Lá estou eu com a boca arreganhada deitada naquela cadeira macia. Tão macia que se não fosse o esforço de ficar daquele jeito incomodo talvez dormiria.
O dentista enfia mil coisas na minha boca. Eu só fico olhando já que não posso fazer mais nada mesmo e um tal de "enxugador" faz um barulho insuportável. Eu penso que a anestesia é um milagre da humanidade e agradeço com mil beijos quem a inventou. Mas será que esse efeito tão duradouro não poderia passar mais rápido? É esquisita a sensação de que você tem uma bochecha mole igual a um bife pregado em sua cara. Tudo bem. O dentista diz:
- Anjo, abre mais a boca.
Não dou conta. Ele sabe. Passa um pouco:
-Anjo, fecha um pouquinho a boca.
Ele me chama de Anjo porque diz que eu faço tudo que ele pede. Faço minha parte, estou louca para acabar com isso. De repente ele diz:
_ Meu Deus! Mas essa menina fecha a boca torta desse jeito? Não é por causa da anestesia não? Eu respondo:
_ HUMNÃO...Nunca reparei nisso antes....
E penso que lá vem mais algum problema. Não tenho dinheiro para por um monte de ferro na minha boca e nem mesmo gostaria. Ele diz que eu estou dispensada e que não é para "morder" com a arcada dentária do lado esquerdo. "Tudo bem." Não pude almoçar nesse dia, não deu tempo.
Encontro com o gatinho do Mariozinho no caminho de volta. "Pô, por que eu tenho que encontrar com as pessoas logo nessas horas em que eu menos gostaria?" Ele é o maior gato e me dá três beijinhos no rosto e eu nem sinto. Que ódio! Conversamos um pouco. Eu converso com a boca torta. "Fazer o quê, o jeito é eu virar palhaça mesmo. "Tudo bem" E ele vai embora almoçar."