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Contos-->Paixão em sombras de lua -- 24/01/2004 - 19:38 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O envelope pequenino, quase bordado, trazia letras de fôrma coloridas, pequeninas. Um convite para a festa no Sábado. Festa de adulto e ela ainda não havia completado quinze anos. “Serei adulta antes da hora”, pensou. Olhou para um lado, o pai sisudo e calado lendo um jornal e para o outro, a mãe marcava uma almofada. Contava os fios no pano para arrematar sua arte. Concentrados nem perceberam que a menina Liza recebera uma correspondência e que a campainha havia tilintado. Era do Rui, agora, seu amor proibido.
Ela sempre desejou o Rui, quase quarenta anos mais velho que ela mas aparentava uma jovialidade que a deixava perturbada. Com seus um metro e setenta e poucos de altura, com um corpo que parecia esculpido pelos deuses, a endoidava. Os cabelos eram de um castanho escuro aveludado e os mantinha sempre um pouco longo, penteados para cima. Tinha o hábito de passar os dedos por eles deixando-os atrás da orelha. A sensualidade dele a fascinava. Suas mãos, os lábios finos, a voz firme e envolvente, o modo de se vestir, tudo lhe era marcante. Ele freqüentava a casa, quase que semanalmente. Antes de se envolverem, ela ficava às vezes escondida, a observá-lo. Parecia que ele nunca a notaria. Engano seu. Uma noite, quando os pais saíram para um cineminha, ele veio fazer mais uma visita, talvez para jogar um baralho, um dominó, coisa assim. Tocou a campainha e Liza foi atendê-lo, após ter espiado pelo vão da janela, de quem se tratava. Havia a recomendação para não abrir a porta pra ninguém. Ia abrir porque era o Rui. Ela estava vestida muito à vontade, um short de malha, bem curtinho e uma blusa que pouco lhe cobria a pele. Abriu a porta convidou-o a entrar. Rui sentou-se após perguntar pelos pais dela. Disse que eles não estavam e ele então fez menção de ir embora. Liza pediu-o para esperar por eles e enquanto isso lhe serviria um café.
Pairava no ar uma certa falta de assunto. Liza não perdeu tempo. Aproximou-se e falou sem rodeios, sobre seu amor por ele, o quanto a atraía, e que fazia tempo, gostava dele, que nos seus sonhos e fantasias, ele a transformava em sua esposa.
Rui desajeitou-se, a poltrona não o cabia mais e, empalideceu. Uma carinha de bebê em declaração de amor, pensou. Não esperava por aquilo apesar de lembrar de alguns olhares dela cruzando o seu. Ele poderia ser pai dela tentou fazê-la entender. Levantou-se e foi embora.
Ficou dias sem visitar os amigos mas não esqueceu daquelas declarações. Recebia chamados para um joguinho mas ele recusava com uma desculpa qualquer, até que um dia, disse confiar na sua experiência de vida. Não era uma pirralha que iria mudar seus hábitos.
Voltou a freqüentar a casa dos Barbosa, foram pintando olhares cúmplices entre ele e Liza, uma vontade de sempre se ver, de conversar, de estar juntos. Rui percebeu que a garota já não era tão garota. Estava amando-a. Sabia que a amizade da família acabaria quando soubesse desse absurdo – para eles, claro.
Liza não esquecia do convite que recebera e teve uma idéia. Pediu ao pai que a levasse para a festa, no sábado. Sem demora veio a negativa com a desculpa de não gostar das festas de hoje. Nova insistência e perguntou se poderia ir com a colega Marisa e sua mãe. A mesma negativa. Liza chorou em seu mundinho de quatro paredes. Recorreu a mãe e esta prometeu dar uma força.
Conversou com o marido e decidiram pedir ao amigo Rui para levar a filha ao baile. Era um rapaz acima de qualquer desconfiança. Liza bateu palmas de alegria pelo sinal verde, em casa.

A festa estava no auge. A música era linda, uma melodia suave e calma. Liza estava ali e com ele, inacreditável. Radiante com tanta beleza do ambiente e também gozando de uma certa liberdade. Dançaram, conversaram, mas o espaço estava cheio e queriam aproveitar o tempo que parecia voar. Outra oportunidade dessa, jamais.
- Vamos dar uma volta lá fora? – convidou Rui ansioso.
- Vamos. – respondeu sem ainda saber direito o que fazia.
Os dois saíram da sala de mãos dadas sem se incomodar com olhares maliciosos.
O coração de Liza batia tão forte que ela achava que Rui pudesse ouvir.
- Você é maravilhosa, me enlouquece – ele dizia encostando a boca
na sua nuca coberta pelos cabelos longos e perfumados.
Liza era a mulher mais bela que já havia visto em toda a sua vida. Tinha os cabelos cacheados, da cor de mel, soltos até a cintura. Olhos azuis muito brilhantes e um sorriso de dentes perfeitos. O corpo era estonteante realçado pelo vestido amarelo claro com motivos em relevo.
De repente Rui parou, segurou nos ombros de Liza, trouxe-a de encontro a si, beijou-a como se estivesse provando uma fruta única, ainda não madura, seus lábios e línguas dançavam com desejo. Liza sentia seu corpo grudar no corpo de Rui que a abraçava, apertando-a quase machucando. Não se importou. Os beijos foram ficando mais provocantes, Rui beijava as orelhas e pescoço, enquanto as mãos buscavam os seios. Liza, tonta, deixava se levar por aquela deliciosa sensação dos lábios quentes e úmidos que provocavam arrepios tão prazerosos, nunca sentidos. Descobria-se a cada minuto.
Estavam apaixonados, e para eles o mundo se resumia ali naquela poesia.
E assim ficaram, ouvindo a poesia do silêncio, tendo como testemunha a lua que os espiava timidamente e retardava os passos do tempo.

Juraci e Oliveira Chaves
Pirapora setembro 2003
www.jurainverso.kit.net (leia aqui "O visitante"
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