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cronicas-->Amigos de ontem -- 29/05/2003 - 20:23 (IZABEL ROSA CORREA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu os vi lindos, jovens, bem vestidos, coloridos. Os braços ao alto saudavam o momento. O suor escorria a felicidade nos rostos. Eram a personificação da vitória. A vitória contra o tempo, contra os livros, contra a própria inércia. Eu quis gritar -"Abracem-se mais. Sorriam mais. Comemorem ainda mais." Desisti. Eles não me ouviriam. Ninguém ouve ninguém num baile de formatura.
Fecho os olhos. O tempo voa para trás. Quantos anos se passaram?O que aconteceu com a Luiza, com a Salete, com a Marlene? Onde andará o Johny, o Gelson, o Paraguaio e tantos outros, dos quais não lembro o nome? Eles também um dia comemoraram muito, riram e dançaram e prometeram não se afastarem uns dos outros.
A vida os levou. Hoje, a saudade os traz nas fotos que busco. Eles continuam jovens, belos e cheios de sonhos. Em algum outro lugar, em algum outro dia eles também olharam a mesma foto. Perguntaram por mim? Lembraram meu nome? Sorrio triste. Olho em volta. Quero dizer a alguém "Lembra como o Johny era solícito? Um perfeito cavalheiro" ou "A Luiza era tão doce..." Fico calada. Não tenho com quem comentar a respeito deles, pois as pessoas que hoje estão em minha vida não os conheceram.

Muitas vezes pensei em procurar antigos amigos ou até meros colegas de trabalho, com quem dividi o espaço - normalmente em silêncio - por horas a fio. Mas o que lhes dizer? E se eles não se lembrassem de mim? E se lembrassem e me perguntassem o que eu queria? Queria aquela juventude, aquela convivência ou queria o quê?
Alguns, encontrei por acaso, muitos anos depois. Percebi, porém, que aquela pessoa não era o amigo que eu buscava. Não apenas seus cabelos caíram ou ficaram brancos. Não apenas a pele ficou menos fresca. Era outra pessoa. Alguns se tornaram calados. Outros mais atrevidos. Alguns engraçados, filósofos. Mas nenhum era mais o mesmo. A vida altera a todos. Para o bem e para o mal. E os interesses comuns? As aulas de sociologia nos sábados à tarde. Que horror aquele horário! As festas nas noites memoráveis? Bons tempos! Após falarmos por alguns minutos o silêncio surge. Dolorido. Coloca a realidade à nossa volta. Estão frente a frente dois desconhecidos. Venha visitar-me. Irei sim. Anotamos endereços sabendo que novos encontros não terão sentido. Nos separamos e a saudade agora tem um sabor de desapontamento. Ah como ele era diferente!


Estoura um festival de fogos. O barulho insuportável me lembra um compromisso.Vou à Rodoviária esperar meus filhos que retornam de viagem. A cidade está vermelha e preta. Cores do campeão de hoje. Aceno para as crianças que se aglomeram nas esquinas comemorando o título, como se fosse a melhor coisa que poderia acontecer em suas vidas. Vivo aquela emoção. E de uma forma tão exagerada quanto a deles, pois enxugo os olhos com a ponta dos dedos, disfarçadamente, envergonhada. E nem sou torcedora do time vencedor. Estou sensível hoje.
Observo o vaivém das pessoas na estação. A vida é como este lugar. Pessoas chegam, ficam um pouco, depois partem. Assim como vieram. Com ou sem motivo.Como chegaram, nos deixam. Fica apenas o som de suas vozes, o alarido de seus risos, a dor de seu pranto, o calor de seus abraços. E ela, a saudade, tão concreta quanto inútil, instala-se.
Meus filhos chegam no ónibus que estaciona. Abraços. Lágrimas nos olhos. Beijos em seus cabelos, carinhos em seus rostos. Eles são os meus companheiros de viagem hoje. Vivo com intensidade o momento, apertando-os nos braços com a certeza de que sentirei saudade deste hoje. Chega a ser cruel a consciência de quão inútil é essa percepção. O tempo é implacável e meu momento já faz parte do silêncio que encobre o ontem.

A saudade é quase um vício. É feita de passado. O presente a alimenta incessantemente e o futuro a descobre em cada dobra do tempo.

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