Quando Deus criou o mundo, o Diabo, espírito mau, empreendeu também sua obra de oposição aos desígnios divinos. E muitas coisas conseguiu Satanás, o adversário, elaborar para infelicidade do animal feito à imagem do criador.
Cada coisa boa que o Onipotente punha à disposição do homem, o inimigo tentava, de alguma forma, desvirtuar. O Todo-Poderoso colocou no campo lindas e perfumadas flores para alegrar a paisagem, mas o todo-maldoso logrou introduzir espinhos entre as flores para ferir a mão humana. Ao lado das saborosas e nutritivas plantas do bondoso arquiteto do universo, o malvado plantou ervas venenosas e algumas capazes de sufocar os vegetais destinados a alimentar o ser representante de Deus.
Ao que parece, o anjo mau até conseguiu criar alguns seres humanos, ou melhor, desumanos, para infernizar a vida dos outros.
Quando o bom criador desenvolveu alguns insetos úteis, como as abelhas, que auxiliam a fecundação das plantas e fornece o delicioso mel, o deturpador projetou vespas e marimbondos para ferroar dolorosamente o homem no campo, serpentes e escorpiões, entre outros.
A certa altura dos acontecimentos, o honroso criador, que dera liberdade ao arqui-inimigo, precisou pôr no solo um grande número de plantas medicinais, que podem aliviar e até eliminar o sofrimento impingido ao homem por obra do rebelde. Nessa fase, o astucioso maquinou seu diabólico plano: - “Agora é que eu vou ganhar esta parada. Criarei plantas viciantes, entorpecentes, alucinógenas, com as quais exercerei o controle das almas incautas.”
Tomada essa iniciativa, após milênios de concentração e análises químicas e biológicas, o senhor de todos os males chegou à fórmula perfeita, criando o tabaco. E para pôr em execução seu grande e perverso propósito, após infestar de insuportáveis mosquitos as florestas tropicais e equatoriais, apresentou sua maravilhosa criação ao homem selvagem, que a utilizou com bom resultado para afugentar os tormentosos insetos. Daí, o passo subseqüente foi colocá-la ao alcance do colonizador europeu do final da tenebrosa Idade Média, que, fascinado com a satânica combinação de venenos, se encarregou de disseminá-la pela Ásia, pela África, pela Oceania e por todas as partes do globo em que punha os pés com sua avidez colonizatória.
Após o colossal sucesso em seu demoníaco empreendimento, o astuto anjo decaído observa tranqüilo quando o fumante, depois de um pouco de tempo sem a droga, começa a sentir-se deprimido, com dor de cabeça, irritadíssimo, brigando por qualquer coisa, exatamente como o Diabo gosta, e corre para seu maço para mitigar seu tormento e atormentar seus colegas e seus familiares com aquela nauseabunda fumaça.
Aí o pai da mentira diz orgulhoso: - “Como sou genial! Consegui convencer esse animal, que se julga o único inteligente sobre a face da terra, a introduzir no próprio corpo algo tão repulsivo, que nem os chamados irracionais aceitam. E não é só isso. Ele pensa que o tabaco lhe traz prazer, quando na realidade apenas alivia o sofrimento que a própria droga causou. Isso não é fantástico? Eu sou o máximo! Consegui fazer com que uma porção de adolescentes e até um bom número de adultos passassem a achar bonito sair por aí com aquele rolo fedorento na boca, exalando aquela fumaça tão repugnante, que causa nojo até aos mosquitos. E tem mais: meus pobres escravos infernizam por longo tempo o cotidiano de seus colegas com aquele vapor fétido e tóxico, até que alguns deles se adaptam ao meu asqueroso invento e passam para nosso lado, ampliando a legião dos poluidores, lançando mais venenos na divina atmosfera, para sufoco daqueles que não conseguem evitar suas companhias. E, como precioso suplemento ao tabaco, eu ainda instruí os meus agentes a extrair de minhas outras plantas alguns perniciosos compostos, como a maconha, a cocaína, a heroína e, para coroar de êxito meu intento, o craque. Este é craque mesmo! Devasta o organismo da vítima em poucos dias. Mas só eu mesmo fui capaz de prever que tudo isso daria tão certo somente começando com o tabaco, a minha obra-prima, que prepara o paladar e o olfato dos meus servos para receber as drogas mais fortes. Curioso é que consegui entorpecer a mente dos homens da lei para ficarem preocupados em fazer guerra contra as chamadas drogas pesadas e deixarem livre o uso do tabaco, que abre a porta para o uso daquelas e, sozinho, tem o mérito de superar, como causa de mortes, todas as outras drogas reunidas, em conjunto com todas as guerras da história do planeta, o alcoolismo, os incêndios, os acidentes de trânsito e os suicídios. Eu sou o grande mesmo!!!”
Diante desse sólido discurso do gênio do mal, temos que admitir: O Demo é mesmo fabuloso! É um grande cientista, mestre em manipular mentes humanas. Nem mesmo o Doutor Freud escapou de seu engodo. Consumiu o seu produto, sendo recompensado com um câncer na boca, que o levou para o além. Grandes homens tiveram pequenas vidas, graças ao coquetel de quase cinco mil substâncias letais inventado pelo sábio Lúcifer, o anjo de luz que se tornou o príncipe das trevas.
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