QUANDO O AMOR NÃO ACABA - capítulo VI
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Quando o ônibus estacionou em Santa Paula e fui caminhando em direção à porta, eu me sentia perdido. Quase se podia ouvir o coração palpitar em meu peito. Era como se eu tivesse indo ao encontro de algo desconhecido, algo que me fazia sentir medo.
E ao pisar no solo daquele lugar que me trazia tantas lembranças, algo começou a mudar dentro de mim. Eu queria ir atrás dela. Eu queria percorrer as ruas de Santa Paula para ver se pelo menos eu a via de relance. Meu coração, só de pensar em encontrá-la, esmurrava o peito como se quisesse arrombá-lo. E eu ficava sem saber o que fazer. Pois ao mesmo tempo em que ansiava vê-la, tocá-la e falar-lhe eu também temia encontrá-la. O que eu ia dizer-lhe? Como lhe explicar aquela carta? Como lhe dizer que não a amava mais e que estava apaixonado por outra pessoa?
Isso poderia ser fácil para outra pessoa, mas para mim isso era a coisa mais complicada e terrível do mundo. Eu não tinha a menor estrutura psicológica agir de forma racional. Meu coração gritava: corre! Vá atrás dela! Mas o resto de mim dizia: e quando você encontrá-la? O que você vai fazer? Como você vai reagir?
Ah! Eu não fazia a menor idéia.
E o que era para se tornar um momento de deleite, a ida à Santa Paula se tornou um tormento.
Primeiro, fui à casa do Francisco, um dos principais amigos que meu pai deixou. Durante o tempo que passei ali, quase uma hora, não consegui pensar em outra coisa a não ser em sair o mais rápido. Tanto é que não tenho nenhuma recordação da conversa que tive naquela casa. O mesmo aconteceu na segunda residência que visitei. Não consegui ficar ali mais de meia hora, apesar de residir ali um dos colegas de infância mais próximos, com o qual eu passava a maioria dos fins de semana.
Assim que saí na porta, dizendo que ia dar uma volta pelo arraial, dei de cara com uma menina, a qual eu não fazia a menor idéia de quem era. Ela, ciente de quem eu era, disse:
-- Antunes, Diana quer falar contigo. Ela disse que está te esperando atrás do Coreto
Ao ouvir aquele nome e descobri que ela já estava ciente da minha chegada e estava querendo me ver, eu fiquei sem ação. Lembro-me que fiquei vermelho e minhas mãos passaram a tremer. A muito custo, consegui responder:
-- Diga a ela que já estou indo.
Não sei ao certo quanto tempo levei para chegar ao lugar onde Diana esta a minha espera, todavia, meus pensamentos se misturavam de tal forma que criavam uma confusão terrível na minha cabeça. Não sei como consegui chegar lá.
Ela estava sentada sobre um tronco de árvore que servia como banco. Ainda recordo perfeitamente que ela usava na ocasião uma blusa de cor creme, uma mini saia esverdeada e calçava botas pretas. Quanto a sua aparência, confesso que não correspondia àquela que eu imaginava: a de uma menina de cabelos logos, rosto cheio e olhos vivos. De certa forma, eu fiquei um tanto desapontado. A impressão que tive era de que ela estava abatida, como se alguma coisa a houvesse lentamente consumido durante aquele tempo em que ficamos afastados. Até os longos cabelos haviam desaparecido, deixando em seu lugar um corte curto.
Não sei se era eu quem fazia juízo errado da imagem dela ou se realmente era ela quem tinha envelhecido rápido demais. Contudo, ainda me lembro que a achei velha e magra demais para sua idade. Quando tive a oportunidade de reparar nela com mais detalhes, percebi que os ossos se sobressaíam demasiadamente. Não foi porém difícil deduzir a causa de seu estado.
Assim que me aproximei, percebi entre seus dedos um cigarro aceso. Isso contribuiu consideravelmente para o aumento da má impressão que tive num primeiro momento. Se aquela jovem, que nem tão jovem parecia mais, não tivesse sido o meu primeiro amor, jamais seria capaz de me despertar algum sentimento por ela. Aliás, se a tivesse visto pela primeira vez com aquela aparência, nossas existências seriam ignoradas mutuamente. O destino, porém, quis que fosse diferente. E assim, estava eu diante dela, sem saber o que dizer.
