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Contos-->Lamentos de Quem Fica -- 21/01/2004 - 13:46 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Prólogo




Este livro surgiu em meio as perguntas sobre o comportamento suicida, que eu vinha me fazendo. Apesar dos avanços extraordinários, particularmente em pessoas com doenças afetivas maiores mas pouco se conhece sobre os efeitos específicos de prevenção do suicídio. Na maioria dos tratamentos psiquiátricos ou outras intervenções com a finalidade da redução do risco de suicídio, durante o tratamento em longo prazo. A única prova substancial é a com a volta do amor próprio e de amar a Deus, que não é igual com lítio e as intervenções terapêuticas adequadas alcançam uma pequena parte das pessoas com risco para o suicídio.

A maioria dos casos de suicídio envolve um transtorno psiquiátrico em evolução. depressão e perda recente, crise pessoal, e talvez, em metade dos casos, um transtorno maior do humor, baseado em pensamentos, planos, pequenas auto-mutilações, atentados ameaçadores de vida e fatalidades. Raiva, culpa, ansiedade, e um impulso para agir, bem como também desespero depressivo e a quantificação do risco. atos suicidas freqüentemente ocorrem cedo na doença psicótica ou afetiva, mas também continua por muitos anos em muitas pessoas.

Razoavelmente o suicídio é um ato multi-determinado. O suicídio é a causa da morte de 30.000 americanos, a cada ano, e é uma evolução freqüente de transtornos psiquiátricos maiores. Entre pacientes que sofrem de depressão ou esquizofrenia, 10% e 15% cometem suicídio.
 Nos últimos 20 anos, foram constatadas evidências crescentes de que o comportamento suicida tem forte determinante neurobiológico. O conhecimento desta neurobiologia permitirá, no futuro, lançar mãos de ferramentas clínicas para tratar este comportamento e evitar mortes.

Os comportamentos suicidas têm determinantes neurobiológicos independentes do transtorno psiquiátrico com o qual estejam associados. As pessoas que estão sob risco de suicídio tendem a fazer tentativas de modo relativamente precoce, na evolução de seus quadros. A resposta a um estresse agudo e; a ultrapassagem de um limiar pessoal, desencadeando a ativação do gatilho para o suicídio ou sua tentativa.






Os autores observaram que alguns pacientes com depressão maior são vulneráveis para agir quando sofrem impulsos suicidas. Esta vulnerabilidade resulta da interação entre pontos gatilhos ou precipitantes

A depressão é um transtorno psiquiátrico comum que pode prejudicar a saúde, o trabalho e os relacionamentos de uma pessoa e - em alguns casos - levar ao suicídio. Estas disparidades entre a prevalência da depressão, e encorajar os sofredores deste transtorno a buscar tratamento. Posteriormente, essa a doença deve ser prevalente, não deve ser evidente para a pessoa que a tem; a doença tem tratamento: Dor e sofrimento, Perda da dignidade, Dependência de outros, Perda do controle sobre a própria existência, Carga para a família, Presença de depressão, Medo do abandono, e o Recebimento de uma punição merecida.

A solicitação de morte geralmente vem de pessoas que estão desesperadas, independente de estarem com doença física. O porquê de tanto desespero. A depressão, a ansiedade e a ambivalência sobre a morte caracterizam tanto o suicídio que ficam, geralmente, gratos pelo tempo que lhes resta. As pessoas com transtornos afetivos particularmente, têm um alto risco de cometer suicídio. O risco exato é complicado por diversas razões. Primeiro, as tentativas de suicídio e o sucesso delas são muito mais fáceis de serem identificadas do que os pensamentos de suicídio, que podem ser desde transitórios até persistentes. O relacionamento entre a ideação suicida e o cometimento do ato ainda não está bem estabelecido.

Enquanto o suicídio permanece freqüentemente escondido, em segredo ou por ser interpretado como vergonhoso pelos familiares, as atitudes em relação a este ato têm mudado. Ele é percebido, de modo crescente, como manifestação de forte estresse emocional e, mais freqüentemente, associado com uma forte depressão que sugerem que os antidepressivos possam reduzir o risco de suicídio em certas pessoas.


Na minha maneira de entender a loucura, poderia ser dividida em três partes:

O obsedado, a mediunidade em desequilíbrio e o deficiente mental.


Um louco que ao olhar de uma janela e, se joga sem saber que vai se machucar, seria responsável? Seria um caso de suicídio-depressão?











A loucura, grosseiramente, pode ocorrer segundo duas causas bem distintas: físicas ou espirituais, ou seja, de origem imediata na matéria ou no Espírito. Tentei evitar essa conceituação, porque ela traz um erro conceitual sério, já que a modulação da matéria obedece a uma necessidade espiritual, não são duas coisas sem conexão, mas preferi deixar por questão de simplicidade didática. Portanto, espero que a considere.


Leia este bilhete suicida:

 

"Sei que estou tendo uma atitude um tanto egoísta depois de tanto me ajudarem o único que não consegue se ajudar sou eu, sempre levei uma vida desarranjada sem zelo e amor por aquilo que fazia, chegou um momento que não consigo tocar mais a vida passei a ser um dependente e isso agora me incomoda, me perdoem vocês foram tão bons para comigo em especial o (?) e (?) que me falaram tantas palavras de carinho. No momento me sinto incapaz de conseguir desempenhar qualquer coisa só me passa pela cabeça esta idéia de morte fixa coisa que na clínica se tornou mais sólida. Deus aprendi que ele existe, sei que segundo a crença a gente sofre por aquilo que fez de errado vou pagar por isto. Nunca soube me dar e receber afetividade sou um tapado não consigo aprender fácil as coisas."
 


Sexo/Idade : M, 27
Cor : branca
Meio : precipitação por queda livre
Forma da mensagem : manuscrito a tinta azul

------------------------------------------------------------------------









































“ estúpida é a paixão dos que perdem os valores da vida
e dos bens de Deus”












O autor









Cena 01


Esta noite eu vou me matar mas antes quero chorar um pouco primeiro... e lembrar dos motivos que me trouxeram até aqui...


Gisele acordou sentindo uma forte dor de cabeça. Não conseguia lembrar-se nitidamente da noite anterior. Ficara muda em completo, sem forças para recomeçar os dramáticos passos do dia presente. Quis voltar-se para a cama, dormira tão pouco desejara ficar ali, suspensa, perdida. Teria que encarar sentimentos tão baixos. E também não queria acordar Nadia sua amiga, que velara seu corpo por boa parte da noite.
O medo de voltar a sofrer com as perseguições do fracasso e com a sensação da morte dentro de si, levou-a a levantar-se. Ergueu o corpo nu e foi a cozinha, apanhara uma garrafa, tomou uns goles de água. Voltou ao quarto. Dormira enrolada apenas na coberta. Estarrecida com o que tinha em mente para viver, pegou uma arma calibre 22 no armário, acendeu a luz do abajur e deixou que ela se encostasse em seu ouvido e boca. E os pensamentos a remeteram à dois anos atrás. Era o ano de mil novecentos e noventa e seis:



Na entrada da estrada que conduz a entrada da cidade do Rio de Janeiro, havia uma casa simples, e para lá, mudara-se há poucos anos uma jovem de bonita aparência, de nome Gisele, de vinte e um ano de idade e com seus olhos verdejantes, e de pele morena, seu cheiro odorífero, seu corpo pequeno, mas bonito, seus cabelos negros longos e crespos em cascatas alardeadas. Ao olhar para essa pequena menina, cercada de perfumes e de mistério e de poesia, achariam que seus dias eram felizes. Vivia entregue a rotina da vida doméstica.
Até algum tempo atrás achava que seria despertada pela natureza, ao sorrir da manhã e ao sorrir das flores; porém adormecia sempre sem lembrar-se o que desejou durante o dia, ao som do vento da noite que zunia uma musica triste ao ouvido de quem acordado podia escuta-la.
Os pensamentos que lhe cercavam a mente e lhe davam arrepios. Eram moribundos, de uma atmosfera densa, escura e melancólica, a mais pura dor. Os pensamentos vagavam, como se fossem, sussurrando por entre as horas intermináveis de uma noite sem fim. Era na verdade, apenas mais uma noite na vida de Gisele!...

Os pesadelos de Gisele começaram quando no fim do outono, ela conhecera, Cezar Jabour, um rapaz de vinte e três anos, um olhar meigo e terno, belo e formoso, como todo gala de cinema o é, apesar dele não o ser. Mais com uma pele morena aveludada, e olhos castanhos claro, as pestanas de quem venceria o mundo! Tinha os braços marcados por tatuagens e altura de atleta, com cabelos castanhos curto e seus olhos com o olhar vazio.
Gisele o olhou com esse olhar terno dos amantes. Com que beleza que distingue o amor! Ai! se aquele sorriso não tivesse se desprendido dos lábios formosos daquela menina.





— Menina seja sincera e conte-me a verdade. Sempre sorris assim? - disse o jovem , com uma voz suave como teriam os anjos, se eles falassem.
__ Pode me acreditar. Eu estou sempre sorrindo... Qual é teu nome?
__Cezar e o teu?
__ Gisele...
__ Tem mesmo esse nome ou queres me enganar?
__ Para que te havia de eu enganar? – Gisele fitou seus olhos verdes nos de Cezar, e disse-lhe corando:
— Para quê?!
— Por educação... por eu ser um estranho aqui...
— Mas tu não me pareces muito estranho, depois de falar comigo, não é assim?
__ Não sei; mas mesmo assim, foi bom tê-la conhecido. Acho que vai ser legal morar neste bairro, essa cidade me parece perfeita, eu, minha mãe, meu pai e minhas duas irmãs, vamos nos acostumar logo. Não vai demorar muito.
__ Como são suas irmãs?
__ A mais velha, tem vinte e oito anos, é morena, alta, esbelta, culta, inteligente, tem os olhos negros e trabalha com meu pai, lá no matadouro central. A minha irmã mais nova, tem doze anos, estuda na escola estadual, é pequena, chata, tem cabelos negros longos, e é isso aí. Meu pai e minha mãe são uns amores mas não se preocupe que morando ao seu lado, logo eu lhe apresento minha família inteira.


