[De Toulouse a Belo Horizonte, de Belo Horizonte a Araraquara, quis o acaso que esse "Petit conte afghan", no idioma em que originalmente foi secretado, viesse dividir o normalmente recheado espaço da minha caixa de emelhos. Tratei de traduzi-lo e fazê-lo seguir seu caminho anônimo pela net. Um dos leitores contemplados com o meu esforço faz saber que a anedota já circula por aí, se não com as mesmas palavras com que tentei torná-la compreensível para quem não lê o idioma de Zidane, certamente com o mesmo espírito que hoje anima as relações entre os inventores das batatas fritas e os audazes inventores de um recente e patético movimento pelo abandono do consumo das batatas fritas.]
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Um velho, que vivia sozinho no Afeganistão, queria plantar, como fazia todos os anos, suas batatas no jardim. Mas era um trabalho extenuante carpir e revirar toda a terra do canteiro. Ahmed, seu único filho, que costumava ajudá-lo nessa e em tantas outras árduas tarefas, estava na prisão em Guantánamo. O velho mandou-lhe então uma carta, na qual lamentava a difícil situação por que passava no momento:
Caro Ahmed,
eu me sinto extremamente infeliz, pois não sei se vou conseguir plantar minhas batatas este ano. Você sabe que estou velho demais para, sozinho, preparar a terra do jardim. Se você aqui estivesse, o problema já estaria, logicamente, resolvido. Sei que prepararia, como sempre, a terra para o velho pai plantar suas batatas.
Afetuosamente,
papai.
Muito tempo não se fez esperar a resposta do filho prisioneiro:
Caro papai,
por Alá, não remova a terra do canteiro. Nele estão enterradas as kalachnikov.
Afetuosamente,
Ahmed
Às 4 horas da manhã do dia seguinte, uma nuvem de agentes do FBI chega e revira toda a terra do canteiro sem encontrar uma só arma para coroar o seu heróico esforço em nome da paz mundial. Desolados, os agentes se desculpam e deixam a localidade. No mesmo dia, o velho recebe uma outra carta do filho:
Caro papai,
agora é plantar as batatas. Fiz o melhor que pude nas atuais circunstâncias.
Afetuosamente,
Ahmed
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[Valeu, Lúcio Emílio de Andrade Vasconcellos do Espírito Santo contra o Dragão da Maldade Junior, pelo envio da anedota.]
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