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Contos-->A voz do silêncio -- 25/01/2004 - 03:56 (Barbara Amar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Levou um tempo enorme procurando o telefone do garoto. Sabia que não jogara fora, se bem que o bom senso assim ordenasse. Mas era, por acaso, uma mulher sensata? Guardara-o. Se lhe perguntassem o porquê não conseguiria explicar. Talvez como lembrança. Gostara do seu jeitinho, fazia a linha desprotegido. E agora buscava o maldito número desmanchando gavetas, fuçando agendas e pedaços de papel. A voz da razão clamava desesperada:
- Não faça isso, sua louca. Pára de brincar com fogo.
- E quem está brincando, porra? Tô com tesão, ora essa.
Dela podia se esperar tudo. Havia, claro, outras maneiras óbvias de se proporcionar prazer. E se tivesse um pouco de paciência bastava aguardar o marido.
- Quero já!
Voluntariosa, eterna dependente da luxúria, queria porque queria transar com o rapaz pelo telefone. Não se conheciam, pelo menos do modo formal, porém agora sabia para quem trabalhava. Era isso. Queria-o como uma ponte, uma forma de trepar com o cara inacessível por quem estava apaixonada e de quem ele era amigo. Tanto vasculhou que acabou achando o precioso telefone garatujado em um bloquinho, perdido numa bolsa antiga.

Levou o fone móvel pra cama, não sem antes soltar os cabelos e abrir o curto roupão de seda. Incrível a certeza de que o encontraria. Em nenhum momento pensou que tivesse mudado o número ou não estivesse em casa.
Encostada na cabeceira da cama, a cabeça repousando nos travesseiros, discou. O telefone chamou um tempão e ninguém atendeu. Passou para o segundo número. Nada. Ficou, certo tempo, olhando sem ver o fone em sua mão esquerda. Afastou o robe e acariciou os seios desnudos com a mão livre; os mamilos enrijeceram, dois aríetes prontos para serem manipulados, lambidos e sugados. Dominada pelo desejo voltou a discar o número inicial. Desta vez foi rápido. Atendeu prontamente como se a esperasse (devia tê-la reconhecido pelo identificador de chamadas) e a mulher sorriu ao perceber a excitação na voz juvenil. Lila era uma grande fêmea e, embora já passasse dos 50, mantinha-se em forma. Além disso, sabia ser imbatível em sexo virtual. Ignorava o verdadeiro nome do parceiro e, óbvio, enganava a idade. Vira-o apenas uma vez, quando levara o carro para a revisão. O amigo dele, aquele a quem ela amava, havia grampeado seu telefone. Cara obsessivo, queria controlar suas conversas, sua vida. Levantar o endereço da oficina devia ter sido fácil. Enviou o rapaz a seu encontro talvez para melhor observá-la. Quem poderia saber o que planejava?
Abreviando a história, enquanto assistia da calçada o mecânico cuidar do carro, Lila viu-se face a face com um jovem moreno que quase despencou sobre ela. Gentil, pediu desculpas por ter tropeçado. Ela lhe reconheceu a voz. Controlou-se fingindo nada haver percebido, mas sua cabeça estava a mil. Lila não acreditava em coincidências; nunca mais o procurou. Em sua imaginação, via com clareza o outro se divertindo a ouvi-la suspirar e gemer no telefone. Desgraçado, ele próprio lhe confessara ser incapaz de satisfazer uma mulher como ela.
- Certo, e por isso me entrega aos conhecidos.
Uma ação entre amigos, pode-se dizer. Só que dessa vez Lila resolveu virar a mesa. Era doida mesmo.

- Você? ouviu-o murmurar, espantado.
- Eu mesma.
Deu uma gargalhada daquelas que só ela sabia dar. Contagiante. Ele a acompanhou baixinho, meio desconfiado. Deve estar catando o gravador, pensou e em voz alta:
- Como vai seu tio?
- Quem? A voz fingia surpresa.
- Ah, você sabe. Vamos parar com esse jogo bobo.
- Que é isso gata? Tá delirando?
E com voz macia, ronronou:
- Senti sua falta. Você sumiu.
Lila deu outra gargalhada, nua, esparramada na cama.
- Vem me foder, seu bobinho. Mas quero ele aí do lado, caladinho como sempre. Hoje vamos fazer a três.
- Se essa é a sua fantasia...
Lila o imaginava consultando com o olhar o amigo impotente.
- É. Digamos que seja uma fantasia. Vou trepar com vocês dois. Você na frente e ele atrás.
- Tudo bem. Mas estou sozinho. Quer que eu interprete o papel de dois homens?
- Não. Quero que você seja você mesmo. Ele pode ficar calado, não me importo. Reconheço perfeitamente seu silêncio. O silêncio fala, meu amor.

16/11/03

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