O ESPÍRITO DE GALEGO
POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE
Campos crescia na direção de Aracaju. Os três novos conjuntos Agripino I, II e o chamado Ducatti deram a cidade uma aparência de cidade grande. Campos crescia em população, a cidade havia chegado a 60 mil almas. O comercio tinha de tudo e o mercado de confecções estava de vento em popa. Com isso a cidade também ficou mais complexa. Com a chegada do comando vermelho a Sergipe a cocaína chegou facilmente a todas as 75 cidades do estado. Campos era uma delas. As drogas chegaram ao sertão. Agora a canabis cedia passagem a coca. Um novo tráfico surgiu. Novas personagens se tornaram protagonistas de uma triste realidade.
- A coisa agora é vender pó. Tem fornecedor, tem mercado. Disse Galego da Barroca.
- Pois eu vou ficar é com o mato. Não faz mal à saúde. E todo mundo quer. Disse Otavinho.
- Não faz mal o que rapaz! Toda droga é uma droga. Mas, eu vou vender, não vou usar. Rebateu Galego o seu amigo. Galego era natural da Bahia. Se criou no povoado Barroca e depois com 18 anos veio morar em Campos. Filho de pais pobres, Galego teve uma infância sofrida, e uma adolescência marcada pelas más companhias. Fez alguns roubos, participou de algumas coisas ilícitas. Sua casa ficava na feirinha próximo do mercado de bananas.
Galego pôs o seu negócio na casa de seus pais. No começo vendia pouco, depois, com o tempo ficou conhecido na cidade. Os usuários passaram a saber de Galego da feirinha. Galego passou a vender no varejo e no atacado. Virou fornecedor de muitas bocas de fumo em Campos. Isso chamou a atenção da polícia:
- Vanderlan, precisamos investigar uma denúncia da feirinha. Diz que tem uma boca lá. É um tal de Galego.
- Vou pedir ao policial Ademir para ir comigo. Vanderlan passou trinta dias investigando a casa de Galego. No final da investigação a polícia tinha a prova do tráfico.
- Vamos chamar a polícia militar para estourar essa boca. Disse o agente Vanderlan. Galego ficou sabendo de tudo. Seus contatos na polícia o informaram de tudo. Quando a polícia chegou à residência de Galego não encontraram nada. Vanderlan ficou muito irritado e jurou pela alma de sua mãe que prenderia o Galego da feirinha.
Galego ficou conhecido pela polícia como traficante astuto. A polícia passou a vigiar o rapaz todos os dias. Fizeram várias operações e nunca conseguiram prender o rapaz. Enquanto isso Galego crescia. Comprou uma moto, comprou uma casa no Agripino onde ele fazia festas para os amigos:
- Galego, e os homens ainda estão de olho?
- Estão rapaz, mas, eu tenho quem me avise.
- Rapaz, os homens não desistem não, né. Não é melhor dá um tempo?
- É, eu vou dar uma parada. Vou passar um tempo só curtindo. Galego viajou para Maragogi em Alagoas e passou quinze dias de férias. O tempo em que ele passou na praia abençoada ele pode refletir sobre a agressividade de seu tráfico. Embora não tivesse matado ninguém Galego viu que vender para todo mundo era muito arriscado. Então, ele decidiu ficar só no atacado. Fornecer dava uma certa invisibilidade para ele. Ao retornar a Campos Galego implantou seu projeto:
- Galego não está mais vendendo não!
- Parece que parou. Estive lá e ele disse que não tinha nada.
- Ele agora só vende em quantidade grande. Coisa pequena ele não passa não. O tempo passou e os olhos da polícia se afastaram de Galego.
Galego andou invisível uns dois anos. Mas, um dia, na ponte entre Tobias e a Lagoa Redonda um carro foi detido com 4 quilos de pó. A polícia investigou e foi descoberto que o bagulho era de Galego da feirinha. A polícia não podia prendê-lo porque não havia provas de que a denúncia era verdadeira. O Denarc e a polícia civil renovaram a investigação contra Galego. Quem estava na frente de tudo era o agente Vanderlan:
- Vanderlan, o Galego está de volta!
