QUANDO O AMOR NÃO ACABA - capítulo X
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Ah, querido leitor! Inicio este capítulo com o coração pequenino de tão apertado. Durante longos dias eu estive acamado, vítima de uma forte gripe que quase me arrastou à sepultura. Talvez, se não fosse o estado debilitado, a falta de vontade de viver, de lutar por alguma coisa, essa gripe não teria graves conseqüências; no entanto, confesso que cheguei a achar que meu fim estava próximo. E durante os dias em que passei na cama, tomado pela febre, pela dor em todo o corpo, pela dificuldade em respirar e falar, meus pensamentos foram ocupados por uma única pessoa: Diana. Minha eterna e inesquecível Diana. “Ó minha amada! Por onde andas? O que o destino fizestes contigo? Ah, se tu soubesses o quanto sofro por ti, talvez viria correndo para meus braços! Ah se eu soubesse por onde andas! Ó destino, por que nos separastes para sempre?”, sussurro para mim mesmo.
Ergo os olhos sobre a escrivaninha e eles vão parar na pequena fotografia branco-e-preto em destaque sobre o móvel. “É a única foto que tenho de você, minha querida!” E por longo tempo meus olhos ficam presos a essa fotografia. Nela ainda vejo aquele rosto liso, o olhar penetrante, os lábios grandes. Eu quase posso escutar a voz, o jeito macio e alegre dela falar. Em meus pensamentos passam uma seqüência de cenas, como num flashback. São cenas rápidas, de momentos inesquecíveis, momentos que vivemos juntos em Santa Paula e Juiz de Fora. E quanto mais essas cenas vêem em minha memória, mais a dor em meu peito se torna pungente. Ah, como eu queria que tudo tivesse sido diferente! “Ah, como eu queria que você não tivesse sido tão pobre, não tivesse sido uma menina da roça! Então eu poderia ter te apresentado aos meus pais e vivido eternamente ao teu lado. Ah, porque tudo tinha que ser assim?”, digo para mim mesmo.
Sei que pareço um velho idiota, comportando-se como um adolescente. Talvez seja porque no fundo eu nunca deixei de ser como tal. Meu corpo se desenvolveu e envelheceu ao longo dos anos, mas minha mente, minha forma de pensar e agir talvez não tenha acompanhado o passar dos anos. Talvez em algum momento eu tenha ficado no tempo, talvez eu tenha me esquecido de me tornar adulto. Não, não sei. Não sei se é isso. Também não importa mais. Já não tenho mais tempo de procurar por mim mesmo. Se eu me perdi, então que eu fique perdido para sempre.
Queria falar de outras coisas, de lembranças daqueles dias felizes ao lado de Diana. Mas ainda não consegui me desvencilhar de sua fotografia. Beijo a foto em minhas mãos como se meu beijo fosse capaz de chegar até minha amada. E ao beijá-la me vem à memória muitos dos beijos que trocamos. Lembro-me de cada um, de cada uma das sensações experimentadas no tocar de lábios, no penetrar de minha língua entre aqueles úmidos e ardentes lábios. “Ah, como eram deliciosos seus beijos, meu amor! Ah, como eu queria te beijar novamente, sentir aquela emoção indizível quando eu te apertava fortemente contra mim e nossos lábios grudavam! Como eu te amei!... Como eu te amo, minha Diana!...”
Ah, querido leitor, é melhor eu por esta fotografia no seu lugar! Preciso mudar de assunto; isso está me machucando demais. Nem mesmo tenho um lenço ao meu lado para enxugar as lágrimas que teimam em escapar de meus olhos. Uso a manga da camisa, mas não posso evitar que uma gota ou outra atinja o teclado do computador. É melhor pensar em outra coisa. Ainda estou muito debilitado, e essas lembranças só me fazer mais fraco. Sei que tirar esse passado de dentro de mim é a melhor forma de acabar com esse sofrimento, mas sei também que não devo me exceder. Não posso e não devo me esforçar além das minhas capacidades. Por isso vou aproveitar para falar um pouco sobre o passado de Diana, o que ela me contou nos momentos em que tivemos oportunidade de falar sobre isso.
Já disse anteriormente que seus pais se mudaram para Santa Paula poucos meses depois que partimos de lá. Isso Diana me contou no dia em que nos conhecemos. Numa das cartas que me escreveu, Diana me deu mais alguns detalhes. Também chegamos a falar de seu passado em alguns de nossos encontros. Na verdade eu nunca quis saber de seu passado, pois achava que isso não mudaria em nada o nosso relacionamento. Aliás, tudo que ela me contou foi de espontânea e livre vontade; jamais tomei a iniciativa no sentido de lhe perguntar algo.
