A quadra mote enunciada é de Frederico de Brito, o Britinho, com quem tive a oportunidade de privar e conviver estreitamente, nos emocionantes tempos da minha fadistice aguda, ao longo de inesquecíveis madrugadas sob os vertiginosos odores do tintol carrascão a esperguiçar-se entre as atabacadas espirais de fumo em dança lenta, ambiência onde os ímpetos machos se entrelaçavam nos voluptuosos contornos da fêmea arisca. Ah... Fadista!...
Tempos... Tempo que me leva em viagem de olhos fechados até Charlot, meu inultrapassável boneco preferido, impresso inesquecivelmente em meus sentidos, desde os meus 4/5 anitos, miudinho com olhos de borboleta entre dez inquietas abelhas pousando em tudo. "Vá... Tira daí as mãozinhas... Toninho... Toninho...".
Tem graça agora, e isso impressiona-me bastante, que eu apreciava o homenzinho de pés laterais a sério. Enquanto os adultos levavam a rir as mãos à barriga, eu sofria as quedas abruptas do meu herói e quedava-me em fria emoção logo que ele lograva vantagem sobre os patifes que desalmadamente o perseguiam.
Só muito mais tarde comecei a aquilatar a àmpla dimensão estereotipada de Mr. Charles Chaplin e a absorver-lhe o relacionante efeito sobre a trágico-cómica farsa da vida. Por ele, comecei a ver e a interpretar as pessoas e o mundo com respeitável complacência, completamente rendido ao "tem-que-ser" que não pode ser outra coisa, estado de fraqueza íntima que não rende de facto provento material que se apalpe bem. Às vezes, não se sabe como, até rende adversas decepções cujo significado não vem no dicionário dos imprevistos.
Todavia, hoje, e hoje por mero acaso Charlot passou-me aos olhos, quando tenho a oportunidade de rever o meu indefectível boneco, a gargalhada sobe e uma lágrima desce. O meu dilecto herói da vida implanta-se-me num par de asas, alegre e triste, assim a modo de algo que me põe o peito em voo suspenso.
E é o tempo, tudo por causa daquele tempo que se desfia no rosário dos anos, o tempo que me impele até Ã peculiar imagem de Charlot, um mundo de recordações, tempo que me traz nítida ao ouvido a misteriosa voz de Beatriz da Conceição a esculpir em som a quadra do Britinho...
O eflúvico festim da memória inspira-me, alenta-me e desalenta-me em quatro versosÂ
Boa noite aonde for noite, bom dia aonde for dia... E sobretudo muito obrigado pelas boas intenções impressas na página de leitura que plana sob a abóboda usinal. Que esta desenhada ilusão a terminar faça o melhor possível por aqueles que estão ao nível da mesma ideia... Pois!