O presidente Lula se meteu numa enrascada maior do que as pretensões brasileiras, e maior ainda do que o Brasil é capaz suportar, ao se meter no conflito do Irã com a comunidade internacional acerca do projeto iraniano de enriquecimento de urânio. Digo isso com a certeza de que o Brasil, embora tenha o direito de dar palpites – até porque tem um acento provisório no Conselho de Segurança da ONU --, não tem cacife suficiente para arcar com o ônus desse desafio.
Se não bastasse o fato de ter de arcar com os custos de apoiar um regime não democrático, que parece ignorar por completo a história, ainda é preciso digerir um governo que ora promete colaborar com a Agência Internacional de Energia Atômica, ora a desafia anunciando o aprofundamento do enriquecimento de urânio.
O Irã como qualquer país tem o direito ao uso da energia nuclear para fins pacíficos. O problema é que esse uso deve ser feito de forma transparente, com inspeções pelos órgãos competentes a fim de verificar o uso pacífico dessa energia. E é aí que está o problema: o governo iraniano não permite essas inspeções. Assim, não é possível saber se realmente esta energia está sendo usada para fins pacíficos ou para a produção de armas atômicas.
Outra questão: o Irã está cercado de inimigos. Armas atômicas nas mãos dos teocratas iranianos poderia desestabilizar toda a região, talvez a região mais instável do planeta.
Só isso já era o suficiente para que o Brasil não se alinhasse ao Irã. No entanto há ainda um fato mais importante. Ao se meter num problema entre os EUA e o Irã – porque de fato esse embate não é exatamente da comunidade internacional com o Irã, mas sim uma quebra de braço entre os EUA e o regime iraniano, que em 1979 derrubou um governo alinhado dos EUA – o Brasil e a Turquia desafiaram não só a hegemonia americana como tentou enfraquecê-los. Tanto é verdade que imediatamente os EUA apresentaram no Conselho de Segurança da ONU uma nova proposta de resolução contra o Irã. Esse ato dos EUA foi uma resposta imediata à interferência brasileira e turca nessa disputa. Tanto é verdade que o acordo fechado entre Brasil, Turquia e Irã é o mesmo apresentado pelos EUA no ano passado.
Desta feita o Brasil não só poderá pagar no futuro o ônus de ter sido enganado pelo Irã, uma vez que nada garante que agora eles vão realmente cumprir o acordo, como também terá de enfrentar o descontentamento dos EUA. Se vamos ter cacife para pagar esse preço só o tempo dirá. Mas que Lula meteu o Brasil numa enrascada, ah disso não tenho dúvidas! Por outro lado, se conseguir com o Irã o que a comunidade internacional não conseguiu até agora será uma vitória histórica, digna de um assento permanente no CSU.