais, mais tarde, seria servida a ceia. no momento, elas acomodavam, as bebidas e copos. Além de uma poncheira havia bastantes garrafas de champanhe.

__ A musica está boa? – a voz de Marinaldo cortou um mundo silencioso dentro da cabeça de Adélia.
__ Sim. Eu é que estou exausta e não consigo relaxar...
__ Deixe-me ajuda-la. – disse pondo as mãos em seus ombros nus e delicado.
__ Você faz tudo parecer simples e tão fácil.
__ Pode ser! Mas não sei como explicar sem parecer um idiota completo. Mas, se eu ficar dançando mais um minuto, as minhas pernas vão quebrar... que tal dar uma fugida lá para os fundos?

Adélia podia sentir o coração batendo com força, e as palmas das mãos úmideceram rápidas. Ela abriu os olhos e por um momento ficou com medo, que possivelmente tivesse sonhado com aquilo e voltou a abri-los demoradamente.

__ Marinaldo? – a voz dela mal passava de um murmúrio.
__ Sim!
__ Você está aqui? – a voz estava débil e incerta e ela não parecia estar muito lúcida, mas, sorriu e Marinaldo tomou-lhe a mão.
__ Estou! E não irei a lugar nenhum sem você... e você também vai ficar. Sabe disso. Adélia há uma coisa que quero lhe dizer.

Adélia sentiu um bolo na garganta e lhe acariciou o braço enquanto ele a olhava nos olhos.

__ Nós vamos nos casar... logo... – os olhos grandes e azuis feito um mar fitou-o com um ar de encanto.
__ Logo... será bastante tempo...
__ Pensa que fiquei em sua vida para ser um rapaz educado...
__ Você sempre foi muito educado...
__ Não tão educado assim sua boba! – o tênue sorriso cresceu, e ela fechou os olhos, descansando-os por um minuto. Quando abriu de novo, ele fitava-a carinhosamente.
__ Eu a amo, Adélia. Sempre amei e sempre amarei. Era isso que eu queria dizer também.
__ Não, você não me ama... – tentou ficar séria, mas, o que fez foi uma careta e sorriu. Adélia olhou para ele durante um tempo, tomando consciência de tudo aquilo, que ela pensou ter escapado de sua vida quando recebeu de sua mãe uma carta, sentiu o sangue congelar dentro das veias. Sentia os joelhos dobrarem e ela empalideceu-se. Era uma carta de abandono, de fuga, de desculpa tola e despedida. Deixada por seu noivo, Fausto, a carta era inexplicável e em poucas linhas, não dizia nada verdadeiro ou que interessasse à sua vida. Era impossível de se acreditar que isso acontecia três dias antes do casamento e a cabeça de Adélia rodava e rodava e seus olhos escureciam e rapidamente clareavam. Enquanto as lágrimas que antes pareciam presas, agora corriam livremente como as águas do rio.
Lembrara que o vento lá fora que soprava uma brisa leve se transformara numa ventania e passara a correr a mais de oitenta quilômetros por hora. Parecendo querer levar embora o sofrimento de Adélia. As pessoas puderam dizer que naquela noite, o vento teve a largura, a altura e o comprimento exato da dor que Adélia sentiu. Devido a altura do choro que o vento descomunalmente gemeu durante toda a noite. Batendo em todas janelas que encontrava pela frente. Como se implorasse para entrar e ser acalmado. As árvores balançavam enfraquecidas e despejavam suas folhas como lágrimas e as carroças rangiam continuamente.
Era como se pudessem ouvir o grito de Adélia se espalhando por todo o vilarejo. Se se pudesse gritar a imensa dor que sentia, seria algo como o som uivado que o vento fazia por entre as árvores e montanhas. Que certamente poderia ser escutado num raio de milhares de quilômetros de distancia dali.
Aquele dia ficou marcado nas lembranças das pessoas que se acercavam de Adélia. Por esses dois fatores determinantes: o abandono do noivo e o vento que chorou alto a noite inteira. Fazendo com que cada pessoa que conhecia Adélia pudesse saber da dor que ela sentiu e que pudessem de alguma forma compartilhar com ela de seu infortúnio, de sua tristeza e de sua solidão. Ninguém que a amava pôde dormir, sem esquecer que ela sofria, que chorava, que gritava e que por dentro, morria uma grande parte dela. A dor de Adélia entrava nas casas através do choro levado pelo vento e permanecia lá copiosamente, sem tréguas e sem fim. Foi por toda noite, choro e ranger de dentes.


