UMA DEZENA DE DECLARAÇÕES
I
E eu, o que sou? ... para ti o que sou é que não sou, não há um eu, me basto por aquilo que meus dedos vão traçando.
II
Um silêncio, tranqüilo, sou assim, como violão parado, piano descansando, sou tão quieto e silencioso que mais pareceria com minha assombração, não fossem as olheras.
III
Não que eu possa, mas bem queria a todos do bairro deixar constrangidos voando por aí.
IV
Com raras excessões, desejamos todos a mesma coisa, só nos falta unir forças e descobrir o que que é.
V
Como queria, talvez, ser o poeta extridente em seu trabalho. Mas não o é, trabalha, trabalha e por fim acaba sacrificando-se, silenciosamente...
VI
Garoa, garoa prenuncia que está por vir... Está por vir a chuva, a água torrencial, caindo do céu, inundando o pessoal, abençoada por Deus.
VII
No fundo, bem no fundo, talvez, queiramos apenas ser eternamente criança, para eternamente brincar e dar razão pra existência disso tudo.
VIII
Sou assim, nada mais: posso sofrer, posso chorar para escrever e mesmo que não te comovas e te pareças sempre previsto, fica-lhe a pergunta: que mais podes querer além de minhas lágrimas, além do meu sofrimento?
IX
Ainda que eu possa já ter morrido, mais uma vez ainda vou morrer, só que desta vez é diferente, desta vez é por alguém.
X
Da alma, da alma, todos falam, ainda que não a consigam ver. É realmente estranho, que em coisas assim acredite-se tão seguramente, enquanto em outras, tão seguras, não. |