Diana nasceu no distrito de Santa Clara, a poucos quilômetros de Santa Paula. Passou toda a infância e parte da adolescência naquele pequeno lugarejo, pouco menor que Santa Paula. Aliás, Santa Clara não contava nem com cem casas. Havia ali apenas algumas dezenas de casas espalhadas por uma comprida e sinuosa rua de terra, duas pequenas mercearias nas extremidades do local. Mercearias essas que vendiam um pouco de tudo, inclusive funcionavam como botequim. O lugar não passava de uma vila de trabalhadores rurais. Pelo que me lembrava do local, nas poucas vezes em que estive lá, havia uma ou duas famílias no máximo de melhores condições financeiras; sendo que uma dessas famílias era de parentes meus.
Segundo ela mesma contou, seu pai era sócio com um irmão numa das mercearias de Santa Clara. Além disso, tinham uma horta nos fundos da casa, onde se plantava grande variedade de hortaliças. E assim viviam dos rendimentos da mercearia e do que plantavam na horta. Todavia, Sr Chico, parente de Diana por parte de mãe, e dono de uma mercearia em Santa Paula, veio a falecer inesperadamente, e Dona Clara, esposa do falecido, ofereceu a mercearia ao pai de Diana por uma quantia irrisória. Ele aceitou de imediato. Vendeu sua parte na sociedade para o irmão e se mudaram para Santa Paula. A mercearia aos poucos foi se transformando num bar assim que abriu um mercadinho a poucos metros dali.
Ficamos sabendo da morte do Senhor Chico pouco depois que estávamos instalados em Santos. Lembro-me que meu pai ficou muito entristecido, pois era uma pessoa de nossas relações. Inclusive éramos clientes de sua mercearia. Ainda recordo que muitas vezes minha mãe me mandava ir à venda do senhor Chico para fazer compras. E lá ia eu com um embornal e a lista de compras na mão. As despesas eram anotadas numa cadernetinha e pagas mensalmente. Ah, como eu gostava de ir à venda de Seu Chico fazer compras! Eu ficava olhando aquelas guloseimas, mas não tinha dinheiro para comprá-las. Também não tinha coragem de pedir fiado para marcar na caderneta, pois tinha medo de que meu pai me desse uma surra por estar comprando porcarias, como ele sempre dizia.
De seus familiares eu nunca soube muita coisa. Ela não me contou. O pouco que sei é que ela tinha um irmão mais velho e uma irmã, a qual cheguei a conhecer. Seu nome era Valdicéia. Era uma menina de uns dois ou três anos mais nova que Diana, rosto redondo, cabelos curtos, olhos grandes e nariz achatado. Era uma jovem de estatura mediana, bem menor que a da irmã mais velha. As duas não tinham muito em comum, o que me levava a crer que uma tinha puxado o pai e a outra a mãe. Aliás, a mãe, cujo nome não me recordo, nunca cheguei a conhecer. Diana me falava amiúde dela com muito carinho, o que deixa transparecer que o relacionamento entre as duas era mais do que uma relação entre mãe e filha.
Enquanto faço esse breve relato acerca do passado de Diana, vem-me a lembrança alguns dos momentos em que ela me falava de sua mãe. Tento não ficar pensando tanto assim em minha amada, contudo, é-me impossível. Ainda estou aqui, sentando diante do computador, e, por mais que eu não queira, vez ou outra meus olhos se erguem e vão parar na fotografia dela sobre o móvel. Penso em pegá-la mais uma vez e tornar a beijá-la. Chego a por a mão no porta-retratos, contudo, acabo desistindo. Não, não quero beijar aquele retrato! Meu desejo era ter Diana aqui, estar junto dela para beijá-la o resto de nossas vidas. Ah, por que eu tive que ser um idiota? Ah, querido leitor, desculpe minha franqueza, mas eu sou o homem mais imbecil que existe sobre a face da terra. Por que não fui capaz de enxergar que o meu verdadeiro amor, minha alma gêmea era aquela menina pobre, simples e sem instrução? Por que não fui capaz de perceber que o destino a tinha mandado para aquele lugar e feito com que nos encontrássemos justamente para vivermos juntos para sempre? Por que eu tinha que contrariar os desígnios de Deus? Agora estou eu aqui, sofrendo o castigo da dor, do arrependimento. Sim! Este é o fardo que terei que carregar para todo o sempre.
Ah, sinto-me tão fraco! Minhas mãos estão trêmulas. Sinto que já não tenho mais forças para escrever. Não posso mais continuar...
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