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cronicas-->Candeia de terra -- 13/05/2003 - 18:46 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Num canto da velha casa de taipa dormia a velha candeia, serventia de gerações de gente brava do sertão. Sertão, capão de mato, olho da mata, qualquer coisa assim. Morada de caboclo teimoso, com vontade de fugir da cidade e de suas regras estranhas, da fome regulada, do direito de andar sujeito a papéis coloridos e de diferentes valores.
Uma boa candeia cheia de terra, aposentada por preguiça dos netos modernos, que trouxeram lanterna e lampião, gás e pilhas, radinho prá ouvir música.
Foi o que chamaram de moderno quando dispensaram a atenção da mulher velha e escolheram umas roupas esquisitas, chamadas sintéticas ou cinéticas, algo mais ou menos assim.
Na modernidade o neto mais velho voltou com coisa feia da cidade, teve que fazer tratamento com ervas do mato. Pingava um troço nojento, que só a vó rezadeira soube achar no meio da mata fechada.
Foi coisa de mulher fácil, daquelas que se deitam por papel. A vó pensou na candeia cheia de terra.
Naqueles tempos em que seu caboclo era vivo não tinha tanto acesso ao povo da cidade. A cidade era vila, com poucas casas, pouca gente, muito respeito.
Aos poucos os filhos foram mudando para a vila, que depois cresceu e virou município. Afinal o município era maior do que vila ou menor do que a cidade?
Tanto fazia. A candeia cheia de terra que tinha velado o parir dos netos e filhos agora ficava cega e sem luz o dia inteiro, encostada num canto qualquer, do lado de outros troços que ninguém usava mais.
Tinha também um facão de mato, especial, largado de conta por outro mais moderno, com cabo de plástico.
Os netos eram todos fracos, nem pescar sabiam mais. Coisa de gente da cidade, que ensina porcarias aos que surgem da mata. A filha nunca mais voltou. Dizia que tinha medo de canoa, de rio, de bicho.
Morava numa casa feia perto do rio, palafita. Fita no cabelo também. Fita de música no gravador, coisa de louco onde saía voz. Sons da mata presos numa caixa de música grudada na parede.
Nem queria candeia. Tinha làm-pa-da. Enchia a boca para falar da làm-pa-da. Não era lampa, nem làmpia, mãe teimosa.
A candeia velha podia ser jogada fora qualquer dia daqueles. Pediu aos netos para ser enterrada com ela. "Tá bom vó"! Risadas de lado, peixe cozido na panela. A candeia só espiava de longe. Candeia de terra, sem óleo e sem luz, coisa da modernidade.
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