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Textos_Religiosos-->Paulo de Tarso, o salvador do Cristianismo -- 15/02/2007 - 11:21 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Paulo de Tarso, o salvador do Cristianismo

Félix Maier

Segundo os apócrifos “Atos de Paulo”, o apóstolo Paulo era “um homem pequeno com uma grande cabeça careca. Suas pernas eram curvas, mas seu porte era nobre. Suas sobrancelhas eram bem unidas e ele tinha um grande nariz. Um homem que inspirava amistosidade” (História do Cristianismo, pg. 12).

Paulo de Tarso era um judeu da diáspora. A origem de sua família era do Norte da Galiléia, perto do Lago de Genesaré (Mar da Galiléia). Nietzsche acusou Paulo de “inventar o cristianismo”: “Paulo corporifica o tipo exatamente oposto ao de Jesus, o mensageiro da boa nova: é um gênio no ódio, na visão do ódio, na lógica implacável do ódio. O que seu nefasto evangelista não sacrificou a seu ódio! Primeiro e antes de mais nada, seu salvador, crucificou-o na cruz... Um deus que morreu por nossos pecados: redenção pela fé: ressurreição após a morte – todas essas coisas são falsificações do verdadeiro cristianismo, pelas quais aquele ranzinza mórbido deve ser responsabilizado” (pg. 49).

Segundo Paul Johnson, autor de “História do Cristianismo”, “essa é uma das linhas de ataque preferidas. De fato, um ataque frontal contra o próprio cristianismo costuma ser uma agressão contra o que é considerado o elemento paulino. Assim, Alfred Rosenberg e os propagandistas nazistas anticristãos concentravam-se primariamente em ‘Paulo, o rabino do mal’. Porém, a verdade é que Paulo não inventou o cristianismo, nem o perverteu: ele o salvou da extinção” (pg. 49).

Entre os cristãos primitivos, acreditava-se que a parusia ou segunda vinda de Cristo era iminente. “Daí a urgência da tarefa pentecostal, uma urgência de que Paulo compartilhou durante toda a sua vida, de modo que sua esperança final era ser o portador da boa nova, enquanto houvesse tempo, até a Espanha – para ele, ‘os confins da terra’ ” (pg. 52).

Para Paulo, “a vinda de Cristo pôs automaticamente um fim à antiga lei judaica. A lei tornou-se uma maldição, pois homem algum conseguiria cumprir por completo suas 613 ordens e proibições; assim, fazia de todos pecadores. Sob determinados aspectos, constituía um incentivo direto ao pecado. Paulo não pregava a liberdade irrestrita. Pelo contrário, instava com freqüência que os mandamentos fossem guardados. Defendia o ativismo, sobretudo na caridade.
(...) Tinha consciência de que era loucura supor que a salvação residia no cumprimento da lei e de sinas externos como a circuncisão. A lei era formal; sua observação baseava-se, forçosamente, em um certo grau de hipocrisia. (...) Os judeus acreditavam-se escolhidos, desde que cumprissem a lei. Contudo, a marca da eleição não é o nascimento, mas a promessa de Deus, tal como concretizada por meio da graça da fé. Aplicava-se a todos, sem distinção de raça, sexo ou status. (...) Não há determinação, em Paulo, da insistência calvinista na predestinação eterna do indivíduo à salvação ou danação” (pg. 52-53).

A Epístola aos Romanos, de Paulo, “trata-se do mais provocador dos documentos cristãos. Tem um hábito de forçar os homens a reconsiderar toda a sua compreensão de religião, mesmo quando já estão envolvidos há muitos anos em investigações teológicas. Assim, Romanos provocou uma profunda alteração no pensamento de Agostinho, nos últimos anos de sua vida. Deflagrou a explosão luterana. Foi utilizada repetidas vezes para demolir e reconstruir sistemas de teologia, mais recentemente por Schweitzer, Bultmann e Barth” (pg. 53).

“O que assegurou a sobrevivência do cristianismo não foi o triunfo de Paulo no campo mas a destruição de Jerusalém, e, com ela, a fé cristã judaica. Uma das muitas razões colaterais por que Paulo ansiava por dissociar a doutrina cristã do judaísmo era seu desejo de resgatá-la da política irredentista judaica. O messias político e militar judeu nada significava para gregos e romanos. Não era disso que tratava o cristianismo” (pg. 56).

