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Erotico-->Pé de Serra -- 10/08/2003 - 07:52 (Juraci de Oliveira Chaves) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Posso fazer você feliz”
A frase não lhe saía da cabeça. Estava lá junto com o pacote de pão. Guardara o bilhete no bolso do avental, com muitas incertezas. “Seria endereçado ao marido? Teria uma rival?” A ela não poderia ser já que não desconfiava de ninguém. Um pouco fora de forma não ia despertar amor de homem algum. Decididamente não era ela a inspiradora do bilhete. Anita estava mais pra gorda, seios acima da média, traseiro arrebitado e algumas manchas no rosto. Sentia-se desajeitada. Acima de tudo, se achava uma bem casada, não conhecia outra vida a não ser a do lar. O marido, um homem mais velho e independente. Filhos, nenhum apesar de nunca ter evitado.
Dia seguinte, outra mensagem. Apreensiva agradeceu a Deus por seu marido Geraldo não acordar cedo”.
“Posso fazer você feliz. Cada dia está mais bonita!”
Rubrou-se e uma friagem no corpo arrepiou sua pele:
- Então é pra mim.
Foi arriscada essa coisa de bilhete, jogado assim, e se alguém pegasse? Tá bem que não dizia nomes.
A palavra feminina lhe deu a certeza de haver um admirador. Olhou para todos os lados , parecia ver olhos fixos nela. Afundou o pé pra dentro, fechou a porta com cuidado para não fazer barulho.
Manhã seguinte a mesma cena:
“Ontem pensei o dia todo em você. Me dê a chance de fazê-la feliz!”
- Presunçoso! Quem disse que não sou feliz? Só porque o Gê já está velho e não se entrega às facetas do sexo?
Mais um bilhete a levava para o banheiro e a fazia repensar a vida cotidiana. Estava sentindo algo que a valorizava, alguém gostava dela. Fora tomada por uma ousadia adolescente, numa vontade de experimentar coisas novas, coisas proibidas.
No seu peito sobrou descompasso, incertezas. E o pensamento ainda confuso, a ludibriava.

Muitas mensagens se sucederam. Eram breves, sucintas, tinham o poder de deixá-la descontrolada. Pensou em ficar de vigia ou mesmo perguntar ao dono da padaria ou da banca de jornal. Descartou a idéia para não dar bandeira. Ignorar seria mais discreto.
E se não acordar primeiro que o marido ou a secretária doméstica? Tremia só em pensar. Precisava mesmo era falar com o esposo e ele ficaria de vigília:
- Mas e se ele pensar que dei liberdade, dei corda?
Anita se embaralhava, buscava o autor das mensagens e não encontrava. O vizinho da casa do lado esquerdo, fora de suspeita. Da direita, república de universitárias. Vizinhança toda ocupada sem tempo para essas bobagens.
“Viu a lua ontem? Como estava iluminada! Vi você refletida nela”
Anita mal lia as mensagens e as escondia no seio, no avental, na calcinha, entre o lenço amarrado na cabeça, até no canto da boca. Muitos dias, muitos bilhetes, muitas palpitações de coração.
“Aquele vestido preto combinou com seus cabelos e contrastou com o luar.”
Havia saído com o esposo para um jantar no Peixe-Vivo. Ficou mais grilada do que nunca.
Dias se sucederam. Anita andava distraída! Todas as noites, antes de dormir, fechava os olhos e desenhava o rosto do desconhecido
nas linhas de suas incógnitas. Lembrava de suas palavras, expressões e sonhava. Anita estava apaixonada...
“Não vejo a hora de levá-la para mostrar-lhe o outro lado da vida, do amor compartilhado, do amor sem farsa.”
Anita já percebia que era uma peça ornamental da casa do Sr. Geraldo. Já sentia necessidade de conhecer o mundo não só à sua volta ou em reuniãozinhas fúteis de madames. Nunca pensou em aventuras fora do lar, agora pensava com freqüência. Recriminava a si mesma por estar se envolvendo com mensagens anônimas que poderiam não ser endereçadas a ela, apesar das evidências. Mas, precisava descobrir o autor da brincadeira que a fazia ver o sol brilhar diferente. Entrava pela porta e mexia com todos os seus instintos.
Tomou uma decisão radical: queimaria todos os bilhetes guardados e os que chegariam. Não os leria mais. E assim fez. Um dia na semana acendia o fogo dentro do banheiro e esperava a última chama se apagar. Chorava, mirava no espelho suas desilusões. Outras vezes dissolvia as mensagens entre a mão o fio de água da torneira.
“ Sei que está sozinha. Espero-a no bar “Pé de Serra” da 135, no Domingo”
Numa fração de segundo, num piscar de cílios, leu a mensagem quando ia ser destruída. Logo aquela que não poderia ter lido. Decidiu então que tomaria um taxi, usaria um disfarce, e descobriria o escritor de mensagens anônimas. Pensando e imaginando assim viu metade da noite passar. Assustada, ora com sentimento de culpa, ora de abandono como se nada mais a protegesse, sentiu a sensação de estar sozinha num canto do mundo. O canto do galo animou-a na decisão para ida ao “Pé de Serra.”

(Continua...)
Este conto está ilustrado em Sensuais aqui:
www.jurainverso.kit.net

Juraci de Oliveira
Pirapora MG agosto 2003
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