Eu estava sentado - mas agora não mais lendo Cem Anos de Solidão, e sim a tela do computador - quando eu cheguei nela. Foi tudo de surpresa, tudo muito inesperado: aconteceu como em uma fábula infantil qualquer, digamos, assim, como na história de Pocahontas, a divina princesa morena.
Na Grande rede nem tudo o que cai é peixe, e nem sempre este é o objetivo de nós, pescadores de ilusões. Um papo legal, uma descontração, uma parábola de amor mal contada, sempre a eterna incógnita. De tudo tem e de tudo rola nesta Grande rede, que une laços de afinidade e impressões digitais.
Com tudo em pratos limpos, vem a fase de leitura mútua, de troca recíproca de frases e orações que surgem aos borbotões no VGA, ou Super-VGA, o que, na verdade, dá na mesmíssima coisa. E palavras geralmente são armas.
Mas ninguém na Grande rede quer machucar ou ferir alguém. Longe disso. O caráter e a personalidade contam muito, assim como na tal fábula, assim como em Pocahontas. As armas servem apenas aos afoitos, as palavras, aos poetas. Que as armas fiquem nas grandes cidades.
Por entre watts e gigawatts, por entre cabos e conexões, fluem suspiros tímidos de novas amizades nesta conversação binária. O papel de parede e a proteção de tela perdem todo o seu glamour, todo seu encanto, quando o tempo voa à velocidade de 33.600 bits/s.
E, assim, se constróem lições de fidelidade apaixonada, de ímpetos de loucura. Tudo como na fábula pueril, tudo como na vida da delirante Pocahontas, que do mesmo jeito que aparece se vai, e nos deixam aqui, sozinhos, tentando eternizá-la virtualmente...
Felipe Lenhart
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