“O total de baixas judaicas relatado por Josefo chega a quase 1 milhão e meio. (...) O Templo foi destruído e, dali por diante, o judaísmo tornou-se uma religião do Talmude. A nação judaica jamais se recuperaria do golpe, muito embora a dispersão final tenha se dado no século seguinte, quando Jerusalém foi arrasada e reerguida como uma cidade colonial romana. A comunidade cristã judaica debandou; a maioria de seus líderes foi, sem dúvida, morta. Os sobreviventes abalaram para a Ásia Menor, o Oriente, o Egito, sobretudo Alexandria.

(...) Dessa maneira, o centro de gravidade do cristianismo deslocou-se para Roma; e o vácuo teológico deixado pela extinção da Igreja de Jerusalém foi preenchido pelo sistema paulino” (pg. 57).

“Essa é a concepção que Paulo tinha da Igreja: uma comunidade onde o espírito agisse por meio dos indivíduos, em vez de uma hierarquia organizada em que a autoridade fosse exercida por posição. A fé ardente de Tertuliano fez dele um açoite para os hereges e um ávido propagandista da Igreja – um dos melhores que já teve” (pg. 63-64).

“A Epístola aos Hebreus, como sabia a maioria dos primeiros patriarcas, não foi escrita por Paulo. Foi excluída do fragmento muratoriano e rejeitada por Tertuliano e praticamente todos os demais no Ocidente. A primeira figura latina notável a aceitá-la como canônica foi o bispo de Poitiers, Hilário, de meados do século IV. Contudo, era popular no Oriente e foi por fim categorizada como paulina, resultado de um acordo no Concílio de Cartago, em 419” (pg. 71).

“Paulo escrevera em uma época na qual ainda se pensava que a parusia era iminente, conquanto, no fim de sua vida, a esperança de que ela viria imediatamente estava esmorecendo. No decorrer das duas gerações seguintes, os cristãos tiveram de encarar o problema de uma escatologia em retrocesso e aceitar que o período de espera pelo apocalipse era a ‘normalidade’. (...) A exortação escatológica simples de Paulo ao arrependimento, os apelos a ‘vigiar’, cederam terreno à idéia da ‘vida cristã’, tal como expressa nas epístolas pastorais e na Epístola aos Hebreus, que foram atribuídas. Dessa forma, a regulação da vida voltou a tender a ser retratada como a condição de salvação e o grande mandamento ético dos evangelhos assumiu o status de uma nova lei. Contudo, lei implica obediência, e obediência implica autoridade. O que era essa autoridade? A Igreja. O que constituía a Igreja? Os homens que a dirigiam” (pg. 72).


“... a democracia primitiva do período escatológico se fora: a congregação havia perdido a liberdade, os bispos ensinavam a verdade autorizada e o ofício era visto como o instrumento pelo qual a tradição apostólica seria preservada. Como vimos, a autoridade do bispo foi, então, escorada na compilação de listas episcopais remontando às origens apostólicas (pg. 73).

“... os bispos, como os apóstolos antes deles, foram dotados da tripla autoridade do alto sacerdócio, da doutrina e do cargo de ‘vigia’. Só podiam ser ordenados por outros bispos” (pg. 74).

“A criação de uma Igreja internacional, deslocando-se lentamente da diversidade doutrinária para aparência de ortodoxia, baseada em um cânon acordado e sustentado pela instituição dos bispos, foi essencialmente a obra do século II. Foi um trabalho pragmático, desenvolvido em resposta ao colapso da esperança escatológica, e durante uma feroz e contínua batalha contra a heresia” (pg. 74).

“Se Paulo trouxe para a primeira geração de cristãos as úteis habilidades de um teólogo capacitado, Orígenes foi o primeiro grande filósofo a repensar a religião desde os primeiros princípios” (pg. 74).

“O efeito da obra de Orígenes foi a criação de uma nova ciência, a teologia bíblica, por meio da qual cada frase das escrituras era explorada sistematicamente em busca de significados ocultos, alegorias e assim por diante” (pg. 75).

“Com o bispo Cipriano, a analogia com o governo secular tornou-se muito próxima. Porém, claro está que faltava um elemento: a ‘figura do imperador’ ou sumo sacerdote. (...) Jerusalém era a Igreja-mãe, onde todos os apóstolos tinham operado; contudo, a congregação de Jerusalém tinha deixado de existir em 70 d.C. e jamais recuperou seu status original. A única outra fundação apostólica era Roma, já que se acreditava que tanto Pedro quanto Paulo tivessem sido martirizados ali. Havia uma alusão ao martírio de Pedro no evangelho de São João, 13:36 e 21: 18-19, e tanto a epístola de Clemente aos coríntios quanto a carta de Inácio aos romanos indicam que ele teria ocorrido em Roma. (...) Eusébio e Dionísio concordam em que Paulo foi decapitado e Pedro crucificado” (pg. 77).

