Usina de Letras
Usina de Letras
20 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 63134 )

Cartas ( 21348)

Contos (13299)

Cordel (10355)

Cronicas (22578)

Discursos (3248)

Ensaios - (10646)

Erótico (13588)

Frases (51608)

Humor (20167)

Infantil (5584)

Infanto Juvenil (4927)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1387)

Poesias (141260)

Redação (3357)

Roteiro de Filme ou Novela (1065)

Teses / Monologos (2442)

Textos Jurídicos (1966)

Textos Religiosos/Sermões (6344)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Bandeira Nacional e Positivismo -- 21/11/2005 - 13:00 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bandeira Nacional e Positivismo



Félix Maier



A Bandeira Nacional tem origem no Positivismo. A respeito do assunto, assim nos ensina o "positivista ortodoxo" Arthur Virmond de Lacerda Neto, autor do livro "A República Positivista", Juruá Editora, Curitiba, 2003, pg. 132-133:



"Na mesma sessão de 15 de novembro, em que a Câmara Municipal carioca reconheceu o regime, hasteou José do Patrocínio oficiosamente uma bandeira republicana, decalcada sobre a norte-americana, apresentando faixas horizontais alternadamente verdes e amarelas. Preocupado com a imitação do modelo estrangeiro, alheio às tradições nacionais, apressou-se Teixeira Mendes em conceber outra, que caracterizasse a nova situação política, simbolizando a filiação do presente em que se adentrava, ao passado imperial. Assim, conservando as três figuras geométricas do pendão monárquico (retângulo verde inscrevendo o losango amarelo que por sua vez circunscreve o círculo), eliminou os emblemas do regime decaído (coroa encimando escudo, contendo este esfera armilar sobre a cruz de Cristo) e os ramos de tabaco e café, moralmente indesejável aquele enquanto fonte vegetal de um vício e economicamente inadequados ambos, visto que não mais representarem as principais riquezas agrícolas do país. A tudo substituiu uma esfera representando o aspecto celeste do Rio de Janeiro no instante do advento do regime que simbolizava, com a inscrição Ordem e Progresso . Na distribuição estrelar introduziu o Cruzeiro do Sul, cujo formato em cruz evoca os antecedentes católicos da nação.



Apresentado o desenho por Teixeira Mendes a Benjamim, este aprovou-o sem hesitar, submetendo-o por sua vez a Deodoro, que o reputou o melhor projeto dentre os concebidos.



Oficializada em 19 de novembro, por efeito do Decreto nº 4, que estabeleceu também os novos selos e sinetes, reproduzindo-lhe estes a esfera, circundada com a designação oficial do país (República dos Estados Unidos do Brasil), levantou o novo símbolo a fúria dos monarquistas, dos clericais, dos adversários do Positivismo e dos inconformados em geral. Acesas polêmicas travaram-se durante sucessivos lustros, objetando-se particularmente a presença do dístico positivista, cujos significado e origem a maioria esmagadora dos brasileiros hoje ignora. Às acusações e críticas responderam os apóstolos com perfeita propriedade, inclusive às tentativas de remover-se a fórmula ou mesmo de reformar-se o pendão por inteiro".



Gozado esses nossos positivistas, que acreditam apenas naquilo que pode ser observado. Ao mesmo tempo em que consideram a religião um conceito ultrapassado, apresentam-se como "apóstolos" (uma concepção cristã) e criam o "Apostolado", que vem a ser a própria comunidade positivista. Como se sabe, o positivismo divide a história humana em três fases: 1) teológica ou fictícia; 2) metafísica ou abstrata; e 3) positiva ou científica. Apesar disso, Augusto Comte criou um novo calendário universal (incluindo nomes religiosos!) e a "Religião da Humanidade", um conceito pastoso de "fim da história" proposto por sua “Ditadura Republicana”, de inspiração nos césares do Império Romano, como é também pastosa a concepção socialista de "liberdade" e "igualdade", que começa com Platão ("República"), passa pelos milenaristas da Idade Média (Thomas Münzer, o primeiro "teólogo da revolução", precursor do socialismo e sua "Guerra dos Camponeses" (1524-26), em que morreram cerca de 150 mil camponeses; Jan Mathijs e sua "ditadura popular cristã", que conquistou a cidade alemã de Munster (1534); os "Irmãos do Espírito Livre", movimento que combinava igualdade milenarista, muita promiscuidade sexual e ataques à Igreja estabelecida) e segue avante com Tomaso Campanela ("A Cidade do Sol"), Thomas Morus ("Utopia"), Jean-Jacques Rousseau ("Contrato Social"), Fénelon ("As Aventuras de Telêmaco"), Jonathan Swift ("As Viagens de Gulliver"), Daniel Defoe ("Robinson Crusoé"), David Hume ("Severambes"), Karl Marx e Friedrich Engels ("O Manifesto Comunista"), desaguando no largo estuário formado pelos acadêmicos da "República das Letras". Hoje em dia, a palavra "social" impregna todos os conceitos existentes sobre a face da Terra, a exemplo da "língua de pau" (langue de bois) que se observa no modo "politicamente correto" de se expressar de todos os comunistas/socialistas modernos. Até a constituição-frankenstein brasileira de 1988, que Ulysses Guimarães chamou de “constituição-cidadã”, está acometida desse vírus maligno.