__ Marinaldo, eu me sentia culpada pelo o que eu sentia por você...
__ Por que?
__ Não sei... achava que não era justo com você e nem tampouco comigo... – olhou para ele por muito tempo desta vez.
__ Por que não me contou sobre isso?
__ Pensei que você não fosse se apaixonar por min... tive medo que não fôssemos chegar tão longe, mas, você disse...
__ Sei o que disse! – ambos falavam em murmúrios.
__ Pensei que não quisesse um maior compromisso e que fosse embora também... algum dia...
Capitulo 14

__ Acha que farei igual aquele idiota, que a deixou? Eu jamais a faria sofrer por min... se possível for... eu sofrerei por você... fico no seu lugar para que sempre possa ser feliz. – Adélia sorriu e toda uma vida lhe surgia nos olhos encantadoramente azuis. – Ele era um cretino. E nós nunca sentiremos falta dele e ao invés disso, vamos agradece-lo por tê-la deixado para min. Quer se casar comigo, hoje, Adélia?

Duas lágrimas enormes começaram a lhe deslizar pelas faces e ela tossiu quando começou a chorar e ele a beijou nos olhos e encostou o rosto no dela.

__ Não chore... Adélia... por favor... está tudo bem... não quis faze-la chorar. – sentiu vontade de chorar também, mas, apenas ficou alisando-lhes os cabelos enquanto ela tentava se acalmar.
__ Também amo você... e aceito me casar com você...
__ Então poderemos nos casar daqui a algumas horas ou minutos...
__ Como?
__ Eu e sua mãe... na verdade, seu pai e sua vó também. Levaram os seus documentos ao cartório de Cajás, e deram entrada nos nossos documentos e depois nós fomos à igreja, e marcamos com o padre João, que dentro de instantes vai chegar aqui...
__ Eu nem desconfiei... Ah, minha vovózinha...
__ Pensei que você fosse perceber que as suas amigas estavam muito elegantes com aqueles vestidos... elas serão as nossas madrinhas...
__ Espere... como posso me casar sem um vestido ou sem um bolo de casamento?
__ A sua mãe tem quase o seu físico e serviu de manequim para dona Joana fazer o vestido e o bolo foi feito na casa da Andresa...
__ Vocês pensaram em tudo...
__ Até no fotografo que deve estar morrendo de calor lá no estábulo... - Os olhares de ambos se encontraram e as lágrimas desciam suavemente dos olhos de Marinaldo.
__ Eu a amo!
__ Eu também o amo e isso foi desde o primeiro dia que eu lhe vi... nem consigo lhe dizer o quanto. - Foram interrompidos por um grupo feliz apareceu os chamando porque Padre João acabara de chegar, e ainda faltava alguns detalhes. Romilda não agüentou e perguntou curiosa:
__ E então, Adélia... você disse o “Sim”?
__ Sim! Minha amiga. Eu disse “Sim”.
__ Então, nós, esse grupo de loucas, a estamos esperando em seu quarto. Felicidades! – Romilda abraçou Adélia e Marinaldo juntos e apertados.
__ Posso ver o anel? – perguntou Isoldinha feliz por ser madrinha e o Antônio padrinho. Assim como Jobson e Isoldinha, também convencidos que foram perdoados.
__ Ela o engoliu. Por isso estamos aqui fora escondidos...

