QUANDO O AMOR NÃO ACABA - capítulo XVIII
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Arrumar o dinheiro não foi difícil, uma vez que a quantia não era tão vultosa assim. O pior aquela sensação esquisita de que algo poderia dar errado. Na realidade, não me saia da cabe-ça aquela famosa lei de Murphy em que ele diz que “se alguma coisa pode dar errado, dará.” É mais ou menos assim. Confesso que isso me atormentou naqueles dias que antecederam a volta de Fabiana para apanhar o dinheiro.
Meu medo não era tanto por Fabiana. Não, querido leitor! Eu não estava nem aí por ela. O que queria dela era tão somente o seu prazer. O meu medo era de que algo desse errado e no fim das contas sobrasse para mim. O que mais abominava era a possibilidade de ser acusado de alguma coisa, além de ver tornar público o meu relacionamento com aquela infeliz. Não, isso não!
Por isso eu já tinha decidido. Depois do aborto, eu não queria mais vê-la, não queria mais ouvir falar dela, queria esquecer esse episódio infeliz da minha vida.
Fabiana retornou pouco depois do expediente, como havíamos combinado. O pessoal do escritório tinha ido para casa. Assim só eu estava ali. Aliás, planejei isso para que ninguém nos visse juntos. Não queria de forma alguma que se soubesse de algum contato entre a gente.
Ainda me recordo como se fosse hoje que sua espera me deixou apreensivo durante todo o dia. Eu tentava conter a ansiedade, mas vez ou outra acaba me distraindo. Não sei como meus colegas de trabalho não desconfiaram, talvez porque eu me mantivesse a maior parte do tempo trancado em minha sala.
Quando bateram à porta corri para atender. Sabia que era ela. Queria entregar-lhe logo o dinheiro e ir para casa. Não tinha a menor intenção de permanecer com ela ali mais do que o necessário para saber se estava tudo ajeitado.
-- Já está tudo certo – ela confirmou, demonstrando receio de fazer o aborto. Também era de se esperar, pois se eu estava apreensivo com medo, por que ela não estaria, já que todos os riscos eram seus? – Amanhã ela vai me examinar e depois marcar o dia. Minha prima disse que ela marca para dois ou três dias depois do exame.
-- E ela vai com você – perguntei.
-- Vai.
Se por um lado isso me tranqüilizou, por outro me causou inquietação. Pois certamente ela teria comentado com a prima acerca de nosso relacionamento, o que era muito ruim, uma vez que fiz o possível para mantê-lo em segredo. Nem mesmo nossos colegas de trabalho tinham certeza de alguma coisa. Um ou outro talvez desconfiasse, mas jamais deixei que quem quer que fosse tivesse provas. Aliás, um dos primeiros pedidos que fiz a ela, foi que mantivesse tudo em segredo para que não a prejudicasse na empresa. Embora os motivos não fossem esses, Fabiana acabou acreditando em minhas recomendações e, até onde eu saiba, ela cumpriu o prometido. No entanto, com relação à prima, não acreditei que ela manteve o segredo, até porque a prima deveria tê-la interrogado e a feito contar a verdade.
-- E ela sabe da gente? – indaguei-a mais uma vez.
-- Não. Ela quis saber com quem eu andava saindo, mas não contei. (“Ah! Que alívio!”, pensei) Falei que era um segredo meu e que não podia contar – explicou ela.
Naquele momento eu não sabia como agradecê-la. Simplesmente não pude conter a feli-cidade e a emoção. Tomei-a nos braços e dei-lhe um dos mais longos e intensos beijos até então.
Ao me ver tão carinhoso daquela forma, Fabiana se tornou receptiva como uma adoles-cente arrastada pela avalanche do primeiro amor. Seus olhos adquiriram um brilho fora do co-mum, como se fossem verter lágrimas; seus gestos ganharam graça e suavidade e suas palavras quase derretiam na boca de tão doces. Ah, como ela parecia perdidamente apaixonada naquele fim de tarde. Tive a impressão ao lembrar desse instante na cama que se fosse preciso, ela se submeteria a sacrifícios maiores, até mesmo se oferecia em holocausto tal qual virgens Astecas.
Ah, querido leitor! Deveria tê-la dispensado em seguida. Mas sabe como é: toda aquela ternura em seus gestos, não se consegue resistir. Pois até as mulheres mais desengonçadas e sem tipo se tornam belas quando ungidas pela ternura. Nós homens, por mais rústicos que possamos ser, não somos capazes de resistir à ternura feminina. Tornamos-nos dóceis e cheios de cuidados como se estivéssemos diante de um fragilíssimo ser, de um recém nascido.
