A CASA NO ALTO DA MONTANHA - PARTE I
Santa Paula era um pequeno lugarejo a vinte quilômetros de Juiz de Fora. Habitantes mesmo não chegavam nem a cem. Contudo, por ser um lugarejo pequeno, quase todos se conheciam. E não havia quem não soubesse de quem fulano era parente. Na verdade, Santa Paula era o que poderíamos chamar de uma verdadeira comunidade.
E era naquela comunidade que tudo que se passava, tornava-se conhecido de todos.
Não muito distante de Santa Paula havia uma casa no alto da montanha. A casa pertencera a uma família muito querida no distrito. O antigo proprietário, Sr. Francisco, vendera o imóvel e foi embora para a cidade. A casa permanecera fechada e o novo proprietário nunca havia sido visto. Ninguém sabia quem e como ele era.
Com o passar das semanas, a curiosidade daquele povoado aumentava. A cada dia surgia um novo boato sobre o misterioso proprietário daquele pedaço de terra. E a cada boato, crescia mais o desejo de saber quem ele era. Não havia quem, ao passar pela estrada em frente ao imóvel, não olhasse com atenção para a construção na expectativa de algum movimento suspeito indicasse a presença do novo proprietário.
Após dois meses fechada, sem que se visse o menor sinal de presença humana no local, alguns moradores chegaram a cogitar a organização de uma expedição para ter certeza de que o novo proprietário não havia aparecido.
O plano só não foi adiante porque o idealizador da idéia caíra doente de forma misteriosa. E o plano teve que ser adiado por tempo indeterminado.
Certo dia um morador do local chegou com a notícia de que havia visto um veiculo saindo da propriedade. Essa notícia aguçou ainda mais a curiosidade dos moradores de Santa Paula. Se por algum motivo o novo proprietário não queria aparecer para não chamar a atenção, sua atitude estava justamente tendo o efeito contrário.
Em qualquer rodinha de conversa, o assunto era o mesmo: o misterioso dono da casa no alto do morro.
Mais algumas semanas se passaram sem que surgissem novidades. O povo do lugarejo não agüentava mais de tanta curiosidade.
Numa segunda-feira, um morador relatou que vira na noite anterior um carro chegando à propriedade por volta da meia noite.
-- Achei aquilo muito estranho. Por quê alguém ia chegar num lugar daqueles a uma hora daquelas? – comentou o morador. – O estranho é que passei por lá na manhã seguinte e não vi mais o carro e nem sinal de gente no local.
A notícia correra solta. Ao final do dia todos já sabiam da novidade.
Esperava-se que em breve o novo proprietário fosse das as caras. Não era possível que uma hora tivesse que vir à Santa Paula para comprar alguma coisa.
Nada do novo proprietário aparecer.
O antigo proprietário também não voltara ao distrito para fornecer pistas sobre o novo proprietário. Desde que se fora para a cidade, ninguém mais tivera notícias dele. Isso tudo compunha um mistério dos mais intrigantes.
Talvez tudo não passasse de coincidências. E principalmente falta do que falar daquele povo mexeriqueiro de Santa Paula. É de conhecimento público que os moradores de pequenos lugarejos são os que inventam as mais absurdas histórias. E o pior de tudo é que acreditam nelas.
Nesse caso, porém, temos que admitir um quê de mistério. Parece haver algo de estranho nisso tudo. E confesso que até eu estava intrigado com tudo isso.
Quatro dias depois que foi avistado um veículo na propriedade da colina, outro morador de Santa Paula viu marcas recentes de pneu na entrada da propriedade. Pelos detalhes das marcas, não havia dúvida de que foram deixadas na noite anterior.
A pergunta que ocorria a todos os cantos era uma só: por que o novo proprietário só aparecia tarde da noite e voltava antes de amanhecer?
A curiosidade do povoado chegou a tal ponto que uma segunda expedição foi organizada.
Alguns moradores resolveram partir ao anoitecer e ficar de guarda durante algumas noites para tentar descobrir que mistério rondava naqueles acontecimentos. Queriam tentar ver o rosto desse morador e pegar a placa do carro para obter informações em Juiz de Fora. Alguém na cidade haveria de saber algo sobre o proprietário do veículo. Não haviam visto ainda a pessoa, mas tinham certeza que era um homem.
No sábado à noite, pouco depois das onze horas, o grupo partiu. Era formado por três homens. Levam a tiracolo num embornal uma garrafa de café forte, alguns pedaços de bolo caseiro e lanternas.
Poucos metros da fazenda, os homens se esconderam e ficaram de vigília. Para passar o tempo tomavam café e contavam causos.
Aguardaram até as três e meia da manhã e nada de aparecer alguém. Concluíram que se ele não havia aparecido até aquele horário, certamente não viria mais. E aquela noite estava perdida.
Para não perder a empreitada por completo, um dos homens propôs a chegada até a residência para investigar o interior.
Foi o que fizeram.
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