Sozinhos novamente e já refeitos da emoção, Marinaldo alisando os cabelos de Adélia quase em completo murmúrio disse:

__ Acha que é cedo?
__ Será melhor aproveitar a ocasião e a dor de cabeça já terá passado quando eu acordar amanha. – Adélia parecia muito cansada, mas, incrivelmente feliz.
__ Eu espero que sim...
__ E eu espero que não! – Adélia segurou a mão de Marinaldo, sem pensar em outra coisa que não fosse a felicidade que estava vivendo. Já não era mais sonho era uma realidade muito verdadeira que se estendia sob seus pés.

Erguendo as mãos aos céus e com a voz mais trêmula do que o normal e esforçando-se para manter-se de pé, a avó de Adélia, uma figura impressionantemente inesquecível. Que sempre soube fazer um bom uso das palavras, chamou a todos:

__ Quero aproveitar que aqui, nesse dia, estão reunidos alguns novos casais e alguns solteiros e a todos em geral. Gostaria que vocês pudessem não sentir a solidão, a dor que ela nos provoca. O medo que toma conta da nossa razão, e nos faz agir sem razão... se ficamos sozinhos, entristecemos e envelhecemos... não digo sozinho de amor, mas, sim, de pessoas. Sim, de pessoas... há quem se sente sozinho ao lado de uma multidão, mas, essa pessoa é que faz da sua vida o vazio que sente... – todos os presentes em silêncio completo, analisando cada som de cada palavra, tentando entender as suas próprias vidas. Se construindo e se reconstruindo. Alguns alegres e outros tristes, uns emocionados e outros intactos.

– Gente, essa solidão que em certos dias achamos que nos faz bem. É só a nossa fraqueza para admitir que falhamos. Dizemos às vezes que queremos sumir ou se isolar numa ilha deserta. Mas, só estamos tentando fugir de nós mesmos. Por não conseguirmos suportar a nossa própria companhia, e descontamos em quem está ao nosso lado... a solidão enlouquece e nos afasta de nós mesmos... com seu calor e com seu frio... um sonho que você não consegue ver, um mundo que você vive.
A imensidão das coisas que sentimos dentro de nós, pode ser devastador ou pode erguer castelos... castelos de areia... castelos impenetráveis... a nossa melhor opção é o sorriso, as palavras, o ouvido e a presença. A nossa arma contra a solidão é a amizade e o companheirismo. – todos ali mudos, silenciosos,, sorvendo as palavras. Os mais jovens aprendendo uma nova lição, que ainda não estava muito assimilada, mas, havia um encanto na voz dela, e uma sabedoria que cada um deles na sua maneira registrava mentalmente tudo que era dito.

__ Confio em Deus, para que nenhum de vós venha sentir a solidão do vazio; do distanciamento; da incapacidade; da incredubilidade; da ignorância e do medo. Que sejam felizes sem fazer triste quem está ao lado de vocês... – todos boquiabertos, se entretalhavam, na esperança de não serem os únicos a estarem com lágrimas nos olhos. Mas, era impossível esconder a emoção, a reflexão que aquele discurso proporcionara.

__ Pessoal! Vamos lá para fora que a cantoria vai começar e as violas estão à espera! – ordenou seu Cinézio em tom de disfarce.