Voltando ao dístico de nossa Bandeira, vale acrescentar que o lema “Ordem e Progresso” se refere à primeira fase da implantação da “Ditadura Republicana” positivista, que será dirigida por um “governo republicano ditatório temporal, com plena liberdade espiritual” (pg. 94), sob várias condições: liberdade de expressão, porém vedado o anonimato, “conterão os textos escritos, além do nome do autor, indicação de seu domicílio, data e local de nascimento” (pg. 95). Adoção do “princípio da separação entre os poderes temporal e espiritual, recusará o Estado patrocinar qualquer filosofia, credo, religião e doutrina” (pg. 95). Haverá “a extensão da instrução primária e, desdobramento imediato de princípio anterior, ensino livre e laico; revogação da propriedade literária com patrocínio governamental das obras úteis a serem distribuídas gratuitamente” (pg. 95). Não custa imaginar o que seria de nossas livrarias se o Estado revogasse os direitos autorais e colocasse, goela abaixo da população, apenas as obras consideradas pelo Leviatã comteano como sendo “úteis”. Obviamente, os integrantes da “República das Letras” que hoje dominam o cenário nacional (Emir Sader, Marilena Chauí – e outras “libélulas da USP, Luís Fernando Veríssimo etc.) iriam adorar esse esquema, que já existe na impressão de livros didáticos, no cinema nacional e em muitos projetos ditos “culturais”.



Na segunda fase da implantação da “Ditadura Republicana”, o dístico na bandeira nacional mudará para “Viver para outrem”. Nessa fase, será introduzido o ensino científico e haverá a “supressão do exército e sua substituição pela simples polícia que incorporará a marinha e a artilharia reduzidas em três quartos, inaugurando-se relações exteriores de natureza definitivamente harmônica, em que a atitude militar subordina-se ao serviço pacífico, interno e externo. Revoga-se a obrigatoriedade da conscrição” (pg. 95). A Alemanha do Kaiser e de Hitler agradecem, de coração, essa bobagem comteana. Mas nem tudo precisa ir para a lata de lixo, como o embaixador Meira Penna já se referiu ao positivismo, numa contenda verbal com Arthur de Lacerda, quando, na 2ª fase, o projeto comteano fala em “liberdade de negociação entre empregados e empregadores, sem intervenção oficial, exceto para reprimir constrangimentos contra os que recusem-se a integrar seus resultados” (pg. 95).