Assim começou o romance entre eles e quando Gisele imaginou que o amor fosse ficar desta vez para sempre, veio a separação e a decepção de ficar sentindo-se só novamente.


__ Cezar!... - duas lágrimas despregaram-se de suas pálpebras e vieram cair-lhe no seio.
— Gisele! Cada vez te amo mais, meu anjo.
E Cezar não tinha o que dizer, encostou a cabeça da menina ao seu peito e beijou-lhe a fronte.
__ Escuta, querida, está longe do meu alcance e essa oportunidade de emprego em Campinas é imperdível, sinto estar lhe causando mágoa mas não tenho como leva-la comigo e se puderes me esperar, virei busca-la logo que me acertar por lá e nos casamos em seguida. E podes vir a ter uma certeza em todas as tardes de tua vida, que ao sentar-te sobre esta mesma árvore deste quintal, olhando para o meu retrato que eu te dei; e leia estas linhas que deixo neste papel, que eu vou estar contando os dias para voltar a estar com você novamente. E quando os pássaros cantarem, quando o sol raiar, quando a brisa tocar em teu rosto, você saberá que também sofro e que espero em amor. Sofrendo por estar longe de ti. __ Sim, sim! Manda-me um sinal de que poderei esperar por você. - murmurava ela
__ E quando um dia, não estiveres esperando, eu chegarei até a tua porta para lhe buscar e esqueceremos estas horas de sofrimento.

 


Cena 02

_ Então, meu anjo, sou eu; então, eu o juro, tu verás minha alegria de estar ao seu lado novamente; então nós viveremos a nossa vida juntos.
__ Não me deixes! Sei que este será o nosso fim, a nossa despedida. - Gisele banhara-se em pranto e soluçava.
__ Oh! Não chores preciso que sejas forte e que me aguardes. Creio em Deus, que hei-de voltar. - e com a voz trêmula e os olhos umedecidos, disse-lhe:
__ Adeus!
__ Adeus?! Sei que será para sempre...
__ Não! Não digas isso! Não será para sempre, será por pouco tempo...

E assim que terminou de falar, seus lábios procuraram se encontrar num beijo, mesmo em tantas lágrimas e no meio de soluços.

— Adeus! – disse ela cobrindo o rosto com as mãos como se possível fosse esconder as lágrimas que lhe banhavam as faces.

Quando ele se perdeu ao longe, Gisele juntou nas mãos o pequeno pedaço de papel e disse em voz baixa: < por quantas vezes eu terei este papel como tua companhia, meu amor? >



"Querida Gisele!

Estou   certo que encontrei em você um mundo cheio de luz
E fraternidade humana.
Sou como você mesmo disse,
Um espírito em evolução necessitando de tudo isso.
Ao seu lado, estou certo que caminharei paralelamente à vida,
A alegria que transbordou tanto em você.
            
   Um grande beijo.














Numa noite antes de sentar-se à mesa para jantar, o pai de Gisele, a abraçou e deu-lhe a mais triste noticia de sua curta mas já apreensiva vida.

Um grito de dor entoou por toda a casa e espalhou pelas paredes a agonia de Gisele, ali estava o fim de um começo. Quando ainda não acreditava nas palavras, seu coração inciso murmurava: aconteceu! Ai! Ele morreu!

Gisele já não tinha os olhos com a mesma cor verdejante, que ela tinha. A perda havia-os transformado horrivelmente. Numa espécie de janelas embaraçadas, de onde nada e nenhum brilho podia sair.
A menina estava triste. As pernas não tinham forças, apenas erguiam seu corpo desequilibrado que vergava com o vento. Uma tristeza involuntária apoderou-se da menina, que antes vivia a sorrir. Perdera o rumo. O seu caminho ficou retido entre o suor e a poeira e pôs-se a falar com uma voz trêmula:

__ Meus pés já não pisam mais aqui!

Um silêncio profundo reinava na casa; o barulho que se seguiu, foram só os pensamentos que se agitavam em sua sagrada mente. Gisele empalideceu por um instante, mas continuou repetindo, com a mesma voz trêmula:

__ Meus pés já não pisam mais aqui!

A dor e o mesmo silêncio terrível das palavras, que repetia triste seus últimos lamentos.

__ Que eu vou fazer? - as lembranças estavam desertas, o seu coração já não florescia, já não tinha a sua batida alegre, já não sorria.

O olhar foi direito ao chão, ao mesmo lugar em que se encontrava seus sentimentos que se desprenderam de seu ser. Gisele que antes murmurava parecia gemer agora. Ela sentou-se com a cabeça encostada a uma das mãos e olhou para tudo com uma indizível tristeza. Então o pranto correu-lhe livre, o seu coração dizia-lhe que chorasse.

Faz tão pouco tempo que aqui me despedi dele, murmurava ela. E ele me prometeu torná-la a vê-lo. Meu Deus! Nunca mais o verei!

Mas nem mesmo o silêncio fúnebre continuou indiferente a dor de Gisele, e a sua expressão que tão bem exprimia os desejos do seu coração. Pálida e trêmula e caminhou vagarosamente pela sala e olhou pela janela, que ia dar ao quintal, onde havia a árvore que sentada, conheceu o seu amado, o amor de sua vida. falando sempre com a sua voz comovida:




__ Quantas lágrimas não derramei enquanto ele atravessava o este mesmo quintal, e me separava da minha alma gêmea! E agora, que sei que não tornarei a vê-lo. Tenho uma vontade imensa de ir com ele! Ir ver o meu Cezar, ir dizer-lhe que sempre o amarei.

Outros meses se passaram levando quase dois anos mais. E lá estava Gisele completamente perdida, alucinada e caída. Não apaixonara-se e vivia cercada de cuidados, houvera deixado o trabalho por quase ou pouco mais de um ano. Refugia-se em seu quarto e não tinha amigos e seus pais vivendo longe dela, não tinham consciência do que lhe acontecia. Pensavam estar tudo bem, que ela houvesse superado a morte de Cezar e retomado a sua vida cotidiana de antes. Ledo engano.

A casa era mantida com as portas e as janelas todas fechadas a qualquer hora do dia. O quintal também estava deserto o tempo todo. E ela bradava pelos quatro cantos da casa, sempre a mesma frase:

< Vem, tu, ó morte, dar a essa desgraçada que chorou os prantos da saudade o teu beijo doce, vem e me leva daqui com o teu beijo roubado de amor >

Chegava ao quintal os gritos e os soluços e nada abafaram-lhe a voz no peito. E Gisele pôs-se a olhar pela a janela onde o tinha visto a primeira vez. soltou um berro e quis passar por diante da porta da casa onde estivera prisioneira. Quando aí chegou, parou e olhou para o lado e ao ouvir o seu nome. Reconheceu a voz. Era de sua antiga amiga Nadia, que já não a via desde o tempo em que se formou e fora viver nos Estados Unidos. O que fazia ela aqui? Pensara Gisele:


__ Por favor, Diga-me, os Almeidas ainda moram aqui?
__ Mudaram faz tempo...
__ Sabe para onde?
Não sei.
Gisele! Estou reconhecendo tua voz. Aqui é Nadia. Deixe-me entrar.
__ Gisele fugiu. - ela gritou com uma voz que assustou a pobre mulher.

Gisele ficou ainda algum tempo ali, parada, imóvel com os olhos turvos e o peito arquejante, mas depois erguei a cabeça e de repente e gritou com uma explosão terrível de dor:
Vai embora daqui! Vai para longe de mim! Para bem longe de mim!

Nadia custava a creditar, que uma menina tão boa ficasse daquele jeito feito louca e sem a mãe para cuidar-lhe. E daí poderia ser que fosse curada dos desgosto que sofrera a alma, quem sabe! Mas não podia ficar ali, isolada, sozinha. Precisava de ajuda, de alguém e seus familiares achando que ela estivesse bem.





Gisele sei estas muito triste, e tem razão, aquele desgosto não foi para menos. Tudo que passou mas eu quero falar com você e ver você, somos amigas e vim para dar-lhe um abraço como nos velhos áureos tempos.
Então você teve algum desgosto? - perguntou Gisele.
Tive e muito grande. – disse a amiga que pressentia a morte rondava aquela casa.
O que lhe aconteceu?
Perdi minha filhinha de apenas quatro anos. Ela caiu na piscina no meio da noite.
Sua filha?
Sim. Foi no meado do mês de novembro. - respondeu ela.

A porta se abriu lentamente, talvez temesse que o sol lhe cegasse por tantos dias escondida da claridade do dia.

— Você fugiu?
— Oh meu Deus! Meu Deus murmurou ela. vendo-lhe a extrema palidez que se refletia nos olhos. Gisele já nada ouvia; estava louca.

Nadia desprendeu sua voz da garganta, e soltou no ar um grito de pavor. Ainda olhou uma vez para aquela menina deserta e triste, que lhe inspirava tantas recordações...

— Jesus! que é isso? perguntou Nadia ao olhar a enorme bagunça em que se encontrava o interior da casa.
Eu que parei de arruma-la!

A casa, algo havia-a transformado horrivelmente. Parecia não haver ninguém ali há tempo!