Jobson sentado junto a cerca percebeu a aproximação de Mariana. Ele levantou-se e quis sair dali, todavia, não seria necessário. No momento em que lhe fitou os olhos, Mariana leu sua repulsa e pensou saber as razões. Embora tentasse negar a possibilidade, foi tomada por uma dor profunda, muito maior do que achava ser razoável. Teve vontade de gritar, uma voz que não reconhecia como a dela, disse:
__ Acho que não vai ser preciso sair daí. Entendi o que você disse-me, logo após dona Micaela retirar-se para o quarto. Não vou chantagea-lo nunca mais e peço desculpas à você Jobson. – atônito, ele não encontrou na voz, a sensualidade de antes, apenas sacudiu a cabeça. Não conseguiu entendera mudança operada em Mariana.
__ Eu estou disposta a mudar o meu terrível comportamento e minha opinião perversa. – deixou escapar um sorriso amargo. – Jobson arregalou os olhos e sem dar ouvidos ao bom senso, preparou-se para abraça-la como já havia feito uma vez. Porém antes de dar um passo em sua direção, ouviu-lhe o nome sendo pronunciado às suas costas. Virou-se e contemplou, Romilda que completamente estarrecida, observava a cena. Indo em direção dela, ele atirou-se nos braços da moça enquanto Mariana vislumbrava-a ao mesmo tempo que os braços de Jobson a envolviam. Sobre a cabeça de Romilda, Mariana percorreu os olhos pelos corpos dos dois abraçados e notou a feminidade solta na moça que sempre a omitiu.
__ O que aconteceu? – Romilda não perguntou a ninguém em especial.
__ Nada... nada! – murmurou Jobson.
__ Romilda, eu só gostaria de dar parabéns à vocês dois e desejar que sejam felizes. Estou sendo sincera, acredite-me!
__ Eu acredito! As pessoas devem ter uma Segunda chance...
__ Obrigada! Eu estou muito arrependida de tudo que fiz. Hoje eu entendi que não será assim que eu conseguirei ser feliz. Dona Micaela abriu os meus olhos... e sigo amanha de manha para Goiana, finalmente vou recomeçar o meu curso de Matemática, na faculdade e estarei aqui nas férias.
__ Fico feliz que ela tenha conseguido abrir os seus olhos...e que esteja retornando a faculdade... – Mariana levantou os olhos e sorriu, despediu e saiu com um ar alegre. Romilda ameaçou Jobson em voz baixa, bem no seu ouvido para não correr o risco de ter testemunhas.
__ Ela não fez nada, eu já disse...
__ Estou brincando! De qualquer forma, se seus olhos foram abertos mesmo, ela verá que a maldade dela era sem limites e ela acabaria vivendo uma realidade cruel, sendo mulher. Já começou a mudar para ela, até o buque caiu em suas mãos...
__ Agora vamos nos divertir com toda galera. Eu estou sentindo-me muito bem...
__ Vamos!
__ Antes deixe-me beija-la...
__ Ah, eu vou ficar bem paradinha... pode beijar-me...
__ Que estória é essa de buque?
__ Mariana pegou, uai!
__ E você não tentou?
__ O que você está insinuando
__ Que com um buque nas mãos seria um caminho mais rápido para nos casarmos...
__ Apenas se casaria se eu tivesse pego o buque, é isso que você quer dizer?
__ Claro que não! Eu me casarei com você com ou sem buque...








Dali adiante na mesma fazenda corria o ano de 1994, e todos os familiares presentes, e os amigos, esperavam numa agitada festa de aniversario. Mesas espalhadas pelo quintal, refletores nos cantos trazendo uma iluminação clara, que evitava notar o brilho intenso da lua lá no alto do céu. A sede da fazenda um pouco modificada, quase imperceptível.
E descendo a escada pela porta da frente, descia Adélia, linda e feliz, conduzindo pelos braços, uma menininha loira, alta para os seu dez anos, com os olhos azuis e um sorriso encantador. De pé, dona Louise e seu Cinézio olhavam orgulhosos e dona Micaela ainda lúcida fitava-as com alegria.

Marinaldo encaminhou-se até a elas e sorrindo pegou-a no colo:

__ Está é minha filha Micaela Fallenbach Tomaz Ferrero, que hoje completa dez anos de idade! – o vento soprou levemente os cabelos encaracolados e longos da menina.

Os filhos de Isoldinha, Romilda e Andresa, foram ao encontro da menina com presentes nas mãos.

FIM























































































































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