Na terceira fase da implantação da república gerida por um “ditador” do tipo Júlio César (ou Nero ou Calígola?), será adotado o dístico “Viver às claras”! O que quer dizer essa frase de pau comteana? Nessa fase, “o ditador transferirá o governo a um triunvirato na pessoa de seus até então ministros, ocupando-se um triúnviro dos negócios do interior, outro dos das finanças e o último dos assuntos externos, modo definitivo de governo. Serão eles renovados por hereditariedade sociocrática ou sob aprovação do nome proposto pelo triúnviro que se retira, a um colegiado, que indicará alguém de sua escolha após a egunda recusa. Embora vitalícios até os sessenta e três anos de idade, em caso de resistência à opinião pública ansiosa por seu afastamento, perderão o cargo mediante acusação motivada com indicação de sucessor, julgada pelo mesmo colegiado que aprova as substituições habituais” (pg. 96). Uma pergunta deverá ocorrer a muitos: se o projeto comteano, que fala tanto em “ditadura” e “hereditariedade”, que se baseou nos imperadores romanos para compor o perfil do “ditador” ideal da república positivista, por que, no Brasil, o “Apostolado” comtista não pregou a continuidade do governo de D. Pedro II, com as modificações necessárias, para se adequar à filosofia comteana? Esse louco projeto pode ser resumido no famoso axioma de Augusto Comte: “Reorganizar sem Deus nem Rei pelo culto sistemático da Humanidade” (pg. 97). O que seria mesmo esse pastoso “culto sistemático da Humanidade”? Essa frase de pau me faz lembrar Olavo de Carvalho: “Se quem dá coices são os cavalos e não a cavalidade, do mesmo modo quem age é o homem concreto, não a sociedade” (in “O Jardim das Aflições”, pg. 174).



Ainda bem que o projeto positivista, no Brasil, encerrou-se com as três letras de nossa Bandeira (a da primeira fase da implantação da “Ditadura Republicana”). Imaginem se tivéssemos que aturar, a vida inteira, o governo de um "ditador" chamado Lula (que teria, como sucessor, Lulinha "Telemar" da Silva), ou de um triunvirato composto por Dirceu, Dilma e Valério?





***



De: Arthur de Lacerda

Para:

Enviado: segunda-feira, 21 de novembro de 2005 13:46:23

Cc: , Félix Maier ttacitus@hotmail.com

Assunto: Pereira Barreto e bandeira positivista



A Universidade de Londrina publicou, em 2001, o vol. II das Obras filosóficas do dr. Pereira Barreto, positivista brasileiro, criador do guaraná potável, que hoje se bebe gaseificada.



O volume em causa trata do deísmo, espiritualismo, materialismo, panteísmo, ateísmo, ecletismo. Há considerações interessantes acerca da inquisição, de Hegel, de Cousin, da maçonaria, de Descartes, Schopenhauer, Darwin e outros.



Recebi, da autoria de Félix Maier, um comentário sobre a bandeira do Brasil, superficial e de evidente animadversão contra o Positivismo; baseia-se no meu livro "A república positivista". Por estas e por outras é como digo: no Brasil, cada um profere a inépcia que quer em matéria de Positivismo e maioria do que se escreve entre nós, a respeito, não vale o papel em que se imprime, provenha da direita ou da esquerda.



Abraço a todos.



Arthur de Lacerda



***



Resposta a Arthur (21/11/2005):



Caro Arthur,



Há certas coisas que só se levam a sério no Brasil. Uma dessas coisas é o Espiritismo, que na França de Allan Kardec tem hoje a importância e a seriedade de um Fantasminha Pluft. Outra coisa levada a sério por alguns brasileiros é o Positivismo, uma "religião civil" que nunca poderá ser implantada em país algum, por ser mais uma utopia somada a tantas já propostas por inúmeros pensadores, a começar pela "República" de Platão.



A minha abordagem feita sobre o Positivismo é superficial (não sobre a Bandeira, como você diz, pois o texto é todo seu, eu apenas transcrevi), é verdade, pois não se pode fazer um trabalho mais profundo sobre o tema em três ou quatro parágrafos. Porém, a abordagem é sucinta e verdadeira, dentro do que é enunciado no livro "A República Positivista", de sua autoria. Nada mais do que isso. Há muitas coisas "positivas" na filosofia de Comte, como a proposta de separação entre o Estado e a Igreja. Se há algumas observações "cum grano salis" no meu texto é porque a aplicação de alguns dos enunciados positivistas é completamente absurda, como a extinção do Exército, e outras completamente impraticáveis, como, p. ex., a escolha do "ditador" da república positivista. Como isso seria feito, por um Conselho de Anciões? Pelos acadêmicos da "República das Letras"?



Esperando que não o tenha aborrecido ao extremo, aqui fico, com essa minha pequena e superficial abordagem do pensamento positivista. Devo voltar em breve ao tema, com um trabalho mais extenso, um ensaio talvez.



Cordialmente,



Félix Maier









Comentarios
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui