Contou alguém dos mais conhecedores dos fatos que marcaram a inauguração do nosso mundo que foi o Diabo que, vendo tão solitário o animal feito à imagem do Criador, resolveu a dar uma mãozinha, criando para ele aquela companheira ideal que lhe faltava. E que ajuda! Um paraíso sem mulher não seria bem paraíso. E, além disso, imagine se o homem fosse perpetuar a espécie multiplicando-se por cissiparidade, como as bactérias! Não seria nada interessante. E a obra do Diabo nunca deixou de estar no centro das atenções do homem. Talvez seja por haver inventado coisa tão boa para o homem, que o Diabo tem conquistado tantos amigos.
A mulher sempre esteve de alguma forma ligada a fatos relevantes na vida do homem, e sua influência chegou até ao céu. A Bíblia relata que os filhos de Deus (anjos) se uniram às filhas dos homens, e dessa união surgiu uma descendência nada angélica, que fez que o Criador se arrependesse de ter posto o homem sobre a terra. Então o grande Jeová resolveu afogar toda a humanidade. Mas, para não acabar de vez com sua representação na terra, livrou da inundação, junto com uma diversificada fauna, Noé e sua família, que somavam oito pessoas segundo a Bíblia, mas alguns povos disseram que foram seis, outros afirmaram ser só três, e houve até alguns mais ingênuos, que disseram que se salvara um homem sozinho. Se dissessem que fora uma mulher, até teriam mais credibilidade.
A quase total desumanização da terra, todavia, não solucionou o problema. Continuou a existir gente malvada, gente mentirosa, gente traidora, gente sem-vergonha e outros tipos indesejáveis. Imagino que, ou foi uma falha tecnológica não reparada do criador dos criadores, ou a criatura rebelde continuou a sabotar a produção.
Para evitar mais conflitos entre os homens, Jeová, o Senhor, determinou: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo”. Entretanto, mal o próximo se afasta das proximidades, o peralta já começa a tentar conhecer mais detalhes da diabólica companheira de seu semelhante.
Sabemos, pela Bíblia, que, bem cedo em nossa história, alguns homens, querendo ser mais divinos do que os outros, recusando qualquer parceria com o Diabo, inventaram essa onda de satisfazer a impropriamente chamada fraqueza da carne com outros homens. Isso, porém, irritou muita gente. Mas não é só gente: Esse comportamento esquisito acendeu a ira do Criador, a ponto de ele prescrever severamente para Moisés: “Maldito o homem que se deitar com outro homem”. E dizem que essa prática maldita foi uma das razões por que o Todo-Poderoso incinerou os habitantes de Sodoma e Gomorra, deixando a salvo, junto com a família, apenas o Ló, aquele beberrão que foi seduzido pelas próprias filhas. Mas também ele estava meio sem saída. Sua satânica companheira fizera pouco caso da ordem do Onipotente e olhara para trás, talvez para ver se havia escapado algum outro varão, e foi mineralizada no ato.
Pouco antes de Ló, Jeová já havia deixado desamparado o pobre do Abraão, que, para salvar a própria pele, abriu mão temporariamente de sua preciosa dádiva diabólica. Abraão também não era bobo! Se perdesse a mulher, poderia arranjar outra; mas a vida, se perdesse, estaria tudo perdido. Ele nunca tinha ouvido falar dessa idéia de reencarnação, de que alguns falam hoje.
E a mulher continuou a provocar coisas dos diabos. Salomão, o mais sábio dos homens de Deus, que foi agraciado com uma multidão de setecentas esposas e trezentas concubinas, foi capaz de mandar eliminar seu próprio irmão, só porque o infeliz cometeu o atrevimento de lhe pedir uma de suas mais belas mulheres. Que barbaridade de um homem de Deus! E Davi? Não era tão afortunado de mulheres como seu filho Salomão, mas devia ter mais do que qualquer um ricasso árabe de hoje; contudo matou um de seus miseráveis súditos para ficar com sua mulher. É, outrossim, conhecida a história de que Sansão perdeu a força, os olhos e finalmente a vida, tudo por obra de uma mulher, a Dalila. Essa foi bem demoníaca.
Quando o primogênito de Deus veio à terra como cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo, resolveu reformular alguma coisa. Dizem que o Senhor escrevera na pedra: “Não adulterarás”. O seu filho foi mais longe: “Qualquer homem que olhar para uma mulher com intenção impura, em seu coração já prostituiu com ela”. Aí pintou sujeira mesmo! Quanta prostituição! Quanto adultério! Hoje, no entanto, tenho a impressão de que já foi revogado esse sétimo mandamento. Sétimo, para alguns; para outros é o sexto. Aliás já desconfiei que esses dez mandamentos são apenas nove. Contudo, sem ficar preocupado em saber se são dez ou nove, há um que nos agrada bastante, o quarto (ou terceiro?); pois trabalhar todos os dias e não ter nem um para nos dedicar aos prazeres seria o fim do mundo. Ah, por falar em fim do mundo, parece até mentira, mas até nos nossos dias ainda existem pessoas que, não satisfeitas com a miséria globalizada em que vivem, têm a coragem de aplicar castigo a si próprias, visando a assegurar uma vaguinha em um mundo novo que deverá substituir este após a ocorrência de um eclipse ou qualquer uma data escolhida por outros sonhadores.
Deixando de lado o fim do mundo, retornando à personagem principal do meu tema, pensando bem, parece que a mulher não foi obra exclusiva do Diabo. Acho que Deus participou um pouco dessa criação. Pois nem sempre as mulheres são tão diabólicas. Às vezes são divinas. Algumas, todavia, adoram levar o homem para o paraíso e depois mandar o coitado para o inferno.
O Senhor, criador de todas as coisas (ou quase todas?), depois de tamanha carnificina, prometeu para Noé que nunca mais destruiria a humanidade com água. E continua a manter a sua palavra. Mas, como é o dono de toda sabedoria, tem sempre uma saída. São Pedro, que tinha uma comunicação mais íntima com o céu, disse que agora Ele vai é tocar fogo nesse mundo, e nem faço idéias de quantas pessoas vão escapar do incêndio.
Uma novidade! Considerando que a mulher é uma das mais fecundas fontes de conflitos entre os homens, Cristo disse que no reino dos céus não se casarão nem se darão em casamento, mas serão como os anjos. É! Esse reino deverá ser um pouco monótono, a não ser que novamente anjos resolvam a ter mulheres e a regra volte a mudar, liberando a satisfação das nossas concupiscência carnais. Aqueles homens divinos, como os de Sodoma, estão mesmo descartados! Pois um certo apóstolo disse que eles não entrarão no reino dos céus. E, como alguém anda cantando por aí “nóis num vive sem muié”, resta-nos esperar que o Senhor dos Senhores reveja sua política quanto às relações humanas no reino e nos libere daquele papel angélico, se escaparmos da anunciada explosão atômica. Agora, sejamos justos! Se esse lance da mulher criada pelo Diabo for verdade, o Diabo até não é tão mau como dizem por aí.
João de Freitas. www.bhservico.com.br/freitas
Este texto faz parte da publicação da Ponto de Vista com o Título NOVOS TALENTOS DA LITERATURA NACIONAL
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