__ O que houve contigo, minha amiga? Como podes viver sob esse abandono?
__ No fim da mesma vida, ainda vivo, embaixo do mesmo teto. E de onde estamos, ainda vejo a mim e ele, sentados sobre a mesma árvore onde meses antes dois amantes se beijavam por entre sorrisos de prazer e hoje, eu fico em prantos, em meus lamentos, onde tenho apenas a lembrança dos beijos que ele me deu e que sei que nunca os dará de novo.
Ah! Sei que tão cedo não esquecerei o homem que amei com toda a força e a mais ardente da minha alma! Esse homem a quem entreguei todo o meu amor e vida e que por ele renuncio a tudo aqui dentro de mim. Olho para aquela árvore todas as tardes e tento vê-lo saudoso de mim!...
Ah! Sei que tão depressa chegará a conclusão que eu esteja louca e vivendo em devaneio. Que ninguém pode amar um homem mais que amar a própria vida!... Deixo-te à vontade para que penses o que queres mas ainda sim, eu lhe peço: Não avise meus pais. Eles vão querer me tirar daqui e isso, eu não suportaria. Abri a porta para você porque você deve compreender a dor a qual eu estou passando e mesmo adormecida em teu peito, você ainda guarda a dor junto de si.





__ Gisele, eu sofri muito. Até que aprendi a lidar com a dor da perda. E sei que a imagem daquele homem por quem teu coração bateu as primeiras pulsações do amor, ao mesmo tempo tímidas e suaves, e não te deixas que esquecer que esse homem não virá um dia. A separação, implacável como o destino, terrível como o raio, vai impedir-te o cumprimento das juras de amor que vocês trocaram; não exija contas do seu amor, mas apegue-se nas suas crenças, é dela em que agora precisas lembrar-se; da sua alma, que você quer assassinar!... Eu vou cuidar de você minha amiga... Eu vou cuidar d você...


Nessa noite que durou eternas horas em que Gisele várias vezes se encaminhou até à sua janela e olhara para a árvore e parecia murmurar uma oração à Virgem. Era apenas a mesma lamentação que se repetiu por toda a noite.


De carícias e amores se encham o espaço vazio do meu coração e com um concerto de beijos e suspiros, venham valer-se do que me restou. Se isso é que o que a vida me quer, que me leve. Sei que não posso tê-la assim ou desafia-la assim, mas ao menos nunca me deixarei arrastar por essas desculpas estúpidas, que insistem em me rodear.
— Gisele, você perdeu a razão; você precisa olhar para trás e ver que ele morreu e que o teu amor é o que poderá salva-la ou ergue-la...
— Você quer que eu o esqueça? - disse ela e em seu rosto surgiu a palidez da morte.
Não! Quero que vivas!
Mas eu vivia porque ele vivia. Eu tinha interesse em tudo que era vivo mas agora tudo morreu e eu morri, e quebrei-me em milhões de pedaços e não sei se quero juntar-me novamente. Você não sabe o que eu tenho sofrido!
— Talvez eu saiba sim e talvez seja porque eu entenda de perder também. E como você, melhor da vida.
— Nadia, eu era uma mulher que amava e era amada, eu era a única que ele tinha amado. Ele era tão lindo! parecia um anjo.
__ Não quero que o esqueça. Nem penses nisso! Seria lhe pedir algo que nunca fará. Se fosse há dois dias tinha alguma desculpa. Mas esse amor é para dar-lhe vida e não tirar-lhe a vida.
__ Há quanto tempo foi?
__ Que perdi minha filha, Mayara? Há um ano atrás...
__ E ainda lhe dói tudo por dentro?
Há ano e ainda continuará a doer. - as lágrimas molharam-lhes as faces.
Mas eu amava-o! Há tempo!
— Dou-lhe os parabéns, que... quero dizer... falou nobremente.
— Pela primeira e última vez, ouvira-me dizer que o amava!
— Sim, sim, quero ajudar-te! - bradou Nadia e sobre seus lábios pairou um sorriso!...
Não há quem possa ajudar-me...
Tens quem lhe ajude, agora. Eu estou aqui agora...
Para essa ajuda, à minha morte. E a estas duas perdas, eu desejo que venham a apertaram as mãos como amigas!
Não estou disposta a perde-la! - as lágrimas que Gisele a fez verter. Pela tentativa de sorrir, num esforço fora do comum, comoveu-a profundamente.

E ambas entraram no corredor, Nadia sentiu o cheiro dum perfume pelas paredes; um perfume de mulher. Gisele entrou por a uma porta e de súbito, entraram e bateram-na. E assim conversando, tinham ambas chegado junto à uma conclusão. Cada uma sabia onde morava sua dor.

Passaram-se os dias e Gisele já conseguia vencer a mente que a mantivera prisioneira de si mesma nos últimos dias. Seguiram-se dias e Gisele caída sobre um sofá com o rosto oculto entre as mãos, soluçando como uma criança. Nadia levava a mão ao peito, os olhos injetaram-se-lhe de lágrimas. Sentia as pernas em frangalhos por uma fulminante culpa de tentar ajudar a amiga. E só então é que Nadia compreendeu o papel, que devia representar nesse drama.


— Nadia! Eu não quero que nada mude dentro de mim... vamos esquecer tudo que conversamos ...

Gisele ainda o amava muito... e talvez por isso, ela não conseguia o desapego! e com esta lembrança ele sentia reviver todo o amor que lhe jurara nos seus dias felizes. Cem vezes quis voltar para trás e levar nos seus dias a certeza de ir em frente mas parecia desfalecida, e só o amor que sentia por ele a reanimaria. Com o sua força abrasadora, mas a cabeça ardia-lhe numa febre ardente que devorava-lhe o cérebro.

A justiça de Deus foi terrível!... – disse lívida de cólera agarrando Nadia por um braço. Depois...seus punhos cerravam-se, seus dentes rangiam e murmurando: Cezar! Cezar! caía de novo sobre o travesseiro. Era o delírio.

À claridade que naquele momento iluminava aquele rosto pálido, que se debatia na cama, parecia o dum espectro agitando-se sobre um túmulo.
Pela manha cessou-lhe a febre e um sono tranqüilo e longo a conservou deitada até às 11:30 da manhã. Uma hora depois, Nadia a contemplava estendida sobre a cama.

Erguia meio corpo, apoiava-se com os cotovelos, e espraiando os olhos desvairados, perguntava com uma voz terrível: “Onde está Cezar?”
Havia apenas acordado, continuava em devaneio, a expectativa era que depois dos remédios, viesse a melhorar. Quem a visse na rua diria ser um fantasma. Estava desfigurada como um cadáver; nem seus olhos tinham um brilho sequer.

Acorde, minha ! amiga!
— Nadia você não estava aqui ontem? Estava?
— Quer saber se eu aqui quando você desmaiou ontem à noite?
Não consigo lembrar de nada e se você estava mesmo, devia ter a bondade de me dizer que eu não deva ter vergonha do que fiz...
E não deve!

Cena 03




— O que devo esperar? Que me fale que sou louca?
Esperava que eu visse ontem ou hoje?! Vejo que espera que eu a repreenda mas confesso que se eu a repelisse me condenaria , porque tenho a mesma vontade que você.
Eu não quero essa vida. Não a quero dentro de mim, não a quero!.
Não há vida dentro de você. O que vê é só morte...
Morte é o que eu vivo... morta é como eu me sinto...
Agora que estás manchada. Oh! porque não pensas no perdão de Deus?
Acredito que Deus perdoará o meu ato...
Não temes a Deus? Deus escreveu sobre essas faltas que cometemos. Ele pune seus filhos de acordo com suas faltas e mesmo nos amando Ele é severo... Lembra de Adão? Deus o expulsou e Ele o amava... Achas que pode negar o que Ele deu-lhe em amor e receber flores de volta... Nós somos espíritos, e temos essa carne... se apenas separar-mos da carne, continuará o espírito a saber tudo que fizemos ou mesmo que sentimos...
O que Deus me fez cometer para que me separe assim?... não é dessa maneira que eu sentia e que eu havia deixado minha fé pura. Há anos uso a fé para defender-me do mal e vou a igreja e faço as orações...
Então tenha fé... porque para sempre serás a mesma inocente, que eu sempre respeitei como irmã...
A mão de Deus está pesada demais. - E abafou com o lenço as lágrimas que lhe saltaram dos olhos.

A conversa tinha estendido o seu encanto. As dores expostas e uma luz cintilou lá no firmamento, grossas nuvens haviam sidos dissipadas e ocultadas dentro de um invólucro e junto delas, seus mistérios!


__ Não culpe-me... não quero que olhes-me com pesar ou que me julgues...
__ Não estou aqui em espírito mas em carne. E tudo que quero é fazer com que vejas que essa dor é parte do que Deus nos deu e nós não podemos abandona-la. E morrer... não nos afastaria dela... continuaríamos a estar a par dela e de todos os outros sentimentos que temos agora. - disse a amiga com a cabeça encostada nos ombros de Gisele.
__ Você é sempre tão cheia de ternura?...


Gisele de sua janela olhava para o céu e parecia fazer uma oração à Deus e murmurando os pedidos se concentrava em sua tristeza.








O dia está quente e em completo rumo; nenhuma das duas pôs-se de pé. A noite fora longa e proveitosa e ambas cansadas e mudas mas em breve silêncio, suas palavras, destroem os seus fantasmas!...


Gisele, ontem quis tanto poupa-la, e não quero tortura-la! Você estava aqui sentada só, triste!
Nadia! Não se trata só de estar triste... é cansaço... é desanimo... é falta de vontade... em sonhos eu o vejo todos os dias. E que quero acreditar que eu possa vir a encontra-lo em algum lugar ou mesmo que seja para apenas abrilhantar os meus sonhos?
Sabes tu que não será possível esse sonho...
Então quero fugir e esconder-me da vida...
Diga-me onde esconder que eu esconderei-me também... porque sofro uma dor quase mortal em minha alma!
Às vezes, vejo-te semelhante a um anjo, e noutras vejo-te tão mortal...
Sou humana...
E nega o amor de sua filha...
Eu? Jamais! Aqui neste mundo nada mesmo terá o mesmo valor, sempre vou me lembrar dela num dia no parque. A minha menina estava tão linda como deve estar agora; lá no céu sorrindo como sorria naquele dia. Os pássaros cantavam para ela uma canção alegre e ela os ouvia, com bastante atenção... seus cabelos soltos se espalhavam pelo rosto pequeno e feliz dela e assim Mayara brincava com as suas bonecas...
Não achas que pode voltar a vê-la?
Acho. Mas pelo rumo natural e não por uma morte forçada...
Fugir desta terra envolta em nuvens vaporosas. É tudo que quero...


