Por mais que eu tente compreender o ser humano minhas tentativas sempre esbarram em algum absurdo, o qual me arrasta de volta ao começo, onde tenho de repensar e procurar descobrir onde foi que falhei. Mas talvez o absurdo da vida está justamente no fato de o homem ser um animal incompreensível, dada a sua capacidade de manipular o seu semelhante e de agir hipocritamente. E já que estamos falando absurdos, por que não comentar acerca da reação que o poema de Günter Grass causou em alguns países, principalmente na Alemanha e em Israel. Ora: que para muitos defender o Irã e criticar Israel é quase um ato de loucura, pois aos olhos da imensa maioria da sociedade ocidental Israel é a eterna vítima do antissemitismo, disso não há dúvida. É como se os judeus perseguidos durante séculos e quase dizimados pelos nazistas ainda vivessem sob a ameaça da perseguição e das mesmas atrocidades cometidas contra eles no passado. Só que o mundo pós guerra vive uma outra realidade e considerar os judeus como eternamente ameaçados é tão absurdo quanto câmaras de gases dos campos de extermínios. Que o Irã vez outra ameaça o estado judeu isso lá é verdade. Mas entre uma ameaça e a concretização dos fatos há uma enorme diferença. E de mais a mais, o próprio estado judeu, com o apoio do seu padrinho político, os EUA, ao invés de simplesmente ameaçar o Irã, já efetuou bombardeios contra o povo persa com a finalidade de evitar que este desenvolva o mesmo tipo de armamento que o estado judeu dispõe há décadas. O Absurdo em tudo isso não é o direito que judeus, árabes e persas tem de viverem em paz, mas o de achar que uns tem mais direitos que outros devido a um passado, passado esse cujos culpados eram os europeus e não os palestinos, sírios, iraquianos, iranianos, jordanianos, egípcios etc que vivem ao redor de Israel. Considerar natural e ser conivente com a ocupação da palestina por Israel e achar que os judeus tem mais direitos que os vizinhos de possuir bombas atômicas me parece o verdadeiro absurdo. Tão absurdo quanto condenar veementemente Günter Grass por denunciar a hipocrisia e falta de imparcialidade da sociedade alemã na questão do projeto nuclear iraniano e em fazer vistas grossas para as constantes ameaças de Israel em atacar o Irã. Embora a Segunda Guerra tenha acabado há mais de 60 anos, a Alemanha, ao carregar sobre si o fardo de ter matado tantos judeus, age com Israel da mesma forma que um cãozinho age diante de seu dono.