Hoje, o dia amanheceu mais triste, como se a natureza possuísse sentimentos, embora o sol, para contrariar, brilha intensamente. Eu sei que a natureza não está nem aí para nós seres humanos apesar de tudo de ruim que fazemos com ela, e menos ainda se importa com os meus sentimentos e com minha dor, fruto da saudade, das lembranças que carrego na memória e a qual não consigo dar cabo delas, pois é o que de melhor tenho de minha vida. E apagar essas lembranças seria como apagar a minha própria existência.
Mas não posso deixar de lembrar que neste mesmo dia há exatamente um ano você estava aqui ao meu lado, toda alegre, sorridente e transbordando felicidade através do brilho de teus olhos, cuja cor do mar refletia um oceano de paixão por mim e pela vida, a qual você dizia que só tinha sentido por eu estar ao seu lado. No entanto, meu amor (posso ainda te chamar de meu amor?) uma vida inteira passou nesses doze últimos meses. Digo uma vida porque tudo se transformou de tal forma e provocou-me tantas mudanças que nem em todos os anos anteriores passei por tanta coisa assim. Experimentei a felicidade e a dor no seu mais alto nível. Aliás, quanto a dor ainda procuro o seu limite, a sua profundidade extrema, de onde não se pode mais retornar.
Compreendo que a vida é de uma mobilidade sem tamanho e o ser humano de uma instabilidade não encontrada em nenhum outro ser vivo, todavia, isso de nada adianta e não me ajuda em nada a compreender como uma paixão feito a nossa pode ter tomado o rumo que tomou. Talvez seja ignorância de minha parte, mas tenho de te confessar que me é impossível entender que de um momento para outro você simplesmente tenha deixado de me amar.
Certo dia li num livro que “podemos prometer atos, mas não sentimentos”. Entendo perfeitamente o que autor quis dizer, mas meu coração é irracional e ainda por cima tem horror a conceitos. Por mais que os amigos dizem-me que as coisas são assim mesmo, o meu coração recusa-se a acreditar, pois sua única verdade chama-se desejo. E o desejo de estar contigo é o maior de todos os desejos que ele já teve até hoje. Até tentei explicar-lhe suas palavras, mas para ele “o amor acabou” é um sentença sem o menor sentido. Ele simplesmente se recusa a aceitar esse fato.
Todos os dias encontro motivos para alimentar a voracidade de minha dor. Mas hoje, ao lembrar de nossos corpos entrelaçados depois de fazer amor, sinto como se no misturar de nossas essências e fluídos houvéssemos nos tornados um só. E é essa lembrança e a sensação de que me falta um pedaço leva-me a sentir esse dia tão sombrio e desejar de alguma forma que o destino me atire aos braços da morte, pois a vida me parece não valer de mais nada. Se ao menos houvesse a esperança de tua volta ainda poderia acreditar na felicidade. Mas contigo tão feliz nos braços de outro, não vejo uma luz no fim do túnel.
Tento resistir a tentação de não por um fim à vida, mas não sei até quando poderei suportar. Aliás, este é o motivo pelo qual te escrevo. Se houver alguma chance de tua volta, dei-me essa esperança para que eu continue a viver. Mas se não houver, não minta só para me prolongar a dor, diga a verdade, mesmo que isso me leve a morte, pois a morte muitas vezes é um ato mais corajoso e nobre do que uma vida sem sentido.
Aguardo tua resposta.
Ps. O teu silêncio eu o interpretarei como uma negativa.