Diante daquelas palavras mórbidas, restou uma mudez capaz de enlouquecer qualquer um e em forma de um abafado grito, veio um choro por um longo tempo.


Dias depois, Gisele como vulto, como um fantasma, trêmulo e condenado! Andava se arrastando pela casa. Às vezes apressada e noutras nem tanto.

As crises mais leves, a dor ocultou-se de novo e um silêncio moderado, parecia vir do céu à terra em segundos ...
Tinha uma forma compensadora e Gisele arrancou aquela cor pálida da face e já as rugas não lhe circundava a fronte; e seus pés tocavam o chão!...








Vim atrás de você para te dar abrigo e amparo. Sei que fugias assustada e quando falei com teus pais e depois que soube que preferiu continuar aqui. Pude vê-la cansada, com teu medo e solidão a lhe torturar, com tua alma rasgada em pedaços, com tuas lembranças vivas, e não podia deixa-la só... Foi cruel o despertar. Mas será o melhor que temos à fazer.
Ah! que sonho tão lindo!
Não acredito. - disse ela com um sorriso..
Estávamos no paraíso. Mas será só um sonho quando acordarmos de verdade.
Mas eu não quer me enganar; porque como ninguém no mundo, eu quero me manter lúcida. Você é a melhor amiga desde minha infância, nos meus tempos da adolescência, você me protegia das outras meninas e, quando o meu coração teve necessidade amor, quando os meus lábios desejaram que os beijos dum homem e você delicada, e flexível com seus conselhos. Ajudou-me a enxergar o caminho.
E você também me quer bem... falou Gisele cabisbaixa.
Muito, muito. - disse ela,


Nadia não a subjugava, sabia que aquele pobre e delicado coração ainda sofreria seus tormentos horríveis. Quantas vezes ela própria não havia chorado lágrimas de sangue, lembrando-se das carícias que fazia em sua filha, do amor de seu marido, que abandonou por não saber conviver com a culpa e dos seus dias sem sossego e infelizes que no passados maltrataram-lhe tanto!
Quantas vezes não teria pensado na sua morte como salvação, para parar de sofrer por quem tanto amava. Como na poesia em teu caderno:


Ah! morte! Que separas a vida entre vítimas!...
Ah! Morte estúpida! Que juntas a dor no peito!...
Ah! Morte injusta! Que divides o bom e o mal!...
Ah! Morte! Que amaldiçôo!...
Ah, Mas a justiça de Deus, e essa...é oferecia alegre!


E essa infelicidade se reflete por sofrimentos horríveis, e sem ter, na última hora, uma mão amiga, que lhe venha nos afagar, perecemos e desistimos da vida....
Perdemos o encanto das cosas que antes tinham vida e fazemos de nós fuga e refugio até que sem nenhuma opção desistimos.

Esplêndido sol num dia sem força. Gisele curvada no sofá com a face para o chão, e com o olhar penalizado e culpado e sem notar quão graciosa ainda era... nem os raios ardentes desse astro vivificador a fazia sorrir.




“versos de dor”



“Mantida nesse labirinto de sentimentos de desonra, infâmia, crime! Que varres a alma em toda a sua grandeza. Que varres a alma em toda a sua virtude. Que varres a alma em toda a sua opulência...

A mais horrível forma de morte é a morte da alma! Que vagueia em miséria e varres o que juntamos em migalhas a mesma religião, o mesmo Cristo!’


Umas horas depois, nas últimas noites Gisele, gemia agonizante em sua cama e ao seu lado; sempre a amiga presente; prestativa e comovida. Pensava que coração resistiria a tantas comoções?

Com a cabeça formosa recostada no travesseiro, firme e resignada, ouvia ela da boca da amiga as palavras do Evangelho. No pescoço fino de Gisele um crucifixo. E orações ecoavam e espalhavam pelo quarto uma visão mortuária. Nas palavras doces e consoladoras das preces, uma vontade a ser cumprida. Com chegar ao encontro se presente o que não é. Se o então eloqüente nada das grandezas humanas!...

__ Nadia! Você pensou em... em...
__ Suicídio? As pessoas tem recuo a esse assunto e escondem o que pensam. Mas eu pensei sim... umas quatrocentas vezes por dia, durante meses!.. Gisele se somos espíritos... estamos em carne e se abandonamos a carne... o espírito continuará aqui com os nossos sentimentos e vontades e de nada terá adiantado fugir...
__ Amiga. - dizia com sua indefectível melancolia na voz.
__ Estou aqui!
__ Deus, diante do qual desejo ir em breve... Ele que é um Deus de bondade e misericórdia. Sabe que não estou negando o bem maior que ele me deu...
— Gisele... Deus perdoa mas desse perdão há de se chegar a hora e a Ele pertence essa hora...
— Sim. Eu entendo o que quer me dar...
Então não morra; por sua vontade.
Mas eu também queria levar outro perdão da terra.
— Diga me de quem, Gisele...
— Teu e dos meus pais, que eu deixei que se fossem; mas eu amava-os muito. E não queria que eles sofressem...
— Eles não estão pensando em perdoa-la, porque eles não tem o que perdoa-lhe.
— Mas, eu fracassei com eles. - disse ela chorando
— Gisele deixe de agir dessa forma, viva apenas a sua vida.
— É que eu amei muito, e que ainda amo.
— E qual é o erro?
— Não posso, não posso suportar...
— Amiga, chora um pouco que lhe fará bem...
— E depois de chorar? Eu queria saber o que vai ser...
Ninguém sabe...
__ Ainda guardo as lembranças deste mundo, e tenho o livre arbitro, não tenho?
—Deixe para usa-lo em algo bom e que não seja com o pensamento terrestre.
__ Estou sendo mesquinha e pequena, não estou?
__ Deus, sabe que não. Ele é sublime e grande.
Eu vou morrer! Diga-me que Deus me perdoa...
Minha amiga. Quem sou eu para responder... Deus é bom... Deus perdoa quando nos arrependemos do que fizemos de errado mas se é errado tirar a própria vida... como nós vamos mostrar que nos arrependemos...
__ Mas, eu já estou arrependida...
__ Queria vê-la bem, Gisele porque aí ninguém viria querer perturbar-lhe a sua dor.
__ Leia aquela poesia outra vez... quero acalmar-me sem remédios...

“ Lamentos de Quem Fica:

“Vá para sempre! Vá sem olhar para trás! Não me veras de joelhos pela dor que me causas e nem lhe imploro que fiques. Não me ames por piedade, ama-me primeiro pelo que sou. Sabes que me partiu o coração em pequenos pedaços, porque eu lhe amava, mas quando percebes que acabou e que já tem considerado as remotas chances de um novo encontro. Venho calar-me e chorar o mal que te fiz. O amor que foi deixado de fora, chora em mudez e para quem escutar? Chorava alto se tudo fosse mudar, adiantaria perder a voz em berros de dor; chorei por meses. E você nem escutou...

Minha melancolia lhe assustava e em repudio alentou o vento. Um dia vi a tua face. Cruel e perversa. Um dia... foi-se! Foi em fraqueza; como quem se mancha na vergonha e fere o corpo no fogo, mas se esquece que a alma ficou pura, e inocente. Nada amava senão o que sempre amei. Desde o dia que lhe vi os seus olhos perseguiu-me sempre. A imagem de você diante de mim indo embora, tremia diante de meus olhos, tremia diante de tudo!...

Ninguém teve culpa, só é que errei! Uma dor, perdida por entre sonhos, que prometera realizar-se, deixando-me lento e cego. Onde nascera o amor para nunca mais acabar. Mil anos passaram em dias velozes demais. Levando embora tudo que era importante. Venha e abrace-me e beije-me antes do fim. Às vezes doe saber que nunca mais há sorrir para mim! Doe saber que nunca mais me chamarás de Anjo!


__ Chega dessas poesias dolorosas...
__ Eu tenho já sofrido muito!
__ Os nossos dias felizes vão retornar em breve. Nós não vamos fechar mais a porta e teremos força para nos sustentar de pé.
__ Eu tinha coragem bastante para suicidar-me... Mas em todas essas noites em que eu pedia a Deus nas minhas orações, para que pudesse vê-lo ainda uma vez o único que tenho amado. Deus ouviu-me, e o vi em sonho, Deus me ouviu...
__ lembra-te que Cristo perdoou a seus algozes, Deus perdoou-a também. Com esses pensamentos...
__ Mando esses pensamentos para longe de mim; e garanto-lhe que nunca mais me verás a pensar nisso!
__ Oh! Assim é que se fala, que bom!
__ Não, nunca mais... porque é impossível que o meu coração venha amar de novo mas quero ser feliz.
Vive sim, porque esse abismo não acabara com você e nem engolira tuas vontades, tem uma força a que ninguém resiste. Vive sim, porque aí poderá ver que seu medo era tanto quanto a tua coragem, que se agita e ruge como um mar de águas revoltas. E .no meio da multidão estará você. Vive sim, porque o amor, que você perdeu, pode aí facilmente conviver com a tua dor que será eterna, porém amenizada pela tua alegria de viver.
__ Sim, acredito que seja por aqui; e tudo que me causava desgosto era estas lembranças ruins, tortuosas e erradas. Também em mim reparai como estava denegrindo a minha vida num fétido insuportável. Estou livre agora do pesos nos ombros. Não olharas para mim e veras, aquela mulher pálida com a cara enfiada à janela. – com seus olhos formosos fitos no céu; talvez esteja passando pelo pensamento toda a sua vida. Quem sabe?
__ Quem me dera se eu pudesse ler os seus pensamentos agora... diria que a respeito dos maus pensamentos... Iria rezar para esquece-los. E de que adiantou? Talvez rezasse dois dias inteiros. Antes eu gostava de rezar. Fora o que eu mais fizera na vida.
__ Pela primeira vez. Senti-me verdadeiramente atendida em minha oração.
— Ave, Maria!, cheia de graça! O Senhor é convosco...