E foi agindo assim que a acolhi nos meus braços e a aconcheguei nos meus peitos. Fabi-ana, querendo demonstrar afeto, beijou-me o pescoço, a orelha e levou a mão por dentro da minha camisa para tocar-me os peitos. Aquilo acabou me levando a abrir o primeiro botão de seu vestido e escorregar a mão por baixo do sutiã até encontrar o teso mamilo.
Não, eu não estava pensando em sexo nos momentos que precederam aquele gesto. Dir-se-ia de um gesto de carinho, semelhante ao que ela acabara de me fazer. Todavia, ao sentir mi-nhas mãos naquele seio cujo mamilo parecia tão rijo quanto uma pedra, uma quentura que não sei de onde veio atingiu-me a região das coxas; e meus pensamentos foram inundados por cenas do passado em que nossos corpos se misturavam.
Não precisou mais do que dois minutos para que nossas vestes jazessem espalhadas pelo chão. Ainda permanecíamos de pé no mesmo lugar, só que agora da mesma forma em que vie-mos ao mundo, ou seja, inteiramente nus.
Ao me lembrar desses momentos, sinto uma dor intensa no coração, como se tais lem-branças fossem um punhal fincado profundamente na minha alma que vai sendo puxado lenta-mente, para que eu sinta cada dor, cada instante de sofrimento que a fiz passar. Ah! Mas nem se levasse toda a vida para retirá-lo, nem que eu fosse condenado a receber o mesmo castigo de Proteu, ainda sim não pagaria pelas dores que lhe causei. E a dor em meu peito se torna ainda maior quando me lembro de suas palavras, de seu diálogo com meu falo ereto bem ali a sua fren-te:
-- Seu menino levado! Você fez o que não devia: fez uma sementinha crescer aqui dentro – apontou para seu ventre. – Agora vou ter que mandar arrancar essa sementinha, porque ela não pode crescer. Senão depois você vai ficar sem comer essa frutinha – apontou agora para o seu sexo –, e nem vai mais querer saber dela, né? – Nisso, Fabiana pegou em meu falo, aproxi-mou-se de mim e introduziu-o no meio de suas pernas. Entretanto, devido à posição, ele não chegou a penetrá-la.
Eu agarrei-lhe os seios e, enquanto abaixava os quadris para tentar penetrá-la, chupei-os.
-- Tira as coisas da mesa – pediu ela.
Das outras vezes deitávamos sobre o colchão, mas desde que ela me anunciara sua gravi-dez, eu o levei de volta para casa, pois achava que não precisaria dele tão cedo. Pelo menos en-quanto não arrumasse outra garota para sair. Agora não tínhamos mais com que forrar o chão; e acho que ela sabia disso, pois senão não teria me pedido para desocupar a mesa que ela se deitas-se.
-- Vamos até minha mesa. Ela é maior e mais resistente – sugeri.
De fato a minha mesa, além de ser bem maior, não era tão frágil como aquela ao nosso lado. Não que ela fosse diferente por ser minha mesa, é que ela já estava lá quando fui trabalhar no escritório da firma de meu pai.
Fomos até minha sala.
Empurrei tudo que estava sobre a mesa para o chão e fizemos amor pela última vez.
Foi uma transa sem pressa; foi como se quiséssemos saborear cada instante, cada sensa-ção até o supra-sumo. Por que isso, quando o momento era o mais impróprio possível? Ah, que-rido leitor! Não sei te responder. Relembrando aquele momento, suspeito que talvez algo dentro de nós, algo desconhecido além de nossa capacidade de compreensão, já nos dissesse que aquela seria a última vez.
Ah! Ainda tenho retido na memória seu suspiro que ela deixou escapar logo após o grito de prazer. Foi como se tivesse dado o último suspiro. E então seu corpo perdeu as forças e tor-nou-se leve feito uma pena, parecendo flutuar. Foi nesse momento que Fabiana, com dificuldade para falar, disse-me ao ouvido:
-- Eu te amo.
Eu também ofegava e meus peitos arfavam mais do que os dela. Embora não sentisse por ela nada além do que o puro e animalesco desejo -- aquele desejo que faz com que duas pes-soas, até mesmo estranhas, entreguem-se uma a outra de forma inexplicável -- acabei dizendo:
-- Eu também, gata.
