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Cronicas-->Surrealismo -- 26/05/2003 - 17:55 (Christina Cabral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
SURREALISMO

O rio largo e tranquilo vem lá não sei de onde. Riscos de prata marcam sua superfície lisa. A sua volta, pontos de luz piscam na mata. Uma lua deste tamanho escurece as sombras, as figuras hirtas de certas árvores, altas e compridas, que parecem fantasmas a se destacarem na paisagem. A montanha negra limita o horizonte.

Um barqueiro em pé na popa de seu barco, vai, silenciosamente, singrando as águas com seu longo remo.
A sua frente, negro como as longas árvores e a montanha, um esquife e, sobre ele, inclina-se o vulto, diáfano, de uma mulher. Sob o véu escuro que lhe cobre a cabeça, transparece a face lívida e, nas olheiras profundas, o olhos cismadores enfrentam o imponderável.

Este quadro lúgubre que meus olhos analisam, estará sempre ali, à disposição dos meus sentidos; a tristíssima alma não verá o seu corpo ser entregue à Hierofante, não cruzará o rio da Morte. Na companhia do eterno barqueiro, ficará ali, estática, sem conhecer seu destino.

Por mais que meus olhos busquem modificar a cena, divisar o Paraíso, transformar as sombras e os pontos de luz, em simples e borradas cores do paviflex do meu chão, ainda assim eu sofro a solidão do meu barqueiro e sua tétrica bagagem.

Creio que muitos quadros surrealistas receberiam medalhas se fossem copiados das sombras do chão ou dos filamentos da madeira. Tenho, por exemplo, um anão medonho e ao mesmo tempo gaiato, na porta do meu guarda-roupa. Olha-me com seus olhos miudinhos e matreiros. Está montado sobre um enorme cão. Seus longos bigodes escorrem-lhe sobre as bochechas e entre seus dedos, nodosos, ele prende uma pena que parece brandir no ar, como uma arma. Às vezes eu gosto dele, gosto de analisa-lo e descobrir outras formas que o circundem, completando o quadro selvagem. Mas outras vezes ele me amedronta e, mesmo de luz apagada e olhos cerrados, não me acalmo: sei que ele está lá, montado em seu enorme cão e brandindo aquela arma, quero dizer, aquela pena, como se quisesse me agredir.

Quando era criança, eu costumava seguir, com o lápis, os esgarçados da parede de meu quarto, pintado à tinta a óleo. Creio que a alma infantil, tão alegre, tão descompromissada, guiava a minha percepção para figuras engraçadas, como barco-à-vela, animais e flores. Era como captar e desenhar as figuras formadas pelas nuvens, no risonho entardecer da minha terra.

Talvez hoje, impressionada pela brutalidade dos nossos dias, a minha mente dê vazão ao medo, formando monstros nos riscos que nos cercam.

Por que esta crónica tão estranha? Para que saibam que, mesmo uma cronista bem humorada, sofre as pressões que a insegurança vai gerando e, com elas, solapando a nossa sensibilidade.

Caso de análise?



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