Gisele rezava e as lágrimas cobriam-lhes as faces e Nadia acompanhava em tom sereno. Sabia que amiga estava bem e que as crises tenderiam a diminuir... Às três, conciliou o sono. Às seis acordou. Sonhara de novo com Cezar, mas não se lembrava bem do sonho. Até se apagara muito do sonho anterior. Mas não sabia que teria o que contar...

__ Tive um sonho bom mas não me lembro... não me lembro...
__ Deve estar confusa por causa dos remédios que vem tomando...
__ Deve ser... mas sinto o gosto bom na mente...
__ Esforce-se um pouco... será uma delicia quando se lembrar...
__ Não consigo... fico até gelada só de pensar...
__ Vai... Gisele... vai ver que o sonho se encontra agora, no meio dessa mente acordada e
você apenas quer guarda-lo um pouco mais...
__ E quando um dia, eu estiver bem de verdade, sem sentir sobre meu peito a ponta do punhal, exigindo que me jogue sobre ele. Então você não será a louca, que confiou em mim e nem eu na tua lealdade.
__ Não sou uma mulher tempestuosa, que com vergonha de ter prantos de dor e arrependimento... E lançou-se no vício!...
__ Meu Deus, às vezes me esqueço de que também sofres uma perda lastimável... E não houve uma mão que a sustivesse à borda do precipício!... teu marido se foi e você teve que agüentar duas perdas...
__ Foi preciso...
__ Mas não era para ser...
__ Nós não escolhemos os nossos passos...
__ Mas podemos sempre ter alguém para caminhar ao nosso lado... às vezes cansa estar só com a nossa dor...
__ Sempre teve a minha fé e minhas poesias. Como esta:




Cena 04

“abandono:

“Numa noite, a culpa desgraçada vem dizendo-se amiga da nossa alma, e vertendo o nosso sangue quisera bradar desesperada: Tu Culpa que me fere!, Cala este coração que grita! salve-me do que tenho em espera! O que podes tu fazer? ! Nesta note esta culpa não é minha, enganaste-me e logo eu que levo a consciência tranqüila!...

E as masmorras, que como ondas dum oceano vêm e vão, quando passam, deixam-lhe os queixumes costumeiros!... Que como açoites, lhe ferem o corpo, a mente e verdadeira convicção! Difícil dizer que já não sofro mais! Dizer que não amo o amor da minha vida. por culpa, por culpa!...

Cansei das minhas desculpas! Tolas desculpas! Todas! Não insulteis a minha vaidade e nem o meu remorso. Foi um sonho que se perdeu. Por tolices e imperfeições!...

Lembre-se que a culpa já foi santa; um dia... lembre-se que a culpa já foi a mais bela rosa do nosso jardim, mas você a via sempre pálida, desbotada, murcha e estendida num canto escuro, lembre-se que a culpa já foi um botão mimoso, que entreabria risonho num jardim florido, e que o vendaval da vida derrubou-o e lançou-lhe à própria sorte. Lembre-se... antes de esquece-lo!...

Adeus, culpa! Quando puseres as mãos em mim já estarei morto... vazio, inerte e sem brilho. Cálido, pálido e distante! Vem abraça-me antes da partida e beija-me a boca com seu hálito gélido! Vem e Consola meu coração com tua mão funesta!...

Não me amaldiçoes por amar. Corte minhas pernas mas não cale o meu amor. Não apagues a minha memória de tudo que vivi! Morro amando e sigo amando e sei que o que levo comigo ao túmulo, jamais será teu em minha vã vontade. Adeus culpa e não chores por mim! Não chores por mim!...










__ Havia dois meses que eu tinha perdido a minha menina, quando li esta poesia, que encontrei num livro sem autor...
__ Ela enchera tanto sua vida assim? Quando Cezar se foi deixando me aqui. Ele deixou-me isolada, perdida e nada aqui fazia sentido era tudo indiferente. A minha alma foi sugada pela dor.
__ Havia um sentido apenas, o de não enlouquecer! - Nadia permanecia plácida e serena.
__ Eu não consegui e não sei se sentia-me mesmo morta, mas não fria; porque eu sentia haver algo dentro de mim, e era doce e calmo. Era repousar da minha alma magoada.
__ Essa virtude e o vigor em meu coração, mantiveram-me com tal riqueza de afeto e sentimentos, que durante certo tempo ajudou-me a passar as horas.
__ Tudo que eu tinha em toda a minha pessoa, esvaiu-se por completo. A minha mente que sempre exerceu sobre meu corpo, sua grande serenidade, já era velha e cansada e se foi.
__ A poesia sempre fora um repouso para minha alma. Durante dois anos, li tudo que pude sobre poetas e poesias. Era um apego a irrealidade, assim me isolava entre contos e amores e esquecia a minha triste realidade. Estranho, não é?
__ Abundância do seu coração! A mim só bastava as lembranças da nossa amizade e muitas vezes servia para consolar-me. Quantas vezes eu chegava a derramar lágrimas o dia inteiro, como se fora lavar-me com o pranto de minha alma em dor.

Gisele falava mas notava-se nela uma excessiva magreza. Era uma mulher muito linda e de esplendorosa beleza. Podia-se ver na pobre Gisele. A óssea estrutura dos ossos, no peito e nos cotovelos, pontiagudos os ossos, quase que expostos davam ao corpo uma aspereza,, uma forma de desnutrição . Era uma boneca, desconjuntada e esqueleticamente ereta.
Como ela ficava com a cabeça constantemente baixa, o seu rosto ficava na sombra e não podia ver claramente as olheiras roxas em torno dos olhos. O pescoço fino e longo; a testa ficava sempre escondida sob as franjas compridas e espessas. Os olhos, o nariz e a boca. Tornavam um desenho bonito, a boca carnuda e o nariz de Iracema. Seus vestidos sempre do mesmo feitio, liso e escorrido até as canela, cor única, e assim ia escondendo quase toda a beleza de Gisele.

Já, Nadia, se mostrava mais sensual, com as curvas opulentas de seu corpo, ajeitado entre seus vinte e seis anos. O rosto fino e de cabelos encaracolados em longas tranças, uma bela negra, de olhos enormes, e de seios fartos e coxas grossas. Andava tentando puxar a fim de tornar comprida a saia curta; e quando sentada, metia os pés por baixo da cadeira.

Entretanto, quem as conhecia apesar da beleza de ambas, sabia que havia nessas meninas lindas, algo além da graça, havia um sofrimento na carne e na alma.






Nadia lembrava-se do primeiro dia em que chegara à casa de Gisele chamando-a. E escondendo que fora chamada por seus pais para ajuda-la, já que ela acabaria se matando se tentassem tira-la de casa.

¾ Minha amiga!
O que foi?
Parece distante!
Pensava em como vou me portar depois que você se for...
Não se preocupe com isso agora. Ficarei bastante tempo com você. Se quiser para sempre! - pronunciava essas palavras como se elas simbolizassem a calma e a paz que Gisele precisava ouvir.
Ontem eu amanheci com uma febre danada. Pode ser uma reação neurológica?
Acho que sim!
Você não veio por acaso, veio?
Sua família estava na maior aflição. - No quarto havia pouca claridade que mal deixava distinguir os objetos.
Eles sabiam que se falassem comigo seria difícil, e nada me faria consentir com a sua vinda. - Mal Nadia encostou o ouvido ao seu corpo, teve ela um forte sobressalto, e não pode erguer a cabeça tão depressa, que não sentisse no meu rosto a doce pressão de seu sangue corar-lhe as faces.
__ O que foi?
__ Senti nos ombros choque tão brusco e violento, que me vi, assim sentada. - Gisele de seio erguido à amostra, e horrivelmente pálida. Os olhos espantados cintilavam na penumbra. Aconchegando ao seio com uma das mãos e pondo-o dentro do vestido.
__ Apenas apertei-lhe a clavícula! O que passou depois foi rápido como o pensamento.
¾ Não se aflija, Nadia. Não doeu tanto assim. Eu não estava prevenida... por isso saltei sobressaltada...
¾ É verdade!- Não havia, portanto, motivos de sobra para o seu vexame. A timidez é tão bela virtude!
¾ Oh! Sinto-me sem ânimo! Por que só agora que vejo-me tão doente?
__ Por estar aceitando a doença; a depressão! Essa febre em você não é real, mas destino. A depressão não a fez melhor nem pior; não mudou de forma, a sua beleza, e não mudou o teu caráter, nem os seus sentimentos. A tristeza, que desde muito tempo batia à tua porta, queria penetrá-la enfim, num belo dia, sem que você tivesse consciência disso. Quase se pode afirmar que a não percebeu. Para ela essa grande oportunidade não passava de uma questão de tempo
Em resumo, tem uma dessas horas que estamos essencialmente à mercê, que nasce da dor e fatos predestinados à nós, e quando só conseguimos respirar desilusões e vazio interior, que a depressão age livremente na atmosfera da nossa mente. De resto, uma boa alma, metódica e fria, consegue fugir do glamor que essa doença exerce sobre nós, fracos e incapazes de reagir.




