A Venezuela vive uma situação similar àquela que nós brasileiros vivemos em 1985, quando o eleito presidente Tancredo Neves teve de ser internado às pressas no dia anterior à posse (14 de março), vindo a falecer poucos dias depois. Embora por motivos diferentes, sua doença foi mantida em segredo com o temor de que os militares não deixassem seu vice (José Sarney) assumir e comprometer todo o processo de redemocratização. Pelo fato da doença de Tancredo ter sido mantida em segredo, houve uma série de especulações acerca de seu estado de saúde, o que gerou uma instabilidade e uma apreensão muito grande na população. E é justamente isso que vem ocorrendo na Venezuela. Por falta de informações acerca do câncer de Hugo Chávez, cria-se as mais variadas incertezas e especulações. Especula-se inclusive que ele não retornou de Cuba ou mesmo que esteja morto. Como o governo venezuelano não informa o real estado de saúde do presidente, tem-se a sensação de que há de fato o que esconder. A população tem o direito de saber como está o seu líder, esteja ele como estiver. Aliás, todo esse mistério acerca da doença de Hugo Chávez é um reflexo da falta de liberdade de impressa no país, onde há grandes restrições. De quando em quando, a impressa age de forma irresponsável e causa danos irreparáveis à imagem das pessoas, mas isso não é motivo para restringir-lhe atuação. Talvez este seja o maior dos problemas pelos quais a Venezuela vem passando desde de Hugo Chaves assumiu o poder. Assim como no governo Lula, Chávez, através da Revolução Bolivariana, retirou milhares de venezuelanos da pobreza; mas, por outro lado, seguiu um caminho diferente do Brasil no que tange a liberdade de imprensa e expressão. E o medo do que pode ocorrer na Venezuela sem Hugo Chávez é o motivo de todo esse mistério. E se o mistério é grande, pode ter certeza: o estado de saúde do mandatário venezuelano é realmente delicado. E muito certamente não voltará a governar o país.