Sempre quis ter na pele uma tatuagem, na adolescência ficava desenhando no final do caderno o formato e o desenho do que queria tatuar, às vezes pensava em gravar na perna outras vezes no braço, não importava o lugar, queria uma tatuagem na minha pele.
O meu sonho nunca se materializava, primeiro porque os meus pais jamais aceitariam uma coisa dessas, seria motivo de desgosto, desassossego, desavença, de tudo de ruim que eles pudessem pensar de mim e segundo pelo meu medo de me arrepender algum dia e não ter como tirar, o definitivo em certos casos é assustador.
O tempo passou e sai de casa, passei a morar sozinho e a cuidar do meu próprio nariz e por conseqüência da minha própria pele, esqueci um pouco o medo do definitivo e me acostumei com a idéia de algo pra sempre em meu corpo, na época eu namorava uma tal Melissa, estava perdidamente apaixonado e quase tatuei o nome dela, sorte que não o fiz o namoro não durou nem três meses.
Fazer uma tatuagem tinha muito haver com um rito de passagem na minha vida, uma mudança de fase, o meu ingresso na vida adulta, a minha entrada num período mais maduro, mas ainda havia um problema que era o preconceito dos meus pais e da sociedade que aos meus olhos eram um grande empecilho(vivia escutando histórias que tatuagem era coisa de malandro e vagabundo e de pessoas que tinham que esconder suas tatuagens para conseguir emprego e as que já estavam empregadas não podiam deixar o patrão saber que tinham uma).
A minha tatuagem tinha que ter um significado, que representar algo importante para mim, que simbolizar uma idéia muito presente na minha vida, por isso passei meses pensando o que ela seria e o que iria representar.
Pensei no símbolo do meu signo, Gêmeos, mas desisti depois de ler um estudo cientifico sobre os signos, nele os cientistas diziam que após acompanhar durante 30 anos 200 pessoas que nasceram no mesmo dia e até na mesma hora chegaram a conclusão que elas não tinham nada haver uma com as outras no modo de agir e de pensar e seus destinos eram muito diferentes entre si.
Na época quase tatuei o rosto da Clarice, outra namorada na época, sorte que não fiz isso, o namoro durou menos de dois meses.
Pensei em tatuar o símbolo do infinito que me encantava, mas ao pensar melhor me perguntei:
O que o símbolo do infinito pode significar além do seu próprio significado?Nada.
Pensei em dragões( desisti logo, porque não tinham haver comigo, um dragão para mim simbolizava algo mal), tribais( esses eram bonitos esteticamente,mas não me diziam nada),golfinhos( apesar de ser bichos encantadores não significam muita coisa ou talvez signifiquem bondade, calma, sei lá, mas era muito pouco para mim) e até pensei num símbolo egípcio mas fiquei com medo de maldições de múmias, depois um pássaro asteca que tinha visto numa foto de uma ruína,mas não descobri o seu significado, pensei em corações, mas eles eram bregas demais....Enfim não conseguia me decidir o que gravaria em minha pele.
Passei meses pesquisando símbolos e bolando desenhos, mas nunca encontrava algum que realmente simbolizasse o que eu queria, quase tatuei Gabriela, Ana, Flávia,Maria, Andréia ou Juliana no peito, a sorte é que essas paixões foram muito efêmeras e não duraram o bastante.
No fim das contas acabou que nunca fiz tatuagem nenhuma e a vontade passou, hoje só me divirto com as histórias e fico imaginando se uma tatuagem teria mudado mesmo a minha vida.
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