Estas palavras devem ter lhe causado uma sensação mais intensa que o gozo em si; pois ela soltou um sorriso que até então não tinha visto em sua face.
Sei que foi um ato inconseqüente e agi da forma mais irresponsável possível, tal qual um moleque, embora contasse com mais de vinte anos.
Mas depois de tudo que aconteceu, tenho a certeza de que não poderia ter agido da me-lhor forma. Digo isso porque Fabiana saiu dali como se fosse experimentar um vestido de noiva e não ser examinada para ser submetida a um aborto em seguida.
No dia seguinte à tardinha, recebi o seu telefonema. Disse-me que o serviço estava mar-cado para dália há dois dias às nove horas da manhã. Perguntei-lhe como era o local, qual a sua impressão e até mesmo o que a mulher tinha lhe dito. Ela me falou vagamente e de forma im-precisa. Disse que era uma casa e que parecia ser um local limpo e seguro. Depois me falou que a mulher havia lhe dito que ainda estava na quarta semana de gravidez e que a expulsão do feto seria um processo simples, sem dor e risco algum. Insisti para saber se realmente não havia peri-go; ela me respondeu mais uma vez que não precisava me preocupar, que a mulher era enfermei-ra e estava acostumada a realizar esse tipo de procedimentos quase todos os dias.
Suas explicações embora não me demovesse daquela sensação estranha, daquela inquieta-ção e angústia que me acompanhava desde mais cedo acabaram me deixando mais tranqüilo. Entretanto, acredito que só me sentiria realmente calmo se pudesse acompanhar todo o proces-so. Mas eu não poderia ir como também não tinha coragem para isso. Ah, tudo que eu queria era que ela nos tirasse daquela situação constrangedora! Como eu poderia acompanhá-la? Se só a idéia de sua gravidez já me deixava atordoado? Não, não. Eu era fraco demais para isso. Eis a mais pura verdade! Fui homem para engravidá-la, mas não o era para assumir aquela gravidez. De forma que não me restava alternativa a não ser aguardar que ela resolvesse o problema e en-tão me telefonasse para dizer que estava tudo terminado.
Ah, querido leitor! Gostaria de não chegar a essa parte de minhas confissões. Preferia mil vezes pular esse episódio e fazer de conta que foi tudo um sonho, que nada disso existiu real-mente; aliás, já disse isso antes. Mas infelizmente não posso. É preciso confessar tudo, cada ato, cada gesto, cada pensamento se quero ter paz nos meus últimos momentos de vida. Não me importa que minha vida dure tão somente alguns momentos depois de terminar essas confissões, desde que eu morra em paz. Isso é o que me importa. O resto já não faz tanta diferença. Aliás, se Diana – minha inesquecível Diana – lesse essas páginas jamais iria me perdoar; mas nem seu perdão eu quero. O tempo encarregou-se de destruir todas as minhas esperanças. Já estou velho demais para tentar recuperar o tempo perdido. Já não tenho mais vinte anos, nem mesmo a mesma aparência e jovialidade de quando era aquele rapaz que arrancava lágrimas do coração de minha Diana. Não. Hoje não lhe arrancaria mais lágrimas. E se as arrancassem, estas não seriam lágrimas do seu coração, lágrimas de paixão, mas sim lágrimas de ódio ou até mesmo de dó. De forma que é melhor que ela não leia essas linhas; é melhor que jamais venha saber a que fim le-vei. Não, não quero que ela saiba que me tornei um nada, um ser digno de pena. Não. Se ela ainda vive em algum canto desse mundo, que permaneça na ignorância com relação ao meu des-tino. Que ela pense que eu fui feliz, como penso que ela deva ter sido, apesar de todo o sofri-mento que lhe fiz passar. Talvez ela tenha encontrado alguém que realmente a merecesse; pois eu só iria lhe causar vergonha. Então, que ela fique com a lembrança de nossos bons momentos, apesar de tudo.
Desculpe-me, amigo leitor, mas não consigo continuar. Já não tenho mais forças para continuar martelando o teclado. Não são somente minhas lágrimas que amiúde pingam sobre o teclado e que me impedem de continuar por enquanto, é também uma dor forte no peito, tão intensa que parece que vai me fazer perder os sentidos. Peço sua compreensão, mas por hora não dá mais. No entanto, assim que tiver condições prometo continuar.
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