Jogou o carro com violência sobre a calçada impedindo a progressão da moça que voltava tarde do trabalho.
Agarrou a jovem e levou-a para o lote baldio em frente.
Paralisada pelo susto e confusa, a jovem não ofereceu qualquer resitência. O homem abraçou-a e deixou-se cair com ela no chão. Caíram sobre uma mistura de lixo e mato que tomava o lugar.
Entorpecida, a moça conseguia proteger com uma mão os seios e com a outra o ventre - e mais nada - enquanto o homem segurava seu pescoço e cheirava-lhe os cabelos esbaforidamente, inspirando e expirando profundamente, como que quisesse lhe sorver todo o odor. O ser.
Repetiu os movimentos até quase perder a consciência por conta da tontura em que seu corpo se via cada vez mais envolvido.
Sem fôlego, retomando as energias, o homem repousou a face na face da jovem até reaver a vida. Por pouco não adormeceu ali.
A moça nada fez.
Passado algum tempo, recompostos, os dois se levantaram e trocaram olhares enquanto ele ajudava a jovem a se limpar. Quase se desculpando.
Nenhuma palavra foi dita.
Logo o homem convidou - com um gesto - a moça a entrar no carro. Ela aceitou sem concordar explicitamente, apenas caminhou em direção ao veículo abraçada com a bolsa que carregava.
O homem dirigiu vagarosamente pelas ruas escuras do bairro. No rádio tocavam canções românticas. Ele portava um sorriso contido na face, seus olhos brilhavam. Ela mostrava-se apreensiva e nervosa enquanto apertava a bolsa contra o peito com um braço e, sorrateiramente, vasculhava o interior da bolsa com a outra mão.
Dirigiu sem pressa até parar defronte à casa da jovem. Enquanto olhava um ponto imaginário no céu, disse:
-Sempre quis cheirar seus cabelos. Virou-se e olhou a moça ternamente.
A jovem titubeou um instante, quis dizer alguma coisa mas se conteve. Ela olhou o homem bem nos olhos. Sorriu desengonçada, desceu do carro e foi para casa saltitando alegre como uma criança enquanto atravessava a rua.
Ele observou a moça até ela sumir do alcance de sua visão, só então o homem percebeu que sob o banco do passageiro repousava um cartão com o nome e o telefone da jovem que acabara de sair.