QUANDO O AMOR NÃO ACABA - capítulo V
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A última carta de Diana me escreveu, eu não a respondi. Não queria mais saber dela. A lembrança daquele dia naquela festa foi se perdendo pouco a pouco. E a paixão foi se esfriando, à medida que as lembranças se desvaneciam. Eu havia pensando que o amor por ela havia se acabado, que a distância havia posto um ponto final àquela aventura. E por algum tempo eu estive com a razão.
Durante quase um ano eu vivi intensamente outra paixão. Era uma jovem que conheci na escola. Seu nome era Luciana.
Dessa vez porém não havia a distância, não havia nada que nos impedia de nos encontrarmos quase que diariamente, não havia nada capaz de conter nossos instintos. E nos amamos muito tal qual dois amantes apaixonados. E nos conhecemos, nos entregamos um ao outro no amor e no prazer, e nos unimos na carne. E o nosso amor era completo, e repleto do mais puro deleite. E era uma paixão que parecia ser para sempre, para toda a eternidade.
Diana me escreveu mais uma vez. Abriu seu coração e disse tudo que estava sentindo por causa da minha ausência e do meu silêncio. Foi sincera, quando disse que eu parecia tão frio ao telefone. Talvez, meus sentimentos estivessem tão visíveis assim. A verdade era que eu me sentia incomodado com seus telefonemas e com suas cartas tão infantis e ingênuas. Ora! Será que ela não percebia que tudo não passara de uma aventura, de uma paixão de fim de semana? Sim, foi isso que pensei naquela época.
Ah! Houve momentos em que me recusei a atender seus telefonemas! Mentia dizendo que estava no banho e não podia atender. Quando isso acontecia, às vezes ela ligava minutos mais tarde, então eu mandava dizer que havia saído.
Aos poucos, Diana foi se dando conta de que eu não queria mais nada com ela. E finalmente parou de me ligar e de me escrever.
Mesmo assim eu continuei recebendo notícias dela.
Havia um amigo que trabalhava numa das empresas de meu pai. Ele viera de Santa Paula cerca de dois anos depois de nós. E não sei por qual motivo, ele nutria por mim uma afeição muito grande. Seu nome era José Carlos, mas todos o chamavam de Carlos.
Toda vez que Carlos voltava de Santa Paula, trazia-me notícias de Diana. E pelo que ele falava, pelas coisas que ele contava, a amizade entre os dois era muito grande.
Carlos falava do amor, da afeição de Diana por mim de uma forma que me fazia sentir pena. Relatava o sofrimento, a dor da saudade como se eu fosse o culpado por tudo. Vez ou outra, eu prometia que ia ligar para ela, mas acabava nunca fazendo.
Em final de Outubro Carlos foi visitar a mãe e voltou quatro dias depois. No dia seguinte a sua chegada fui à empresa de papai e acabei encontrando-o por lá.
-- Encontrei com Diana em Santa Paula – disse-me ele, em dado momento.
-- E ela como está – quis saber.
-- Esse amor dela por você está acabando com ela.
-- Mas por quê? -- Aquelas palavras mexeram comigo. Uma sensação de culpa, de que de alguma forma eu era responsável pelo sofrimento de Diana brotou em meu peito. Ao mesmo tempo, tentei me mostrar indiferente. -- Faz mais de um ano que acabou tudo entre a gente. Ela não sabe que estou com outra agora? -- perguntei.
-- Sabe. Só que ela diz que não consegue te esquecer.
-- Mas ela precisa tentar.
-- E o pior é que ela queria vir comigo de qualquer jeito. Custei a convencê-la a não fazer isso – disse Carlos.