-- Oi! -- Foi o que eu consegui dizer.
-- Fiquei com medo de você não vir – disse-me ela, balançando uma das pernas e levando o cigarro à boca, deixando transparecer o seu estado de agitação.
-- Claro que eu vinha – falei, com a voz insegura e trêmula. -- Menina, não fume! Cigarro faz mal à saúde! -- acrescentei em seguida.
Ficamos durante algum tempo nos olhando sem trocar uma única palavra se quer. Era como se não soubéssemos o que dizer ou perguntar um ao outro. Dir-se-ia que estávamos estudando um ao outro antes de dar um passo. E durante esse espaço de tempo muita coisa passou por nossas cabeças. Ah! Como eu daria a vida para saber o que se passou na cabeça dela, o que ela pensou naquele curto espaço de tempo em que nossos olhos se mantiveram fixos uns nos outros. Eu nunca consegui esquecer o que se passou em minha cabeça. Durante todos esses anos aquelas frases pensadas permaneceram gravadas em cada neurônio de meu cérebro como se tivessem sido impressas numa chapa de metal: “Vê-la assim na minha frente, tão perto assim, está me deixando confuso... Que saudades eu tenho daqueles momentos lindo que passamos juntos... Ah, que vontade de beijá-la na boca e sentir novamente o gosto de seu beijo!...”. Foi a primeira coisa que pensei.
Não foram necessárias mais palavras, mais nenhum gesto para que aquele sentimento que havia silenciado, voltasse com força avassaladora, feito um vulcão que se tornara inativo por muito tempo e, quando se achava nunca mais entraria em atividade, de repente, explode com toda a sua força. Pois foi assim que aconteceu comigo naquele exato momento. E então, aquele sentimento confuso e indefinível, deu lugar ao desejo de resgatar tão belo momento perdido no espaço e no tempo.
Talvez eu devesse ter agido de outra forma e não permitido uma recaída. Mas nem todo mundo sabe lidar com certas coisas com facilidade. É preciso admitir que durante toda a minha vida, fui um homem complicado quando o assunto é sentimentos. Eu nunca soube como encarar e como desatar o emaranhado de nós que se forma no meu cérebro ao se deparar com situações sentimentais. E se naquele momento eu tivesse agido com mais racionalidade, como um homem que sabe o que quer, teria evitado muito sofrimento. Contudo, naquele momento cometi um grave erro e deixei me levar por sentimentos, sem pensar nas conseqüências. E no fundo de minha impotência, eu sentia pena de mim mesmo por não ter forças para encarar aquela situação com dignidade e racionalidade, como um homem deveria encarar.
E quando Diana finalmente abriu a boca e perguntou: “Qual é o nome dela?”, o mundo à minha volta desapareceu. Era como se só nós dois tivesse importância. Era como se não existissem os outros. Então eu respondi:
-- Joana.
-- Por que fez isso comigo? Por que foi me escrever aquelas cartas?... Não teria sido melhor que nunca tivesse me escrito elas? -- interpelou-me ela, como se eu pudesse dar respostas rápidas e convincentes. Ainda me lembro que desviei os olhos para o chão em sinal de vergonha; mas quando os ergui e olhei-a nos olhos outra vez, eles brilhavam. E aquele brilho me provocou amargura por tê-la causado tanto sofrimento, decepções e desilusões.
-- Não sei – ergui os ombros e mexi as mãos. -- Eu estava apaixonado por você – justifiquei-me em seguida, sem saber ao certo o que responder. Aliás, fui sincero, muito sincero naquele momento.
Peço mais uma vez desculpa, querido leitor! Tenho que parar por algum tempo. Não tenho forças para continuar. Sei que pareço um idiota, mas você não é capaz de imaginar a dor em meu peito. Só de pensar nas palavras que ela me disse em seguida, meus olhos ardem, a visão fica embaraçada, e começo a chorar. Não quero que tenham pena de mim. Só peço um pouco mais de paciência. Só isso! Mais nada!
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