Nossa alma, fica como peixe fora d’água e qualquer alento parece ser um porto seguro, a nossa estima pensa que está com sinceridade, mas passivamente, sem iniciativa e reação nossa. Capaz de qualquer sacrifício que exijam que tenhamos que levantar w olhar para frente, nunca depressivo temos a espontaneidade de ver como realmente estamos, é por isso o mais insignificante apelo da dor. Ela não oferece, mas também não recusa o nosso sofrimento!...
¾ Ela recusa! Murmurou Gisele meio sem graça.
¾ Deste modo não sei o que faça. Entretanto a coisa é grave.
¾ Às vezes me acho meia anormal. Sou anormal ?
¾ Posso garantir-lhe que não és! Só estás confusa! Nada lhe parece um deleite neste momento!
¾ Eu também não posso usar de rigor comigo, porque sei que isso seria matar-me mais depressa. - as lágrimas saltaram-lhe dos olhos.
__ Meu Deus! Eu não pensei que estivesse condenada a ver morrer minha filha, e nada pude fazer para poder salvá-la. Cheguei a brigar com Deus! Perguntar se Ele queria ver satisfeitas todas as suas vontades, como ordens imperiosas. – Mas Nadia guardara o seu orgulho estava empenhada que devia a consciência da sua força e lutar contra o desengano de uma depressão.


Gisele sentia – se combatendo sua enfermidade, tratando um assunto difícil; raiva, desespero, e culpa. Quando a consciência da sua fraqueza contra as leis de Deus se manifestou; imensa foi a culpa que sentiu, quando seu espírito se perdeu. Uma vez perdeu a esperança.

Gisele aproximara-se da morte. Sentira-se reter as lágrimas que saltaram-lhes dos olhos. A morte tão depressa leve o espírito sereno! Agora achou nela energia nova. Enxugara as lágrimas envergonhada. Sentia-se lutando com si, contra as angústias por que passara, contra o desespero de sua fraqueza nesses momentos!

¾ Promete-me prosseguir lutando? – perguntou Nadia em seus ouvidos.
¾ Dou-lhe minha palavra. Eu vou tentar bastante!

De pé no chão e cheia de luz, meia reclinada no sofá, tinha na mão um livro aberto e lia com atenção. Era pequena e esbelta. Tinha uma delicadeza no porte e o rosto gentil; porém esculpiam-se os contornos dos seios mais graciosos e firmes.
Às vezes, porém, a impressão da leitura serena, tornava e despertava nela a mulher. Então desferia a dor por todos os poros. Os grandes olhos verdes, rasgavam-se para manter-se abertos. Nesses momentos toda Gisele era somente coração, e tristeza.

Nadia parada na porta, e a admirava.

¾ Minha nossa senhora!... bradou Gisele totalmente descomposta. As cores fugiram-lhe das faces ainda pálida. Ela vestiu-se de um ar glacial. logo depois sua fisionomia anuviou-se, e Nadia com o olhar fuzilou-a naquela densidade de uma paz súbita.


¾ Talvez me ignore! disse Nadia.
¾ Espera!... Gisele tinha desde pequena o espírito mais elevado do que deixava supor o seu natural acanhamento. Lia sempre, e com olhar perspicaz, revela-se uma observadora.
¾ Não posso. Ainda vou arrumar a cama... - disse com a voz seca e ríspida.
¾ Já vem dormir?
¾ Ainda não, tenho que ler esse livro - respondeu ela com a pronúncia clara e vibrante.
¾ Então, farei uma hora contigo?
¾ Vou preveni-la que dormirá na sala.
¾ Ah! Então é assim?
¾ Isso seria a minha vingança!...
¾ Parece-lhe?... Pois vou dar-lhe outra mais doce.
¾ Ao menos a punição é generosa... - as palavras que vieram afogadas no escárnio.
¾ Com efeito!... ¾ e retirou-se da sala.

Com o passar do tempo a sua aversão a luz e a sair de casa desapareceu por completo. Gisele procurava sempre ir até o quintal, e quando de todo podia evitá-lo, não recusa e mesmo com fria altivez, erguia-se, e seu espírito vivaz seguia livre.

Realmente, Gisele, tinha conquistado um pouco de postura. Parecia que engordara também. Uma menina nova se apresentara naquele instante.

__Mas que estranha mutação! - A esplêndida beleza de Gisele congelou-se. os olhos antes mortos e agora tão lívidos.
__ Passei alheia de mim! - Ia com efeito, bastante distraída, embora ofuscada por tanta formosura.
¾ Boa-noite, Gisele! Que distraída estás hoje!
¾ Perdão! - Seus espíritos serenaram como por encanto.

Nadia Compreendera tudo com o olhar, e com o sorriso. Então, quando sua vaidade estivesse totalmente de volta, do alto de seu orgulho, e seus olhares de desprezo. Depois de tudo quanto sofrera.

¾ Nem de propósito!... pensara Nadia em voz alta.
__ O que falou?
__ Duvidei de mim um momento. Aproveitara do incidente para mortificar-me.
__ Seguem as coisas que só acontecem no entusiasmo da primeira paixão que sacrificam as mulheres, as heroínas do amor das poesias?
__ Ah! Quanto romantismo! - Nadia Estendeu a mão à amiga.
¾ Adeus!
¾ Que é isso, Nadia?
¾ Vou-me embora. Não vê?!!!.... Eu vou é para cama sua medrosa....
¾ Nem tente me assustar! Eu ainda nem pensei em começar sem você!
¾ Acha você que vou à algum lugar? Estou muito bem com você! - disse abrindo a blusa e mostrando que estava nua por baixo do cetim.
¾ Quem lhe pôs nesse estado?
¾ Quem?... Eu!...

Durante as horas que se seguiram Gisele que parecia estar bem. Teve uma recaída. Nadia Levantou os olhos para ela. Parecia não lhe ouvir, nem mesmo ter consciência de que ela ali estivesse e lhe falasse. Sua alma passava no olhar, e ia ao outro lado da sala. Havia em sua fisionomia e atitude a expressão pasma que deixa a alheação ou o recolho dos espíritos.
Gisele passeava na sala, na sua fria e incisiva tristeza, que eram como os espíritos maus de suas obras. é uma espécie de humilhação que se impõe àqueles que não pediram, nem desejavam seus favores. De repente, Nadia vira passar-lhe pelos olhos mortos, um súbito lampejo de vida.

Decorreram dias; em todos eles Nadia sentiu que foram maus dias esses, e enfim, voltou a calma; o rancor se ocultara no coração de Gisele.
Pouco tempo depois, Gisele acabava de sofrer uma transformação completa. Logo presa de grande pavor, fugia a abrigar-se no colo materno de Nadia.
Gisele retrocedera e não tivera ânimo; tornara a se martirizar; o menor ruído a assustava, a mais leve sombra lhe incutia terrores e vertigens. Até que sucumbiu num ataque de nervos.

Gisele esteve dois dias de cama. Houve larga discussão a respeito do grave acontecimento; um mês, durante um mês, os pais dela não falaram de outra coisa: Senão, interna-la:
Tudo isto produziu efeito oposto ao que esperava. Nadia não queria que ela conservasse assim aquela natureza frágil, tímida e melindrosa. Era funesto a dor que atravessava sua alma!
Foi a semente da primeira e grande crise que Gisele teve. E grande foi a vergonha de seu pânico. Um sentir que não era desejo, nem raiva, pesar ou descontentamento, porém um misto de tudo isso, a intumescer-lhe a alma; um sentir nunca sentido turbou a vontade de Gisele.
As lágrimas saltavam dos olhos, o olhar aceso de Gisele, um sorriso mordido no lábio e em sua mente uma visão de seus fantasmas. E de olhos fechados. Gisele e metia-se na cama, a vida se isolava no seu íntimo como num invólucro impenetrável, e ela surpreendeu sua alma triste e desconsolada.

Nadia Passou alguns instantes a conversar com Gisele junto à mesa. A amiga sentara-se numa cadeira de palha à porta da frente, onde regularmente todas as noites ficava a olhar a sua árvore. Durante suas noites de insônias.

__ Lembra-se da noite anterior?
¾ Creio que sim; mas não me recordo bem.
__ E como se sente?




Cena 05

__ Cansada e aflita!
__ Vamos ver um pouco de descanso e...
__ Não consigo me livrar dessa tristeza! Acredito, que a minha primeira cura me devia dar felicidade... e não deu-me... – Gisele estava ainda na janela; parecia querer movimentar-se, mas depois colocara as mãos entre o rosto e conservara-se imóvel.
__ Ainda nem começamos a nos exorcizarmos! - As últimas palavras Nadia a arrancaram bruscamente da janela e do seu estado pensativo; ela atravessou a sala e veio sentar-se no sofá. Gisele era só desdém e altivez. As amigas cruzaram um olhar, como dois adversários antes do combate começar.
¾ Meu egoísmo porém não deve prejudicar a minha cura...
¾ Muito bem, Gisele! – com que preço Nadia poderá tirar dessa desgraça essa pobre criatura!

Nadia teve nesse dia um ponto quebrado. Ela tinha encanecido a alma! Desde então Nadia percebeu nela um desejo novo, um desejo vivo e ardente de ver Gisele curada. Ela estava preparada para não medir-lhe nenhum esforço.

Que nova humilhação a reservava e de quanta ausência pode suportar a alma daqueles que os habitam em dor?. A de Gisele beleza não se mostrava, desaparecia. Ela não ficara fria, mas séria; durante vezes sem fim caminhava até a janela, e depois vinha sentar-se um instante, em total silêncio!