“Pedro, porém, era o fundador mais valioso, por ser, em certo sentido, o principal apóstolo, o colaborador mais próximo de Jesus e o beneficiário do famoso texto de Mateus sobre a ‘pedra’ e as ‘chaves’. Não há indícios de que Roma tenha explorado esse trecho para afirmar sua primazia antes de 250” (pg. 77).

“Provavelmente o primeiro bispo romano, em algum sentido significativo, foi Sotero (166-74), mas, na época, o conceito de uma tradição episcopal remontando a Jesus já fora estabelecido, e Roma também pode ter estado por trás do processo que fez de ‘seu’ apóstolo, Pedro, o fundador da Igreja de Angióquia e de seu secretário Marcos o fundador de Alexandria, convertendo assim a segunda e terceira cidades do império em colônias eclesiásticas de Roma” (pg. 78).


Obs.:

A respeito da “História do Cristianismo”, o grande pensador brasileiro José Osvaldo de Meira Penna diz o seguinte:

“Obra erudita, extensa, compreensiva. Acentua papel decisivo de Paulo, o inventor da universalidade do cristianismo.

Cristo formulou matrizes, que possibilitaram variadas manifestações (pluralismo de ritos, devoções, interpretações).

Agostinho. Não percebo a tese de que teria sido Agostinho o fundador da Igreja Instituição ao modelo de Estado. A Igreja então já era uma organização.

No conflito medieval latente entre Acclesia et Imperium parece às vezes tomar partido pelo Imperium. Ora, só a Igreja/Papado tinham legitimação para a supremacia. Os bárbaros germânicos, como estrutura organizacional, eram criaturas da Igreja. Tinham vocação local – tribal – nacional. Só por delegação papal poderiam aspirar ser Império Universal.

Na descrição das Cruzadas atém-se a relatar atrocidades cristãs, como de fato as houve. Como se os árabes fossem vítimas passivas. Nunca menciona violências sarracenas, óbvias (Pirataria e saques em todo o mediterrâneo).

Na descrição das Guerras Camponesas – pós-Lutero – resulta clara a analogia com a caótica ação do nosso MST, sendo Stédile a reencarnação de Thomas Munzer. Na verdade, tais movimentos cíclicos só podem persistir como ‘parasitas’ do sistema, nunca o substituindo. O igualitarismo não se sustenta.

A propalada violência da Inquisição vem enfocada devidamente como inserida num contexto de violência epocal generalizada, tornando-se assim compreensível.

Há um perceptível enfoque preferencial na história da Inglaterra. E na história da Igreja Católica. Não explora a história da Igreja Oriental (ortodoxa).

Alguns personagens de grande importância são minimamente mencionados, quando não omitidos: São Francisco, Santa Catarina de Siena, Bartolomé de Las Casas”.

(Folheto inserido no livro disponível no Instituto Liberal de Brasília, entidade presidida por Meira Penna.)

***

No caderno “Fim de Semana” da Gazeta Mercantil, de 5, 6 e 7 de outubro de 2001, sob o título “Bom e fiel nos detalhes”, Renato Pompeu nos diz o seguinte:

“Assim, com o nome de ‘História do Cristianismo’, este livro de Paul Johnson não é grande coisa. Se tivesse, porém, o nome de ‘Anotações para uma História do Cristianismo’, o trabalho já chegaria ao nível de obra-prima – e como tal deveria ser encarado.

Pois, se considerarmos esse livro como ‘Uma História do Cristianismo’, ele, em primeiro lugar, está muito atrasado em relação à pesquisa histórica mais recente. Lançado no original em inglês em 1976, ele se apresenta, num prefácio datado de 1975, como consolidação das pesquisas feitas ‘nos últimos 20 anos’. Ora, de lá para cá se passou um quarto de século de pesquisas; muitos temas, como as relações entre o judaísmo e o cristianismo original passaram a ser vistos a uma nova luz – Jesus Cristo hoje é visto como fiel judeu nos sentidos mais íntimos de suas doutrinas – que torna datada a obra de Johnson, famoso por ter passado do trabalhismo ultra-radical para o thatcherismo ultraconservador” (pg. 20).


Bibliografia

1. JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Imago, Rio de Janeiro, 2001 (677 páginas). Tradução de Cristina de Assis Serra.

2. Jornal Gazeta Mercantil, Sexta-feira, 5, e Fim de Semana, 6 e 7 de outubro de 2001.





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