Após aquela conversa, eu pensei muito em Diana. Deitado na minha cama, antes de adormecer, fiquei lembrando do nosso primeiro e único encontro em Santa Paula. Todos aqueles momentos que passamos juntos naquela festa vieram-me a lembrança. Lembrei-me das cartas que ela havia me escrito, das que eu havia lhe enviado prometendo amor eterno. Então meus olhos se encheram de lágrimas; e a saudade, escondida em algum canto no meu peito, aflorou com abundância. Ah! Como eu desejei que tudo tivesse sido diferente! Ah! Como eu quis ter a oportunidade de reencontrá-la mais uma vez e sentir tudo aquilo que havíamos experimentado pela primeira vez! Ah! Como meu coração se sentiu minúsculo naquela noite!
Ah! Querido leitor! Ao me lembrar daquela conversa, daquela noite, sinto em meu peito a mesma dor que senti naquela noite. Enquanto tento narrar com estas dificultosas e caras palavras tais acontecimentos, um pingo de lágrima escorreu pelo canto do nariz e pingou no teclado do computador. Às vezes, não consigo compreender o porque de tanta dor. Mas aí reflito um pouco e chego a conclusão de que talvez seja porque, no fundo, eu sei que não há como voltar no tempo, como reparar o erro e tentar fazer a coisa certa dessa vez. Não, não há. A vida não nos permite vivê-la uma segunda vez para que possamos corrigir os erros que cometemos da primeira vez. Erros do passado não podem ser reparados quando não podemos voltar à época em que o cometemos. Mesmo que pudéssemos fazer algo para aliviar a dor de alguém, isso não seria uma reparação, mas tão somente uma compensação. E no amor não existe compensação: ou é tudo ou é nada.
Talvez você queira saber o que aconteceu comigo no outro dia e nos dias que se seguiram. Pois bem, voltei a pensar em Diana na noite seguinte e na outra também. Não houve lágrimas dessa vez, o coração não ficou tão apertado e eu voltei a ver as dificuldades, as barreiras intransponíveis que havia entre eu e Diana. Eu porém não saí impune desse episódio.
De alguma forma, sem que eu soubesse explicar, a paixão que estava vivendo naquele momento por Luciana começou a se apagar; apagar feito uma chama, que por falta do que queimar, vai se extinguindo lentamente. E tudo se agravou ainda mais quando, no princípio de dezembro, voltei à Santa Paula para tirar alguns dias de férias.
Parti numa sexta-feira à noite. Durante a viagem não me recordo de ter pensando em Diana com tanta freqüência assim. Lembro-me que fiquei imaginando a possibilidade de um encontro. Mas nada tão espetacular. Sinceramente, eu temia encontrá-la e não reconhecê-la.
Eu sempre fui uma pessoa que tive dificuldades em me lembrar da fisionomia de uma pessoa se a vi uma única vez ou se passei muito tempo sem vê-la. Por mais que tivesse amado Diana, eu não fazia a menor idéia de sua aparência. Seria perfeitamente normal se eu passasse por ela e nem me apercebesse de quem se tratava. O mesmo juízo eu fazia dela. E se ela não me reconhecesse também? Seríamos dois estranhos para o resto de nossas vidas.
Essa possibilidade de não a reconhecer e de não ser reconhecido por ela de certa forma me desestimulava. Eu tinha quase certeza de que isso ia acontecer. Não sei por qual motivo, mas, desde o momento em que soube que ia voltar à Santa Paula, essa idéia não me saiu da cabeça.
Todavia, quando cheguei a Juiz de Fora, quando o ônibus estacionou na rodoviária, meu coração bateu com mais força. Era como se eu estivesse indo de encontro a um passado do qual eu tinha medo. Não sei dizer exatamente o porquê. Talvez na época eu soubesse ou pelo menos tivesse alguma suspeita, mas agora, tantos anos passados, não posso fazer nenhum tipo de afirmação. Tenho somente que ficar no campo da especulação.
Aquele sábado eu o passei em Juiz de Fora, na casa de minha avó. Mas confesso que não pensei em outra coisa a não ser num possível encontro com Diana em Santa Paula. Ao mesmo tempo em que temia tal encontro, eu o desejava ardentemente. Mas se viesse a ocorrer, seria novamente num domingo. E então tudo poderia acontecer.
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