¾ Perdoe-me! – disse Nadia a ela. e a voz sublime e doce como disse tinha afeto e calma.
¾ Você não me deve nada, Nadia.
¾ Não me diga isso! Não seja generosa!
¾ É verdade! Quem lhe deve sou eu.
¾ Sei agora quanto a ofendi! Não sabia então quanto lhe devo!
¾ Eu mereci este castigo, porque fui má e fraca!... Mas se lhe confessasse... teria pena de mim!
¾ Confessar-me o quê, Gisele? - Nadia perguntou comovida
__ Eu já estou calma e posso confessar que não quero continuar tentando! - sem o menor vexame, com a voz tão clara, que Nadia não teve duvida do que acabara de ouvir.

Gisele de mistério em mistério. Envolta naquele misto de franqueza e reserva, de placidez e emoção. Que pesada a confidência de Gisele!

¾ Não posso mais! Estou muito cansada! - murmurou Gisele, deixando-se cair na cama.
__ Descanse um pouco!
¾ Você me julga muito ingrata?
¾ Eu, Gisele?
¾ Oh! Não negue! Eu sinto!...
__Pois enganou-se! – Gisele abaixou os olhos para o chão a seus pés.
¾ Sou... um espírito perdido, um coração tão tosco! Esta que temos a anos... tem sido a minha única alegria!
¾ Já uma é uma razão para tentar, não é?
¾ Seria!... em outra oportunidade....
¾ Qual?
¾ Não sei!... menos essa... - falou de novo, mas absorta, como se falara consigo mesma num recolho íntimo.
¾ A minha alegria é estar com você!... – Gisele passara os olhos rápidos pela face da amiga depois do seu restabelecimento.
¾ Está bem...

Nadia tentou mostrar que o coração sente e que tem necessidade de uma afeição sentida e que, não seja posta de lado. Há uma pedaço do amor que pertence à alegria e vive nela, como as boas lembranças desta vida, mas se vem um outro pedaço, essa é a parte que nos cabe e conduzi-lo é unicamente preciso e também sentir e viver!

¾ Alguma coisa me diz que não amarei nunca!...
¾ Hoje talvez seja assim!
¾ E se houver amanha, também haverá de ser! E já me sinto órfã das minhas esperanças!
¾ Eu também penso que acabou o amor para mim...
¾ Eu não penso e nem quero pensar nisso... - Gisele hesitou e evitou comentar mais sobre isso.
¾ Vamos mudar de assunto!

Durante o ano que passou, Gisele portou-se bem, passou por essas reuniões e remédios. Seus sonhos, suas alegrias, e sua alma! Tudo mudara! Algo porém continuava A desilusão!... Não achava em si uma lembrança doce e pura... Era como uma ingratidão, o sofrimento que lhe devorava por dentro... Não tinha ainda como superar suas lágrimas e sua dor!...

¾ Obrigada, Nadia!
¾ Esqueça! - esse sentimento bom e puro, era uma coisa conhecida, que Nadia dedicava no silêncio de sua alma!
¾ Quero e vou largar o tratamento!
¾ Mas por que motivo?
__ Eu tenho medo de que me arranque da mente e também do espírito mais essa doce ilusão... de tê-lo dentro de mim!
¾ Nunca vão acabar com os seus sentimentos!... E eu a defenderia... afastando-a se tentassem... – disse Nadia.
__ Perdoe-me!
__ Eu também sofri... Sofri mais porque tentei me afastar de quem tanto amei!...





__ Não quero isso! Sinto a morte dentro de mim e não me importa o que digam ou o que me fazem ingerir. Preciso continuar sentindo, o meu Cezar, aqui dentro de mim. É isso que me mantém viva! – dizia puxando com as mãos, o vestido para frente, quase o rasgando todo.
__ Fique calma! Serei a primeira a protege-la disso! – Nadia a amparou nos braços em meio às lágrimas que avançavam-lhe sobre os seios desnudos e observados por ela.

A noite caía e a solidão avançava com suas garras e cobria-se de encantos falsos, de armadilhas, de eloqüentes silêncios. Gisele e sua mudez na hora do crepúsculo.

¾ Que linda noite!... Nadia tentou puxar conversa.
__ É está linda mesmo! – Gisele já não disfarçava a incapacidade de sentir e de seus lábios desfolhou um triste sorriso.
¾ Vamos nos animar um pouco! – disse Nadia.
¾ Como?

Nadia estendeu-lhe as mãos e puxou-a entre seus braços e com a ponta dos dedos apertou-a de leve nas costas, num carinho íntimo.

¾ Seja minha amiga!
__ Sempre serei! Sempre serei! – disse Nadia abraçando-a fortemente. E descendo a mão tocou-lhe na cintura.

Gisele com o coração ermo de esperanças! Era severa consigo mesma e falava de morrer com a franqueza e a calma de quem estava determinada. E sem pudor velava a sua vida, e em deslumbramentos falava de cansaço. Que tanto a afligia essa pobre coitada? Seria a congelação precoce dos sentimentos, que se perdera com o desaparecimento do amor de sua vida?

Nadia não sentia-se mais forte ou mais capaz do que Gisele, mesmo embora que as rosas de sua alma não estivessem totalmente murchas, ela tinha medo de amar também...Talvez amasse alguém, algum dia... seguia resistindo ainda!...
De alguma forma sabia que amava Gisele, sem o saber; começara a admirá-la cada vez mais. Nadia compreendia que esses sentimentos revelavam a tormenta de uma paixão nascente, que inundaria de sangue toda sua vida, como as tempestades dos primeiros dias do ano.
Dois dias depois daquela conversa junto à cama, Nadia, ia cheia de tão sonhadas esperanças, inundada da felicidade que borbotava em meu seio... Ia assim, transbordando dilúvios de imenso amor.
Gisele mostrava-se completamente distante quanto entre as duas quase total silêncio. Nadia tentava aproximar-se com cautela, e toda sua tentativa acabava-se de repente na frieza glacial de Gisele, que de certo já tinha congelado as palavras na garganta.


__ Sabes que tenho idéia fixa na morte? – disse Gisele, essa mulher, cheia de mistérios e sem vida no olhar, tinha o mágico poder de fazer-se mármore.
__ Sim!
__ E que posso tentar dar cabo de mim?
__ Seria impossível controla-la...
__ Então por que não foges de mim? - disse-me com um doce enfado.

Assustada com aquela pergunta sem nenhum afeto, Nadia lançou-se junto de Gisele; porém ela encontrava-se sempre o mesmo acolhimento. Era quando Nada menos esperava, que Gisele vertia sobre ela um olhar cheio de ternura.

__ Por que tenho carinho por você e que também preciso de você! Sinto-me sozinha neste mundo que dizem ser tão vasto... na verdade, eu só tenho você! - Gisele contemplava-a de longe e muda. Sentia-se ainda mais triste, com a revelação da amiga.
__ Pensei que fosses feliz! - Gisele falara maviosa e triste; nesse momento ela ergueu os olhos e sorriu, um sorriso amarelo.
¾ Não, não sou feliz! - disse Nadia cabisbaixa.
__ Nada daquilo que possa ser a felicidade, nada me faz falta; e se eu não a tenho; não sei achá-la. Cada um tenta a sua maneira e quem a encontra, vive seu instante em cada momento. Já senti isso uma vez e foi uma ligeira emoção. Veio e foi-se como um castigo que veio despontando em minha vida. É talvez essa felicidade, sirva apenas para perturbar dentro em mim. Como se separasse minha vida do meu corpo nesse vácuo imenso. - As vicissitudes de frieza e indiferença, com que Gisele sentia, não tinham nada que regrasse sua beleza, ali ela guardava as essências de sua alma. Outros dias chegava-se muda e absorta; parecia haver dentro dela uma grande solidão, onde seu espírito se perdia.

¾ Leia-me alguma poesia! Que fale-me do amor... do amor de Deus, do melhor amor deste mundo!...- murmurava Gisele absorta em seu transe.
__ Sim! Espere que vou apanhar o livro... aqui está!

“ Sei que existo, porque te amo”

Naquele momento, eu pude perceber que esse sentimento que encheu meu coração. Mortificava-me e cruelmente; levava e acabava com todas as forças de minha alma; e de repente todo aquele meu medo fez-se amor!

Com tanto receio que a felicidade venha e me descarte como outrora já fizeste é que não me calo e derramo em mim, em completo todo o amor e inundada por este imenso júbilo de amar. Sigo-te por entre florestas e sombras! Oh! Que amor me tomas!

Vivi repetindo mil vezes que o amor chegou enfim; abri o peito a cada dor que me cercava e como abençoei este sentimento! Pedi a Deus que tornasse indelével esse detrimento de outrora, para que nessa hora, me santificasse em candura! Que bom sentir amor em mim! Que suprema delícia sem fim! Amor, que viva assim da minha felicidade de amar!


Cena 06

Enquanto Nadia lia a poesia; Gisele bebia as palavras, que lhe matavam a sede d alma. Fora desses momentos, em que sua alma sentia uma necessidade irresistível de expansão ou de absorção, ela parecia esquecer-se da dor latejante; pungente; que tanto a incomodava.

