Uma vela
Uma vela
Somente uma vela estava acesa no canto onde Ogum estava.
Uma senhora chorava alheia ao movimento da casa.
Uma estória de vida no terreiro de Oxossi.
Era difícil a luta.
Dizia a mulher: ”Nesta terra ninguém me escuta”.
Um triste olhar como véu de luto cobria seu rosto.
Segundo sua consciência havia a pobre mulher descido ao fundo do poço.
A mulher era carne.
Mas vivia uma vida de roer osso.
A mulher era gente.
Mas sua vida era de bicho indigente.
A vela queimava na fé de Ogum.
E a pobre criatura, agora, no silêncio, no canto, esperava.
Os atabaques choravam perto de meia noite.
Exu vestia sua capa.
A mulher sorriu quando o moço chegou.
Ouro.
Tem gente que tem ouro.
Ou melhor, um tesouro.
Onde está aquela que é só pele e couro?
Um zumbido de besouro.
Exu deu ouro.
E a mulher sumiu.
Roosevelt leite
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