- Rapaz, eu desconfiava que ele estava passando. Eu sabia que ele tinha mudado o modos operandi, mas, continuava no tráfico. De fato, Galego se tornou o fornecedor de Riachão do Dantas, Itabaianinha, Geru, Poço Verde e outras cidades. O homem estava mexendo com muita droga. A polícia não deu flagrante em Galego, mas, tirou sua vida. Foi numa noite de terça feira. A polícia estava no Agripino II e foi chamada a investigar uma casa. No interior da casa estava o Galego e sua namorada. Galego trocou tiro com a polícia e foi alvejado por Vanderlan com um tiro no crânio. Não precisava Vanderlan ter matado o rapaz. Ele já estava sem munição. Nada podia fazer contra as metralhadoras da polícia. Mas, Vanderlan com sede de sangue atirou no rapaz. Galego morreu nos braços de sua amada.
Galego viu quando deixou seu corpo nos braços de Maria Clara. Sem perceber e sem resistir ele foi arrancado para feira. Lá ele viu muitos de seus clientes perambulando pelo lugar. Eram como mentes vazias. Pessoas que não tinham nenhum projeto na vida. Galego andou pela feira onde ele vendia cocaína e via tudo preto e branco como que tivesse um problema nos olhos:
- E, aí, Galego vai deixar a coisa como está? Quer dizer que o cara mata você na covardia e você vai deixar o cara impune?
- Foi Vanderlan, não foi?
- Foi. Ele estava na tua cola; jurou pela alma da mãe que ia pegar você.
- Eu vou me vingar. A fúria de Galego atraiu mais gente para perto dele. Agora Galego tinha um pequeno grupo de espíritos que compartilhavam de seu propósito. O espírito de Galego estava confuso. O desejo de vingança não o deixava sentir as implicações da morte. Ele não entendia o que a morte tem a nos dizer. Logo ele aprendeu a ler os pensamentos e a visitar os lugares que ele queria. Galego passou a morar com Vanderlan. Para onde Vanderlan ia, Galego ia atrás. Galego descobriu que podia sugar energia vital de um ser vivo. Quando Vanderlan ia dormir Galego colocava as mãos sobre ele e sugava suas forças vitais. Com isso, o agente Vanderlan foi ficando cansado e sem energia:
- O que que houve rapaz? Perguntou o delegado a Vanderlan.
- Rapaz, não tenho ânimo para nada. Estou sem apetite. E durmo muito pouco.
- Rapaz procure um médico.
- Eu vou procurar! Desse jeito eu vou ter de parar de trabalhar. Galego ficava cada vez mais forte com os fluidos de Vanderlan.
O tempo passou. Agora Galego e seu agrupamento trabalhavam incansavelmente para acabar com Vanderlan. Galego queria a vingança e com ele seus seguidores. Vanderlan com a mente confusa abandona o serviço e se tranca em casa. Sua mulher vendo que seu marido estava mal chama um médium que atendia na casa espírita Caminho de Luz. O médium foi ver Vanderlan. O médium viu que havia um obsessor na vida dele:
- Na verdade, não é apenas um espírito. São várias entidades que perseguem o senhor.
- Mas, o que foi que eu fiz? Perguntou Vanderlan ao médium Adilson.
- Você deve ter feito algum mal a alguém. E essa pessoa quando morreu veio cobrar.
- Mas, eu não faço mal a ninguém. Quando Galego ouviu Vanderlan falar, uma fúria brotou de sua alma e ele estendeu a mão e feriu Vanderlan com suas vibrações. Vanderlan passou mal. O médium aplica passes em Vanderlan falando com Galego. Galego percebe que o médium podia sentir sua presença e irradia seu pensamento:
- Ele me matou, esse canalha. Me matou na covardia. Adilson irradia o pensamento para Galego:
- Perdoe o irmão, ele não sabe o que faz. Ele estava tomado pela sede de sangue.
- Eu não vou deixar isso passar em branco. Eu quero vingança.
- Não, não faça isso não. Procure o caminho da evolução. Veja a luz, veja Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando Galego ouviu o nome Jesus se revoltou. Ele e seu grupo saíram da sala onde o médium estava e foram para a encruzilhada. O médium volta a si. Vanderlan fraco de sua saúde pergunta ao médium sobre o que ele havia visto. O médium diz que o espírito era uma pessoa que ele havia matado. Vanderlan se lembra de Galego. “Meu Deus o que foi que eu fiz?” Vanderlan pede perdão a Galego, mas, de nada serviu. Galego cheio de ódio continuou a atormentar Vanderlan. Um ano depois desta data Vanderlan morre...
|