Gisele sorriu e levantou-se; e foi deitar-se aos pés de Nadia, acariciando-a nas pernas delgadas. Nadia atirou-lhe um olhar de carinho, e tocando-o com a mão na cabeça, e com excesso de zelo, acariciou-lhe a boca. Logo depois Gisele, voltou-se para a amiga com uma expressão indefinível de rubor:

¾ Não tenha receio!
__ Nada que venha de você poderá machucar-me. Disso tenho certeza! – disse Gisele acanhada.
¾ Pois eu receava que isso lhe desagradasse!
¾ Por que motivo?
¾ Preferir ignorar-me! Do que deixar que a toque! – Nadia docemente tocada por sua beleza, por aquele serena candidez. Ao mais leve toque, o rubor, cobria-lhe a face, porém, ao contempla-la, percebia a magoa tão suave em seus olhos. Assim era o pudor de Gisele.
__ Vou sucumbir a tudo isso! – Nadia ouviu calada as palavras que exalaram dos lábios de Gisele. Tão logo roçou-lhe o contorno do seio, com a palma da mão. Gisele estava lívida, e com a aparência débil . Aniquilou Nadia com um olhar ; retirou o braço; deixou-a imóvel e pasma no meio da sala.
¾ A nossa amizade é uma flor muito suave para este clima da sala. Não lhe parece?... Por que há de sentir aqui? - Soltando essa palavra, seu lábio túmido parecia sugar dela um gozo ignoto. Com o vestido caído até a cintura, deixando à amostra, os seios arredondados e de bicos róseas , enquanto os olhos, velando-se, afogavam num fluido luminoso.
¾ Por que está triste?
¾ Porque sou egoísta, e não tenho o direito. - O olhar casto de Gisele pousou em Nadia, como uma linda criança procurando proteção no regaço materno. Não estava ela em qualquer lugar mais protegida pelo seu pudor celeste do que ali, sob os olhos de Nadia.
__ Você apenas precisa deixar que isso se vá! Essa culpa!
__ Às vezes apanho-me assim, perdida e sem chão para pisar! - Gisele balbuciava trêmula e fria, como se tivesse levado um grande susto.
__ Confie em mim!
__ Eu confio! – Gisele atirou-se nos braços de Nadia. Parecia que sua vida corria, fugia dela, para soltar-se de um precipício, e um grito de pavor parecia querer se desprender de sua garganta. Uma brisa parecia tocar-lhe a face, ardida em chamas e era como se a sua alma suspendesse-a até o teto.
¾ Aqui estou!
__O que eu vou fazer da minha vida, meu Deus!
__ Vive-la! Como Deus quer que viva!




__ É tão difícil! Está tão difícil!
__ Eu lhe ajudarei! Sempre!
__ Oh!
__ Não sofra tanto! Chore comigo!
¾ Ainda estou com frio!... Gisele parecia que a cada momento o pé lhe faltava.
¾ Eu trarei um cobertor Gisele, se a vida fosse só alegria, todos seriam felizes e é por isso que estamos aqui. Podíamos ficar onde estávamos, tranqüilamente sentadas no sofá. Para que serviria a vida, se ela fosse uma festa? Viver é gastar, desperdiçar a sua existência.
¾ Mas eu quero me isolar desse sentimento...quero preservar-me das riquezas e avareza do destino! - Gisele erguera os ombros desdenhosamente.
¾ Quando vais perceber que nada vai mudar teu destino! - Nadia disse erguendo ao céu os belos olhos.
¾ É verdade que me ama?


Durante dias naquela casa, durante tantos meses vividos em doce intimidade, nunca a palavra amor, surgira tão forte. Eleva-se as vontades, tendo dois corações em luto, era preciso caminhar de leve e com absoluta maciez.
A forma de testar as alegrias, como de testar as tristezas, não trazia mansidão para que nenhuma das duas pudessem, ao menos abrirem seus corações.

¾ Sim, sabes que tenho amor por você! Desse amor das poesias, não; e nem desses que das ilusões efêmeras, que murcham o coração. Eu ainda quero me sentir bem viva, supremo consolo!... tens medo de amar?
__ Quem me dera merecer sublime sentimento! Ter medo! Tenho medo de ter medo, isso, sim! Eu sentia, até então o orgulho de só ter amado uma vez na vida! Sentir que não restam do primeiro e único amor senão cinzas do coração extinto! Imenso não deve ser o amor, quando a esperança dele nos enche assim de contentamento?
__ Sim!
__ Seus poetas não amaram assim?
__ Só os poetas antigos é que sabiam como verdadeiramente amar. Esses novos, já estão esquecidos do desengano, dos desencontros, dos dilemas. Da palavra apaixonada, escrevem como se fora o feliz que devesse merecer tão sublime paixão! Veja essa poesia desses anos sem amor:


“Cada passo sem você”


Conceda-me, Oh tristeza, conceda-me vida da tua beleza morta!
Espalha-te em mim jarros de teus venenos e vaza-me os olhos lanças e me cega
Oh! Cruel esperança que zomba de meus apelos... Que adormecem minha alma caída...
Fazei de mim um fantoche e ponha-me em grilhões... Mas trazei-a de volta...

Grito em súplicas e não me envergonho, quero-a do meu lado em sorrisos pueris,
O conchego daquele olhar, sua nítida expressão de formosura!
Jamais meus olhos estiveram diante de tanta beleza, tua celestial beleza...
Deparei-me sem falas diante dela!
E ela foi-se, como se levado pelo vento em direção ao mar!

Procurei-a até o alvorecer e durante meses em vão, e gritei pelo nome, que és Amor!
Vai dizei onde encontra-la duma vez, acabe com a dor e solidão!
Rias! Zombes! Mas, traga-a de volta...
Dizei a ela que sofro e que sofri as amarguras de meus erros,
Dizei que perdi o encanto das flores, Dizei!

Falai de mim! Quantas lágrimas verti ao escurecer do dia!
Falai de mim! Quantas vertigens senti durante dias!
Falai que fincarei os pés aqui e me prostrarei até que ela retorne,
Oh! Injúria quanta maldade! Teu nome é mentira! Retornai depressa ao amor que se apaga!


__ Vê como esses homens tinham coragem de se expor?
__ É como são as mulheres de hoje... tens uma poesia de poeta recente?
__ Sim, tenho deixei-me pegar uma das que eu gostei mais! Aqui está:



“ Uma vez eu ouvi o seu coração”

Ainda lembro-me daquele dia em todos meus medos foram levados embora por você
Tanto foi o seu cuidado que me senti protegido de mim mesmo
Sem as lembranças ruins de quando eu estava sozinho
Ou da agonia de pensar que nunca seria amado por alguém especial como você
Assim eu vivi antes de você chegar aqui...

Ainda lembro-me daquele dia em que todos meus sonhos foram trazidos de volta por você
Com seu sorriso e força fez-me esquecer de todo o resto
Os dias felizes cresciam como plantas na varanda
E só havia vontade, coragem e certeza
E assim levava toda a dor para bem distante de nós dois...

Ainda lembro-me daquele dia em que você chegou
E encontrou-me como uma cidade destruída pela guerra
Do seu amor veio a reconstrução!
Mas como todo sonho sempre acaba, o nosso chegou ao fim
E foi tão de repente que eu nem cheguei a acreditar
Que todas as coisas que pensei que fossem durar eternamente
Pudessem me deixar aqui tão sozinho novamente
Sem teu amor a me guiar, os dias voltaram a ficar desorientados
E voltei ao lugar onde eu nunca mais pensei que pudesse estar...

Em dias assim eu ainda escuto o seu coração
E tenho certeza de que voc6e também escuta o meu
E saiba que apesar de todo barulho que está fazendo
Era o seu nome que se repetia e repetia aqui dentro de mim...


__ Esse poeta parece ter vivido em outros tempos! – disse Nadia escondendo o rosto com o livro.
__ Parece comigo essa poesia! – os olhos vazios de Gisele agora tinham luz. E eram esplêndidas dentro daqueles enormes e verdes olhos que pareciam iluminar toda a sala.
__ Como assim?
__ Quando você chegou aqui! Eu me encontrava como na poesia... será que é disso que eu preciso... de amor?
__ Todos nós precisamos de amor! – Nadia perscrutava-lhe com o olhar lúcido.
__ Tenho receio que também aconteça como no final da poesia... e acabe sofrendo sozinha...
__ Jamais sairei daqui!

Ambas entreolharam-se e por instantes houve um silêncio provocativo e de total consentimento de ambas as partes. As janelas foram abertas e o ar entrou limpo e suave em dois corações perdidos e escondidos.

__ Como acordar e saber que é real? – as palavras saiam livremente pelos lábios de Gisele, que com a cabeça jogadas para o lado também pendia os pensamentos.
__ Acontece que amanha estaremos mais de pé do que agora...
__ Você dirá se foi tudo isso em vão?
__ Certamente que sim!


O peso dos séculos de solidão desencadearam uma reação de indiferença e nostalgia em Gisele que era impossível disfarçar. Uma morbidez que a melindrava-a e tão renitente o seu pesar que sepultava em sua garganta qualquer sensatez.

__ Estamos nós duas à procura do que não sabemos, se existe ou não, e nem tampouco onde encontrar mas saiba que eu nunca vou deixa-la sentir-se mal ou sozinha...
__ Obrigada! – disse Gisele abaixando-se para apanhar a coberta que estava ao pé do sofá. Sem sentir-se envergonhada e sem a pele rubra causada pela vergonha. Gisele pôs-se nua e sem mostrar constrangimento e timidez que lhe eram bastante peculiar. Dirigiu-se ao quarto.

Nadia que apenas a observava sorriu e balançou a cabeça negativamente e se encaminhou até a porta para vê-la deitar-se.

__ Você não vem deitar-se? – perguntou Gisele convidativa. Porém vazia de qualquer sentimento.
__ Vou ler um pouco e venho logo!
__ Estarei dormindo em minutos. Há tempo que não me sentia tão cansada!
__ Descanse um pouco! Lhe fará bem!
__ Hoje, foi um dia que eu gostaria que gravasse em sua memória... é assim... é assim que eu vou fazer... lembrar... – as lágrimas banharam seu colo nu.
__ Sossegue! Que eu vou estar aqui até que adormeça.... Nadia imaginara ser outro estado de pesar que se abatia sobra à amiga e apenas a tranqüilizou-a sem saber dos verdadeiros planos que Gisele havia preparado para aquele noite!


De volta ao inicio... com a arma encostada ao rosto e com lágrimas nos olhos. Gisele retomou os pensamentos....




FIM






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