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Artigos-->FREDERICO MORAIS FALA SOBRE CARLOS MARTINS -- 12/07/2025 - 17:25 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

FREDERICO MORAIS FALA SOBRE CARLOS MARTINS

L. C. Vinholes

05.07.2025

Frederico Morais, jornalista e crítico brasileiro, nasceu em Belo Horizonte, MG, em 1936. Foi curador independente e historiador de arte brasileira; diretor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (1967-1973); jurado da IX Bienal Internacional de São Paulo (1967); e curador-geral da I Bienal do Mercosul (1997).

Um dos seus trabalhos mais extensos e apreciados que conheço é sobre o gravador Carlos Martins[i] que se tornou cobiçado e apreciado pela variedade, singularidade e beleza dos seus ethings, suas águas-fortes, gravuras em placas de metal.

 

Nítido, preciso, especular são os três adjetivos escolhidos por Frederico Morais para o título do artigo que escreveu sobre Carlos Martins. Vejamos o que diz.

“Sua linguagem gráfica é clara, sua técnica apuradíssima, seu universo nítido e preciso. Contemplar suas gravuras é limpar o olhar, educa-lo. Nelas, quando se trata de interiores, encontramos um mundo de pequenas e contidas emoções, os objetos surgem envoltos em uma áurea de encantamento e serenidade. Carlos Martins sabe descobrir, em cada objeto, sua estrutura formal, mas, também, o que ele tem de revelador em termos de memória, de solidão, e silenciosa comunicação entre sujeito e objeto. Não há friezas em suas gravuras, há controle que não exclui a emoção.

“A opção por espaços miniaturizados não indica, no autor, a vaidade do virtuose, daquele que, dominando amplamente as técnicas de gravar, sabe evitar toda a espécie de truque e falsetes - mas a necessidade de deliminar com vigor, suas ideias, o universo que ele está criando. O pequeno não implica necessariamente em intimismo – a gravura de Martins não é confessional, não há, nela desvios mórbidos, não há sarcasmos nem mergulhos metafísicos. Há silêncio, há uma apreensão poética do universo, uma experiência decantada do cotidiano. Há sobretudo economia expressiva.

“Quando, como nesta admirável série de gravuras aquareladas[ii], o pequeno vem associado ao formato oval (“olho de boi”), percebesse nitidamente o tipo de preocupação formal de Carlos Martins. Como ensinaram os pintores cubistas, os formatos ovalados eliminam os ângulos mortos da composição, permitindo um melhor aproveitamento do espaço e também da cor. Da relação dialética entre cor e forma resulta sempre uma gravura nova, isto é, uma obra original. Através da cor, Martins modifica continuamente a estrutura, que se apresenta sempre nova, diversa.  Símbolo desse seu encontro com o Cubismo e a gravura denominada “A vista” apropriação de uma imagem de Picasso que aparece refletida no espelho da porta. Através de Picasso, Martins revisita o Cubismo invertendo a tradição da gravura brasileira que é expressionista. A gravura de Carlos Martins revela uma visão culta da vida. Seu olhar foi educado primeiro pela arquitetura, depois pelas viagens e, finalmente, pela pesquisa histórica.

“Arquiteto, Carlos Martins foi realizar um curso de pós-graduação em arquitetura na Inglaterra. Saiu do Brasil aquarelista voltou gravador. Seguiram-se viagens, uma forma de educação peripatética. Nestas viagens, ele faz anotações em dezenas de cadernos que guarda em seu ateliê. Como Cézanne, ele tem suas “petites sensations”, que depois, no ateliê, serão limpas de todas as impurezas. Já levou anos realizando uma única gravura. Chefe do Setor e Gravura d Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, Martins vem pesquisando a história da gravura, o que lhe tem ajudado muito em sua própria criação.

“Da viagem a Portugal, em 1976, resultou o álbum “Journey to Portugal”. Da viagem à Itália os “Cantos”, um momento esplendido de sua produção gráfica. É como se através dessas cantares, Martins quisesse transportar para a gravura toda a sua experiência ou compreensão o espaço – urbanismo, arquitetura e mesmo pintura. Porque ele viaja, também, pela história da arte, percorrendo sobretudo aqueles momentos clássicos que Focillon definiu como “estreitas cumeadas”. É como se quisesse primeiro dominar o espaço com medidas, perspectivas, pirâmides e outros sólidos geométricos, abóbodas e linhas. Como se buscasse um melhor aproveitamento do espaço

 

E Frederico Moraes continua dá sua forma costumeira pesquisando, descobrindo e compartilhado o que lhe era indispensável coletivizar.

“O que ele nos contornava? Eram mãos, olhos – eram ruídos apagados, esquecidos. Só muito mais tarde as pessoas depararam com o fato de que arte não podia seguir o ritmo da técnica e da ciência do nosso tempo. Ela estava em outro lugar – e num lugar que não a humilhava: um lugar da exploração sem sentido, do acaso e de uma história tão pouco linear, que não podíamos segurar em mais nada.

“Creio que uma nova ética se formou então que pode escolher o trabalho de um artista como Carlos Martins e até mesmo valorizar aquilo que parecia outrora uma impertinência no meio da arte. Por que, então agora este alquimista nos vem incomodar com suas águas-tintas, suas obsessivas linhas, suas insólitas paisagens e nos lembrar – como no retrato de Anais Nin – que esteve sempre aqui, esteve sempre presente com a sua velhíssima técnica e o seu velho encantamento, capaz de capitar luz, chuva, plantas e dispor estas velhas imagens da quietude, de forma a nos inquietar? Sim há a velha magia do métier. Nós gostamos de admirar um bom trabalho feito com as mãos. Acrescentei religiosamente com o sentido completamente vasto que é possível. Admiramos isto como admiramos o saber de quem sabe podar parreiras na hora certa.

“Mas, ainda assim o trabalho deste alquimista continua a nos interrogar, este seu saber nos atrai, nos interpela continuamente. Por que esta pequena obra é tão excessiva? Por que é duradoura à resistência desse acolhimento perceptivo e por que ele nos captura lá onde pensávamos que já não mais estávamos, que já não tínhamos mais imaginado habitar? Por que essa obra nos detém como se dela já não mais pudéssemos fugir? Reparem estas imagens: o liame que retém é tão delicado e, no entanto, dessas imagens somos prisioneiros. Por hábito ou convenção, esta atração a chamam de arte, quando vemos, sem saber explicar e abrigados no esquecimento, como o visível nasce.

 

[i] Veja o artigo “Gravuras de Carlos Martins e esculturas primitivas e do barroco”, publicado em 04.07.2025, no site <www.usinadeletras.com.br>.

[ii] Frederico Moraes está fazendo referência à publicação das 66 gravuras em metal exibidas na mostra realizada na Biblioteca Nacional do Canadá, em 06.09.1984

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